Pharmácia da Paz

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No início do século passado, a assistência médica nas cidades do interior do Maranhão era tão precária que a população se valia dos curandeiros, parteiras e farmacêuticos.

Há exatamente cem anos, chegava a Pinheiro um farmacêutico prático que rapidamente tornou-se conhecido e muito respeitado não só na cidade como em toda a região. Mulato, bem vestido, atencioso e muito espirituoso, logo se integrou no seio da comunidade. Casou-se com Inês Castro e freqüentava as boas rodas sociais, com participação atuante nos eventos e agremiações culturais mais destacadas.

Alto e barrigudo, com voz grave, rouca e pausada, Zé Alvim era uma dessas figuras que fazem a história do Lugar. Tipo folclórico foi através dele que chegou a Pinheiro, pelo final da década de 1930, o primeiro rádio.

Nessa época os editoriais do Jornal Cidade de Pinheiro, de forma contundente, vinham advertindo o Füher alemão acerca de suas pretensões bélicas. Hitler ignorou as ameaças, invadiu a Polônia e espalhou pânico pelo Velho Continente. Começava a segunda guerra mundial.

A população da cidade acompanhava, atenta, as notícias do front preocupada que estava com Américo Gonçalves, único pinheirense combatente da FEB, que havia partido para a Itália com a missão de acabar com Hitler.

À “boca da noite”, como costumavam dizer, os ouvintes postavam-se na calçada da Pharmácia da Paz para tentar escutar os boletins da guerra, transmitidos pela da BBC de Londres. Ligar o rádio era uma novela. Precisava conectar a bateria, deixar as válvulas esquentarem, e passar um tempão sintonizando a estação… Era tarefa que só Zé Alvim era capaz de realizar. Mais ruídos que sons, chiados e descargas encobriam o noticiário a ponto de não se entender quase nada. A cada descarga Zé Alvim traduzia, com sua voz cavernosa, para os atentos ouvintes:

− Ou é tiro de canhão ou barulho de morteiro! Tão bombardeando Londres!

Muito respeitado na Vila, qualquer que fosse o problema ligado à saúde, o endereço certo era a Pharmácia da Paz, onde os remédios eram manipulados com maestria pelo farmacêutico. Contam que até conselho ele distribuía com fartura e sem cerimônia.

Certa feita um afilhado resolveu se casar com uma moça nova. Dia seguinte ao casamento, o orvalho da madrugada ainda encobria os canteiros da Rua Grande quando o mancebo bateu às portas da casa de Zé Alvim que, sonolento, o recebeu vestido ainda de pijamas.

− Rapaz, tu te casou ontem, o que é que tu vem fazer aqui em casa uma hora dessas? Tu deve ficar com tua mulher!

O afilhado queixava-se que ia devolver a moça aos pais dela pois achava que ela não era mais virgem.

− … É que eu tô meio preocupado, meu padrinho. Eu achei uma certa facilidade… não saiu nem um pouquinho de sangue…

− E tu pensa que pra tirar honra de mulher precisa de picareta? Cria juízo! Volta pra casa e fica com a menina, rapaz! Ralhou Zé Alvin.

Conformado, o moço retornou para a esposa, mas Zé Alvim, sempre que podia, confidenciava aos amigos mais próximos:

− Ela era furada mesmo…

Até os dias de hoje a Pharmácia da Paz continua em Pinheiro, no mesmo lugar, e é uma das mais antigas farmácias de manipulação do estado do Maranhão.

Zé Alvim deixou estórias e saudade! Por ironia do destino morreu em 1952, aos 61 anos de idade, contrariando um velho ditado que costumava usar: “o que mata velho são três K; queda, catarro e caganeira!” Acabou morrendo de um outro K: coração…

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Vem aí o Vale Caixão!

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As civilizações antigas já registravam a preocupação com a morte. No Egito, por exemplo, os faraós construíam seus próprios túmulos, para onde carregavam ainda em vida seus tesouros e seus pertences. Preocupavam-se com a preservação do próprio corpo, magistralmente embalsamados enquanto aguardavam o julgamento de Ozires para a passagem para a outra vida.

Até os escravos, após uma vida de árduo trabalho na construção dos templos, eram enterrados dentro dos mesmos túmulos dos faraós para não desvendarem os segredos dos tesouros ali guardados.

No Maranhão, persiste nos dias de hoje o costume das famílias mais pobres, sobretudo aquelas que vivem no Interior, da aquisição, ainda em vida, do caixão de defunto. Existem funerárias que chegam a oferecer até consórcio de caixão. Essa prática é tão comum que as pessoas acabam convivendo, com muita naturalidade, com a presença do caixão guardado sob o teto das próprias casas.

Na primeira metade do século passado, meu avô Chico Leite, que já havia produzido conhaque, sabão e desenvolvido muitas outras atividades, resolveu montar uma fábrica de caixão de defunto. Juntou-se a seu amigo Ataliba, então operador do motor de luz da Usina da cidade, e começou a divulgar a chegada do novo empreendimento.

Poucos dias depois, morre em Pinheiro, vítima de um ataque súbito, um membro da família Agostinho Ramalho. Pronto! Pensou Chico Leite. A primeira encomenda está garantida. Despachou Ataliba com a missão de negociar a venda do caixão. Negócio fechado! Agora viria a fase mais importante: a construção do caixão.

