O médico de mulher

6comentários

Garrafada2Nos dias de hoje, são raros os habitantes de países africanos pobres, como a Guiné Bissau e a Nigéria, que conseguem viver por mais de 45 anos.

Do outro lado do continente, aqui em nosso País, a expectativa de vida do brasileiro vem crescendo a passos largos nas últimas décadas. Se na década de quarenta a expectativa de vida mal ultrapassava a casa dos 40 anos, o brasileiro que nasce hoje já tem uma expectativa média de vida superior a 72 anos.

Credita-se esse ganho ao acesso da população aos avanços da medicina. Os tratamentos de doenças cancerígenas e cardiovasculares têm evoluído bastante e conseguido salvar milhões de brasileiros. Os programas de saúde pública que atendem a população de baixa renda, associados à melhoria das condições de habitação e saneamento, tem reduzido consideravelmente os índices de mortalidade materna e infantil.

As campanhas nacionais de vacinação e a sistemática de acompanhamento pré-natal, bem como os exames periódicos e preventivos do câncer de mama e de próstata, fazem com que a população ganhe mais tempo de vida.

A medicina preventiva, com seus mais sofisticados exames, tipo as ressonâncias magnéticas de alto campo e as tomografias multi slice, têm contribuído em muito na identificação precoce de doenças que, se diagnosticadas a tempo, permitem o tratamento adequado e, na maioria dos casos, a cura.

Atualmente contamos ainda com a medicina ortomolecular que atua na correção de quaisquer desequilíbrios na constituição molecular do indivíduo. Dosa quantidades ideais de vitaminas, aminoácidos e nutrientes, buscando a prevenção e o tratamento das doenças. E ainda mais, promete vida longa aos usuários.

Eu, mesmo, estou nessa expectativa! Espero ter muito tempo ainda para ver e comprovar a eficácia dessas novidades.

Há apenas meio século, no Interior do Maranhão, a maioria da população não tinha acesso à medicina. Eram os farmacêuticos práticos, os curandeiros e as parteiras que se ocupavam da saúde da população. Muita gente nasceu e morreu sem nunca ter visto um médico na vida.

Nessa época, durante a administração de Aquino Mendes à frente da prefeitura de Penalva, chegou à sede do município um médico vindo da Argentina. Recém formado, impecavelmente trajado com roupa e sapato branco e com aquele sotaque portenho, o doutor era a grande atração da cidade. Tal qual uma onda de rádio, a notícia da chegada de médico na cidade espalhou-se rapidamente pelos verdejantes lagos de Penalva.

Uma longa agenda de visitas aos povoados foi proposta pelo prefeito ao jovem médico. Numa delas, depois de uma cansativa travessia de mais de cinco horas numa canoa, o doutor chegou ao povoado do Jacaré aguardado com grande ansiedade pelas mulheres do local.
Pela primeira vez na história daquela longínqua povoação, seriam feitos os exames ginecológicos.

Improvisado o consultório, ele começou o atendimento. Uma meaçaba (espécie de biombo tecido com palhas de babaçu) separava a salinha de consulta da saleta de exame, onde uma frágil mesinha fazia as vezes da maca de exames ginecológicos.

Maricota, uma morena de olhos castanhos, peitos carnudos e ancas largas, encabeçava a fila de espera e foi a primeira a ser atendida. Curiosa, enquanto o médico lhe fazia as perguntas, ela ficava a observá-lo. A certa altura, o médico levantou-se, encaminhou Maricota para a saleta de exames ao lado e pediu a ela que retirasse a roupa.

Maricota, que nunca havia feito um exame ginecológico na vida, examinou a maca, virou-se para o médico e falou:

− Doutor! Eu acho que essa banca não agüenta nós dois não …

6 comentários »

Os Sem Dente

1comentário

dentista_jpegUma pesquisa sobre saúde bucal, realizada pelo Ministério da Saúde, mostrou a existência de cerca de 20 milhões de desdentados no País. O programa Brasil Sorridente, lançado pelo Governo Federal procura amenizar a situação da população brasileira de baixa renda que não dispõe de serviços odontológicos públicos.

Através de ações como distribuição de milhões de kits com escovas de dente e creme dental para alunos da rede pública, construção de centros odontológicos com laboratórios em municípios estratégicos, e engajamento das equipes do Programa Saúde da Família, o Governo Federal busca conscientizar a população mais carente sobre a necessidade da prevenção da saúde bucal.

Mesmo nos dias de hoje, o acesso aos serviços médicos e odontológicos é um privilégio de poucos que moram na capital ou nas sedes dos municípios.

É verdade que o tempo é sempre o causador das grandes transformações por que passa a sociedade. Os costumes se alteram, as práticas se modificam, as políticas públicas acompanham o clamor popular e até os nossos valores acabam sendo ajustados ao sabor desse tic-tac inevitável do relógio.

