Carlos de Lima na Academia

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Dias atrás conversava com o poeta Alex Brasil, que me dizia que o poder transforma as pessoas. É verdade! Transforma e também é capaz de rejuvenescer.
Tive a oportunidade de constatar esse fato, nesta última quinta feira, quando da posse do professor Maranhense de Letras.
Sob o rufar dos tambores e acordes da Banda de Música da Polícia Militar, o novo imortal, aos seus 88 anos, caminhou lépido e fagueiro pelo tapete vermelho que foi lhe estendido especialmente para recebê-lo, mais parecendo um moleque travesso, do que alguém que carrega nos ombros o peso das grandes caminhadas que a vida lhe obrigou a percorrer.
Assim como aqueles que lá estiveram, tive o privilégio de presenciar uma das cerimônias mais leves e elegantes que a Academia já proporcionou.
A leveza fica por conta dos discursos, longos como de praxe, porém recheados de emoção e de um humor fino que só Carlos de Lima é capaz de fazê-lo. Pela sua história de vida, caracterizada pela forma atenciosa, pelo carinho, pelo humor impregnado em tudo aquilo que toca e pela obra alicerçada ao longo de seus 88 anos, é que Carlos de Lima conquista a imortalidade. Sua multifacetada personalidade lhe permitiu, além de colecionar amigos, pesquisar, escrever livros e cordéis, compor e interpretar peças teatrais, e mais ainda, produzir uma vasta obra literária.
Reafirmando o zelo com a língua portuguesa, o mais recente imortal relembrou uma passagem ocorrida com Alfredo de Assis Castro, o primeiro ocupante da cadeira número sete da Academia, que certa noite em sua residência na Rua da Paz, fora acordado com os gritos desesperados de sua filha única, presa de um terrível pesadelo:
– Me larga! Me larga! Me larga! Gritava a moça.
Dr. Assis levantou-se, calçou os chinelos, percorreu poucos metros de corredor, empurrou devagarzinho a porta, acercou-se da rede onde a moça se debatia, tocou-a levemente no braço desnudo, e entre carinhoso e enfadado, corrigiu:
– Minha filha, oh! Minha filha, nunca comece uma frase por pronome oblíquo!
A Academia Maranhense de Letras lhe presta uma homenagem que de há muito já deveria ter feito.
A elegância fica pela saudação ao novo acadêmico, tradicional discurso de boas vindas a Casa, a cargo do brilhante professor doutor Sebastião Lima Duarte. Magistralmente escrita, recheada de citações em Latim (pasmem, ainda há quem domine essa língua, e o professor Sebastião é um desses eruditos), a peça literária de Sebastião foi escrita com os mesmos traços do raro humor que acompanhou o homenageado ao longo de toda a sua vida.
Defendendo uma tese, que à primeira vista soava como uma contestação – a escolha de Carlos de Lima para a Academia Maranhense de Letras – ele nos descreveu sobre a relutância do recém eleito em aceitar a idéia de concorrer a uma vaga, além de registrar a pluralidade da vida e da obra literária de Carlos de Lima.
No encerramento da cerimônia, quando da leitura do livro de Atas, o imortal José Chagas quebra o protocolo da Casa nos brindando com uma pitada de humor. Finaliza sua fala registrando a importância da chegada de Carlos de Lima à Academia, como sendo o primeiro imortal a ocupar uma cadeira neste ano em que a Academia comemora o seu primeiro centenário. Desejando que seja o “primeiro e o último” , “pois para que outro possa chegar, há que morrer um de nós acadêmicos” finalizou o poeta José Chagas.

1 comentário para "Carlos de Lima na Academia"


  1. Shirlenne

    Lindo texto!

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