As tábuas secas de Paparaúba foram serradas, aparadas e lixadas. Com precisas marteladas, os pregos foram fincados e, sem maiores delongas, concluíram a parte inferior do esquife. Até que não foi difícil. Porém, ao iniciar a construção da parte superior, os problemas apareceram: como confeccionar a tampa com aquelas inclinações, ângulos e aqueles recortes todos? Sem o uso das ferramentas adequadas, muitas tábuas foram quebradas.

Trabalharam até tarde da noite sem sucesso. Desolados, resolveram desistir de confeccionar a tampa do caixão.

Enquanto isso, o morto, embalado pelo choro das carpideiras e ainda deitado sobre a pedra fria, aguardava impaciente pela chegada do caixão…

Ao raiar do dia, o velório ainda corria animado. Chico Leite decidiu ir pessoalmente conversar com a família do defunto sobre o problema. Explicou que atualmente existiam dois tipos de caixão: Um, do tipo antigo, pesado, estilo rococó, “démodé, mesmo, dizia ele”, pouco utilizado, muito mais caro, etc… E um outro, de linhas retas, sem tampa, com apenas um véu de renda sobre o corpo do defunto, mais leve, mais moderno, “última moda em São Luís” e, ainda por cima, muito mais em conta… Contou até que o rei George V da Inglaterra, recém falecido, havia sido enterrado em um caixão desse tipo.

Com esses argumentos irrefutáveis, a família decidiu pelo modelo moderno. E o defunto desceu à cova presenciando, através do véu transparente que lhe cobria o rosto pálido, o choro dos familiares e amigos.

Leio na imprensa que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) está negociando com o governo federal a distribuição de seguros como proteção às pessoas de baixa renda. Identificadas as carências da população mais pobre, o novo programa vai atender aquelas 50 milhões de pessoas que não têm literalmente onde cair mortas. O governo cria, portanto, através dessa apólice, um auxílio funeral mediante a inclusão de um pequeno adicional de custo no Programa Bolsa Família.

Fica, pois, instituído o Vale Caixão.

Não sei ainda se vai dar para comprar um caixão daqueles de antigamente, ou um do tipo mais moderno.

O certo é que o defunto não ficará desabrigado.

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A escada da quitanda

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Estava eu perdido por entre becos e ruelas de Viana do Castelo, bela cidade no extremo norte de Portugal, imaginando como teria sido a vida daqueles portugueses séculos atrás. De repente, ao passar em frente a uma casinha de porta e janela, na Rua do Trigo, algo me chamou a atenção. Parei. Voltei. E entrei pela porta estreita e vi descer de uma escada, que deslizava à frente das prateleiras, um português muito atencioso. Seu nome? Manoel. Era o dono dessa pequena gráfica, na verdade uma tipografia, que insistia em contrariar o tempo.  Em pleno século 21, ele ainda fazia pequenos impressos, convites, cartões e singelos anúncios utilizando-se da habilidade em compor palavras, montando os tipos de chumbo, letra após letra, de traz para frente e de cabeça para baixo.

Aquela escada deslizante me fez recordar uma das mais criativas propagandas de televisão que tive oportunidade de ver. Atualmente, as peças publicitárias expostas na TV, qualquer que seja o produto a ser anunciado, fazem uma apelação desmedida à sensualidade das mulheres. Até que faz bem aos olhos apreciar as beldades expostas na TV, mas na verdade, o que está faltando, mesmo, é criatividade nas agências publicitárias.

O comercial a que me refiro mostrava uma pequena mercearia onde se vendia de-um-tudo. Um velho balcão de madeira separava os clientes do dono da venda. Nas prateleiras, os produtos eram expostos e uma escada deslizava em frente a elas repletas dos mais variados produtos. No alto, uma mancha amarela se destacava ao longe. Eram os pacotes de Maizena.

A cena começava com algumas pessoas dentro da quitanda e alguém pedia um pacote de Maizena. O dono puxava a escada, subia, espichava-se todo, pegava um pacote, descia, entregava ao cliente, recebia o dinheiro e dava o troco.

Dirigia-se ao próximo, que dizia:

− Eu quero outro pacote de Maizena.

A cena se repetia. Tão logo concluída a transação, outra cliente, da mesma forma, pedia:

− Eu também quero um pacote de Maizena.

Novamente, o vendedor subia na escada para pegar mais um outro pacote de Maizena, quando, lá do alto, percebeu a chegada de uma criança. Uma menina lourinha, tímida, de uns cinco anos, olhos azul cor de anil. Linda!

Lá do alto, cansado de tanto subir e descer para pegar um pacote de Maizena para cada freguês, ele dirigiu-se à menina e perguntou:

− Você também quer um pacote de Maizena?

Ela balançou negativamente a cabeça. Assim que ele terminou de atender a freguesa, ela formando o V da vitória com os dois dedinhos, disparou:

− Mamãe mandou pedir pro senhor mandar DOIS pacotes de Maizena…

Um assunto puxa outro e a escada deslizante me remete à minha infância em Pinheiro, na quitanda do Sr. José Santos. Membro da colônia portuguesa que ali se instalou no início do século XX, José Santos veio de Cantanhede, Norte de Portugal.

