Menopausa ou climatério?

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Menopausa, pré-menopausa, climatério.

Ao cruzar a linha dos 40, a mulher passa a se preocupar com palavras como essas, que pareciam só fazer parte do vocabulário da mãe, da tia e das velhotas do pedaço. Algum tempo depois, ela sente na pele — na verdade, no corpo inteiro! — o que significam: um turbilhão de mudanças físicas e psicológicas que leva ao fim da capacidade reprodutiva.Na boca do povo, todo esse longo período é chamado de menopausa. Mas, para sermos cientificamente corretos, é preciso esclarecer que essa expressão designa apenas a última menstruação. Só isso. A fase que chega um pouco antes desse grand finale e se estende por muitos anos é o climatério. Esse, sim, a mais completa tradução de uma reviravolta hormonal no sexo feminino.

Existe ainda mais uma palavrinha: a pré-menopausa. É quando a fertilidade começa a despencar ladeira abaixo. “No auge da vida reprodutiva, a mulher tem 75% de chances de engravidar em seis meses”, explica o ginecologista e obstetra Rogério Bonassi Machado, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí e secretário geral da Sociedade Brasileira de Climatério (Sobrac). “Depois dos 40, a probabilidade de ficar grávida não passa de 20%.”

Estrógeno sai de cena
Os sinais mais desagradáveis do climatério atingem o apogeu na menopausa — o que pode ser a raiz de toda a confusão com esses nomes. No entanto, se a mulher reparar, eles já dão as caras sutilmente um pouco antes. E, quando a menstruação some para sempre, continuam firmes e fortes até um ano depois. Esse auge do furacão é a perimenopausa — perdão, aí vai mais um nome. É nela que a vagina perde a umidade e surgem os fogachos — ondas de calor que fazem a mulher se abanar até debaixo da neve. Antes de desaparecer, a menstruação passa a falhar. Às vezes, fica meses sem descer. Pode vir em um mês, não vir em outro. Ou surpreender, surgindo duas vezes no espaço de 30 dias. Tudo porque na perimenopausa já não há mais hormônio feminino suficiente para fazer o útero se preparar para a gravidez com a regularidade de outrora — e lembre-se de que o sentido biológico da menstruação é esse. Sem o pontapé inicial nesse ciclo, muitas vezes nada acontece. Ou fica tudo tão descontrolado que ele se completa a cada 15, 20 dias.

Antes, durante e depois
O que costuma acontecer em cada fase do climatério (as faixas de idade são aproximadas)

Pré-menopausa (dos 35 aos 48 anos)
Há controvérsias sobre a época em que se inicia. Para alguns médicos, ela começa aos 35 anos. Outros acham que só aos 40.
Sinal: queda acentuada da fertilidade.

Perimenopausa (dos 45 aos 50 anos)
Abarca o período de dois a três anos antes da última menstruação e até um ano depois.
Sinais: irregularidade no ciclo menstrual, ondas de calor (fogachos), transpiração intensa, dificuldade para dormir, irritabilidade e sintomas parecidos com os da TPM, porém mais intensos.

Menopausa (por volta dos 48 anos)
É o nome que se dá à última menstruação. Ela só pode ser reconhecida definitivamente após um ano de ausência do sangramento.

Pós-menopausa (dos 48 aos 65 anos)
Vai da última menstruação aos 65 anos, quando a mulher ingressa no que se convencionou chamar de terceira idade.
• Sinais: a vagina seca e fica fragilizada, maior propensão a infecções urinárias, escape involuntário de urina, perda da libido, aumento do risco de câncer de mama, osteoporose e doenças cardiovasculares.

Ai, que calor!
Os fogachos infernizam 75% das mulheres no climatério por um tempo médio de cinco anos. Há vítimas que ardem em suas brasas até dez anos. Quem sentiu descreve a sensação de forma assustadora: é um calor insuportável, que nasce na região do pescoço e se irradia pelo rosto e pelo tórax. Cada onda dessas dura de quatro a seis minutos, que parecem os mais longos do mundo.

A sensação de calor é conseqüência de dilatações repentinas de veias e artérias, que, logo em seguida, se contraem. Para regular a temperatura corporal destrambelhada pelo vai-e-vem dos vasos, o corpo começa a suar. A mulher se abana e, minutos depois, sente calafrios terríveis.

O hipotálamo, a área cerebral que controla a atividade dos ovários, também é o encarregado de ajustar o termômetro corporal. Por isso, uma hipótese para o fogacho é a de que, ao tentar elevar a produção de estrógeno, o hipotálamo desencadeie essas ondas. Há outros sintomas causados pela baixa do estrógeno. Por exemplo, o mau humor, já que (veja o azar!) esse mesmíssimo hormônio ajuda a elevar os níveis de neurotransmissores relacionados à percepção de bemestar, como a serotonina. Daí, com a diminuição da concentração do estrógeno, poderem vir a irritação, a insônia, a depressão e, de quebra, mais os sintomas típicos da TPM — diga- se, ainda mais intensos.

Coração corre perigo
Na pós-menopausa, período que dura em torno de 15 anos, os reflexos da falta do estrógeno se consolidam. A vagina se atrofia e suas paredes se tornam vulneráveis a traumas. As relações sexuais podem se tornar mais difíceis e doloridas se a mulher não encontrar saídas.

A perda de elasticidade atinge também a uretra, o que pode desencadear problemas como inflamações, incontinência e o que os médicos chamam de urgência miccional — nada mais é do que um desespero para fazer xixi.

Se o estrógeno estivesse envolvido com a reprodução, vá lá. Mas não: ele também estimula o colágeno, que dá viço à pele. Para completar, atua como um anjo da guarda do coração: ajuda a diminuir o colesterol ruim e a elevar o nível do colesterol bom na circulação. Quando esse hormônio mingua, as doenças cardiovasculares ganham terreno.

Outro mal bastante típico da derrocada do estrógeno é a osteoporose — o hormônio feminino desaparecido dava uma boa mão na produção e na reabsorção dos tecidos ósseos.

No nascimento, o ovário da menina carrega um lote de 2 milhões de folículos, mas grande parte morre ao longo dos anos. Quando entra na puberdade, conta com apenas 300 ou 400 mil.

1. Todo mês são recrutados mil folículos para a ovulação. Cada um possui uma célula germinativa cercada pelas chamadas células teca e granulosa. Estimuladas pelo hormônio FSH, elas produzem estrogênio, o hormônio que prepara o útero para uma possível gravidez e atua na transformação da célula germinativa dentro do óvulo.

2. Quando o óvulo caminha para as trompas, os demais folículos que tentavam amadurecer morrem. O folículo de onde ele saiu vira o corpo lúteo, que fabrica progesterona, o hormônio que sustentará a gravidez caso ela ocorra. Não engravidando, a mulher menstrua, os níveis de
hormônio feminino caem.
A hipófise, uma glândula situada no cérebro, detecta essa queda e libera o hormônio FHS, que dá a ordem para tudo recomeçar.

3. A mulher entra no climatério com 8 a 10 mil folículos. Diante desse baixo estoque, a produção de hormônios femininos decai até se tornar insuficiente para preparar o útero à gestação. É quando a menstruação começa a falhar.

FONTES: WALTER BANDUK SEGUIN, GINECOLOGISTA E OBSTETRA DO HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO CAMILO — POMPÉIA, E EDUARDO VIEIRA DA MOTTA, GINECOLOGISTA E OBSTETRA DO HOSPITAL ALBERT EINSTEIN E DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE SÃO PAULO

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