Não muito distante dos dias de hoje, uma prática muito comum utilizada pelos candidatos na busca dos votos era visitar as comunidades levando consigo um médico para distribuir consulta e remédio de graça. O dentista, também, nunca era esquecido nessa caça ao eleitor.

Assim foi que Zé Augusto, jovem dentista formado no Piauí, tão logo chegou a Pinheiro foi imediatamente incorporado à campanha eleitoral de Dico Araújo rumo à prefeitura do município.

Certo dia, a população do Pimenta aguardava ansiosa pela chegada da comitiva. Uma salva de foguetes anunciou a presença do médico e do dentista, que só eram vistos de dois em dois anos por ocasião das campanhas eleitorais.

Após uma cansativa viagem, enquanto o médico improvisava o consultório numa pequena sala na casa de Robson Oliveira, Zé Augusto acomodou-se sob as sombras de um frondoso pé de Angelim para ali instalar o seu gabinete ambulante.

Em poucos minutos, o espaço sombreado sob o Angelim já não cabia mais ninguém. Homens, mulheres, crianças, uns em pé, outros carregando seu próprio mocho, espremiam-se curiosos e ansiosos pelo início dos trabalhos. Quase todos com dores nos dentes ou nos cacos que ainda lhes restavam dentro da boca.

Zé Augusto apresentou-se, pediu voto pro candidato e organizou a fila. Todos deviam arranjar um banquinho ou uma cadeira e sentar-se um após o outro. Formou-se uma enorme fila. Improvisando o consultório, colocou sobre uma mesinha uns pacotes de algodão, alicates, boticões, alavancas, pinças, o estojo de esterilizar os aparelhos e os vidrinhos com a anestesia.

Para dar conta do serviço, montou uma verdadeira linha de produção. Ia aplicando a xilocaína de um em um, até o final da fila. Nesse momento, a anestesia já estava fazendo efeito naqueles que a receberam primeiro. Rapidamente ele corria para o início da fila. Começava, agora, a fase da “extraição” dos dentes.

Cada qual, gemendo de dor, apontava dentro da sua própria boca para um dos dentes e o dentista, com aquele boticão que mais parecia o bico de um carcará, segurava com firmeza o dente ou o pedaço que dele restava. Torcia para um lado, virava para o outro e Vupt… Enquanto o eleitor gritava de dor ou de alívio, o dente era jogado dentro de uma lata de querosene vazia que se deslocava ao lado, carregada por um ajudante improvisado.

Zé Augusto seguia arrancando os dentes num ritmo alucinante, extraindo de dois a três dentes por pessoa. O balde de dentes já se encontrava pela metade, quando ele se deparou com um jovem pálido que, de boca aberta, grunhia de tanta dor. O rapaz apontou para um dente que foi extraído sem nenhuma dificuldade, apontou para outro, que da mesma forma saltou da boca e foi fazer companhia a mais de uma centena deles dentro da lata. Para cada dente apontado, era um a menos dentro boca… Foi quando ofegando e gritando alguém correu na direção do dentista.

− Doutor! Pelo amor de Deus, pare!!! Esse rapaz não é bom do juizo… Ele é doido!

− Doido!? Respondeu Zé Augusto. − Pois ele encontrou, então, foi um mais doido que ele…

Ainda bem que os tempos são outros! Ultimamente a justiça eleitoral vem evoluindo e coibindo esses abusos.

1 comentário »

Rio cinqüenta graus

3comentários

preguiça muito maisEra final da década de setenta. Recém casado, trabalhava no Rio de Janeiro quando recebi a visita de meus pais. Papai buscava tratamento médico e esteve conosco por cerca de trinta dias.

Sempre que passava em frente à praia de Ipanema e Copacabana, ele não perdia a oportunidade para registrar que no Rio tinha muito malandro. Ficava impressionado com a quantidade de gente na praia em pleno horário de trabalho… Eu argumentava com ele que a Cidade Maravilhosa tinha 6 milhões de habitantes e que a cada mês pelo menos 500 mil poderiam estar de férias, todos, desfrutando a boa vida. Isso sem contar com os turistas, brasileiros e estrangeiros, que vinham curtir as praias mais badaladas do País e admirar o corpo escultural das sereias cariocas.

Trinta anos depois, resolvi passar o carnaval no Rio de Janeiro.

Encontrei-me com uma amiga de longas datas que reclamava estar “morta de tanto trabalho!” Pensei comigo mesmo: devias morar era em São Paulo! O Rio de Janeiro é lugar para se divertir. É um paraíso, lugar de não trabalhar! Coberto de razão estava o poeta Vinicius de Moraes: “Nada melhor de que não fazer nada…” e para não fazer nada, nada melhor que o Rio de Janeiro.