Certo dia, estava ele atendendo no seu comércio, um pouco maior que uma quitanda, quando chegou um caboclo. Apeou do cavalo, amarrou o cabresto na argola de ferro da calçada, retirou o chapéu de palha e entrou perguntando por um bom fumo de corda.

A natureza é incrível e só ela é capaz de promover transformações fenomenais. Pegue um pouco de tinta verde e misture com outra porção de tinta vermelha. O que acontece? Aparece o marrom! Da mesma forma, as folhas verdes do tabaco, uma vez colhidas, se forem deixadas sob a vermelhidão do sol, perdem o brilho, murcham e adquirem a tonalidade marrom. São estas folhas, que, retirados os talos e torcidas (não enroladas nas coxas das belas morenas cubanas, mas acordoadas umas às outras), transformam-se em poucos meses nas cordas de fumo mais apreciadas: Os puros, os fumos de corda com a mais alta concentração de nicotina.

E foi um desses que o caboclo pediu a seu Zé Santos para experimentar.

O português escolheu um bem forte, pegou sua faca mais afiada e laminou umas fatias do rolo de fumo tais quais são cortadas as lascas mais delgadas dos presuntos defumados do porco preto do Norte de Portugal.
O camponês cheirou fundo. O fumo era tão forte que ele deixou escapar um pum, imediatamente percebido pelo Zé Santos.

Para despistar, o caboclo emendou:

− Seu Zé! O siô não tem um mais forte?

Com a falta de paciência que lhe era peculiar, e com seu forte sotaque lusitano, Zé Santos respondeu:

− Para peidare tem, mas para cagare, não! Ora, pois!

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As palmadinhas de BELOCA

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Educadores estão discutindo os efeitos das palmadas nas crianças como ferramenta no auxílio de uma boa educação. Uma corrente defende que não se deve bater nas crianças devido ao risco de se tornarem agressivas e, ainda, de ficarem traumatizadas.  Ao receber uma palmada em decorrência de um determinado ato praticado, a criança acaba associando a punição recebida e certamente irá replicar esse ato todas as vezes que se sentir ameaçada ou contrariada.

Muitos pais pecam na educação de seus filhos não impondo os limites que são fundamentais para que eles possam crescer defendendo seus direitos, porém respeitando o espaço dos outros.

Os da minha geração sabem, pois foram educados dessa forma, que vez por outra, “escreveu não leu… pau comeu!” Quem não levou umas palmadas quando criança que levante a mão?! E estamos aqui, todos (ou quase todos) vivendo sem maiores traumas.

O professor Zeca Bezerra me contava a história de Beloca Frangalho. Esse era o apelido do finado Benedito Pereira. Negro, alto, não desgrudava do chapéu de palha e dos óculos escuros. Bem falante, extrovertido e festeiro, era presença assídua na agência do Banco do Brasil da cidade de Bacuri todo final de mês. Era o primeiro a chegar para receber seus proventos da aposentadoria.

Os amigos adoravam tê-lo como companheiro de fila. Enquanto aguardava a abertura da agência, Beloca contava histórias, brincava com um e intrigava com outro. Galanteador nato estava sempre atento para puxar uma conversa de pé-de-ouvido com alguma aposentada na esperança de arrumar um chamego. Sua fama de namorador havia extrapolado as fronteiras de Bacuri.

Quando a agência abria, ele sempre era o primeiro a ser atendido. Na verdade a urgência dele em receber seus proventos era tão somente para ficar boa parte da manhã nas barracas e bodegas saboreando alguns goles da branquinha e curtir uma boa prosa com uns e outros.

Em casa era autoritário e primava por uma educação rígida para com os filhos. Não se cansava de repetir: − Lá em casa criança é no cacete!

Certo dia, por ocasião das festas do padroeiro de Bacuri, havia uma grande expectativa com a chegada de uma famosa radiola de reggae vinda de São Luís. A notícia da festa, organizada por seu compadre Manelão, espalhou-se por toda a Baixada maranhense.

João Maria, o filho mais velho de Beloca, já com seus vinte anos e porte atlético vinha treinando o reggae e não perderia essa festa por nada nesse mundo…

Chegado o dia da festa, João Maria preparou-se todo, “bazugou” um pouco de Loção Zezé sobre o corpo e partiu assoviando rumo ao barracão de Seu Manelão. Beloca, que odiava bagunceiros em festa de família, recomendou ao filho: − Te cuida, rapaz!

A festa foi até de manhã.

O sol já ia aparecendo por entre o orvalho que teimava em formar um manto sobre os campos alagados, quando Beloca começou a se espreguiçar na rede de “tapuirama”. Foi acordado com uma notícia que o deixou contrariado: Seu filho João Maria estava aprontado uma verdadeira arruaça na festa do compadre Manelão.

Levantou-se da rede de um pulo só, vestiu-se rapidamente, colocou o chapéu e os óculos escuros e, de passagem pela cozinha, carregou consigo uma mão-de-pilão que estava sobre a mesa, saindo apressado sem saborear nem mesmo um gole de café que tanto apreciava.

