No carnaval da Mocidade, silicone não tem vez

Algumas das belas que desfilarão no primeiro carro da Mocidade mostrando os seios sem silicone Gustavo Stephan / O Globo
Algumas das belas que desfilarão no primeiro carro da Mocidade mostrando os seios sem silicone Gustavo Stephan / O Globo
Fonte – O globo
RIO – No verão da polêmica do topless no Rio, o abre-alas da Mocidade Independente de Padre Miguel promete mandar beijinho no ombro para o bafafá, diria a funkeira Valeska Popozuda no clip do momento. A alegoria terá 20 mulheres com os seios desnudos. E com um detalhe importante, todas sem silicone. Para o passado do carnaval carioca poderia até parecer tarefa fácil reuni-las. Mas nada disso! A verde e branca fez três meses de campanha, e as interessadas tiveram de ir até o barracão, com foto de corpo inteiro, para provarem não ser siliconadas. Resultado da exigência: só agora a escola conseguiu preencher as vagas, depois de muitas com “recursos artificiais” terem tentado um lugar sob os holofotes.
A ideia foi do carnavalesco Paulo Menezes, no enredo “Pernambucópolis”, para fazer uma alusão aos desfiles de Fernando Pinto, que fez história na Mocidade na década de 1980. E o figurino faz uma homenagem ainda à fantasia de Monique Evans, no carnaval de 1985, quando a então rainha de bateria da escola arrebatou o Sambódromo bem à vontade, com uma estrela, símbolo da agremiação, em cada seio.
Algumas que toparam o topless na avenida são crias da comunidade de Padre Miguel, como Rafaela Pantoja, sobrinha do Macumba, um dos fundadores da agremiação. Já as amigas Fabíola Almeida e Luciana Souza vão estrear na passarela e realizar um sonho. As duas trabalham juntas numa gráfica em Bonsucesso e, quando viram a campanha da escola, resolveram arriscar.
— Aos 42 anos, não acreditava que seria selecionada. Achei que só teria um monte de garotinha. Foi uma surpresa. Decidi me inscrever também porque tinha um propósito: um manifesto pelas mulheres naturais, sem silicone — afirma Luciana.
Uma antiga vontade de desfilar na Mocidade também levou Jéssica Torres e Glauce Costa a procurarem a escola. As duas foram as primeiras a se apresentarem para a alegoria. Jéssica, depois de completar 18 anos. Glauce, após ficar solteira.
— Fui nascida e criada ao lado da quadra. Sou amiga de infância do diretor de bateria, Dudu. Mas meu marido e meu pai não me deixavam desfilar. Agora posso — diz Glauce.

Na rica Porto Alegre, o mesmo horror das celas do MA

Por – Mariana Zylberkan (Revista Veja)
Os Estados do Maranhão e do Rio Grande do Sul estão distantes na longitude e nos índices de desenvolvimento econômico e social de seus moradores. Porto Alegre está mais de duzentas posições à frente de São Luís no ranking do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDH) e, apesar de ser a 28º cidade com os melhores indicadores do país, a capital gaúcha se iguala à 249ª colocada no horror do sistema carcerário. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados apontou o Presídio Central de Porto Alegre como a pior penitenciária do Brasil em 2008. Com 4.500 detentos, o presídio funciona há anos com contingente bem acima de sua capacidade de 2.069 vagas. Em novembro de 2010, atingiu o recorde, com mais de 5.600 detentos. A superlotação, aliada à falta de infraestrutura e ao total descaso do governo Tarso Genro (PT), segue a a mesma receita que provocou o colapso hoje visto no Maranhão.

Assim como no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA), o Presídio Central de Porto Alegre é dominado por facções criminosas. São os líderes que determinam quem deve receber atendimento médico, visitas de advogados e também as penas aplicadas ao preso endividado com drogas. Recentemente, por uma dívida de 15 reais de crack, um detento foi “condenado” a ingerir à força um coquetel de drogas com água e crack moído, entre outras substâncias. Ele sobreviveu para contar a história, mas em casos parecidos, o “condenado” morre asfixiado com um saco plástico amarrado à cabeça. São recorrentes os relatos de extorsão de familiares, obrigados a fazer depósitos em contas de laranjas em troca da vida do detento. Junto com as drogas, armas e aparelhos celulares entram e saem com frequência na cadeia gaúcha.

