O gado ou o carrapato!

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Passeando, como sempre faço pelo menos uma vez por dia, pelos blogs que mais me interessam, li um texto que me chamou bastante à atenção. Décio Sá escreveu sobre uma conversa que ele teve com o meu dileto amigo José Cláudio Pavão Santana, falava sobre a polêmica em torno do voto secreto, assunto sobre o qual eu já vinha querendo escrever faz um bom tempo. Então resolvi me antecipar, antes do professor Zé Cláudio esgotar o assunto em um artigo que como ele disse, deverá publicar em breve, e eu fiquei sem ter nada a dizer ou nem sequer o que acrescentar em relação a esse assunto.

Não será apenas a voz de Zé Cláudio que se levantará para defender o voto secreto, disso eu tenho certeza. Eu também defendo e defenderei a idéia de que o voto secreto deva ser usado para algumas votações. Tenho certeza também que não serão apenas a minha voz e a de Zé Cláudio que se levantará em defesa desse dispositivo constitucional que o oportunismo de uns e a fraqueza de outros pretende abolir.

A Constituição Federal prevê que o voto dos deputados e senadores será secreto para aprovar a escolha de magistrados e de titulares de alguns cargos públicos; para aprovar a indicação de chefes de missão diplomática em caráter permanente; para aprovar a exoneração “de ofício”, do procurador geral da República; para resolver sobre a prisão em flagrante e a formação da culpa no caso de crime inafiançável praticado por membro do Congresso Nacional; para decidir pela perda do mandado do deputado ou senador; e decidir sobre a derrubada de veto do presidente da República a projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional. Com essa redação eu não só concordo plenamente, como a defendo com unhas e dentes.

Sou a favor do voto secreto nestes casos específicos. Não sou a favor do acobertamento do voto ou da fuga do debate. Entendo que nos casos citados anteriormente, deputados e senadores, e analogicamente onde couber, os membros dos legislativos estaduais e municipais, precisam da devida salvaguarda contra as pressões que poderiam lhes retirar a liberdade de votar segundo sua consciência e preferência.

O instituto do voto secreto é a materialização do anseio mais democrático, do ponto de vista do votante, seja ele quem for. Anseio de tomar uma decisão sem ser pressionado, sem ser admoestado. O voto aberto no Legislativo, para os que não conhecem o funcionamento dos meandros do sistema, é sem dúvida, aparentemente, mais democrático. Mas só aparentemente. Ele que em tese permite o controle do eleitor sobre seu representante, deixa o parlamentar exposto a um controle e às vezes até mesmo à manipulação por parte do Poder Executivo, que geralmente é mais interessado nas decisões do Legislativo, frequentemente por motivos alheios aos interesses do povo. Controle que é muito mais efetivo por parte do Executivo do que por parte do povo.

Vou tentar explicar e defender meu ponto de vista através de uma parábola. Imaginem só uma região onde a pecuária seja a principal atividade econômica e que esta região foi atingida por uma epidemia de carrapato. Um proprietário de uma das fazendas, a menor e menos produtiva, a mais fraca e menos competitiva, resolve então que só há uma saída para tamanha crise e diz a célebre frase: “Temos que sacrificar todo o rebanho para acabar com esta peste de carrapatos”.

Ora meus amigos, abolir o voto secreto é querer matar o gado, aqui representando o estado de direito, a democracia, e não combater a peste de carrapato, que nesse caso representa a corrupção e o desvio de função e conduta. Com uma coisa dessa eu não devo e nem posso concordar de modo algum.

Quanto ao fato de existir a possibilidade de haver uma sessão deliberativa secreta, isso sim é um absurdo. As sessões têm que ser públicas. O Legislativo tem que proceder abertamente. Quem tem que resguardar suas posições é o parlamentar e para isso basta garantir-se o voto secreto, livre de pressão indevida, mas a sessão em que ele exerce seu voto deve ser aberta. Não há nenhum motivo válido, lógica ou mesmo processualmente falando, de realizar-se uma votação que já é secreta em uma sessão de portas fechadas. Neste ponto o regimento do Senado Federal excede-se, e nisso deve ser corrigido.

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Quero aproveitar para de público agradecer ao meu querido amigo Flavio Assub.

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Que em muito boa hora mandou-me este importante documento iconográfico, testemunha do tempo, do nosso tempo.
Já conhecia todas estas fotos, mas nunca pude apreciá-las ao mesmo tempo.
É bem verdade que sinto falta de algumas bastante importantes como a do brutal assassinato daquele jornalista americano na Nicarágua, a de Armstrong pulando na lua e algumas outras fotografias memoráveis e inesquecíveis.
São tantas que se começar a lembrar, não iremos parar.
Espero que gostem.

Fotos mais famosas e suas histórias

A imagem de Che

A famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como “Guerrilheiro Heróico”, onde aparece seu rosto com a boina negra olhando ao longe, foi tirada por Alberto Korda em cinco de março de 1960 quando Guevara tinha 31 anos num enterro de vítimas de uma explosão.
Somente foi publicada sete anos depois.
O Instituto de Arte de Maryland – EUA denominou-a “A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX”. É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas suas interpretações, (segue sendo um ícone para a juventude não filiada às tendências políticas principais).

A agonia de Omayra

Omayra Sanchez foi uma menina vítima do vulcão Nevado do Ruiz durante a erupção que arrasou o povoado de Armero, Colômbia em 1985.
Omayra ficou três dias jogada sobre o lodo, água e restos de sua própria casa e presa aos corpos dos próprios pais. Quando os paramédicos de parcos recursos tentaram ajudá-la, comprovaram que era impossível, já que para tirá-la precisavam amputar-lhe as pernas, e a falta de um especialista para tal cirurgia resultaria na morte da menina. Omayra mostrou-se forte até o último momento de sua vida, segundo os paramédicos e jornalistas que a rodeavam.
Durante os três dias, manteve-se pensando somente em voltar ao colégio e a seus exames e a convivência com seus amigos.
O fotógrafo Frank Fournier, fez uma foto de Omayra que deu a volta ao mundo e originou uma controvérsia a respeito da indiferença do Governo Colombiano com respeito às vítimas de catástrofes. A fotografia foi publicada meses após o falecimento da garota.
Muitos vêem nesta imagem de 1985 o começo do que hoje chamamos Globalização, pois sua agonia foi vivenciada em tempo real pelas câmaras de televisão de todo o mundo.

