Fronteiras humanas
Na ultima terça-feira, dia 3, fiz um discurso na Assembléia Legislativa, da tribuna que leva o nome de meu falecido pai, Deputado Nagib Haickel, cujo assunto gostaria de comentar hoje aqui com vocês.
Naquele dia a minha responsabilidade com a forma e o conteúdo do meu discurso ficou redobrada pela presença do historiador, tribuno, homem de letras, de grande saber e cultura, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Milson Coutinho, que estava em visita ao nosso parlamento.
Usei meus cinco minutos no Pequeno Expediente, para fazer um relato aos meus colegas Deputados sobre um filme que vi durante a madrugada. Um filme que já havia visto meia dúzia de vezes, mas que sendo tão bom, é sempre oportuno e nunca demais ver outra vez. Chama-se A Queda do Império Romano e para quem não conhece a história e não é cinéfilo, esta é uma produção da década de 60 e deu origem a uma recente refilmagem com o titulo de O Gladiador.
O filme começa com o narrador falando que um Império não cai apenas por causa de um único evento e que o Império Romano levou 300 anos decaindo, para só então realmente sucumbir sob seu próprio peso.
Ele foca um desses episódios, A transição do poder das mãos do Imperador Marco Aurélio para as de seu filho Cômodo. Essa transição, e a mudança política que resultou dela, foi, segundo alguns, uma das causas da queda do poderoso Império Romano. As invasões bárbaras (nome de outro filme sensacional e imperdível) e as revoltas nas províncias também foram causas marcantes da decadência do Império. Mas em minha opinião nada abala mais uma hegemonia que suas causas vicerais e intestinas.
Não foi Aníbal, com seus 40 anos de batalhas, as famosas guerras Púnicas, que destruiu o Império Romano. Não foram todos os exércitos que se postaram para adentrar em Roma pela via Ápia, que destruíram o Império Romano. Muitas foram as causas que puseram fim em séculos de seu domínio sobre o mundo.
Eu que sou antes de tudo um observador, não só de cinema, mas principalmente da história, graças ao maravilhoso advento de review e do pause, me pus em plena madrugada a meditar: Não será, também na história contemporânea, nenhum grande império ou hegemonia destruída por um evento único, mas sim por uma sucessão deles, por uma grande sucessão de equívocos e de erros.
Marco Aurélio, grande e sábio Imperador, que passou a vida toda fazendo guerras, no final, talvez já prevendo o declínio, queria instituir o que chamava de fronteiras humanas. Queria que se fizesse a Pax Romana, começando pelo norte com os bárbaros Germânicos.
Ao serem implantadas essas fronteiras humanas, mesmo que com a condição de superioridade de Roma, elas seriam mais confiáveis e menos caras que as muralhas e as guarnições de fronteira, que a manutenção de grandes exércitos e de um estado permanente de guerra.
Para que haja uma fronteira humana é preciso que haja conversa. Fronteira humana requisita paz, homens de entendimento e de diálogo. E fazendo uma pequena analogia com a nossa situação política, o meu intuito com aquele discurso, era fazer com que meus colegas se conscientizassem, de uma vez por todas, que nós 42 deputados somos as primeiras fronteiras humanas de nosso Estado.
Não foi apenas um evento que destruiu o Império Romano, nem ele foi destruído apenas pela falta das fronteiras humanas. Mas a falta do diálogo, a falta do entendimento, a falta de vontade de que houvesse a paz que a vida exige. A falta de tolerância, isso sim, ajudou a destruir o Império Romano, assim como contribuiu e continuara contribuindo decisivamente para a destruição de todos os grandes poderes hegemônicos da história.
Se a culpa foi de Marco Aurélio que não conseguiu implantar as tais fronteiras humanas antes de morrer ou se de Cômodo que não quis fazê-lo, que preferia as festas Dionisíacas da corte e o convívio com os gladiadores nas arenas à conversação, à diplomacia, isso não importa. O que realmente Importa é que, anos depois, Átila, o rei dos Hunos, varreu Roma do Mapa e entrou pra história.
Comentários