Metade da população mundial deve ser alérgica nos próximos 10 anos

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Do álcool gel à comida pasteurizada, dos antibióticos ao aspirador de pó, do sabonete bactericida aos banhos diários: a verdade é que nunca estivemos tão limpos. O nosso estilo de vida, que evita ao máximo o contato com micro-organismos que podem causar doenças, está nos deixando cada vez mais imunes às ameaças do ambiente. Mas uma delas, em especial, tem traçado o caminho inverso.

Com uma prevalência cada vez maior na população mundial, a alergia — em suas mais variadas formas — é hoje considerada a doença da vida moderna. Nos Estados Unidos, ela ocupa o quinto lugar no ranking de doenças crônicas. No Brasil, estima-se que, nas últimas três décadas, o número de alérgicos tenha aumentado em 50%.

A estimativa mundial é de que uma em cada três pessoas sofra de algum tipo de reação alérgica — um número muito maior que o da época de nossos avós. E essa incidência, preveem especialistas, pode chegar a alcançar metade da população mundial nos próximos 10 anos.

Há cerca de quatro décadas, as doenças alérgicas deixaram de ser condições até certo ponto raras, atingindo, nos dias atuais, uma proporção epidêmica, o que as têm levado a ser consideradas um problema sério de saúde pública.

Muitas teorias surgiram ao longo dos últimos anos para explicar o curioso fenômeno, mas cientistas acreditam que agora estão no caminho certo para desvendar a origem do mistério.

Células de defesas mais confusas

Todos somos cobertos de bactérias da cabeça aos pés, por dentro e por fora do corpo. Elas se alojam em nossa pele, cobrem olhos e boca e se multiplicam em nossos órgãos, excedendo, em muito, o número de nossas próprias células.

Ainda que algumas sejam nocivas para o organismo, grande parte delas não só ajuda, como é fundamental para o aprimoramento do nosso sistema imunológico. Para muitos pesquisadores, o estilo de vida moderno, tão asséptico, diminuiu nossa exposição a muitos micro-organismos, impedindo o nosso corpo de aprender, corretamente, quem são os verdadeiros inimigos a combater. Isso causa uma confusão nas nossas células de defesas, que podem passar a reagir violentamente (na forma de uma alergia) a coisas que não nos causam mal, como um amendoim, uma flor ou até mesmo o pó.

Chamada de “hipótese da higiene”, essa teoria já existe há algum tempo e ainda causa alguma controvérsia no meio acadêmico, mas estudos recentes têm se unido a uma gama de pesquisas que convergem nos resultados.

Um dos últimos foi conduzido pela Universidade de Helsinque, na Finlândia. Para demonstrar que a falta de contato com a natureza poderia estar contribuindo com o aumento do número de pessoas asmáticas, alérgicas e portadoras de outras doenças inflamatórias, pesquisadores monitoraram os hábitos de vida de 118 adolescentes no leste do país. Como resultado, encontraram que aqueles que viviam em regiões mais verdes, como fazendas ou próximos de florestas, possuíam uma maior diversidade bacteriana na pele e uma menor sensibilidade a alérgenos do que adolescentes que viviam em áreas urbanas. As conclusões, publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), somam-se a diversas pesquisas que seguem na mesma linha.

Já se sabe que o fato de não apresentarmos infecções tão frequentes como antigamente leva nosso sistema imunológico a não desenvolver células reguladoras, que inibem tanto as alergias como as doenças autoimunes. Essas reações que observamos hoje são manifestações de um sistema desregulado, menos tolerante a fatores externos.

Especialistas dão algumas dicas de como se prevenir. Confira

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