A raiz do problema

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É impossível não falar do assunto do momento. O tapa que Will Smith deu em Chris Rock, durante a cerimônia do Oscar, e as discussões cruciais sobre tal conjuntura, no mundo, hoje. De um lado a liberdade de dizermos ou fazermos o que se quiser, sem limites ou preocupação com quem atingimos e as consequências que tais coisas possam gerar nas pessoas, e de outro lado a reação que essas pessoas possam ter em relação ao que for dito ou feito, a capacidade ou a incapacidade de absorção de tais palavras ou ações e as consequências das consequências que podem transformar tudo isso em um redemoinho infindável de ações e reações, aquilo que é comumente conhecido como intolerância.

Sempre achei que algumas piadas são completamente sem graça e outras além de sem graça, são agressivas e aviltantes. Coisas sem sentido e desnecessárias. As tais brincadeiras de mau gosto.

Da mesma forma que sempre achei que reagir a essas coisas com força, com violência, não é o caminho correto. Sempre achei que esse tipo de reação tira a razão de quem sofreu a injúria, calúnia, difamação ou mesmo o insulto ou a ridicularização.

Essa temperança, esse senso de equilíbrio, é aquilo que há de mais importante na condição humana. O humorista que deve saber o limite da piada e quem se sentiu atingido por ela, que deve saber o limite da reação.

Nem Chris Rock deveria ter cometido tal grosseria, nem Will Smith poderia ter cometido tal violência. Todos dois estavam passando dos limites. A coisa mais comum no mundo de hoje quando os meios de comunicação nos permitem dizer e fazer coisas que até Deus duvida.

O que se tem visto, diariamente, em todo lugar do mundo, é a exacerbação desses DIREITOS. E isso é inadmissível.

Eu uso recorrentemente três ditados populares que bem representam essa situação: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer”, “Eu perco o amigo, mas não perco a piada”, e “Quem não aguenta com o pote que não pegue na rodilha”. A sábia distribuição das ideias contidas nessas palavras, adubadas com temperança e tolerância, é a base de uma boa convivência.

Não quero que a liberdade de dizer e fazer seja ferida de qualquer forma, nem que o direito de reagir ou de agir possa ser restringido, tirando do indivíduo a sua soberana responsabilidade sobre seus atos, só quero que isso seja feito com consciência.

No final, chego à conclusão que o erro de Rock levou ao erro de Smith, e que em um caso onde todos estão errados, além de ninguém estar certo, nada tem a ser feito, a não ser se parar e repensar como se deve agir.

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Oscar 2022

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Muitos amigos meus têm me mandado mensagens pedindo que eu escreva sobre dois assuntos dos quais gosto muito. Um grupo quer que eu fale sobre política, sobre a eleição ao governo do Estado, e outro que eu fale sobre cinema, mais precisamente sobre a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles, que anualmente distingue aqueles que eles acreditam, mais se destacaram no ano anterior, nas diversas atribuições que tem o cinema.

Como na semana passada falei de política, agora vou dedicar um tempinho para falar de cinema, do Oscar 2022.

Concorrendo a melhor filme estão: Belfast, No Ritmo do Coração. Duna, Não Olhe para Cima, Drive My Car, King Richard – Criando Campeãs, Licorice Pizza, Ataque dos Cães e O Beco do Pesadelo. O vencedor deve ser Ataque dos Cães, mas King Richard – Criando Campeãs, e O Beco do Pesadelo tem alguma chance, os demais, nenhuma.

Para melhor diretor, Paul Thomas Anderson, por Licorice Pizza, Ryusuke Hamaguchi, por Drive My Car, Kenneth Branagh, por Belfast, Jane Campion, por Ataque dos Cães e Steven Spielberg, Amor, Sublime Amor. Só quem tem remota chance de disputar com Campion, é Branagh.

O prêmio de melhor ator está sendo disputado cabeça a cabeça, pois todos os desempenhos são magistrais. Vou lista-los em ordem decrescente, daquele que acredito que tenha mais chance, para o que penso ter menos chance de ganhar a estatueta. Benedict Cumberbatch, por Ataque dos Cães; Andrew Garfield, por Tick, Tick … Boom!; Will Smith, por King Richard – Criando Campeãs; Denzel Washington, por A Tragédia de Macbeth (em que pese o filme ser muito difícil); e Javier Bardem, por Apresentando os Ricardo;

No quesito melhor atriz, a coisa é um pouco diferente. Existe uma favorita:Kristen Stewart, por Spencer. As outras têm menos chances, nessa ordem: Nicole Kidman, em Apresentado os Ricardos; Olivia Colman, por A Filha Perdida; Penélope Cruz, por Mães Paralelas; e Jessica Chastain, por Os Olhos de Tammy Faye.