E o Rio de Janeiro continua lindo! Para os saudosistas, o Degrau está no mesmo lugar, o arroz à piemontesa do Alvarus ainda é inconfundível, o Jobi, o Diagonal, o Shirley com seus deliciosos frutos do mar continua imperdível e o Antiquarius, com sua cozinha impecável, é ainda a grande referência da mesa carioca. Os botecos continuam a ser a cara do Rio de Janeiro. Passar horas e horas em pé, jogando conversa fora e saboreando um chopp bem gelado, faz parte da cultura local. O antigo Bracarense (com as mesmas caras de sempre…) e o novo Chico e Alayde no Leblon são paradas obrigatórias. Para os mais descolados, se não quiserem sair do point mais agitado Rio, o Zucca, o Quadrucci e o Sushi Leblon dão conta do recado.

Em pleno verão, com o termômetro alcançando cifras nunca dantes atingidas, a grande pedida é a praia. Como sempre foi. Lotada! Uma planície de Babel, inundada por cores, sotaques, e pelo charme das belas cariocas. Afinal, todos se sentem cariocas no Rio. O ser carioca, na verdade, é um estado de espírito que todo turista incorpora assim que põe os pés sobre as ondas em preto e branco dos calçadões das praias da zona sul.

O programa de todo o turista que se preza: acordar tarde, pegar o kit praia – cadeira, barraca, toalha, protetor solar – e descer para tomar um pingado e um suco na esquina. Uma caminhada até o seu pedaço na praia e um efervescente mergulho completa o ritual. Atualmente, a raquete de frescobol virou acessório caduco. Está proibida a prática do esporte e apenas os vendedores do Mate limão e dos Biscoito-Globo conseguiram sobreviver à nova onda do prefeito Eduardo Paz. Para completar, de vez em quando e de quando em vez, um chopp bem gelado!

Imaginem desfrutar de tudo isso, e ainda ter que trabalhar!

Dizem que essa vocação pelo descanso é antiga. Contam que séculos atrás, essa indolência estava matando de fome certo cidadão que seguia carregado numa rede rumo ao cemitério São João Batista. Um curioso aproximou-se do cortejo e perguntou o que estava acontecendo. Foi informado que o moribundo há muito não tinha o que comer, não queria mais viver, estava dando os últimos suspiros e pediu para ser enterrado. Penalizado com o que via, o homem disse que daria uma saca de arroz para sanar a fome e salvar a vida daquele pobre infeliz!

O moribundo esticou-se com muita dificuldade e perguntou:

− O arroz está pilado?

Com a resposta de que o arroz estava “in natura”, ele ordenou:

− Então, segue o enterro!…

Penso que cada turista que vem ao Rio deve ter se inspirado num poema escrito por Nazareth Leite, lapidado numa arvore centenária, no pesqueiro “Tô à toa”, encravado em pleno Pantanal Mato-grossense:

“À toa nunca se vive
Quando se tem um bem querer
Mas às vezes tá à toa
Faz parte do bem viver”.

3 comentários »

Pós Carnaval

5comentários

Passado o carnaval, todas as atenções se voltam ao trabalho.
Enquanto me recupero da folia, posto dois textos para reflexão: o primeiro deles sobre os ensinamentos de Mazarin e o segundo, (uma contribuição recebida de Marize, leitora de meu Blog).

“La pièce retrace les derniers mois de la vie de Mazarin, principal ministre du jeune roi Louis XIV dont il achève la formation de souverain.Colbert use de son influence pour préparer son accession à la surintendance des finances à la mort du cardinal.

– Colbert : Pour trouver de l ‘argent, il arrive un moment où tripoter ne suffit plus. J’aimerais que Monsieur le Surintendant m’explique comment on s’y prend pour dépenser encore quand on est déjà endetté jusqu’au cou…
– Mazarin : Quand on est un simple mortel, bien sûr, et qu’on est couvert de dettes, on va en prison. Mais l ‘Etat… L ‘Etat, lui, c’est différent. On ne peut pas jeter l ‘Etat en prison. Alors, il continue, il creuse la dette ! Tous les Etats font ça.
– Colbert : Ah oui ? Vous croyez ? Cependant, il nous faut de l’argent. Et comment en trouver quand on a déjà créé tous les impôts imaginables ?
– Mazarin : On en crée d ‘autres.
– Colbert : Nous ne pouvons pas taxer les pauvres plus qu’ils ne le sont déjà.
– Mazarin : Oui, c’est impossible.
– Colbert : Alors, les riches ?
– Mazarin : Les riches, non plus. Ils ne dépenseraient plus. Un riche qui dépense fait vivre des centaines de pauvres.
– Colbert : Alors, comment fait-on ?
– Mazarin : Colbert , tu raisonnes comme un fromage ! Il y a quantité de gens qui sont entre les deux , ni pauvres , ni riches… Des Français qui travaillent , rêvant d ‘être riches et redoutant d ‘être pauvres ! C’est ceux-là que nous devons taxer , encore plus , toujours plus ! Ceux-là ! Plus tu leur prends, plus ils travaillent pour compenser… C ‘est un réservoir inépuisable”.