A menina do Vietnã

Em oito de junho de 1972, um avião norte-americano bombardeou a população de Trang Bang com napalm. Ali se encontrava Kim Phuc e sua família. Com sua roupa em chamas, a menina de nove anos corria em meio ao povo desesperado e no momento, que suas roupas tinham sido consumidas, o fotógrafo Nic Ut registou a famosa imagem.
Depois, Nic levou-a para um hospital onde ela permaneceu por durante 14 meses sendo submetida a 17 operações de enxerto de pele.
Qualquer um que vê essa fotografia, mesmo que menos sensível, poderá ver a profundidade do sofrimento, a desesperança, a dor humana na guerra, especialmente para as crianças.
Hoje em dia Pham Thi Kim Phuc está casada, com dois filhos e reside no Canadá onde preside a “Fundação Kim Phuc”, dedicada a ajudar as crianças vítimas da guerra e é embaixadora da UNESCO.

Execução em Saigon

“O coronel assassinou o preso; mas e eu… assassinei o coronel com minha câmara? – Palavras de Eddie Adams, fotógrafo de guerra, autor desta foto que mostra o assassinato, em um de fevereiro de 1968, por parte do chefe de polícia de Saigon, a sangue frio, de um guerrilheiro do Vietcong.
Adams, correspondente em 13 guerras, obteve por esta fotografia um prêmio Pulitzer; mas ficou tão emocionalmente tocado com ela que se converteu em fotógrafo paisagístico.

A menina Afegã

Sharbat Gula foi fotografada quando tinha 12 anos pelo fotógrafo Steve McCurry, em junho de 1984. Foi no acampamento de refugiados Nasir Bagh do Paquistão durante a guerra contra a invasão soviética.
Sua foto foi publicada na capa da National Geographic em junho de 1985 e, devido a seu expressivo rosto de olhos verdes, a capa converteu-se numa das mais famosas da revista e do mundo.
No entanto, naquele tempo ninguém sabia o nome da garota. O mesmo homem que a fotografou realizou uma busca à jovem que durou exatos 17 anos. Em janeiro de 2002, encontrou a menina, já uma mulher de 30 anos e pôde saber seu nome. Sharbat Gula vive numa aldeia remota do Afeganistão, é uma mulher tradicional pastún, casada e mãe de três filhos.
Ela regressou ao Afeganistão em 1992.

O beijo do Hotel de Ville

Esta bela foto, que data de 1950, é considerada como a mais vendida da história. Isto devido à intrigante história com a que foi descrita durante muitos anos: segundo contava-se, esta foto foi tirada fortuitamente por Robert Doisneau enquanto encontrava-se sentado tomando um café. O fotógrafo acionava regularmente sua câmara entre as pessoas que passavam e captou esta imagem de amantes beijando-se com paixão enquanto caminhavam no meio da multidão.
Esta foi a história que se conheceu durante muitos anos até 1992, quando dois impostores se fizessem passar pelo casal protagonista desta foto. No entanto o Sr. Doisneau indignado pela falsa declaração, revelaria a história original declarando assim aquela lenda: a fotografia não tinha sido tirada a esmo, senão que se tratava de dois transeuntes que pediu que posassem para sua lente, lhes enviando uma cópia da foto como agradecimento.
55 anos depois Françoise Bornet (a mulher do beijo) reclamou os
direitos de imagem das cópias desta foto e recebeu 200 mil dólares.

O beijo da Time Square

O Beijo de despedida a Guerra foi feita por Victor Jorgensen na Times Square em 14 de Agosto de 1945, onde um soldado da marinha norte-americana beija apaixonadamente uma enfermeira. O que é fora do comum para aquela época é que os dois personagens não eram um casal, eram perfeitos estranhos que haviam acabado de encontrar-se.
A fotografia, grande ícone, é considerada uma analogia da excitação e paixão que significa regressar a casa depois de passar uma longa temporada fora, como também a alegria experimentada ao término de uma guerra.

O homem do tanque de Tiananmen

Também conhecido como o “Rebelde Desconhecido”, esta foi a alcunha que foi atribuído a um jovem anônimo que se tornou internacionalmente famoso ao ser gravado e fotografado em pé em frente a uma linha de vários
tanques durante a revolta da Praça de Tiananmen de 1989 na República Popular Chinesa.
A foto foi tirada por Jeff Widener, e na mesma noite foi capa de
centenas de jornais, noticiários e revistas de todo mundo. O jovem estudante (certamente morto horas depois) interpôs se a duas linhas de tanques que tentavam avançar. No ocidente as imagens do rebelde foram apresentadas como um símbolo do movimento democrático Chinês: um jovem arriscando a vida para opor-se a um esquadrão militar.
Na China, a imagem foi usada pelo governo como símbolo do cuidado dos soldados do Exército Popular de Libertação para proteger o povo chinês: apesar das ordens de avançar, o condutor do tanque recusou fazê-lo se isso implicava causar algum dano a um cidadão (hã hã).

Protesto silencioso

Thich Quang Duc, nascido em 1897, foi um monge budista vietnamita que se sacrificou até a morte numa rua movimentada de Saigon em 11 de junho de 1963. Seu ato foi repetido por outros monges.
Enquanto seu corpo ardia sob as chamas, o monge manteve-se completamente imóvel. Não gritou, nem sequer fez um pequeno ruído.
Thich Quang Duc protestava contra a maneira que a sociedade oprimia a religião Budista em seu país. Após sua morte, seu corpo foi cremado conforme à tradição budista. Durante a cremação seu coração manteve-se intacto, pelo que foi considerado como quase santo e seu coração foi transladado aos cuidados do Banco de Reserva do Vietnã como relíquia.

Espreitando a morte

Em 1994, o fotógrafo Sudanês Kevin Carter ganhou o prêmio Pulitzer de foto jornalismo com uma fotografia tomada na região de Ayod (uma pequena aldeia em Suam), que percorreu o mundo inteiro.
A figura esquelética de uma pequena menina, totalmente desnutrida, recostando-se sobre a terra, esgotada pela fome, e a ponto de morrer, enquanto num segundo plano, a figura negra expectante de um abutre se encontra espreitando e esperando o momento preciso da morte da garota.
Quatro meses depois, abrumado pela culpa e conduzido por uma forte dependência às drogas, Kevin Carter suicidou-se.

The Falling Man

The Falling Man é o título de uma fotografia tirada por Richard Drew durante os atentados do 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas do WTC. Na imagem pode-se ver um homem atirando-se de uma das torres.
A publicação do documento pouco depois dos atentados irritou a certos setores da opinião pública norte-americana. Ato seguido, a maioria dos meios de comunicação se auto-censurou, preferindo mostrar unicamente fotografias de atos de heroísmo e sacrifício. Ah sim… Mas eles passaram exaustivamente na TV a morte de Saddam…

Triunfo dos Aliados

Esta fotografia do triunfo dos aliados na segunda guerra, onde um soldado Russo agita a bandeira soviética no alto de um prédio, demorou a
ser publicada, pois as autoridades Russas quiseram modificá-la. A bandeira era na verdade uma toalha de mesa vermelha e o soldado aparecia com dois relógios no pulso, possivelmente produto de saque.
Sendo assim foi modificada para que não ficase feio
para os soviéticos.