Eu tenho especial carinho pelo elenco coadjuvante, mas esse ano a disputa está um pouco confusa no masculino. Kodi Smit-McPhee, por Ataque dos Cães; J.K. Simmons, em Apresentando os Ricardos; e Jesse Plemons, por Ataque dos Cães têm mais chances que Troy Kotsur, em No Ritmo do Coração e Ciarán Hinds, por Belfast.

O mesmo acontece no feminino, que em minha opinião a ordem de preferência deve ser a seguinte: Kirsten Dunst, por Ataque dos Cães; Judi Dench, por Belfast; Ariana DeBose, por Amor, Sublime Amor; Jessie Buckley, por A Filha Perdida; e Aunjanue Ellis, por King Richard – Criando Campeãs.

Na disputa dos roteiros feitos especialmente para o cinema a briga é boa, entre os três primeiros citados nesta lista: Belfast, Não Olhe para Cima, King Richard – Criando Campeãs, Licorice Pizza e The Worst Person in the World.

No que diz respeito a um roteiro que foi adaptado de uma obra anterior, não deverá haver disputa, Ataque dos Cães deve vencer, mas com remotas chances aparecem A Filha Perdida. No Ritmo do Coração, Drive My Car e Duna, não têm chance.

A disputa pelo prêmio de melhor animação do ano recai sobre Encanto e Luca. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, Flee e Raya e o Último Dragão, cumprem tabela.

Canção Original é sempre uma grande disputa, principalmente quando estão concorrendo um filme da saga 007, alguma superprodução musical ou um desenho da Disney, que dessa vez não há. Eu pessoalmente penso ser impossível dizer com o mínimo de certeza quem será o vencedor nesta categoria. Todos são ótimos. No Time to Die, do filme 007 – Sem Tempo para Morrer, de Billie Eilish e Finneas O’Connell; Dos Oruguitas, do filme Encanto, de Lin-Manuel Miranda; Somehow You Do, do filme Four Good Days, de Diane Warren; Be Alive, do filme King Richard – Criando Campeãs, de Beyoncé Knowles-Carter e Dixson; e Down to Joy, do filme Belfast, de Van Morrison.

Quanto a trilha sonora original, a coisa é menos complicada, em que pese todas serem igualmente maravilhosas, mas me arrisco a coloca-las em ordem de preferência. Duna, de Hans Zimmer; Não Olhe para Cima, de Nicholas Britell; Encanto, de Germaine Franco; Mães Paralelas, de Alberto Iglesias e Ataque dos Cães, de Jonny Greenwood.

Ao comentar os prêmios técnicos, vou coloca-los em ordem decrescente de preferência.

Edição de som: Duna, 007 – Sem Tempo para Morrer, Amor, Sublime Amor, Belfast e Ataque dos Cães.

Fotografia: O Beco do Pesadelo, Duna, A Tragédia de Macbeth, Amor, Sublime Amor e Ataque dos Cães.

Efeitos visuais: Duna, 007 – Sem Tempo para Morrer, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis e Free Guy

Figurino: Aqui há uma disputa acirrada entre Cruella e O Beco do Pesadelo, mas os demais são também muito bons, nessa ordem: Duna, Cyrano e Amor, Sublime Amor.

Maquiagem e cabelo: os favoritos são Cruella e Casa Gucci, mas Duna, Um Príncipe em Nova York 2 e Os Olhos de Tammy Faye mereceram as indicações.

Montagem: esse item é difícil até de se colocar em ordem de preferência, mas vamos lá: Tick, Tick… Boom!; Não Olhe para Cima, Ataque dos Cães; King Richard – Criando Campeãs e Duna,

Design de produção é um quesito do qual eu entendo um pouco, mas os concorrentes têm nível tão alto que qualquer coisa pode acontecer. O meu palpite é o seguinte: O Beco do Pesadelo, A Tragédia de Macbeth, Ataque dos Cães, Duna e Amor, Sublime Amor.