Quer ser socialista?

“Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca reprovou um só aluno antes mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e ‘justo.’
O professor então disse, “Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas em testes.”
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam ‘justas.’ Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém repetiria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um A…
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam Bs.. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média dos testes foi D.
Ninguém gostou. Depois do terceiro teste, a média geral foi um F.
As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por ‘justiça’ dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram…
Para sua total surpresa.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foram seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
“Quando a recompensa é grande”, ele disse, “o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós.
“Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros, sem seu consentimento, para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável.”

O pensamento abaixo foi escrito por ADRIAN ROGERS NO ANO DE 1931 !!!

“É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.”

Adrian Rogers, 1931

5 comentários »

O baile de máscaras

2comentários

2010_01_18-CARNAVAL_BLOCO_FOFAO_IIOs mais prudentes dizem que o tempo é o senhor da razão. Outros, mesmo não tão prudentes assim, sabem que por onde passa ele é capaz de promover grandes transformações. O meu avô costumava dizer que o tempo esbandalha qualquer um…

Os carnavais, por exemplo, também vêm sofrendo com o passar do tempo.

Na Bahia, a Praça Castro Alves continua do povo, mas já não é mais a mesma. Os Blocos com seus abadás coloridos desceram a ladeira da cidade antiga e tomaram conta da orla marítima no Circuito Barra Ondina.

Em Recife os efeitos do tempo alteraram até o relógio biológico do Galo da Madrugada. Atualmente ele cacareja desde a manhã até tarde da noite, mas continua arrastando multidões pela Rua da Concórdia em direção ao centro da cidade.

Ainda bem que no Interior de Pernambuco os Papa-Angús de Bezerros estão, a cada dia, mais animados e em Olinda, sobretudo na parte antiga da cidade, o carnaval de rua resiste ao modismo e se consolida como a maior festa da alegria, da irreverência e do relaxo. A tradição se mantém forte com as Virgens de Olinda, com o Bacalhau do Batata e até mesmo a “Corda” permanece firme acordando bem cedo os foliões mais dorminhocos.

No carnaval do ano passado, embalado pelos acordes do frevo que levantava “até defunto da cova”, estava eu descendo a Ladeira da Misericórdia, espremido no meio da multidão, quando, de repente num gesto largo, um rapaz vestido todo de preto abriu os braços e gritou:

− Bóóóob! Bob! Calma Bob!… Calma!

Em sua camisa letras garrafais brancas identificavam a sua profissão: Domador de cachorro! Como num passe de mágica abriu-se um enorme clarão no meio da multidão. Todos com medo do cachorro! Rapidamente ele soltou de suas mãos uma pequena corrente e saiu puxando em sua extremidade um bob de plástico colorido. Daqueles que as mulheres usam para enrolar os cabelos…

− Bob! Bob! Calma Bob! E continuou puxando o seu Bob para alegria da galera.

Neste ano de 2010, o carnaval de São Luís volta a seu estilo tradicional com seus blocos e suas troças subindo e descendo as ladeiras do Centro da cidade. Na ilha do amor a modernidade só trouxe benefícios. Na Madre Deus, o Bicho Terra, por onde passa, faz o chão tremer arrastando multidões com sua energia única.

No nosso Carnaval de Rua mascarados e fofões circulam pelos becos e avenidas fazendo a animação dos foliões. O circuito da Rua do Passeio também está de volta. Os doentes da Santa Casa agradecem. E as crianças, com suas maisenas, também!

Tempos atrás, com o intuito de relembrar os velhos carnavais, tentei fazer um baile de máscaras na sede da antiga Associação Pinheirense. A idéia foi apresentada em reunião de Diretoria, recebendo apenas uma ressalva de um dos diretores presentes. Walter, com sua voz impostada, sentenciou:

− Tudo bem! Mas, com uma condição. Só entra na festa quem estiver a caráter, ou seja: mascarado!

O baile foi marcado para a primeira sexta feira gorda do carnaval.

Uma boa mídia encarregou-se da divulgação. Com uma decoração requintada, os salões ganharam animação com máscaras, confetes, serpentinas e músicas dos velhos carnavais.