O presídio gaúcho não dispõe de área destinada às visitas. O resultado é que os cerca de 240.000 visitantes que entram no local por ano têm livre acesso às 28 galerias e às celas. Desse total, 20.000 são crianças que acabam expostas a homens armados, consumo de drogas e visitas íntimas.
Construído em 1959 para abrigar 300 presos, o Presídio Central de Porto Alegre teve sua estrutura condenada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS) após uma inspeção, em abril de 2012. Na ocasião, os engenheiros constataram que o esgoto escorre pelo pátio. As denúncias assinadas também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) foram encaminhadas para a Organização dos Estados Americanos (OEA). A entidade voltou a notificar o governo brasileiro nesta semana para adotar medidas que garantam a integridade dos presos em Porto Alegre.

O governo Tarso Genro atribui a superlotação do presídio ao fechamento de pelo menos oito unidades prisionais na Grande Porto Alegre nos últimos anos. Até o fim de 2014, o superintendente dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul, Gelson Treiesleben, afirma que serão criadas 4.700 novas vagas. “Nosso objetivo é esvaziar o Presídio Central de Porto Alegre pois sabemos que vai sucumbir ”, diz.

A Superintendência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul diz que até o fim do ano o Presídio Central abrigará apenas os presos provisórios, que correspondem a mais da metade de sua população carcerária de 4.500 pessoas. Segundo o Tribunal de Justiça gaúcho, 2.746 detentos que estão no local aguardam julgamento. A população carcerária total do Estado hoje é de 29.243 detentos.

O Presídio Central não pode receber presos condenados, mas apenas aqueles que aguardam sentença da Justiça. A proibição é resultado de uma interdição determinada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul em 1995, após uma rebelião que durou vários dias. Um dos presos fugiu e invadiu um hotel no centro de Porto Alegre impondo clima de terror na cidade. Depois desse episódio, o governo gaúcho entregou a administração do presídio à Brigada Militar. Atualmente, 400 policiais militares atuam a segurança da cadeia.

Promessa não cumprida – A desativação do Presídio Central, no entanto, é uma promessa ouvida pelos gaúchos há mais de uma década. Em 2011, diante de novas denúncias, a OAB inspecionou o local e cobrou ações do governo estadual, que na época pediu um prazo de dois anos para criar 3.000 novas vagas – até hoje não as entregou. Encerrado o prazo, em dezembro do ano passado, foi realizada outra visita, que constatou o mesmo cenário caótico. “Nada foi feito”, diz o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado Coêlho.

A OAB encaminhou uma representação à Organização das Nações Unidas (ONU) denunciando os casos dos presídios do Rio Grande do Sul e do Maranhão. “A pressão dos organismos internacionais tem se mostrado uma forma mais eficiente para o governo brasileiro vencer a inércia diante da calamidade do sistema prisional”, diz Coêlho.

Até hoje há condenados entre os 700 presos – em tese, provisórios – que chegam ao Presídio Central todos os meses. “O presídio se tornou lugar de disseminação de mão de obra para o crime”, diz o promotor Gilmar Borttoloto, que fiscaliza as cadeias da região metropolitana de Porto Alegre há 16 anos. Para ele, a situação precária do sistema carcerário brasileiro é explicada pela dificuldade dos governantes em tratar o tema. “Existe uma cultura de que bandido tem que morrer. Essa é a logica do cidadão que é agredido pela violência na rua. Por isso, ao longo do tempo, a deterioração do sistema carcerário foi sendo tolerada pelo poder público, e as facções criminosas passaram a ocupar esse espaço vazio e dominar as cadeias.”

É íntima a relação entre a falta de controle nos presídios do país e a disseminação do crime organizado. “O sistema prisional tem que ser a favor da sociedade para combater a criminalidade. Nesse sentido, hoje temos um governo que banca um esquema que agrava a criminalidade e é contra a segurança pública”, afirma Marcus Coêlho, da OAB.

Presídio Central de Porto Alegre (RS) repete horror visto em cadeia no Maranhão (Reprodução)
Presídio Central de Porto Alegre (RS) repete horror visto em cadeia no Maranhão (Reprodução)

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Jornalista, formado em 2001, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Fui repórter da TV Difusora, Canal 20 e desde 2001 integro a equipe esportiva do jornal O Estado do Maranhão. Tenho pelo esporte, em especial o futebol, uma paixão. Este blog abordará não apenas a maior paixão nacional, mas também temas ligados a cidade, política, polícia, cultura entre outros…

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