Não posso opinar sobre muitas categorias, pois não vi os filmes que concorrem nelas, como por exemplo Filme Internacional, Curtas Metragens, Documentário.

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Ucrânia, Chechênia e outras guerras

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Acordei pensando sobre o que está acontecendo na Ucrânia, e lembrei do que aconteceu no Afeganistão e depois na Chechênia. No primeiro caso, a União Soviética e no segundo a Federação Russa, invadiram aqueles países e nós, do ocidente, defensores da liberdade e da democracia, fizemos muito pouco, quase nada em relação a isso.

No caso do Afeganistão, os Estados Unidos, apenas cumpriram seu papel de antagonista dos russos naquilo que até então era a guerra fria. No caso da Chechênia, não lembro de nenhuma ação mais efetiva contra Putin, que já naquela época fazia as suas presepadas.

Me pergunto por que eu não me indignei com a invasão e aniquilação da Chechênia! Pensando agora, acredito que foi pelo fato de não ter nenhum conhecimento nem empatia sobre aquele país e seu povo. Talvez pensasse que era um problema interno, que eles que o resolvesse internamente.

Depois, aquele atentado terrorista checheno no Teatro Dubrovka, em Moscou, fez com que tomasse partido contra os terroristas, sem analisar os motivos, mesmo que cruéis e inadmissíveis daquela ação, o por que daquela atitude tão radical. Hoje sei que ela foi uma represália pelo genocídio que Putin estava efetuando em seu país.

Agora Putin ataca um país mais conhecido, com relações mais próximas a nós, com religião igual a nossa, com costumes parecidos aos nossos, com um povo cosmopolita, e aí tomamos partido e nos opomos a invasão e a guerra.

Hoje acordei me odiando por não ter tido o mesmo pensamento e a mesma atitude que tenho agora em relação a Ucrânia, quando da invasão da Chechênia. Hoje vejo como estava errado. Não me posicionei contra a invasão da Chechênia, pelo fato da maioria do povo daquele país ser mulçumano, por não ter conosco muitas semelhanças e ter diferenças em quase todos os aspectos.

Hoje descobri o quanto fomos canalhas, eu inclusive, por não sermos coerentes em questões tão importantes como esta, por usarmos dois pesos e duas medidas.

Alguém disse certa vez, não lembro quando nem onde, que mesmo que não se perceba imediatamente, quando um leão espana com o rabo, as moscas que o fustigam, as consequências disto acontecem, seja elas quais forem ou quando e onde repercutam.

Neste momento estou pasmo por tão pouco está sendo efetivamente feito para conter, para parar Putin, e temo que as consequências disso possam ser desastrosas, não só para a Ucrânia e seu povo, mas para todo o mundo.

Esse conflito, que teve início já faz mais de um mês, parece que ainda vai se arrastar ainda por algum tempo e o que é pior, parece que todos nós estamos nos acostumando com ele. Digo isso por eu mesmo ter ficado tão indignado quando essa guerra começou, mas agora, devido aos problemas do dia a dia, as vezes até esqueço dos horrores que estão acontecendo na Ucrânia, da mesma forma que às vezes nem lembro do que acontece no Afeganistão, na Síria, no Sudão e em tantos outros lugares conflagrados por guerras.

Nossa responsabilidade em coisas como essas, são bem maiores do que pensamos.

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Uma grande oportunidade

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Já faz algum tempo comentei com alguns amigos, que a política do Maranhão tinha tudo para passar de um patamar conflagrado, cheio de disputas e intrigas, para um estágio de evolução, onde a união, a paz e a prosperidade, tomariam o lugar das acirradas divergências de outrora.

Disse a eles que isso aconteceria quando do natural declínio hegemônico do grupo liderado pelo ex-presidente José Sarney, mas não antes de haver um acirramento entre este grupo e um outro que quisesse se estabelecer em substituição a ele, mas que isso não perduraria, pois as mudanças geracionais, culturais e políticas não permitiriam que continuassem a existir hegemonias como aquela, e como tantas outras que existiram por nosso país.