Convidei um grupo de amigos e amigas, quase todas, vestidas de fofão e mascaradas. César, um de meus amigos mais chegados, agradou-se de uma animada mascarada e passou a festa inteira a cortejá-la. Vez por outra observávamos que César queria escorregar a mão boba por algum lugar e, imediatamente, algum de nós aproximava-se dele e recomendava cautela! A menina era de família, etc… Ele era o mais animado da festa. Dançou, pulou o tempo todo e não parou um instante. A mascarada deu-lhe uma canseira de fazer dó! No final da festa reunimos, todos, em volta da mesa. Meu amigo César, curioso para saber com quem havia dançando a noite inteira, não sossegou enquanto não retirou a máscara de sua companheira de festa!

Para gozação de todos os presentes, a mascarada era Dona Diana, minha mãe, então com seus 72 anos de idade e muita animação…

2 comentários »

Cantigas de ninar

8comentários

carequinha1959A cada final de ano somos levados a fazer uma “limpeza” nas quinquilharias que armazenamos ao longo de tempo.

Desta vez, resolvi me livrar de uns discos de música. Manuseando a estante do escritório, deparei-me com uma preciosidade: uma coletânea de cantigas de roda, em vinil, datada do ano de 1959, interpretadas pelo palhaço Carequinha, Altamiro Carrilho e sua bandinha.

Naquele tempo, a pureza das letras, os ritmos e a simplicidade das melodias ajudavam a socializar as crianças promovendo a desinibição e o desenvolvimento delas.

Retirando a poeira que cobria a capa do disco voltei ao meu passado de criança. Este não! Pensei comigo mesmo. Vou guardar esta relíquia para os meus netos que ainda hão de vir.

Continuando, vasculhei um pouco mais e encontrei outro, desta vez de cantigas de ninar. Para as crianças, dormir é se separar da mãe, dos pais, e seria melhor que a letra da canção de ninar ajudasse os bebês nesse sentido, o que não ocorre. Passei os olhos pelas faixas e lembrei-me dos meus tempos de pequeno. Optei por destruí-lo sem piedade.

Quem nos lê, sabe muito bem de que se trata. Nos tempos de criança éramos todos embalados e postos a dormir ouvindo cantigas de ninar. Muitas delas, mesmo tendo melodias agradáveis, carregavam em suas letras um verdadeiro pavor para as crianças. Ainda bem que a criança leva um tempo pra entender a letra. Mas quem não se lembra do Boi da Cara Preta?

“Boi, boi, boi,
boi da cara preta,
pega esse menino,
que tem medo de careta”.
As crianças, coitadas, iam dormir tremendo de medo. Quantos de nós não acordávamos no meio da noite correndo em direção ao quarto dos nossos pais atormentados pelos pesadelos causados pela fantasia de nossa fértil imaginação?

Para quem adorava brincar com seu gatinho de estimação, pensem no sufoco do menino ao ver a mãe cantando:

“Atirei o pau no ga tô tô,
mas o ga tô tô, não morreu reu reu,
Dona Chi ca ca suspirou,
no berro, no berro que o gato deu… miaauuuuuuu!”

Terrível, mesmo, é a trilha sonora da historinha do Lobo Mau:

“Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau,
eu pego as criancinhas pra fazer mingau,
hoje estou contente, vai haver festança,
tenho um bom petisco para encher a minha pança.”

Sinceramente, não sei como aquelas crianças de outrora, não se tornaram, todas, adultos ansiosos e medrosos! Ou será que é fruto dessa época a grande quantidade de pessoas frustradas e psicóticas que perambulam pelos parques nas tardes sombrias de domingo?

Os psicólogos contemporâneos devem torcer o nariz para essas músicas e, cá entre nós, os nossos netos merecem dormir serenamente sem ouvir essas cantarolas de mau gosto.

Das poucas composições que traziam alguma mensagem positiva, relembro da sonoridade da voz de Dona Diana, minha mãe, cantarolando a cantiga dos sapos para não me deixar dormir com os pés sujos:

“O sapo não lava o pé,
não lava por que não quer,
ele mora na Lagoa,
não lava o pé porque não quer…”

E por falar em sapo, confesso que fiquei estarrecido sem entender o porquê do abandono do simpático sapinho que tão bem identificava a Companhia de Águas do Maranhão. De uma hora para outra a Caema apareceu de cara nova – e feia – nos cartazes e out-doors da cidade. Decidiu abandonar sua conhecida logomarca, diga-se de passagem, uma das mais criativas marcas existentes dentre as empresas de saneamento do Brasil. Afogou o velho “sapinho” na Lagoa e, contrariando as leis da natureza, ainda colocou uma inexplicável gota perdida na horizontal. É de lamentar!

O poeta Noel Rosa, se vivo ainda fosse, pensaria que isso era obra de seu maior rival, o sambista Wilson Batista e não hesitaria em dedilhar, nas cordas de seu violão, alguns acordes dedicados ao autor dessa insensata idéia da troca da logomarca:

“Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!…”

8 comentários »

CORRIGINDO 20 VELHOS DITADOS

1comentário

Compartilhando com os leitores um e-mail recebido.
 
