Perigos de ignorar a dor

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As dores aparecem em algum momento da vida. Meus amigos e eu, todos na terceira idade, muitas vezes brincamos que se nada estiver doendo, devemos estar mortos. Mas, na verdade, os especialistas indicam que a dor não é uma parte normal do envelhecimento e não deve ser ignorada.

Ainda assim, estudos revelam que pacientes mais velhos costumam relatar dores aos médicos com menos frequência do que jovens adultos. Em vez de falarem a respeito, muitos sofrem em silêncio, à custa de sua qualidade de vida.

— A boa notícia é que pessoas mais velhas conseguem lidar melhor com a dor, mas a má notícia é que lidam com a dor diminuindo cada vez mais a atividade física e aceitando-as como uma consequência da idade — escreveu o médico Bruce A. Ferrell, geriatra da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ao lado dos demais autores do Primary Issues, um site voltado para médicos especializados em cuidados primários.

— Infelizmente, tudo isso pode levar a um círculo vicioso de cada vez menos atividade física, piora na saúde e negligência de condições tratáveis e remediáveis, resultando, por fim, em sofrimento desnecessário — acrescentou.

Dores que não recebem cuidados podem levar à morte de adultos mais velhos, ao interferir na capacidade de fazer exercícios, comer corretamente e manter contatos sociais. Dores constantes podem levar à imobilidade, a problemas no sono, perda de apetite e isolamento.

Principal causa de dores pode ser tratada em idosos

Segundo o estudo de uma equipe geriátrica, envolvendo 124 pessoas (com idades entre 71 e 90 anos) em um asilo na Carolina do Norte, apenas 10% relatavam não ter sentido dores no mês anterior. As causas variam de juntas com artrite a doenças crônicas. Ainda assim, a principal causa pode ser corrigida ou, caso contrário, tratada, gerando grande alívio da dor. Quase sempre existem tratamentos seguros e eficazes para reduzi-la.

Algumas semanas antes do Natal, Dale Bell, um senhor ativo de 75 de Santa Monica, na Califórnia, relatou que seus ombros e quadris começaram a doer:

— Tomei ibuprofeno, fiz uma massagem e diminuí o ritmo dos exercícios na academia.

Quando o tratamento não foi eficaz, ele recorreu a um médico, que sugeriu uma fisioterapia. Entretanto, antes que Bell pudesse começar, ele e a família fizeram uma viagem a Nova York, durante a qual a dor se intensificou, atingindo ombros e joelhos.

— Era quase impossível levantar da cama e me arrumar pela manhã — afirmou.

Depois de receber o diagnóstico de polimialgia reumática em janeiro, ele obteve a receita de um esteroide, um relaxante muscular e um analgésico de efeito prolongado, além de fisioterapia.

Bell já está de volta à academia, e está aumentando gradualmente a intensidade dos exercícios. Ele conseguiu diminuir a intensidade da dor que sentia e passou a controlar seu problema.

Medicação

A crença falsa de que a dor é inevitável é só mais uma das muitas barreiras ao tratamento correto para os idosos. Uma vez que a dor seja reconhecida em um paciente mais velho, o desafio seguinte é realizar o tratamento adequado. Assim como as crianças não são adultos em miniatura, do ponto de vista médico, os idosos também não são versões enrugadas dos mais jovens. Mudanças na compleição física, no funcionamento dos órgãos e no metabolismo afetam a maneira como os mais velhos reagem ao uso de medicamentos.

Os rins e o fígado perdem capacidade com o passar dos anos, por isso, para evitar os efeitos colaterais tóxicos dos medicamentos, às vezes é necessário usar doses mais baixas de analgésicos. Medicamentos potentes, nas doses comuns, podem se acumular na corrente sanguínea dos idosos.

Outras formas de tratamento

Com grande frequência, os pacientes mais velhos sabotam os tratamentos eficazes por demorarem tempo demais para tomar o medicamento recomendado — é mais fácil controlar a dor quando ela começa, do que quando se torna severa demais — ou parando de tomar o medicamento abruptamente, tão logo deixem de sentir a dor. Os medicamentos contra a dor funcionam melhor se tomados de forma regular, especialmente quando a dor é crônica.

Embora os medicamentos muitas vezes sejam essenciais, existem outras formas eficazes de tratar a dor. Medidas que podem ajudar — sejam sozinhas ou acompanhadas de medicamentos — são a fisioterapia, massagens, treinamentos de fortalecimento, exercícios de relaxamento, ioga, acupuntura, hidroginástica, aplicações alternadas de calor e frio na superfície dolorida, meditação, auto-hipnose e até mesmo ouvir música e brincar com animais de estimação e crianças.

As dores artríticas são a reclamação mais comum entre os idosos que vivem em casa. A reação típica é a falta de atividade, que o relatório da equipe geriátrica descreveu como uma resposta irresponsável, já que “as consequências da falta de atividade física podem resultar em ainda mais problemas para o idoso”.

Além de procurar uma forma apropriada de lidar com a dor, escreveram os autores, as pessoas mais velhas devem tentar “manter atividades do dia a dia mesmo com a dor, para tentar evitar problemas ainda maiores ligados à falta de atividade física”.

Se você é idoso ou cuida de uma pessoa mais velha, esteja certo de que o médico pergunte sobre as dores a cada consulta — sobre frequência, duração e intensidade — e então, faça o necessário para resolver o problema. Como as enfermeiras costumam dizer: “Todo mundo, independentemente da idade, tem o direito de viver livre das dores”.

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