Ao passar em frente à casa de dona Tereza Amado que estava varrendo a calçada da frente, nem sequer deu um bom-dia. De cabeça baixa, passou resmungando e soltando uns palavrões. Dona Tereza estranhou sua atitude incomum e falou:

 − Oi seu Beloca. Bom-dia!… Que pressa é essa, homem?

 − Dona Tereza. Retrucou ele. – O dia não começou muito bem. Meu menino João Maria aprontou de novo!

 − O que foi dessa vez, Siô?

− O menino, imagina a senhora! Tá bagunçando a festa do cumpade Manelão. Dona! Não admito que filho meu bagunce festa alheia. Vou agora botar pra arrebentar com ele.

− Mas Seu Beloca, assim com esse pedaço de pau o senhor vai é matar o seu filho!

− Dona! Eu não quero é nem saber. Com pau eu fiz, com pau eu desmancho!

Nem tanto assim, mas umas palmadinhas de vez em quando não fazem mal a ninguém.

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Selo comemorativo do Ano da França no Brasil é lançado na Casa França Maranhão

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Será lançado dia 7 de outubro, às 18 horas na Casa França Maranhão, na Rua do Giz, no. 139, no Centro Histórico de São Luís, o selo comemorativo ao Ano da França no Brasil que faz alusão às Relações Diplomáticas entre os dois países.

O selo em questão, representa o reconhecimento da Nação brasileira ao trabalho desses importantes estudiosos e profissionais de origem francesa, que se dedicaram, com afinco e talento, aos ideais que abraçaram em prol da humanidade.

São homenageados Claude Lévi-Strauss e Le Corbusier.

” Claude Lévi-Strauss

         Nascido em 28 de novembro de 1908, em Bruxelas, na Bélgica, de pais franceses, Claude Lévi-Strauss, a partir de 1927, estudou Filosofia e Direito em Paris, obtendo, em 1931, sua licenciatura em Filosofia. Após lecionar durante dois anos, foi nomeado, em 1935, membro da missão universitária francesa no Brasil, e participou da criação da Universidade de São Paulo, onde ocupou a Cátedra de Sociologia da faculdade de Filosofia, Ciências e Letras até o ano de 1939. Nessa época, fez viagens de estudo aos estados do Paraná, Goiás e Mato Grosso para desenvolver pesquisas etnográficas sobre as comunidades indígenas nambikwara, caduvéo e bororo, relatando, anos mais tarde, esta experiência brasileira na obra Tristes Trópicos, publicada em 1955. Fugindo da ocupação do território francês pelo exército alemão, durante a Segunda Guerra Mundial, instalou-se, em 1941, nos Estados Unidos e lecionou na New School for Social Research, em Nova York.

         Ao retornar à França, após a Libertação, foi enviado em missão aos Estados Unidos pelo  Ministério das Relações Exteriores, entre 1945 e 1948, para exercer a função de Conselheiro Cultural junto à Embaixada da França, que deixou para terminar sua tese de doutorado. Já de volta à França, foi nomeado vice-diretor do Museu do Homem em Paris e, em seguida, diretor da Ecole Pratique des Hautes Etudes. Em 1959, Lévi-Strauss foi nomeado titular da Cátedra de antropologia do Collège de France, e, desde 1973, é membro da Academia Francesa.

         Sua permanência no Brasil foi determinante tanto para a sua carreira quanto para a sua obra: iniciou-se na prática etnográfica, coletou dados e publicou seus primeiros textos na área da etnologia. Suas pesquisas posteriores, reunindo informações sobre diversas regiões do continente americano, beneficiaram-se igualmente de suas pesquisas sobre o Brasil. Essas pesquisas são o ponto de partida para a essência de sua obra.

         Após 1955, e a publicação de Tristes Trópicos, Lévi-Strauss tornou-se um intelectual reconhecido. No Brasil, sua obra teve repercussões importantes no pensamento antropológico  a partir da década de 60, graças à releitura de seus estudos sobre a organização da sociedade nambikwara do planalto central e as relações de parentesco dos índios da Amazônia.

         Fundador da antropologia estruturalista, Lévi-Strauss contribuiu por meio do conjunto de sua obra a desmontar a visão etnocêntrica das civilizações e as bases do colonialismo ocidental,  trazendo à tona as formas da “cultura selvagem”, cujas organizações complexas nada deixam a desejar às nossas, em termos de elaboração.

Le Corbusier

         Charles-Edouard Jeanneret, Le Corbusier, nasceu em 6 de outubro de 1887, em Chaux-de-Fonds, na Suíça. Após estudos iniciais de gravura e de arte decorativa, uma série de viagens à Europa e ao Oriente e de estágios em ateliês de arquitetura em Paris e  Berlim, instalou-se definitivamente em Paris, em 1917, tendo se naturalizado francês, em 1930. Encontrou-se com o pintor Amédée Ozenfant, figura importante do purismo, com quem escreve o manifesto do purismo, “Após o cubismo”. Em 1922, abriu um escritório de arquitetura e adotou o  sobrenome de solteira de sua mãe, Le Corbusier.

