O coração da mulher é diferente ?

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alk_nrg_drink_05301.jpg            Do ponto de vista científico parece que sim. Neste sábado, dia 14/06, fiz uma palestra em Belém, com esse tema durante a realização do  XXVIII Congresso Norte e Nordeste de Cardiologia. O conteúdo dessa palestra mostra alguns dados muito interessantes. Nos Estados Unidos morrem anualmente, mais mulheres que homens, vitimadas por doenças cardiovasculares. Aqui no Brasil não acontece o mesmo. O homem brasileiro é mais acometido e morre mais de causa cardiovascular.

            O que existe de diferente? Existem muitas peculiaridades. Do ponto de vista anatômico as mulheres têm suas artérias coronárias mais finas, as placas de gorduras crescem mais para o lado de fora da luz da artéria, o que nós chamamos de remodelamento positivo, o que vem trazer  dificuldades na identificação de obstruções, quando é realizado um cateterismo. Quando submetida a um Teste Ergométrico e o resultado é alterado, na maioria das vezes são falsos positivos, por vários motivos, entre eles se incluem alterações hormonais ou alterações prévias do eletrocardiograma de repouso. A mulher tem mais doença microvascular e os homens doenças das grandes artérias. Há muita dificuldade de tratar e diagnosticar doenças em vasos de pequeno calibre.

             A principal causa de Infarto da mulher na fase de pré-menopausa é o tabagismo. Hoje a mulher fuma tanto quanto o homem. Dados recentes dos americanos, indicam que há uma redução no consumo de cigarros entre os homens, e o mesmo não acontece no sexo feminino.

             Quando a mulher procura uma emergência com suspeita de um ataque cardíaco, primeiro ela demora mais que o homem, pois ela tem dificuldades de reconhecer os sintomas, se eles estão ou não relacionados ao coração. O seu limiar de dor é diferente. A sua sintomatologia é mais atípica e mais variada, nem sempre é dor no peito, o que também dificulta o reconhecimento por parte dos médicos. 2/3  delas apresentam o Infarto já como a primeira manifestação clínica. 1/3 apresentam infarto sem dor no peito. Elas já chegam ao pronto-socorro com mais co-morbidades. São mais hipertensas e diabéticas. Após a menopausa a maioria tem colesterol elevado. 

             Os trabalhos  médicos apontam que no mundo inteiro, elas são discriminadas científicamente,  são  menos referidas para cateterismo cardíaco, pois achava-se que os acidentes pudessem ser maiores no sexo feminino. Por isso até hoje ela fazem menos angioplastias e menos procedimentos cirúrgicos do coração. Até mesmo os trabalhos científicos só recrutavam 10% das mulheres, pois também achava-se que havia uma demora no aparecimento da doença na mulher, isso acontece realmente, só até chegar o momento da menopausa, ou quando ela não é fumante, hipertensa, diabética ou tenha o antecedente familiar de cardiopatia. A oferta de remédios preventivos como aspirina e estatinas, que são comprovadamente efetivas, são prescritas em menor quantidade nas mulheres. O interessante é que a Terapia de Reposição Hormonal que reinou por mais de duas décadas como droga, que viria prevenir as doenças cardiovasculares, é muito bem aceita pelas mulheres modernas, mais hoje está comprovado os  seus efeitos deletérios para o aparelho cardiovascular. Sua indicação hoje é aceita apenas para reduzir sintomas da menopausa, com duração de no máximo 4 anos.

             Realmente existe um retardo no aparecimento da doença coronária na mulher, esse retardo é de 10 anos, isso acontece até os 60 anos, porém  quando a doença chega na mulher, ela é mais grave. Após o diagnóstico de Infarto do Miocárdio elas morrem mais, principalmente as mais jovens. As mulheres diabéticas e cardiopatas são mais graves que os homens diabéticos. O que adiciona um índice mortalidade muito maior que nos homens diabéticos.

             A capacidade funcional(leia-se física), é menor na mulher, o que dificulta programas de reabilitação cardíaca. Outro grande problema, é a superfície corporal que também é menor entre as mulheres, o que vem provocar mais efeitos adversos no uso de medicamentos, pois geralmente não há correção das dosagens.

             Encerrei a conferência dizendo: “As mulheres ainda, são mais sub-diagnosticadas, sub-tratadas e sub-pesquisadas”

                                  [email protected] 

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