Eu sempre disse que Flávio Dino seria governador do Maranhão, e que tentaria se firmar como liderança que se igualasse a Sarney, mas sempre soube que isso não aconteceria, não que Flávio não tivesse capacidade para isso, mas pelo fato de só ter sido possível existir uma liderança como a de Sarney, porque no tempo em que ela nasceu e se consolidou, era possível que isso acontecesse. Hoje em dia, lideranças como aquelas não são mais plausíveis nem possíveis de existir. Os tempos são outros.

Previ que se passaria por um breve interlúdio, gerado pelo declínio natural de quem permaneceu tanto tempo no poder, e o novo poder estabelecido. Que haveria uma fase de transição, que a princípio poderia parecer e até em alguns casos, ser, violenta, mas que com o arrefecimento dos ânimos, graças a sabedoria do antigo morubixaba, e pelo rápido amadurecimento do novo cacique, as coisas poderiam se consolidar de forma a fazer com que caminhássemos todos para um tempo em que o Maranhão marcharia junto, mesmo que não totalmente unificado, em busca de tempos melhores.

O que eu não previ é que isso seria feito pelas mãos de alguém que fosse desprovido de maiores ambições, que fosse alguém que não causasse medo nas pessoas, alguém que não usasse o poder para intimidar ou submeter, correligionários e adversários. Não imaginei que teria que ser manso, o artífice desta obra.

Eis que surge Carlos Brandão, homem simples, de temperamento afável, comedido, simpático, que pela sua forma de ser, pode conseguir, graças ao ambiente que temos hoje, graças às mudanças sociais, políticas e culturais que ocorreram nos últimos tempos, uma coisa que nem Sarney nem Dino conseguiram. Juntar todos os políticos do Maranhão… Se não todos, pelo menos os mais relevantes eleitoralmente, em torno de um projeto de ESTADO, onde mais importante que grupos e partidos, seja realmente o povo e a organização administrativa que o agrega.

Lembro que também previ, e parece que nisso eu errei feio, que haveria um grande acordo entre as duas bandas do grupo liderado por Flávio Dino. Brandão seria candidato a governador, Weverton indicaria o candidato a vice, e até ao senado, caso Dino fosse candidato a vice-presidente da república.

Sempre soube que o candidato sendo Brandão, pela boa relação que ele sempre teve com importantes figuras ligadas ao ex-presidente José Sarney, o grupo iria apoiá-lo, pois este seria um movimento natural, e seguir os movimentos naturais é uma das regras fundamentais e imutáveis da boa política.

Os movimentos refratários e persecutórios ao grupo Sarney, de forma indiscriminada, perpetrados por Flávio Dino, assim que assumiu o poder, se mostrou eficiente por um lado e inócuo por outro, pois se aquilo serviu para ele fazer uma limpeza no ambiente, acabou matando junto, a oportunidade de unir quase todos os políticos do Maranhão em torno de si. Essa oportunidade Brandão tem agora.

Mas para que isso aconteça, de maneira retumbante, precisaria que o senador Weverton Rocha entendesse que o momento não é de confronto, que apesar dele não perder nada, caso não vença a eleição ao governo, pelo fato de ter ainda quatro anos de mandato de senador, ele deveria pensar naquilo que poderia ser mais interessante para seus companheiros, que não são poucos nem fracos, que correm o risco de ter no mínimo contra si, a má vontade do próximo governador e da próxima administração estadual.

Por outro lado, infelizmente, ainda consigo identificar, principalmente no grupo ligado a Brandão, pessoas com um velho pensamento, algo mais antigo que o vitorinismo, do tempo em que Benedito Leite e Magalhães de Almeida mandavam em nosso Estado, gente que tem um lema, que em minha opinião sintetiza o que há de pior na política e na vida: “Quanto menos somos, melhor passamos”. Existem pessoas assim também do lado de Weverton, mas acredito que Brandão, nem as pessoas mais importantes, próximas a ele pensam desta forma, e acredito que Weverton também não.

Em minha modesta opinião, o melhor que poderia acontecer para o nosso ESTADO, para a nossa GENTE, seria que os grupos políticos majoritários de nossa terra entrassem em um grande acordo, e que não houvesse disputa, entre eles, quanto aos cargos majoritários no Maranhão, em 2022. Penso que assim todos sairiam ganhando.