         Arquiteto, urbanista, pintor e escritor, sua obra é fecunda e revolucionária.  Adepto do funcionalismo, ele descarta valores e condicionamentos históricos e marca profundamente a arquitetura do século XX, tanto pela sua obra quanto pelos seus escritos. Promove a utilização do cimento armado, do vidro e de materiais sintéticos, de elementos pré-fabricados e, esteticamente, o uso das cores “puras”, de pilotis, terraços suspensos e pára-sol. Sua obra influencia o trabalho de vários arquitetos brasileiros, entre eles Lúcio Costa, Carlos Leão e Oscar Niemeyer.

         A primeira visita de Le Corbusier ao Brasil, em 1929, para uma série de conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro, contribuiu para o sucesso da arquitetura moderna e do urbanismo no Brasil. Essa viagem é igualmente importante para a  evolução de seu estilo a partir de 1930. O desenho sinuoso dos edifícios que projetou para o Rio de Janeiro marca o início de uma segunda fase na sua obra, que vai além do racionalismo puro. Essa nova fase influenciou as escolhas arquitetônicas dos modernistas brasileiros.

         Em 1936, Le Corbusier voltou ao Brasil para dirigir o projeto de construção da sede do Ministério de Educação e da Cultura no Rio de Janeiro. Lúcio Costa, Afonso Reidy e Oscar Niemeyer participaram da construção deste primeiro arranha-céu moderno. A intervenção de Le Corbusier neste projeto contribui para o reconhecimento da arquitetura moderna e para o desenvolvimento de um movimento arquitetural que evidencia a identidade nacional brasileira. Ele desenhou também os planos iniciais da Embaixada da França em Brasília, mas não pode concluir, ficando a cargo do seu discípulo Juan de la Fuente a retomada do projeto.

         Por sua vez, a obra de Niemeyer o inspirou na última fase de sua obra. Essa influência é observada principalmente nas curvas da capela de Nossa Senhora du Haut, em Ronchamp na França, ou ainda nos seus projetos para a cidade indiana de Chandigarh. Personalidade genial, Le Corbusier tentou por meio de seus projetos arquitetônicos dar um tom mais humano à sociedade industrial.

         Esta emissão, no âmbito das festividades do Ano da França no Brasil, representa o reconhecimento da Nação brasileira ao trabalho desses importantes estudiosos e profissionais de origem francesa, que se dedicaram, com afinco e talento, aos ideais que abraçaram em prol da humanidade”.

(*) Texto elaborado pela Embaixada da França no Brasil
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Mentira, injúria, difamação ou calúnia?

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Assim como os ventos sinalizam a mudança das marés, a onda de denúncias sobre os pretensos candidatos são um prenúncio de início das campanhas eleitorais. De repente, “fatos novos” começam a aparecer, mentiras são inventadas e as denúncias proliferam e reverberam nas mídias locais e nacionais. Muitas das vezes a mídia, no afã de divulgar os fatos, acaba atribuindo maior peso a sua própria liberdade de imprensa do que a liberdade dos acusados.

É conhecida a história que durante certa campanha política no interior do Estado, os governistas estavam preocupados com um candidato que lhes fazia oposição, exatamente por se tratar de um oponente capaz, íntegro e “sem defeitos”. Um dos participantes da reunião teria encontrado a solução para vencê-lo nas eleições: − Se não tem defeitos, isso não é problema; a gente inventa…

O tempo passa e parece que o processo democrático não evolui nesse aspecto. Os fatos e as manchetes dos jornais, mesmo os da grande imprensa, já manifestam sinais de que a sucessão presidencial está em curso. Mentiras, injúrias, difamações e calúnias, voltam a ocupar as manchetes dos mais variados veículos de informação do País.

Os juristas definem a calúnia como sendo o ato de atribuir a alguém, de modo falso, a responsabilidade pela prática de um determinado fato definido como crime.

Por outro lado, a difamação, consiste em atribuir a alguém um determinado fato ofensivo à sua reputação. Assim, se um deputado diz que seu colega estava embriagado no plenário, isso constitui um crime de difamação. Na verdade, a palavra difamação, que vem do latim diffamare, significa desacreditar alguém. Trata-se, portanto de um crime, que consiste em atribuir a alguém fato ofensivo à sua reputação de pessoa íntegra e fiel aos bons princípios da moralidade.

A injúria, por outro lado, é caracterizada quando se atribui a alguém uma qualidade negativa que ofenda sua honra ou dignidade. Tomando como exemplo os plenários legislativos, se durante um pronunciamento um parlamentar se refere a seu colega como um ladrão, isso caracteriza um crime de injúria.

Os experts no campo jurídico dizem que “na difamação há afirmativa de fato determinado e que na injúria há palavras vagas e imprecisas”. Assim, se o deputado diz que seu colega é ladrão, estando apenas os dois dentro de uma sala, não tendo alguém que o tenha escutado, isso não constitui crime de injúria.

Contam que certo dia, o governador Cafeteira, cercado de alguns assessores, discutia sobre as diferenças entre a mentira, injúria, difamação e calúnia. O chefe da Casa Civil do Governo era o Eduardo Lago, que, para dirimir a dúvida teve que convocar juristas de grande notoriedade, dentre eles, João Itapary, Walber Matos, Fernando Macieira, Gervásio dos Santos e Sálvio Dino.