Protegendo a cria

Uma mãe cruza o rio com os filhos durante a guerra do Vietnã em 1965 fugindo da chuva de bombas americanas.

Necessidade

Soldados e aldeãos cavam sepulturas para as vítimas de um grande terremoto acontecido em 2002 no Irã enquanto um menino segura as calças do pai antes dele ser enterrado.

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Jornalista no futuro do pretérito.

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Grande parte da população, eu inclusive, anda farta com o que está acontecendo com o “jornalismo” no Maranhão. É verdade que este não é um fenômeno unicamente local. O mesmo, em outras dimensões e intensidade ocorre no Brasil e no Mundo. Acontece que o Mundo e o Brasil têm um pouco mais de preocupação e respeito para com a intima relação, que deve sempre haver, entre a realidade, a verdade e a versão. Por aqui, ao contrário, há muito tempo, não se tem exercitado essa preocupação nem se tem praticado esse respeito, sem os quais o jornalismo deixa de ser um instrumento de defesa do estado de direito e da democracia e torna-se meramente uma arma partidária. Arma que é sempre usada contra os adversários de quem redige, de quem edita ou de quem publica a “notícia”, ou simplesmente a favor de quem paga para ser “notícia”. Nessa hora não faz a menor diferença o lado. Quanto a isso, são todos iguais.

Maior e mais claro exemplo disso é a existência de colunas assinadas por personagens fictícios ou pseudônimos, fenômeno hoje raríssimo em todo mundo, mas que aqui entre nós prospera através do insulto, da calunia, da injuria e da difamação aos desafetos dos títeres que controlam os fantoches.

Millôr Fernandes escreveu certa vez: “Só depois que a tecnologia inventou o telefone, o telégrafo, a televisão, a internet, foi que se descobriu que o problema de comunicação mais sério, era o de perto”. De fato, as novas tecnologias de comunicação aproximaram os cidadãos de todo o planeta. Transformaram o mundo em uma verdadeira aldeia global, mas nem com todas essas tecnologias a nosso dispor conseguimos resolver a falta de diálogos que perdura e insiste em nos afastar cada vez mais daqueles que estão mais perto de nós.

Essa é a sensação que tenho diante do enfrentamento quase brutal que se está assistindo nesse momento, na imprensa do Maranhão, não só através do jornalismo impresso, mas principalmente através da proliferação dos blogs.

Percebe-se um claro distanciamento da notícia objetiva e da abordagem factual. Há um constante flerte com um deslavado achismo e uma descompromissada falta de apuração dos fatos através do emprego de verbos conjugados premeditadamente na tentativa de se estabelecer um clima de polêmica e dúvida em torno de um tema.

O que mais se lê por ai agora são coisas do tipo: “algo aconteceria”, “alguém teria comentado”, “determinada pessoa teria dito”, “a boca pequena comentaria-se”, “fulano de tal seria” e outras afirmativas nesse estilo, sempre com o verbo, qualquer que seja ele, no chamado futuro do pretérito, ou condicional, como se dizia nos tempos de ginásio.

Em minha opinião, jornalismo na condicional é prelúdio de sectarismo e sinônimo de subserviência e venalidade.

Não se faz um jornalismo descente usando o verbo no futuro do pretérito. No futuro do pretérito, ou como queiram alguns, usando-se a forma condicional do verbo, se faz é mexerico e fofoca. E mexerico e fofoca não são coisas de jornalistas, são coisas de raparigas da pior espécie.

Isso nos faz pensar que um diálogo com as fontes seria algo impossível para estes “jornalistas”, e, mais impossível ainda, um diálogo entre eles próprios. Este sacrilégio, cada vez mais estarrecedor, me tem levado a refletir sobre as relações entre os veículos, os jornalistas e o poder. É ai que surge o nojento sectarismo que transforma todo aquele que pensa como eu, em uma pessoa correta e todo aquele que diverge de mim em um safado, em um bandido. Esse sentimento de sectarismo hoje dominante em nossa terra, não favorece a ninguém, muito pelo contrario, ele transforma nós todos, até os mais amigos, em ferrenhos concorrentes.

Mais do que nunca, o jornalismo sério e confiável é essencial para a construção da cidadania. Acredito que continua valendo a máxima de um dos mais importantes jornalistas deste país, o grande Barbosa Lima Sobrinho, que costumava dizer que não há distinção de ética em ofício algum.

Por isso mesmo me causa tanta espécie, toda essa mácula e essa agressão à isenção jornalística. Fico perplexo com a baixeza praticada por aqueles que usam uma profissão que deveria bem informar garantindo assim a liberdade e o sucesso do estado de direito, e ao invés disso impõem e submetem o leitor a sua linha editorial ideológica, transformando-se em mero assessor de imprensa, pago para fazer unicamente release de “seus” interesses.

Ser jornalista é muito mais que isso.

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Deu a louca mesmo.

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Li no blog “vi o mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha, matéria muito interessante publicada no último dia 14 de setembro, na qual entre outras coisas ele comenta que deu a louca na mídia brasileira: Ela elege, investiga, julga, bota a faca no pescoço e cassa.

E diz mais. Que a mídia brasileira endoidou de vez. Que ela está completamente fora de si. Ele continua dizendo que não vai com a cara do Renan Calheiros, mas que isso não lhe dá o direito de denunciá-lo, julgá-lo e cassá-lo.
Azenha finaliza sua participação dizendo que lhe chamou a atenção o texto do discurso do senador Francisco Dornelles, em defesa de Renan, que ele reproduziu em seu blog e eu o faço aqui também:

‘Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores

O Senado vai se pronunciar, hoje, sobre matéria de grande relevância. O Senado não vai julgar hoje a pessoa de Renan Calheiros, suas simpatias, suas antipatias, suas alianças, sua atuação política.

O Senado vai julgar um Senador da República, que poderá ter o seu mandato cassado em decorrência de determinadas acusações.

Em outras palavras, o Senado vai julgar se as acusações apresentadas contra um Senador da República têm consistência que justifique a cassação de seu mandato.

A acusação que figura no processo do Senador Renan Calheiros consiste na premissa de que os recursos que ele entregou à Jornalista Mônica Velloso, mãe de uma filha sua, eram fornecidos por uma empresa de serviços, por intermédio de um de seus empregados.

Então o que é que aconteceu? A empresa de serviços declarou que não fornecia nenhum recurso ao Senador Renan Calheiros. O empregado da empresa de serviços declarou que os recursos que levava à Jornalista Mônica Velloso pertenciam ao Senador e que ele, simplesmente, os levava à Jornalista porque era amigo comum de ambos.