Isso não é coisa fácil de acontecer, mas nada impede que seja tentado! Digo isso como livre pensador que sou. Livre e pensador o suficiente para saber que muitas vezes, existem coisas que estão à nossa frente, coisas obvias, e não as enxergamos nem ouvimos, até que uma criança ou alguém a quem não damos importância, nos mostre.

PS: Lembro a você que me lê agora, que em uma contenda, existem aqueles que ganham mais com ela que os próprios contendores. São os apostadores, que muitas vezes não arriscam nada na disputa, mas ganham muito com ela.

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Belfast

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Assisti ao filme “Belfast” e acredito que ele seja, sem sombra de dúvida, o segundo colocado na preferência de quem aprecia cinema, quanto à disputa do Oscar de 2022.

Sendo “Ataque de cães”, o franco favorito, a disputa pelo segundo lugar é quase um outro primeiro prêmio.

“Belfast” lembra muito um outro filme, “Roma”. Não que o primeiro tenha sido feito baseado no segundo, mas é uma reminiscência de uma mesma época, final dos anos 1960, começo dos 70. Os dois falam de vidas de famílias comuns, no México e na Irlanda do Norte e retratam a vida dos dois roteiristas-diretores das obras.

Kennet Branagh nasceu, como eu, em um mês de dezembro, é portanto, como eu, sagitariano. Quando ele nasceu, nevava em Belfast. Quando eu nasci, um ano antes dele, em São Luís do Maranhão, fazia muito calor e chovia.

A minha infância foi como a de todas as crianças de minha cidade, a de Buddy, personagem do filme, era normal para os iguais a ele. A diferença é que eu, católico, estudei em um colégio Batista, e isso, naquele tempo em nosso país, não era e não é, graças a Deus, nenhum problema, mas Buddy, protestante, vivia no fogo cruzado entre protestantes e católicos, num tempo e num lugar onde isso era normal.

“Belfast” não vai ganhar o Oscar de melhor filme, como “Roma“ ganhou de melhor filme estrangeiro, mas é um belo filme e precisa ser visto, por pessoas de minha idade, que vão se identificar com ele, e por pessoas mais jovens, para que saibam como era a vida naquela época.

Por fim, cheguei a uma triste conclusão. Ao contrário do que aconteceu nos casos de “Roma”, de Alfonso Cuarón, e de “Belfast”, de Kennet Branagh, uma história que eu escrevesse e filmasse, quem sabe com o nome de meu bairro, “Outeiro da Cruz”, ou de minha cidade, “São Luís”, raramente teria tanto sucesso, pois a minha, a nossa vida, não teve e não tem conflito suficiente para produzir-se um filme de sucesso, mas pelo menos deu pra aprender um pouquinho sobre cinema.

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Um maravilhoso exercício de cinema

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Quando eu me propus a realizar adaptações dos contos de Ney Bello Filho para o cinema, resolvi fazer isso de forma que pudéssemos utilizar três de suas histórias de forma simultânea, paralela e complementar. Usei nesse intento contos que tivessem alguma similaridade em tema ou em forma. Os escolhidos foram “O retrato e a certidão”, “O camundongo n° 6” e “Diversos de mim mesmo”.

Convoquei para me ajudar na difícil tarefa de adaptar aqueles ricos e densos textos, repletos de referências, no campo da literatura, da filosofia, da teologia, as roteiristas Julia Antuerpem e Angélica Coutinho, sem as quais esse trabalho tão teria o sucesso que tem alcançado. Por fim se juntou a nós, meu parceiro de longa data, Coi Belluzzo, que além de ajudar nos roteiros, foi junto comigo produtor e diretor dos filmes.

O certo é que acabamos realizando, ao invés de um, cinco filmes, graças aos recursos que utilizamos na pré-produção, na produção e na finalização do material.

“A mulher do pai” é a adaptação de “O retrato e a certidão”. Este é o único dos cinco filmes que pouco tem em comum com o texto original, isso pela grande dificuldade que encontramos ao trabalhar um texto literário tão cheio de referências. A riqueza da literatura às vezes inibe o cinema, que sendo uma arte visual, entrega por esse meio as informações e os sentimentos, o que a literatura faz através das palavras e das figuras de linguagem.

Já “O camundongo n° 6” e “Diversos de mim mesmo”, são transcrições mais fiéis e literais dos contos que lhes inspiraram.