De repente, o ajudante de ordens interrompe a reunião que rolava animada, para anunciar a chegada de um prefeito, vindo do interior do estado, para uma audiência com o governador. O Cafeteira interrompeu temporariamente a discussão e autorizou a entrada do visitante que se senta ao seu lado. Para não perder o raciocínio e na tentativa de contribuir para o melhor entendimento dos conceitos, Eduardo, colocando as mãos no joelho do prefeito, retomou a palavra:

− Governador, se eu disser que o prefeito aqui é “qualhira”… Isso é uma mentira, uma injúria, uma difamação ou uma calúnia?

Antes que os advogados começassem a emitir suas opiniões o recém chegado, com toda a sua calma, antecipou-se:

− Mas doutor Eduardo, não dá pra trocar o exemplo?

O episódio em si retrata que até mesmo como hipótese, a simples associação a um desses conceitos incomoda a qualquer cidadão de bem.

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A França e os tupinambás

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Todo maranhense tem o sonho de conhecer Paris.

“São Luís vai virar Paris, vai virar Paris, já está por um triz …” Assim cantam os foliões, subindo e descendo as ladeiras do centro histórico, animando o nosso carnaval. Ainda falta muito, mas temos aqui também nossos encantos e disso estão certos Gerude e Jorge Tadeu, os autores da canção.

Na verdade tudo isso tem um componente genético. Alguns cromossomos de nossos antepassados tupinambás ainda se fazem presentes em nosso DNA.

A história registra que foram seis índios tupinambás que, em 1º de dezembro de 1612, embarcaram no navio Régent para atravessar o Atlântico e fazer o primeiro tour rumo ao velho continente. E sabem para onde foram? Para a França, lógico!

Acompanhados do guia Claude d’Abbeville, desembarcaram no porto de Hâvre, cruzaram a Normandia rumo a Rouen  para conhecer a famosa Catedral e, como todo turista que se preza, o destino final era Paris.
Recebidos com honras de chefes de Estado, passearam pela Saint-Honoré e ainda foram conhecer o Louvre… Na época, ainda não era o famoso museu dos dias de hoje, mas sim, o palácio residência do Rei Luís XIII.

Os índios tupinambás causaram enorme curiosidade e fizeram grande sucesso, tendo sido recebidos com entusiasmo pela corte real. Três deles, com suas roupas ou devido à falta delas, não resistiram ao intenso frio do inverno europeu. Morreram antes de verem desabrochar as flores da primavera do hemisfério norte.
Os sobreviventes, em pouco tempo, trocaram as folhas da diamba pela flor-de-lis. Em solene cerimônia de batismo presidida pelo arcebispo de Paris Henri de Gondi, os novos cristãos tupinambás receberam das mãos da rainha mãe Maria de Médici e do jovem Rei Luís XIII, as cruzes ornadas com o símbolo da monarquia francesa.

Durante o tempo em que permaneceram na França, plantaram suas sementes e lá deixaram descendentes. Sabe-se que nas veias de muitos franceses ainda corre o sangue dos nossos antecedentes tupinambás.

Enquanto isso, os franceses que desembarcaram aqui na Ilha de Maranhão, ficaram extasiados com a habilidade dos índios na confecção dos cestos em palha de babaçu.  Couffe, couffin, são palavras francesas para designar cesto, paneiro. Com o passar do tempo, couffe acabou virando cofo, incorporando-se ao vocabulário local e, curiosamente, é uma das raras palavras da língua portuguesa, de origem francesa, conhecida apenas aqui no Maranhão.

São Luís sempre se julgou mais próxima do continente europeu do que do Rio de Janeiro. Suas elites importavam da Europa as pratarias do Oriente, faianças francesas, azulejos portugueses, sedas, linho, casimira inglesa e demais artefatos refinados.

Durante séculos, os filhos de famílias abastadas do Maranhão dirigiam-se à França para completar seus estudos, a exemplo de Gonçalves Dias e Sousândrade. Desde então, a França mantém certo fascínio sobre as mentes maranhenses.

Recentemente, quando da restauração do casarão da Rua do Giz que hoje abriga a Casa França Maranhão, foram achados objetos que revelam o culto aos hábitos franceses. Durante a pesquisa arqueológica que antecedeu o início das obras, foram encontrados, no pátio interno dessa morada colonial que chegou a abrigar o governador Colares Moreira, cachimbos de grés (porcelana não translúcida), faianças francesas, garrafas de champagne – vazias, porém francesas, biensûr – e até escovas de dentes de uma série comemorativa, em cujo cabo (feito de osso), está grafado em francês: pour l´Empereur du Brésil Pedro II.

Nos dias de hoje, se alguém quiser se sentir na França, que faça uma visita ao Palácio dos Leões, sede do governo do Estado do Maranhão. Seus requintados salões nos remetem à corte francesa. Os diversos ambientes abrigam, com raro requinte, móveis de época, pinturas e a mais rica coleção de gravuras francesas existente fora da França. O encantamento é visível nos olhos de todos que o conhecem.

Nesses quase quatrocentos depois que os franceses desembarcarem em São Luís os tupinambás quase desapareceram do mapa. De nossos antepassados, mesmos, só restam os franceses e os portugueses que os sucederam depois.