 01- “É dando que se … engravida”.
 02- “Quem ri por último … é retardado”.
 03- “Alegria de pobre … é impossível”.
 04- “Quem com ferro fere … não sabe como dói”.
 05- “Em casa de ferreiro … só tem ferro”.
 06- “Quem tem boca … fala. Quem tem grana é que vai a Roma!”
 07- “Gato escaldado … morre, porra!”
 08- “Quem espera … fica de saco cheio.”
 09- “Quando um não quer … o outro insiste.”
 10- “Os últimos serão … os desclassificados.”
 11- “Há males que vêm para … fuder com tudo mesmo!” (essa é ótima!!!)
 12- “Se Maomé não vai à montanha … é porque ele se mandou pra praia.”
 13- “A esperança … e a sogra são as últimas que morrem.”
 14- “Quem dá aos pobres … cria o filho sozinha.”
 15- “Depois da tempestade vem a … gripe.”
 16- “Devagar … nunca se chega.”
 17- “Antes tarde do que … mais tarde.”
 18- “Em terra de cego quem tem um olho é … caolho.”
 19- “Quem cedo madruga … fica com sono o dia inteiro.”
 20- “Pau que nasce torto … urina no chão.

1 comentário »

A casa das formigas

2comentários

formiga.3Dias atrás chegava tarde da noite em casa e decidi fazer um lanche. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com verdadeiro exército de saúvas que se deslocava sobre a bancada da cozinha. Fiquei um bom tempo observando-as. Quando criança, imaginava que as formigas deviam se comunicar em alguma língua. Observava o comportamento delas. Elas andavam, às vezes paravam no caminho para cumprimentar as outras que vinham em sentido contrário, conversavam um pouco e cada qual seguia o seu caminho. Eram fortes o suficiente para carregar pesos muitas vezes maiores que o seu próprio peso e, quando não conseguiam sozinhas, juntavam-se em grupo e numa sintonia de fazer inveja a nós humanos, eram capazes de transportar “toneladas” de alimentos para suas casas.

Júlia, minha filha, aos dez anos, dizia que nossa casa havia sido construída em cima de um formigueiro. Por onde ela andava, tinha formigas: saúvas; aquelas miudinhas (as diabéticas), loucas por açúcar; tanajuras voadoras, que anunciam a chegada do inverno; e até aquelas amarelinhas microscópicas, que quando picam nos deixam uma forte dose de ácido fórmico.

Atualmente nossos filhos já não moram mais conosco, mas as formigas… Essas continuam a nos fazer companhia.

Após essa reflexão resolvi exterminar as formigas lá de casa de uma vez por todas. No dia seguinte, saí para comprar os inseticidas e em conversa com o veterinário descobri que para cada tipo de formiga há um veneno específico. Desiludido, pensei até em comprar um tamanduá. O que seria, até, politicamente mais correto.

No início do século XVIII, restos de farinha de trigo carregados pelas saúvas tiraram a paz dos monges franciscanos do convento Santo Antonio, da Província de Piedade, no Maranhão. Os padres descobriram que essas incansáveis formigas criaram gigantescos labirintos por entre os alicerces da dispensa do mosteiro a ponto de comprometer toda a estrutura do convento.

As primeiras vozes foram levantadas por alguns padres no sentido de exterminar as formigas. Outras, mais sensatas, apelaram pela preservação da espécie. Das formigas, é claro! Não havendo consenso, decidiu-se que o assunto seria levado a Juízo.

Instalada a Corte para o julgamento, a promotoria, segundo os autos do processo, apressou-se em apresentar suas justificativas para a condenação das formigas: “Essa praga procede como ladrões,” enfatizou a acusação – “invadem nosso lar, roubam nossos alimentos e não sendo suficiente, ainda com manifesta violência, pretendem expulsar-nos de nossa casa arruinando-a. Afirmo também que agem de má fé, pois apesar desta província ser imensa, vieram elas escolher justamente nossa dispensa para sua morada”.

Após um infindável rosário de acusações, concluiu solicitando que fosse decretada a pena capital. “Que sejam todas mortas por algum ar pestilente ou afogadas por uma inundação. E que desta forma, para sempre sejam exterminadas de nosso recinto”.

A defesa das formigas, também feita por freis franciscanos, lançou mãos de argumentos irrefutáveis, ressaltando as virtudes da prudência, caridade, dedicação e superação. Argumentou ainda o direito de propriedade, por já estarem (as formigas) de posse do local muito antes dos monges ali chegarem, portanto não poderiam ser expulsas.