“Diversos de mim mesmo” foi o primeiro a ficar pronto e foi inscrito em alguns festivais de cinema e sua aceitação está sendo extraordinária, tendo sido até agora selecionado para 5 festivais e tendo ganho um prêmio, o de melhor roteiro em um festival de Las Vegas.

Depois de vários exercícios de montagem, juntamos “O camundongo n° 6” e “Diversos de mim mesmo” e criamos um outro filme, maior e mais robusto, “Maktub”, que fala de dois momentos da vida do mesmo personagem, Levi, e que aborda temas importantes dos contos de Ney: A busca da identidade e o direito a morte.

Sendo o segundo dos cinco filmes a ser finalizado, “Maktub” também foi o segundo a ser inscrito em festivais e já foi selecionado para três festivais, tendo sido em Tokyo, escolhido como melhor curta-metragem da competição.

Por fim, tendo sempre o mesmo personagem como centro das ações, juntamos os três filmes, o que resultou no instigante “A mulher, o rato e Deus”, um recorte da vida de um homem atormentado, que busca encontrar suas raízes, encontrar a si mesmo e encontrar a paz.

Esse processo mostrou-se extremamente econômico, porque com os recursos de um filme, realizamos primeiramente três, para em seguida juntá-los em mais dois.

Gostaria de agradecer ao meu querido amigo Ney Bello Filho, que nos deixou completamente livre para “brincar” com sua obra e criar sobre ela, imagens que deram luz e movimento a sua literatura.

Também preciso agradecer ao maravilhoso grupo que trabalhou comigo nesta produção, com a qual muito aprendi, principalmente sobre a incrível capacidade que os personagens têm de se autodeterminarem.

Está foi a primeira vez que realizei um filme cuja ideia original não era minha. A princípio foi uma tarefa difícil, mas depois que criei uma relação pessoal com os personagens, depois que os transformei em meus, pude melhor entende-los e tive mais liberdade de contar suas histórias… Pelo meu ponto de vista.

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A melhor estratégia para perder uma eleição

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Na semana que passou, um texto que escrevi em fevereiro de 2019, intitulado “Carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro” –                                 https://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/2019/02/23/carta-aberta-ao-presidente-jair-bolsonaro/ – foi repostado por alguém que desconheço. Essa repostagem já rendeu mais de mil e duzentos comentários, likes e compartilhamentos, além de muitas polêmicas, muito mais que há 3 anos, quando tal texto foi originalmente publicado, só que agora com dezenas de insultos à minha pessoa por parte de quem não tem capacidade de manter uma convivência minimamente civilizada com quem pense diferente de si.

A conclusão a que chego é que esse texto e o assunto nele abordado, continua muito atual, ou se revelou, de alguma forma ou em algum aspecto, bastante relevante.

Nele, eu comentava sobre minhas impressões a respeito dos primeiros dias da administração do então novo presidente e fazia-lhe algumas recomendações.

Lido hoje, esse texto até parece profético, pois quase tudo sobre o qual comentei, de uma forma ou de outra, acabou acontecendo.

Visto em retrospecto o cenário da época poderia até ser favorável ao presidente, caso ele tivesse trilhado por um caminho que o levasse a um bom destino.

Em fevereiro de 2019, com apenas um mês de mandato, Bolsonaro poderia ter direcionado sua energia de maneira muito mais eficaz, eficiente e efetiva para a realização de seu intento, mas ele preferiu seguir um caminho completamente incompatível com o sucesso.

O destino no qual ele queria chegar era bastante aceitável por diversos pontos de vista e por grande parte da população, mas a forma e o trajeto escolhidos por ele, foram inaceitáveis por boa parte de seus eleitores, eu inclusive.

No decorrer do tempo, e ao longo do caminho, ele foi perdendo apoios importantes e ganhando adversários que, ou antes eram indiferentes a ele, ou eram seus aliados, e foi aumentando a oposição daqueles que sempre o combateram.

Dizer-se algo de mal de alguém é muito fácil. Quando esse alguém toma atitudes de alguma forma condenáveis, facilita a vida do maldizente. Quando ele dá diversos e claros motivos para que falem mal dele, criticá-lo fica ainda mais fácil.