O Senador afirma que os recursos eram de sua propriedade. A Jornalista, em momento algum, questionou sobre a origem dos recursos. Assim sendo, não há, até então, nenhuma prova de que os recursos entregues à Jornalista Mônica Velloso não pertenciam ao Senador Renan Calheiros. Entretanto, o que entendeu o Conselho de Ética?

O Conselho de Ética entendeu que o Senador Renan Calheiros não tinha renda nem patrimônio suficientes para fornecer à Jornalista Mônica Velloso os recursos que lhe eram entregues.

Senhoras Senadoras e Senhores Senadores

O Conselho de Ética entendeu, na prática, que o Senador cometeu crime contra a ordem tributária.

Mas acontece que um crime dessa natureza somente pode ser tipificado no âmbito do Processo Administrativo Fiscal, conduzido pela Secretaria da Receita Federal, conforme tramitação prevista em legislação própria.

De acordo com essa legislação, abre-se o processo com uma intimação ao contribuinte para apresentar esclarecimentos. Se os esclarecimentos não forem satisfatórios, lavra-se um auto de infração para lançamento dos tributos cabíveis.

Lavrado o auto de infração, o contribuinte tem o direito de impugnar a exigência, em primeira instância, perante as Delegacias de Julgamento da Receita Federal. Sendo-lhe adversa a decisão de primeira instância, o contribuinte poderá apresentar Recurso Voluntário ao Conselho de Contribuintes e, eventualmente, Recurso Especial à Câmara Superior de Recursos Fiscais.

Somente após a decisão desfavorável de segunda instância é que a exigência fiscal se torna definitiva. Em outras palavras, o lançamento fiscal só se conclui após esgotados os recursos próprios do contraditório e da ampla defesa.

Foi afirmado pelo Conselho de Ética que a Polícia Federal desacreditou documentos apresentados pelo Senador Renan Calheiros. Foi afirmado, também, que o Senador mentiu sobre sua capacidade patrimonial.

Senhoras Senadoras e Senhores Senadores

Essas informações e esses documentos deveriam ter sido enviados à autoridade competente, Secretaria da Receita Federal, para serem anexados ao Processo Administrativo Fiscal, examinados e apurados. Senhoras Senadoras e Senhores Senadores Vamos imaginar a seguinte situação.

O Senado cassa o mandato de um Senador, com base no pressuposto de ter, ele, cometido crime contra a ordem tributária, sem abertura do competente Processo Administrativo Fiscal.

Amanhã, a Secretaria da Receita Federal, órgão encarregado de apurar esse tipo de crime, no processo próprio, conclui que o Senador não cometeu crime contra a ordem tributária. Como ficaria o Senado?

Senhoras Senadoras e Senhores Senadores

O Senado, na decisão que hoje vai tomar, não pode se afastar da ordem jurídica, nem personalizar o assunto.

E qual o problema específico? Cabe ao Senado decidir se existem provas de que os recursos entregues pelo Senador Renan Calheiros à Jornalista Mônica a ele não pertenciam. Nenhuma prova foi apresentada nesse sentido.

A empresa de serviços afirmou que os recursos eram do Senador, o amigo comum do Senador e da Jornalista, funcionário da empresa, afirmou que os recursos eram do Senador Calheiros.

O próprio Senador afirmou que os recursos eram dele, a Jornalista nada contestou. Em que se baseou o Conselho de Ética para pedir a cassação do mandato do Senhor Renan Calheiros???

Baseou-se em que o Senador não teria patrimônio e renda suficientes para arcar com aquelas despesas.

Só que, quem pode dizer se o Senador Renan Calheiros tinha renda e patrimônio, se podia ou não arcar com as despesas realizadas, é a Secretaria da Receita Federal, através de um Processo Administrativo Fiscal, que nunca foi sequer aberto.

Como ficaria o Senado se, cassado o mandato do Senador Renan Calheiros com base em crime por ele cometido contra a ordem tributária, fosse ele amanhã absolvido pela Secretaria da Receita Federal? Esses pontos, Senhores Senadores, é que têm que ser considerados num momento tão importante.

Nós não podemos personalizar, não estamos julgando a figura do Senhor Renan Calheiros. Nós estamos julgando se existem provas concretas para cassação do mandato de um Senador eleito. ‘

Link para a matéria do Luiz Carlos Azenha – viomundo.globo.com

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Política e Poesia

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Nunca me saiu da lembrança uma cena do filme “Terra em Transe”, escrito e dirigido pelo genialmente louco Glauber Rocha. Em certa altura, Sara interpretada pela atriz Glauce Rocha, abraçada e com a cabeça recostada sobre o ombro de Paulo Martins, personagem vivido pelo ator Jardel Filho, diz: “A política e a poesia são demais para um só homem”. Essa frase me persegue desde então. Não haveria realmente nenhum espaço para poesia na política? Seria a política assim tão árida que não se permitiria conviver ou se contaminar, nem que em apenas algumas ocasiões, por alguns momentos, pela poesia?

Certa vez indagado por um cineasta importante, sobre ser poeta e político, um então governador de um pequeno estado brasileiro disse que a política estava sufocando sua poesia. Anos mais tarde, agora ocupando um importantíssimo cargo na republica, a propósito da primeira pergunta feita décadas antes, um jornalista fez-lhe novamente a mesma pergunta e a resposta já foi diferente. Segundo ele, naquela altura da vida, se não fosse pela poesia, não haveria política. Numa das ultimas vezes em que nos encontramos, toquei nesse assunto, disse-lhe que conhecia a historia e perguntei-lhe mais uma vez sobre a convivência de poesia e política e ele me deu uma verdadeira aula: ”Que poesia!? Que Política!? Hoje, para mim, é tudo tão natural. Não há mais diferença entre uma e outra”.

Quando iniciei na política já rabiscava alguns poemas. É bem verdade que eram bem ruinzinhos e não estavam contaminados por nada alem da minha inépcia, da minha incompetência e da minha ansiedade juvenil.

Com o passar do tempo e a convivência do poeta e do político que habitam em mim, senti que a poesia fraquejou. Fraquejou porque a poesia que eu tentava fazer era frágil e etérea como uma rosa de Malherbe ou monocromática e passageira uma pomba de Raimundo Correa. Como disse eu tentava fazer poesia e poesia não se tenta fazer. Ela é ou não será jamais.

Por essa época surgiu em mim o melhor do contista e o incipiente cronista, alguém mais prático, mais narrativo, mais lógico, semântico e pragmático.

Hoje o político que sou, aprendeu que se ele não der o espaço necessário para que o poeta, o contista, o cronista, o roteirista, o cineasta, o filosofo, o humanista, se manifeste, é ele quem acabará perecendo.