Após réplicas e tréplicas, o veredicto foi proclamado: “ Ilustre comunidade, diante de Deus, o Justo Juiz, declaro: Dado a extensão destas terras, e que ambas as partes podem ser acomodadas sem mútuo prejuízo, ordeno que os frades sejam obrigados a assinalar dentro de sua propriedade um lugar competente para vivenda das formigas. E que elas, sob pena de excomunhão, deverão mudar logo de habitação, deixando as dependências do convento”.

Promulgada a sentença, foi designado um frade, a mando do juiz, para intimá-las em nome do Supremo Criador para que se retirassem imediatamente das instalações do mosteiro. Enquanto o religioso ia proclamando para cada um daqueles incontáveis formigueiros o resultado do julgamento, um milagre aconteceu: imediatamente, todos aqueles minúsculos seres, saíram de suas tocas formando intermináveis fileiras e, abandonando suas antigas moradas, partiram em direção ao local a elas destinado pelo juiz…
No meu caso, ainda estou em dúvida. Não sei se extermino todas elas, se compro um tamanduá ou se aguardo por um milagre.

2 comentários »

A Serpente encantada

5comentários

serpenteTempos atrás, encontrava-me perambulando pela cidade de Praga, admirando suas belas esculturas e obras barrocas, quando percebi o frenesi dos turistas em direção ao Centro histórico da cidade. Segui a multidão e, de repente, deparei-me com uma imensidão de gente em frente ao Orloj.

Criado no século 15 por Mikulas de Kadan e Hanus de Ruze, e restaurado um século depois, esse sofisticado relógio mostra as horas e os movimentos do sol e da lua, por meio das constelações do zodíaco. A cada hora cheia, os turistas largam tudo o que estão fazendo para acertar os ponteiros de seus relógios e aguardar a aparição de um boneco, representando a morte, acionando um carrilhão por onde desfilam São Pedro e os demais apóstolos.

Dizem que, para que não fosse feita nenhuma outra cópia do inusitado mecanismo, os mestres relojoeiros tiveram seus olhos arrancados após a conclusão da obra. O certo é que, até hoje, não existe no mundo, relógio similar ao Orloj de Praga.

Sentado na calçada em frente ao monumento, enquanto aguardava as badaladas do sino dadas pela caveira que adorna a torre do relógio, eu cantarolava, meio desafinado, o samba do Salgueiro vencedor do carnaval de 1974, ao lembrar que São Luís também tem suas lendas e seus encantos.

 “… É meia-noite, Nhá Jança vem,

Desce do além na carruagem

Do fogo vivo, luz da nobreza,

Saem azulejos, sua riqueza,

E a escrava que maravilha

É a serpente de prata Que rodeia a ilha.”

Numa delas, Nha Jansen, figura poderosa e perversa no trato de seus escravos, teria sido condenada a vagar pelas ruelas escuras de São Luís com sua carruagem encantada. Guiada por um escravo sem cabeça e puxada por mulas, também sem cabeça, ela aterroriza as pessoas nas sombrias noites de sexta feira. Ultimamente, com a iluminação da cidade, ela não tem sido mais vista…

Mas, a serpente encantada continua adormecida e escondida nos labirintos dos túneis e galerias subterrâneas que interligam as igrejas de São Luís. Pelo tempo que se ouve falar desse monstro, suas dimensões devem estar gigantescas e aumenta a preocupação com a chegada do dia em que a cabeça da serpente encontrar com o seu próprio rabo. Nesse dia, a Ilha do Amor será dragada pelo encontro das águas das baías de São Marcos e São José. Se até lá São Luís não virar Paris, com certeza, vai se tornar a Atlântida dos dias atuais.

Enquanto isso não acontece, por que não aproveitar a obra criada em 2001 pelo artista plástico Jesus Santos e transformá-la no grande relógio animado da Ilha de São Luís?

A mais bela escultura da cidade, criada por um dos maiores artistas maranhenses de todos os tempos, representa a valorização da cultura e das raízes de nossa gente e merece ser recuperada. A serpente está sem vida! Pedaços dela estão à deriva na Lagoa da Jansen.

Dizem os velejadores que uma das suas corcovas desgarradas desceu as comportas da barragem rumo ao mar e nas noites de Lua Nova aparece na baía do Boqueirão assustando os pescadores locais…

Temos em mãos um excelente produto que, se bem trabalhado, poderá se transformar na maior atração da Lagoa. Vamos utilizar a criatividade e a tecnologia em favor da cultura popular.

Lanço a idéia de recuperar a nossa serpente iluminando-a e dotando-a de um mecanismo de automação capaz de, durante a noite e a cada hora, soltar pelas suas narinas, imensas chamas coloridas que serviriam para encantar os curiosos e acertar o relógio dos mais atrasados.