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Angelique Kidjo em São Luís

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angelique_kidjo_4001.jpg“Seu espírito é irrepreensível e ela traz vida a tudo que toca.” Assim se refere a ela o líder da banda inglesa Genesis Peter Gabriel.

Com forte influência da cultura do Benin, na África Ocidental, seu país natal, Angelique Kidjo, hoje renomada cantora, compositora e musicista, despertou para a música desde os seis anos de idade, na pequena cidade portuária beninense de Cotonou, capital do país.

A desordem política em seu país obrigou-a mudar se para Paris e posteriormente para Nova York, de onde irradia sua musicalidade amplificada pela sua potente e inigualável voz. Sua forte presença de palco ajudada pela influência de várias culturas e línguas ganharam respeito no mundo da música e expandiram seu público além de qualquer fronteira.

Buscando mixar suas raízes africanas com a música americana, brasileira e caribenha, o seu trabalho foi reconhecido e graças a ele chegou ao topo da premiação como artista. Foi indicada ao Grammy devido à trilogia dos álbuns “Oremi”, “Black Ivory Soul” e “Oyaya”. Mais tarde, recebeu outras três indicações ao Grammy Awards.

Esteve no Brasil pela primeira vez há mais de dez anos apresentando-se com Jorge Bem Jor em Salvador e, mais recentemente em 2002, gravou o disco Black Ivory Soul sob forte inspiração da cultura afro-brasileira. O CD traz uma mistura percussiva de ritmos africanos e brasileiros interpretados pelos melhores instrumentistas do Benim (origem do grupo Yorùbá) e de Salvador, e traz três composições em parceria com Carlinhos Brown, além da releitura de “Refavela”, clássico de Gilberto Gil.

Com seu mais recente trabalho “Djin Djin” ganhou o Grammy na categoria Melhor Álbum Contemporâneo do Mundo em 2008. Gravado numa instituição do Benin o disco tem a participação de Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue, renomados percursionistas da banda Benin´s Gangbé Brass.

“Além deles Kidjo incorporou quase uma dezena de expoentes músicos: o baterista Poogie Bell, conhecido por seu trabalho com Erykah Badu e Chaka Khan, o mágico dos teclados Amp Fiddler, cujos créditos incluem-se Prince e George Clinton; Larry Campbell, cujo trabalho multi-instrumental incrementou a música de Bob Dylan, Emmylou Harris e Paul Simon; o gigante do baixo Habib Faye, que tocou com Youssou N´Dour; o guitarrista Lionel Loueke, integrante da banda lenda de jazz Herbie Hancock´s; Romero Lubambo, um maravilhoso brasileiro cujos créditos incluem Diana Krall e Dianne Reeves; João Mota, de Guiné Bissau e Mamadou Diabate”.

 “Foi muito importante pra mim que todos esses grandes músicos voltassem comigo às minhas raízes” disse Kidjo. “Eu nunca tinha comprometido essas raízes porque conheço minha identidade e eu aprendi que, a fim de dar através da música, você tem que se posicionar entre outros indivíduos que pertencem a diferentes culturas e estilos e então buscar caminhos para descobrir que nós não somos totalmente diferentes”.

A apresentação de Angélique Kidjo, faz parte da Programação do Ano da França no Brasil e homenageia a cidade São Luís por ocasião do aniversário de sua fundação e se fará na Praça Maria aragão no dia 08 de Setembro.

Graças à cooperação dos Comissariados Brasileiro e Francês do ano da França no Brasil e da Prefeitura Municipal de São Luís, a população de São Luís poderá assistir a esse espetáculo internacional.

Angelique Kidjo se apresentará ainda no Rio de Janeiro (Canecão), em São Paulo e em Brasília (Praça Museu Nacional da República).

Bom proveito.

P.S. Textos em negrito foram fornecidos pela produçõ do show. 

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Les Urbanologues Associés

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Vou iniciar este artigo, reproduzindo citações da imprensa sobre a apresentação do espetáculo Les Urbanologues Associés, um Teatro de Fachada, que acontecerá aqui em São Luís, como parte das programações do Ano da França no Brasil:

“Les Piétons: finalmente, um teatro de rua”
Le BaveArt, Aurillac

“…lugares que os espectadores seguramente não verão mais com o mesmo olhar após a passagem desses dois surrealistas urbanos”
Le Télégramme de Brest

“… uma hora e quinze de um espetáculo inesquecível, ajustado milimetricamente (segurança exige), mas deixando uma boa parte de improvisação com o público.”
Le Dauphiné Libéré

Quem for ao centro histórico de São Luís, no próximo final de semana terá a oportunidade única de assistir às performances de Antoine Le Menestrel e JeanMarie Maddeddu. Antoine, o homem aranha francês, é um expert em alturas, faz evoluções acima dos espectadores e escala as paredes dos prédios sem tocar o solo. Seu companheiro JeanMarie, um especialista em linguagem sonora e visual, se encarrega de interagir com os espectadores.

As apresentações serão todas às 16H00. Na sexta feira, dia 21 de agosto, será na Rua do Giz e na Rua Humberto de Campos, enquanto que a do sábado será feita na Rua Portugal.