De todas as atividades que hoje desenvolvo, e, diga-se de passagem, todas com muito prazer e extrema realização, a mais descartável é a política.

Espero que não demore muito pra que eu possa chegar naquele estagio da vida onde possa descompromissadamente dizer: “Que política!? Que poesia!?”

Enquanto este tempo não chega tenho que me apegar as coisas que ligam à poesia e a política. As boas amizades, por exemplo.

Outro dia recebi um e-mail de meu bom e velho amigo Ivan Celso Furtado da Costa, o mais Ludovicense dos nossos atuais cronistas.

Somos amigos desde o tempo em que ainda se empinava papagaios na Praça Deodoro, em frente da casa de sua mãe, dona Anita. Ivan é alguns anos mais velho que eu, mas ninguém diz. Pra quem não sabe esse Ivan Celso, é o mesmo Ivan Sarney, vereador de São Luis.

Passo a transcrever a seguir o e-mail que Ivan me mandou: ‘Querido amigo Joaquim. Gostaria de te parabenizar não apenas por aquilo que tens falado ou pelo que tens feito na Assembléia. Quero te parabenizar, principalmente, pelo teu sábio e elegante silêncio, neste momento tão confuso e conturbado pelo qual passa o nosso Estado. Atitudes como essa, demonstram sua extrema sensibilidade e grande maturidade política ao perceber a hora de falar e a hora de calar.

Por te conhecer bastante bem, sei que gostarias de estar falando e fazendo coisas que pudessem ajudar muito mais. Sei o quanto deve está sendo difícil participares desse cenário político. Seu temperamento não é propicio para isso.

Recebe o mais sincero abraço de um amigo que não está sempre presente ao seu lado, mas que te guarda sempre no pensamento e no coração”.

Depois de ler o que Ivan havia me mandado descobri que na verdade não há diferença entre poesia e política. O que há é o nível de sensibilidade capaz de associá-las e não confundi-las. Ivan tem essa capacidade.

Em tudo e em todas as coisas deve haver poesia e política. Se não houver, essas coisas perdem parte de sua essência e de seus significados.

E ninguém que me venha tentar tirar a poesia da minha política.

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Fui procurado na ultima sexta-feira, 07 de setembro pelo jornalista e meu amigo particular Roberto Kenard para dar uma entrevista para o Diário da Manhã a ser publicada neste domingo, 09/07. Dito e feito. A seguir, autorizado pelo autor da matéria, repercuto aqui

Entrevista de domingo:
Joaquim Nagib Haickel

É Advogado, empresário, escritor, cineasta e político. Atualmente, apesar da pouca idade, 47 anos, é o mais antigo Deputado Estadual em atividade no Estado do Maranhão. Elegeu-se para a Assembléia Legislativa pela primeira vez em 1982, quando foi o mais jovem Deputado Estadual do Brasil.
Em 1986 elegeu-se Deputado Federal Constituinte, onde foi membro da comissão de direitos e garantias individuais, tendo sido relator do projeto que buscava instituir em nosso país a pena de morte. Seu voto foi contrário.
Entre 2003 e 2004 ocupou o cargo de primeiro secretario daquela instituição, onde hoje é membro titular da comissão de constituição de justiça e redação final, Vice-presidente da comissão de assuntos municipais e da comissão de defesa dos direitos dos consumidores, além de presidir a comissão de adequação e revisão do regimento interno da ALM e da constituição do Estado do Maranhão.

1. Quando você foi eleito pela primeira vez em 1982, era o deputado mais jovem do país, tinha 22 anos. Afinal, você entrou para a política por gostar ou por força da opinião de seu pai, também político?
Desde criança eu sempre gostei de estar metido no meio das conversas dos políticos. Meu pai vivia dizendo pra minha mãe: ‘Clarice tira esse menino daqui que ele está atrapalhando a conversa’ (Risos). Meu pai preferia que eu não me envolvesse em política. Queria que fosse um grande advogado, quem sabe um médico de renome, ou um empresário de sucesso. Comecei a trabalhar nas empresas dele mas ele logo viu que pro comercio eu não levava muito jeito. Então fui ser seu chefe de gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília. Adorei o trabalho, mas não me acostumei com a cidade. Voltei pra São Luis. Vim ser chefe de gabinete do governador João Castelo. Fui pegando cada vez mais gosto pela política, conhecendo mais pessoas, aprendendo com os melhores professores, políticos como Zé Sarney, Clodomir Milet, Zé Burnett, Ivar Saldanha, Zé Bento Neves e tantos outros.

2. É sabido que você sempre esteve com o grupo Sarney. Você acha que, se eleita, Roseana Sarney seria melhor governante do que Jackson Lago?
Tenho certeza que se ela tivesse vencido as eleições estaria fazendo muito melhor que ele está. Roseana, de quem discordo em alguns pontos, tem uma qualidade muito importante para um governante, ela faz o que tem que ser feito independentemente de quem vai agradar ou desagradar . Agir assim nem sempre é a melhor coisa para um político fazer, mas é a melhor coisa a ser feita quando você está no comando.
Outra coisa, as pessoas que estão aí, no governo, não se prepararam para governar. Eles eram muito bons na oposição, apontando os erros. No governo não demonstraram ainda a que vieram. A mesma coisa, ao contrario, acontece conosco que estamos na oposição e fomos governo por tantos anos. Não aprendemos ainda, pelo menos no meu caso, como é falar mal de tudo sem se importar com o grau de dificuldade de se fazer o que é certo e o que é melhor ao mesmo tempo.

3. O que acha de bom no atual governo e o que acha de pior?
O melhor no atual momento político do Maranhão, em minha opinião, é essa possibilidade de consumação da alternância do & no poder, coisa que consolida o estado democrático e fortalece as instituições.
Em relação ao governo especificamente, o que há de pior nele é seu imobilismo. O governo é um paquiderme. Outra coisa é a extrema dificuldade que ele tem em se comunicar, interna e externamente.
De bom, é o relacionamento aberto, franco e democrático que tenho com algumas pessoas que compõem a atual administração.