A partir da nova concepção do projeto, a serpente encantada da Ilha de São Luís ganhará vida. Receberá um novo visual e ficará movimentando-se sinuosamente ao sabor da morna brisa que sopra sobre a Lagoa, encantando os turistas e alimentando o imaginário de nossa gente.

5 comentários »

O ouro de Piracambu

2comentários

Corria o ano de 1913, quando o então juiz de direito de Pinheiro, Dr. Elisabetho Barbosa de Carvalho, segundo suas próprias palavras, foi procurado por “um homem com os cabelos e barbas desmesuradamente crescidos e aspecto de quem vinha de longínquas paragens”.

Tratava-se de uma figura exótica. Com uma intrigante história, esse estrangeiro havia partido da Noruega juntamente com mais dois outros engenheiros para pesquisar a existência de ouro e manganês nas matas do noroeste do Maranhão. Depois de uma longa travessia do Atlântico chegaram a Belém do Pará e de tomaram uma pequena embarcação singrando os furos dos manguezais no sentido de Vizeu.

Aportaram entre Turiaçu e Carutapera e embrenharam-se na mata virgem, guiados por três nativos conhecedores da região. Rumaram, os seis, em direção a serra do Piracambu, berço da nação awa-guajá. É nesta serra que habita a Ararajuba (Aratinga guarouba) ave símbolo do Brasil.

Abrindo trilhas por entre a mata fechada e debaixo de chuvas implacáveis que carregavam nuvens de mosquitos a caminhada avançava de forma muito lenta. Perdidos na selva chegaram a andar dias e dias em círculos guiando-se pelos raros feixes de luz que conseguiam driblar as copas frondosas das árvores da mata cerrada. Os mantimentos foram se acabando e passaram a viver da fartura da pesca e da caça.

Freqüentemente separavam-se em grupos e partiam em busca dos minerais nobres. Acabaram sendo atacados pelos índios que já os espreitavam há muito tempo e apenas ele foi poupado por ter se perdido do seu guia.

De posse apenas do rifle e da munição, além de uma pequena mochila onde carregava seus apontamentos, sua bússola, lápis, um rolo de papel e alguns pequenos instrumentos, ele foi escoltado e mantido como refém por todo o resto do inverno.

Mesmo com o domínio do inglês, do francês, do português e até mesmo de uma boa noção de japonês, ele demorou a se comunicar com os índios. Com o passar do tempo, vigiado por todos na aldeia, adquiriu a confiança dos silvícolas e acabou casando-se com a filha do Tuxaua. Admirado pela pontaria certeira de seu rifle, George Wellington, inglês de nascimento, aprendeu um pouco da língua nativa e começou a elaborar um plano de fuga.

Certa feita foi levado, mais ao oeste, para conhecer uma formosa gruta. Os índios awa-guajá diziam que naquela serra existia uma gruta onde havia um grande peixe de ouro. A serra era por eles chamada de Piracambu (na língua Tupi, o radical pirá significa peixe).

Lá, ele pode comprovar a existência de veios de ouro a céu aberto. Segundo seu relato, “escavei com meu canivete, certa parte, encontrando uma grande pepita de ouro. Ao levantá-la na palma da mão, o meu guia imediatamente tomou-me, jogando-a para longe. Os índios fizeram-me compreender que ninguém podia tocar em nada ali, pois aquela gruta não lhes pertencia e sim aos índios Gaviões, Urubus e Timbiras”.

No final do verão, o inglês conseguiu por em ação o seu plano de fuga. Camuflou alguns pedaços de carne seca, montou um pequeno farnel e aguardou pela chegada da noite. Todos dormiam quando ele, sorrateiramente, embrenhou-se pelas matas. Seguiu na direção leste, subiu e desceu morros, atravessou rios e campos alagados conseguindo chegar a Pinheiro naquele estado deplorável.

Antes que fosse levado ao vice-Cônsul da Inglaterra em São Luís, chegou a esboçar, a título de agradecimento, um mapa de localização da gruta deixando-o em posse do Dr. Elisabetho.

Não se sabe ao certo o destino desse “mapa da mina”, no entanto temos hoje a comprovação da existência de grandes reservas de ouro naquela Região.

Quase cem anos depois, dois grandes projetos de mineração estão em fase de implantação para exploração das riquezas comprovadamente identificadas pelo inglês.

Os projetos Aurizona (em Godofredo Viana) e Mineração Serra do Oeste, da Jaguar Mining Inc. (este no município de Centro Novo do Maranhão), estão sendo implantados e serão responsáveis pela geração de inúmeros empregos. A atividade de mineração de ouro agregará uma gama de novas oportunidades para aquela região, além de contribuir para um incremento substancial na arrecadação de ICMS para o Estado do Maranhão.

2 comentários »
https://www.blogsoestado.com/josejorge/wp-admin/
Twitter Facebook RSS