Droga anticolesterol é para todos
Estudo sugere que estatinas reduzem risco de males cardíacos mesmo para quem é saudável
Um novo estudo sugere que milhões de pessoas poderiam se beneficiar tomando as drogas para reduzir o colesterol conhecidas como estatinas, mesmo se tiverem baixo colesterol, porque o medicamento pode reduzir significativamente o risco de ataques do coração, derrames e morte.
A pesquisa, envolvendo quase 18 mil pessoas no mundo, testou o tratamento com estatinas em homens com 50 anos ou mais e em mulheres com 60 anos ou mais que não tinham colesterol alto ou histórico de doenças cardíacas. Os participantes tinham altos níveis da proteína C Reativa de Alta Sensibilidade, CRP na sigla em inglês, que indica inflamação no corpo.
O estudo, apresentado neste domingo numa convenção da Associação Cardíaca Americana em Nova Orleans e publicado on-line no The New England Journal of Medicine, descobriu que o risco de ataque do coração diminuiu mais de 50% em pessoas que tomavam estatinas. Essas pessoas tiveram 50% menos chances de sofrer um derrame ou precisar de angioplastia ou cirurgia para colocar ponte de safena, e 20% menos chances de morrer durante o estudo.
A estatina foi considerada tão benéfica que um conselho de monitoramento de segurança independente parou um experimento que duraria cinco anos em março passado depois de menos de dois anos. De acordo com os cientistas, a pesquisa poderia oferecer dicas de como lidar com uma estatística há muito perturbadora: metade dos ataques de coração e derrames ocorrem em pessoas sem colesterol alto.
– Essas descobertas vão de fato ter um impacto na prática de cardiologia no país – disse Elizabeth G. Nabel, diretora do Instituto Nacional de Sangue, Pulmão e Coração, que não estava envolvida na pesquisa. – Um estudo extremamente importante está no início e tem o potencial para ser um marco.
O estudo está levantando debate sobre quem deve fazer um exame de sangue para verificar a CRP e sob que circunstâncias alguém com altos níveis de proteína deve tomar estatina. Como doenças cardíacas são complexas e afetadas por muitos fatores de risco, incluindo fumo, hipertensão e obesidade, a maioria dos pesquisadores disseram que alto nível de CRP isolado não deve justificar prescrição de estatinas para quem nunca teve problemas cardíacos.
Alguns especialistas alertaram sobre examinar pessoas para ver se têm a proteína a menos que tenham outras indicações de risco de doença cardíaca, e disseram que mais pesquisa era necessária para identificar os pacientes para os quais os benefícios de estatinas se sobrepõem aos riscos. Em raras ocasiões, estatinas estão ligadas à deterioração muscular ou problemas de rim, e alguns pacientes disseram ter problemas de memória. Outros pesquisadores recomendaram exame de CRP e uso de estatinas mais freqüentemente.
O estudo, chamado Júpiter, também está gerando um debate entre os cientistas sobre a importância da proteína e o papel da inflamação na doença cardíaca. Nabel disse que painéis nacionais apresentam tendência a revisar suas diretrizes oficiais para médicos, a fim de recomendar o exame para achar a proteína e terapia com estatinas para algumas pessoas que não foram consideradas candidatas anteriormente.
A prática atual, segundo Nabel, é tratar as pessoas com alto colesterol com estatinas, e aconselhar pessoas com baixo risco de ter doenças cardíacas sobre dieta e exercício. Os cardiologistas nunca souberam o que fazer com o grupo intermediário de pacientes, explica Nabel, que são obesos, fumam ou têm hipertensão, mas não têm os sinais mais sérios de alto colesterol ou diabetes:
– A CRP vai emergir como um novo fator de risco acrescentado aos fatores de risco tradicionais.
O líder do estudo Júpiter, Dr. Paul Ridker, diretor do Centro para Prevenção de Doenças Cardiovasculares em Brigham e Hospital de Mulheres em Boston, disse que sua equipe estimou que o uso de estatinas nos tipos de pacientes que estudou poderia prevenir cerca de 250 mil ataques cardíacos, derrames, procedimentos vasculares ou mortes cardíacas em cinco anos.
Alguns defensores do consumidor se mostraram preocupados com o custo de mais pacientes usarem estatinas, que são uma indústria multibilionária. Medicações de marca podem custar US$ 3 por dia, mas genéricos são mais baratos. Para Ridker, o maior uso de drogas deve prevenir custos associados com ataques do coração e cirurgia.