4. Voltemos no tempo. 1984, eleição para presidente pelo Colégio Eleitoral. Havia a pré-candidatura de Paulo Maluf, grande amigo de seu pai, o deputado Nagib Haickel e havia a chapa Tancredo/Sarney. Você ficou dividido entre apoiar o amigo de seu pai ou o pai de seu amigo Fernando Sarney. No fim das contas você apoiou Paulo Maluf. Isso deixou alguma seqüela política?
Bom que tenha tocado neste assunto. Aquela foi uma época bastante importante e aquele episodio especificamente me fez amadurecer bastante, me ensinou muito sobre as pessoas e sobre a vida.
Tinha que escolher entre fazer aquilo que eu queria fazer e que era o que alguns amigos meus queriam que eu fizesse ou fazer algo que não queria fazer e que esses amigos iriam repudiar enormemente, mas que era o correto a ser feito e que deveria fazer. Não é uma decisão muito fácil pra ninguém, imaginem para um jovem e inexperiente deputado de 24 anos.
Teria escolher se apoiava Maluf, que era amigo de meu pai e que de certa forma o salvara meses antes quando ele teve um infarto e precisou ser levado às pressas pra São Paulo, ou Sarney, homem que sempre respeitei e admirei, e pai de meu amigo Fernando.
Meu pensamento foi puramente lógico. Raciocinei que se não acompanhasse meu pai numa hora e situação daquelas, quem irá querer me acompanhar em qualquer hora ou jornada? Se não fosse leal ao meu pai naquela circunstancia, quem iria algum um dia acreditar em minha lealdade? Depois de me perguntar com clareza e de me responder com convicção, ficou fácil resolver. Fiz o certo, o que deveria ter feito. Se não fizesse o que fiz, hoje não seria um homem digno de respeito.
Não acredito que o que fiz em 1984 deixou seqüelas em alguém. Em Fernando com certeza não deixou. Se alguém não entendeu ou não gostou do que fiz, isso realmente não me interessa, pois o que fiz me serviu de grande aprendizado.

5. É conhecida, também, a sua amizade com Aderson Lago, desde quando ele era ainda deputado estadual. Como o vê hoje, já no poder?
Conheço Aderson há muitos anos. Sempre o tive como um dos melhores deputados de nossa Assembléia e por 8 anos pude desfrutar de sua companhia na ALM. Mesmo que em lados opostos, partidariamente falando, sempre estivemos do mesmo lado quando o interesse do poder legislativo e do povo do Maranhão estava em jogo.
Mas o Aderson Lago Secretario do Gabinete Civil do Governo é, e tem que ser mesmo, bem diferente do Deputado Aderson Lago, ícone da oposição maranhense nos últimos anos, por ser um critico incansável e arguto. Antes ele era pedra, agora é vidraça. Muda tudo.
O poder nos dá certas liberdades e nos tira certas possibilidades. Te garanto que Aderson trocaria todo o poder que tem e mais o que se atribui a ele, pra voltar ao plenário e para a tribuna da ALM.

6. Paulo Neto. Você acha ainda sustentável a permanência dele como deputado? Ou a Assembléia Legislativa seguirá com seu intragável corporativismo e não tomará nenhuma atitude no caso?
Sou daqueles que não acredita em CPI. Explico: O ‘C’ é de comissão, o que faz com que as decisões sejam colegiadas e dificulte bastante as coisas. O ‘P’ é de parlamentar, ou política, o que se choca frontalmente com o ‘I’ de inquérito, que deve ser uma coisa técnica, pericial, policial. Isenta de opiniões políticas.
Acho que a cada dia a situação de Paulo Neto fica mais difícil e a da Assembléia também. Por isso sou a favor de que se agilizem os trabalhos do ministério publico e da justiça e que, quando e se condenado por estas instituições, nós o cassemos.

7. Nada, nos últimos anos, foi tão profundamente corroído quanto a imagem dos políticos. Quem é culpado: os políticos ou o povo que os elege?
Seria fácil colocar toda a culpa no eleitor por escolher mal ou por vender seu voto. Seria até fácil de resolver se fosse só esse o motivo do descrédito dos políticos. Infelizmente não é tão simples assim.
O eleitor não pode, de maneira irresponsável, escolher quem vai representá-lo em qualquer âmbito da administração. Seja do presidente da republica ao vereador, tem que se lembrar que da sua escolha resultará o seu destino e o destino de todos nós.
O político, eleito ou simplesmente nomeado, não pode de modo algum, nem sob qualquer pretexto desvirtuar suas incumbências. Se comprovadamente, o fizer, deve ser excluído imediatamente.

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Ele estava lá.

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Fiquei bastante sensibilizado com o comentário que foi postado aqui no meu Blog por Gercivaldo Lima Santos no último dia cinco e que passarei a transcrever a seguir.

Atender ao pedido contido nele é o mínimo que posso fazer e é indispensável que eu agradeça de público ao Gercivaldo em meu nome e em nome de toda minha família, pela lembrança e pelo carinho que este demonstrou para com aquele que preferia ser conhecido preferencialmente como “o caboclo do vale do Pindaré”.

Caro deputado Joaquim Nagib Haickel, meu nome é Gercivaldo Lima Santos e sou natural de Monção. Nasci no então povoado de Chapéu de Couro, hoje município de Governador Newton Bello.

Eu era um dos muitos meninos que corriam atrás do carro de seu pai, Deputado Nagib “bom-bom”, na esperança de pegar uma daquelas guloseimas que ele jogava pras crianças de onde passava.

Com muito sacrifício de meu pai e com a providencial ajuda do seu, pude vir para São Luis onde estudei e me formei. Hoje tenho um bom emprego com o qual mantenho minha pequena e modesta família.

Leio sempre o que o senhor escreve tanto aqui quanto no Jornal O Estado, mas nunca tive a oportunidade de ler nada que o senhor tenha escrito sobre o seu pai.

Aproveitando que vai chegando o dia em que faz mais um ano de seu falecimento, gostaria de ler algo de sua lavra sobre aquele que foi o maior político que já habitou a nossa região, quem sabe o nosso estado.

Muito obrigado ao senhor e principalmente a ele.

Gercivaldo Lima Santos.

Eu estava lá.

Nagib Haickel

Estava lá, na minha infância pobre, jogando bolinha de gude, empinando curicas, nadando, no Rio Pindaré.

Estava lá, quando, meus pais preocupados, me mandaram estudar na capital.

Estava lá trabalhando, aos treze anos, como menino de recados e faz tudo de “seu” Eduardo Aboud.

Estava lá, homem quase feito vendendo tecidos, jóias e quinquilharias para poder andar de lambreta.

Estava lá homem feito, me fazendo mais homem ainda, casando com o amor da minha vida e tendo com ela meus filhos, que, são eu, em partes, em horas, em situações: afobado, alegre, leal, negociante, desconfiado…

Estava lá, comerciário e comerciante, industriário e industrial; empresário, nada disso nunca me senti, eu estava lá e vendia. Só isso. Sem saber montei a primeira loja de, conveniência do Brasil. A Meruoca.

Estava lá político, na minha querida região do vale do Pindaré com meu Povo, com, meus amigos. Devo, encontrar alguns por aqui. Biné, Milet, Adroaldo, Nunes Freire, Dr. Pedro Neiva, Sena Rosa. Devo encontrar um homem a quem sempre me opus, mas que nos últimos anos, amigo maior de seu filho me tornei. Dr. Newton Bello.