Foi o que Bolsonaro fez! Deu muitos e graves motivos para criar contra ele uma narrativa que o colocasse numa situação desfavorável. Mas não foi por falta de aviso!

Alguém que não sabe usar a língua mãe para se comunicar de maneira clara, que não suscite más interpretações ou deturpações, até pode se eleger presidente da república, governador de estado, prefeito municipal ou parlamentar em qualquer dos níveis, mas terá que suportar os bombardeios que cairão sobre ele, graças a essa grave deficiência semântica.

Maior exemplo de sua incapacidade de conectar o raciocínio lógico, a inteligência emocional e a comunicação, aconteceu agora quando da invasão da Ucrânia pela Rússia. Sua incapacidade de entender os acontecimentos de maneira correta e de se posicionar neles e sobre eles adequadamente, faz com que Bolsonaro cometa atitudes absurdas, como querer defender o setor agrícola nacional numa hora em que o mundo precisa defender sua sobrevivência.

É um absurdo não entender que a Alemanha tem muito mais a perder numa situação dessas que o Brasil, e mesmo assim aquele país estigmatizado lidera a luta pelo reestabelecimento da ordem mundial, enquanto nosso presidente está preocupado com os fertilizantes que compramos da Rússia, e o que é pior, é ele não saber que de qualquer forma, com a guerra, haverá a interrupção dessa operação.

Aliando isso ao seu temperamento explosivo, a impaciência comum à sua profissão originária, e a intolerância desenvolvida no decorrer da vida, temos em Bolsonaro um case de insucesso, que só não sucumbiu, por serem partes importantes de suas ações, o combate à corrupção, ao aparelhamento partidário do estado, à defesa de instituições como a família, a escola, a religião, temas muito apreciados e aceitos por grande e relevante parcela da população brasileira.

Agora imaginem se esse sujeito soubesse usar os instrumentos a sua disposição da maneira correta!?… Com o apoio que tem o conteúdo liberal de seu projeto, ele seria muito difícil de ser derrotado.

Vejam bem para que não me entendam mal. Quando falo do conteúdo de seu projeto, não me refiro aos absurdos que ele diz a respeito de mulheres, homossexuais, negros e coisas semelhantes. Falo da defesa que ele faz dos bons valores da cidadania, valores do cidadão comum.

Em minha modesta opinião, acredito que da mesma forma com que Bolsonaro venceu a eleição de 2018, ele perderá a de 2022. Ele não será derrotado por ninguém, mas por si mesmo, assim como não foi o PT e a esquerda que foram derrotados por Bolsonaro, foram eles quem fizeram por onde serem rejeitados pelo povo brasileiro.

Chego a essa conclusão vendo e ouvindo pessoas próximas a mim, que votaram em Bolsonaro como forma de eliminar o PT e os esquerdistas do poder, onde se alojaram há 24 anos, e que agora, graças à forma inaceitável de agir do presidente, não mais o apoiarão. Estas pessoas estão em busca de uma alternativa entre o ruim que é Bolsonaro e o péssimo que é Lula.

São empresários de postura liberal e até alguns mais à direita que não aceitam a forma de ser e de agir do presidente, mesmo que o conteúdo de suas ações sejam aceitáveis e até desejáveis.

Ninguém pode desconhecer que em meio a todo esse caos político em que vivemos, o Brasil está em diversos e importantes aspectos, muito melhor que estava antes, quando éramos governados por uma igreja política, cujo profeta, santo e Deus, conseguiu subverter o entendimento básico do certo e do errado, do moral e do imoral, em nosso país.

No mês de fevereiro, o superávit primário de nossa balança comercial atingiu os níveis mais elevados dos últimos cinco anos. Imaginem se esse sujeito soubesse tirar proveito político disso!?…

Eu disse certa vez que Bolsonaro poderia se converter no maior desperdício que os liberais teriam em nosso país. Parece que eu infelizmente estava certo. Ele pode, nas próximas eleições, nos devolver aos braços gramishistas da esquerda, porque até agora não conseguimos enxergar nenhum nome capaz de ser uma alternativa viável ao desastre ainda maior que se anuncia.

PS: Depois desse texto, eu serei extremamente criticado por meus amigos de direita, assim como igualmente serei pelos amigos e os não amigos de esquerda. Ser criticado pelos dois lados só aumentará a minha certeza de estar correto em minha posição.

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