O trabalho de Antoine Le Menestrel e JeanMarie Maddeddu já foi apresentado em monumentos históricos, muitos deles pertencentes a lista do Patrimônio Mundial da UNESCO: Plazza Mayor, em Salamanca e Parc Guell, em Barcelona (Espanha), Catedral de Gap (França) Relógio Cósmico de Mântua (Itália) e Museu da Cidade de Poznan (Polônia) dentre tantas.
Trata-se de um teatro de fachada, onde os artistas utilizam-se das fachadas dos prédios para a apresentação de uma coreografia vertical. “Será com nosso corpo, nossas mãos nuas e a música que nos deslocaremos sobre as paredes. As fachadas são o nosso espaço cênico, no tempo necessário para um espetáculo, assim sendo, teremos o maior cuidado ao utilizá-las”, assim explica Antoine Le Menestral.

O espetáculo percorre o Brasil, com apresentações em São Paulo, Curitiba, Salvador, São Luís e Brasília.

Vale a pena conferir.

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O babaçu e a queda de cabelo

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hommes_chute_cheveux.jpgDurante os últimos quarenta anos, aqui no Maranhão, foram fechadas cerca de 50 empresas que produziam, a partir do babaçu, óleo bruto e refinado para abastecer as indústrias alimentícias e de higiene e limpeza. Com o avanço da produção de soja, e com os preços reduzidos do óleo do sudeste asiático, o produto perdeu sua competitividade no mercado. Os estudos mostram que cerca de 60 subprodutos podem ser extraídos da palmeira do babaçu, porém, até os dias de hoje, não se encontrou nenhuma forma capaz de justificar a sua exploração de forma rentável.

Dentro em breve será lançado o livro A Física do Nada do cientista José Benedito Ribeiro. Após décadas de pesquisa sobre o babaçu, o autor vem aplicando os conhecimentos da física quântica para explicar as propriedades do mesocarpo do babaçu. A idéia é buscar uma forma de agregar valor ao produto. Suas pesquisas se estendem à aplicação e benefícios contidos no produto, chegando a fazer experimentos para cura de diversas doenças tidas como incuráveis. Muitas cobaias têm sido utilizadas, algumas delas com resultados surpreendentes. O grande segredo consiste na interatividade do indivíduo com a matéria (no caso, cápsulas do mesocarpo do babaçu). Há necessidade da interação através de mentalização para que a matéria seja adequadamente quantizada. Só assim os efeitos aparecem.

Eu, mesmo, resolvi experimentá-los na tentativa de conter a queda dos meus cabelos. Devidamente orientado, tenho tentado seguir as indicações de meu amigo Benedito.

Este assunto me faz lembrar Norton Pinto.

No início do século passado, em Pinheiro, Norton Pinto vinha se dedicando ao estudo do poder da mente. Devorava todo e qualquer livro que tratava do tema. Posteriormente, com o passar do tempo, evoluiu para o domínio das técnicas da hipnose.

Certo dia, ao acordar, Norton deparou-se com o jornal Cidade de Pinheiro. Ao abri-lo, deu de cara com a seção de horóscopos, onde se lia: “Dia próprio para experiências hipnóticas”.

– Hoje é o meu dia! Pensou: – É hora de praticar meus conhecimentos! Vou aplicá-los no velho Capitão João Leite!

Desenvolveu uma idéia, concentrou-se nela e procurou mentalizar nos mínimos detalhes todos os passos a serem tomados para viabilizar o seu intento.

Norton vestiu-se imediatamente e dirigiu-se, então, à casa do velho capitão João Leite. Figura muito conhecida em Pinheiro, pão duro como poucos, o capitão estava àquela época, mais arreliado do que nunca.

Chegando ao casarão da família, Norton lembrou-se de praticar os ensinamentos arduamente adquiridos ao longo do tempo: mentalização, pensamento positivo, postura ereta e atitudes resolutas.

Pisou o primeiro degrau da porta com o pé direito e bateu palmas bem fortes. Bateu tão forte, que o capitão João Leite, que se encontrava lá dentro da sala, sentado numa cadeira de embalo, com a bengala em uma das mãos e fumando seu cachimbo, logo resmungou:

– Quem será esse audacioso que, a esta hora da manhã, está a me importunar aqui em minha própria casa?

Norton, sem saber se estava sendo ouvido ou não, bateu com muito mais força, o que só fez irritar ainda mais o velho João Leite.

– ENTRA! – Bradou o capitão.

Nortou entrou com o pé direito, todo empertigado, passadas firmes, e falou bem alto:

– Bom-dia, Seu João Leite!

 João Leite respondeu seco:

– Bom-dia.

Norton esticou os dois dedos em riste, olhando bem nos olhos do capitão João Leite, e disparou:

– Eu vim aqui pro senhor me emprestar três contos de réis!

Ao que, de pronto, o velho João Leite, levantando-se da cadeira, retrucou:

– NÃO EMPRESTO!

E, assim, desmoralizado pela imediata reação do capitão João Leite, o Norton desistiu de vez de aplicar seus conhecimentos hipnóticos. 

No meu caso, continuo insistindo com as cápsulas do mesocarpo. Não vou desistir de quantizar a matéria até porque os meus parcos fios de cabelo, se não estão nascendo novamente, pelo menos pararam de cair. 

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