Estava lá jogando bombom, repetindo meu nome mil vezes, pintando o chão, narrando jogo de futebol; meu filho não achava que desse resultado. Deus. Dá. inventei coisas sem pretensão de inventa-las.

Estava lá Deputado Estadual e Federal por quase trinta anos. Criei municípios, e um em particular administrei e amei. Zé Doca. Parece comigo. É rápido, apressado, tem progresso, tem trabalho e boa gente.

Estava lá para ver meus filhos criados, homens de bem, trabalhadores, honestos, leais, amigos de seus amigos e respeitadores de seus desafetos.

Estava lá para fazer todas as coisas que gostava, e as fiz. Arrepender-se de ter feito algumas coisas erradas de pouco adianta agora, mas se com elas prejudiquei alguém peço desculpas e me penitencio.

Estava lá para ver, brincar, ensinar e aprender com as crianças que tanto, amei. Dentre elas, minha tão amada e querida neta. parte de mim. Minha Laila, minha Lalica.

Não estava lá para ver o meu netinho, também tão amado, mas o vejo sempre. É forte, bonito. Vai continuar o meu nome.

Estava lá nas ocasiões mais mercantes do meu tempo. Fui o centro da minha tempestade. Não posso me queixar de nada. Sempre tive sorte, amigos, sempre me sai bem. De um jeito ou de outro as coisas acabaram dando certo: Na infância, na juventude, na maturidade e na velhice; no esporte, nos negócios, na política e na vida.

Estava lá durante trinta e cinco anos com uma mulher maravilhosa, amiga, compreensiva, companheira. Pessoa de um coração sem igual, de uma bondade extraordinária, acho que se minha alma era má, ficou boa por sua causa e se boa fosse, melhorou convivendo com Chica ou mãe, o que ela era de mim e agora é de todos estes de quem cuida com tanto amor e dedicação. Te Amo.

Estava lá para ter irmãos, parentes, amigos dos melhores, empregados de anos de dedicação, pessoas que confiaram em mim e em que confiei. Muitas vezes era temperamental e até grosseiro, mas sei que os que me conheciam de perto, sabiam que não era por mau, sabiam que logo voltava ao normal e as coisas continuavam.

Estava lá em vários lugares, por quase sessenta anos, mas de sessenta se contarmos o tempo que passei dentro de “Mariak”, minha Mãe Maria Haickel, a olhar o olhar sereno do meu velho pai Elias.

Estava lá em Coroatá no dia 07 de setembro de 1993, entre amigos, brincando, comendo…

Estava lá… “Estou indo, estou indo…”

Estava lá e vi o pânico dos que estavam comigo, vi o desânimo, o desespero e o sentimento de traição e abandono que meus filhos, juntos, sentiam, vi a tristeza e a saudade de Chica, de Estelita e de Yolanda. Vi tudo, toda a minha vida num ultimo suspiro.

Esta lá e vi meu filho e meu genro, quase filho, ao me receberem, inerte. Vi o que foram capazes de fazer. Eu não seria tão corajoso, tão forte.

Estava lá e vi meu outro filho ir para casa, pensando sem pensar, andando sem andar, diletante. Deitou-se em minha rede, cheirou o meu cheiro no lençol, chorou o meu choro, dormiu o meu sono. Queria acordar com ele, queria sonhar com ele. Tenho certeza que não acreditava. Jamais o deixei ser totalmente, jamais o soltei, sempre esteve a minha sombra. Estava perdido. Mal sabia ele que nos últimos anos, eu era quem o seguia. Tive dois filhos dei a um a possibilidade de usar o cérebro através da boca e ao outro a razão de usar as mãos pelo cérebro. Um quase perdi várias vezes, o outro nunca quis se perder. Acho que hoje eles sabem que, o que os torna forte é o seu amor e a união.

Estava lá no meu velório, em minha casa, muitos amigos, todos os parentes, autoridades. Havia até conspiração. Não os condeno, faria o mesmo. Não fui e não sou santo nem hipócrita.

Estava lá no meu velório na Assembléia, casa onde passei boa parte da minha vida, onde estava sendo seu presidente, na minha cabeça apenas gerente. Muita gente. Fiquei orgulhoso e chorei, não queria morrer, nunca quis, era a fase mais feliz da minha vida; mais maduro, mais compreensivo, menos intransigente, menos preocupado.

Estava lá no meu enterro. Cheguei de carro de bombeiro, guarda de honra, essas coisa que em vida não dava muita importância. Muita gente. Chorei de novo. Quero ir para casa. Minha mulher, meus filhos, meus parentes, amigos, funcionários, conhecidos, todos lá me fizeram ver que era definitivo. Não me conformei. Hoje começo a compreender.

Estava lá na missa de 7º dia, todos ainda consternados. O Padre Lucio, simpatizante da esquerda, meu amigo do Maiobão, oficiou. A rua estava bloqueada, A Igreja era a Rua do Egito, em frente à Assembléia. Havia muita gente. Chorei novamente.

Estava lá na missa do 30º dia, desta vez a igreja coube a todos mais o padre ainda era o mesmo e a dor ainda doía. Chorei.

Estava lá em todos os instantes com Chica, Joaquim, Nagib, Laila, Ivana, Lucia, Estelita, Yolanda, Rose, Lucinha, Rochinha, Tadeu, Antonio, Santana, Carol, Jorge, Mônica, Catita, Vinicius…

Estava lá quando meus filhos com ajuda de alguns amigos tentavam pagar as dividas que deixei. Pagaram algumas e continuaram pagar as outras, pois foi como eu lhes ensinei.

Estava lá quando nasceu Nagib Neto, meu netinho que não me conheceu, mais que eu amo, falem de mim para ele.

Estava lá em quase todos os lugares e horas. Não todas, mas estava.

Estou, quando Chica chora ou rir, quando Estelita me imita, quando Loló lembra, quando Lalá vê a fita, quando Binho faz negócios e quando Joaquim faz política.

Estava lá na missa de 1º ano. Estavam apenas os que lembraram ou os que puderam ir. Meu substituto, o Manoel, Marly que alfabetizou meus filhos e um dos mais dignos Deputados que já conheci, um chovem chamado Clodomir Filho. Os outros devem estar se virando, pois a luta é difícil, eu sei.

Revi meu compadre Daniel, meus amigos William Nagem e Alberto Abdalla. Lá estava meu ex-patrão e amigo Cezar Aboud, meus amigos Zé Bento Neves, Zé Elouf e Celso Cotinho.

Joaquim ficou perto de Newtinho, onde eu ficaria, Nagib ficou do lado de fora da Igreja onde eu preferia ficar.

Vi meu amigo de infância e adversário João Maluf. Meu primo e amigo Alberto Hadade. Roberval não foi, está doente, mas a mulher e a filha estavam lá. Os parentes acho, que todos estavam; irmãos, primos, sobrinhos, e até Gloria, que Chica estava preocupada com a saúde dela eu vi.

Vi a surpresa gostosa e alegria que meus filhos tiveram ao ver um certo amigo deles entrando na Igreja com a esposa. Ele é amigo mesmo, não troquem nada por seus amigos, pois eles são o que de mais valioso há na vida.

Meus pretos estavam lá: Celso, Ivan, Gilmar, Regina, Miriam, Nelci… Meu irmão de criação Raimundo Nagib. Meus amigos Portela e Malheiros. Dona Otávia e Dona Rosário. Meus compadres e afilhados.

Funcionários da Assembléia e da “Barraca”. De Alda minha secretária fiel ao chefe de gabinete.De Verde com quem às vezes discutia, com quem implicava a Heloisa a quem admirava. Telefonistas e administrativos, funcionários que sempre tive como amigos. Até jornalistas havia. Não rádios, jornais. TV só o Ivison Lima do Raimundinho. Mas estavam lá o Raí, como eu chamava, o Ademário e aquele menino que fazia a locução das minhas campanhas e de Joaquim, não lembro o nome. Havia muita gente, pensei que fosse menos. Por um instante fiquei triste, queria estar ali. Mas o Padre Hélio Maranhão que rezava a missa lá pela as tantas, fez-me rir ao dizer “… um por todos…” e eu cá comigo, me lembrei dos meus filhos que adoravam capa-espada e gritei: “todos por um”. Era isso que estava acontecendo ali: Todos por um e por todos. Não chorei, não vou mais chorar. Não chore. Sejam unidos, se dêem amor, compreensão, amizade. Conversem, façam as coisas da maneira mais correta. Procurem ajudar a quem lhes procurar, sejam caridosos.

Estavam lá no cemitério. As minhas rosas, as minhas flores. Os meus.

Estava lá em casa.

Estava. Estou.

* Este texto deveria ter sido psicografado pelo médium Francisco Candido Xavier.

Texto publicado em 11.09.1994 no Jornal O Estado do Maranhão e repetido hoje aqui, a pedido.

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Tenho um bom amigo que me manda pelo menos 50 mensagens eletrônicas por dia, então resolvi compartilhar com vocês, sempre que for possível, algumas delas (apenas algumas…rsrsrsrs). Espero que apreciem.

Falando sobre conflitos de gerações, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases:

“Nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, caçoa da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus.”

“Não terei mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se essa juventude tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível”.

“Nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.”

“Essa juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.”

Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com a aprovação que os espectadores davam às frases. Então, revelou a origem de cada uma delas:

  • A primeira foi proferida por Sócrates, filosofo grego. (450 a.C .)
  • A segunda é de Hesíodo, que junto com Homero é considerado um dos maiores poetas gregos da idade arcaica. (720 a.C.)
  • A terceira foi encontrada escrita na tumba de um sacerdote egípcio que viveu em Tebas em 2000 a.C.
  • A quarta é um fragmento de escrita encontrada em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia, atual Bagdá, e com data estimada de mais de 4 milênios de existência.

CONCLUSÃO:

Aos que são pais:
RELAXEM, POIS SEMPRE FOI ASSIM!

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A Importância da Pontuação (. ou ! ou ?)

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A Importância da Pontuação (. ou ! ou ?)

Lembro-me como se fosse hoje. Foi numa daquelas noites quentes, de pouquíssima comida e nenhuma bebida, às quais todos nós nos submetíamos espontaneamente e ainda por cima pagávamos para aparentemente usufruir tão pouco prazer, lá em Sorocaba, naquele que se não é o mais chique spa do Brasil, é certamente o mais aprazível e aconchegante, o Spa São Pedro. Aquele mesmo que serviu de cenário pra Mário Prata escrever um de seus livros de maior sucesso editorial, “O diário de um magro”.

Naquela noite aconteceu uma conversa bastante interessante entre quatro grandes amigos, que pelo menos duas vezes por ano se encontram para fazer um minucioso check up médico, para emagrecer um pouquinho ou para temporariamente parar de beber, e para rir bastante.

Depois da sopinha nossa de cada noite, que logo na primeira semana aprendi a duplicar adicionando-lhe água quente, pimenta, limão, sal e cebola ralada, do disputadíssimo jogo de dicionário, no qual raramente vence o maior conhecedor da língua mãe – tanto que nestes dez anos, não me lembro de ter visto Mário Prata nem Fernando Moraes nem Benedito Rui Barbosa, vencido uma única rodada – e da tão esperada ceia – meia rodelinha de abacaxi – eu e esses três amigos, fomos para a beira da piscina.

Iríamos encher a cara com uma bebida que Pratinha inventara especialmente para uma festa que anos antes organizamos por lá: in tônica. Caro revisor, por favor, não tente corrigir o termo anterior. Não está faltando a letra G no nome da bebida não. Mário a batizou de “in tônica” por que ela não leva gin. Só leva água, tônica é claro, misturada com soda limonada diet e uma lasquinha de limão.

Ficamos os quatro em volta de uma mesa branca e redonda de PVC, jogando conversa fora. Cada um contava um “causo”, uma estória de sua terra. Depois de duas rodadas descobrimos que já conhecíamos todas as historias “unsosotros” *. Então alguém sugeriu que cada um de nós fosse ao seu quarto, procurasse, imprimisse e trouxesse um desses milhares de e-mails que recebemos todo dia. Um bem interessante. O mais interessante que se encontrasse. Teríamos 15 minutos para fazer isso. Fomos e em menos de 15 minutos estávamos todos de volta e o mais incrível, nós quatro escolhemos o mesmo texto que fora nos enviado por um amigo comum e que reproduzo a seguir:

A Importância da Pontuação
Um homem muito rico ficou mal repentinamente e prevendo a morte iminente, pediu papel e caneta ao mordomo e escreveu seu testamento:
“deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres”.
E morreu antes de conseguir revisar seu texto e fazer a pontuação.
Ficou então a grande pergunta. A quem ele deixara realmente sua fortuna?

Nós quatro então nos pusemos, cada um, a colocar naquela frase testamento, a pontuação que achávamos que ela deveria ter.

O numero um passando-se pelo sobrinho fez a seguinte pontuação:
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

O numero dois, como se fosse a irmã, chegou a seguinte conclusão:
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

O três, como padeiro, puxou a brasa para sua sardinha: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a
conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

E finalmente o numero quatro, representando os pobres da historia, sentenciou: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Naquela noite ficou muito mais claro pra nós que é assim que é a vida. Nós é que colocamos a pontuação e damos as ênfases que queremos dar. E isso faz toda a diferença.

* “unsosotros”: Brasileirismo maranhense. O mesmo que uns dos outros; conjuntamente; entre si.

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