Balancete dos últimos 40 anos

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Tirei esta semana para fazer um pequeno balanço sobre meus mais de quarenta anos de atividade no setor cultural, uma vez que neste mês de agosto a Revista Guarnicê completará 4 décadas que circulou pela primeira vez, e penso que seja ela que marca de maneira mais pontual o nosso tempo por aqui.

Imagino que a maioria das pessoas irá perguntar o que é essa Revista Guarnicê! Ela foi uma publicação que existiu em São Luís do Maranhão, entre os anos de 1983 e 1986, e era feita por mim, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho, Érico Junqueira Aires, Cordeiro Filho e Dulce Brito, entre tantos outros jovens escritores e artistas gráficos da cidade. Em torno da Revista Guarnicê, criou-se uma agenda de eventos artísticos e culturais que de muitas maneiras e formas, pautavam e marcavam o ritmo da cidade, algo que ficou conhecido como movimento Guarnicê.

Não pretendia fazer essas contas, pelo fato de termos sofrido um desfalque irrecuperável em nosso patrimônio. Perdemos um ativo caríssimo e valiosíssimo, perdemos aquele que, se fossemos Cavaleiros da Távola Redonda, seria o nosso Percival, o mais puro entre todos. Perdemos nosso irmão Celso Borges, CB para os íntimos e até para os não tão íntimos.

Mas à proporção que o mês de agosto foi se aproximando senti a necessidade de passar a régua e pelo menos registrar as coisas mais relevantes que fiz durante esses 40 anos, sendo que havíamos nos preparado com certa antecedência e até realizamos um documentário para esse fim: “Guarnicê, uma história pra contar”.

É difícil para mim dizer o que dentre tudo que fiz é o mais importante, mas vou tentar relacionar aqui algumas das coisas que penso serem relevante.

Em primeiro lugar e de forma extraordinária, que foge do âmbito cultural e artístico, pois é um evento político, está a criação das Leis de incentivo a cultura e ao esporte de nosso estado, através de dois projetos de minha autoria, que foram aprovados por unanimidade pela Assembleia Legislativa no ano de 2010.

Em seguida, vem, mesmo já tendo acontecido há quarenta anos, acredito que a criação da Revista Guarnicê, pois todo o resto se derivou dela.

Depois, imagino que as trajetórias pessoais, principalmente as de Celso, Kenard e Érico, que foram morar fora de São Luís e cresceram muito artisticamente, enquanto eu e Paulinho ficamos em São Luís.

Numa segunda etapa, a Criação do MAVAM, o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, que tem como missão pesquisar, coletar, tratar, digitalizar e preservar tudo que tiver relação com a vida do Maranhão e de sua gente, por meio de de fotografias, filmes e gravações de áudio.

Tendo como base o trabalho do MAVAM, vieram realizações incríveis! Dezenas de filmes sobre nosso povo e nossa terra. Filmes documentais, ficcionais e animações onde se retrata o Maranhão, sua arte, cultura e a vida de seu povo, mostrando tudo isso não só para o maranhão, mas para o Brasil e para o mundo.

Por fim, nossa última realização, o filme “Tire 5 cartas”, uma comédia de costumes que será lançado no próximo mês de setembro e que traz como um de seus personagens principais a cidade de São Luís, com toda sua beleza.

Para algumas pessoa, isso pode parecer pouco, mas para nós, muito especialmente para mim, esse pouco é muito importante, pois ele é a minha modesta contribuição para nossa cultura e nossa terra.

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A minha verdade sobre Jesus

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beach, wave and footprints at sunset time

Sempre busquei conhecer bem a história, para que com ela pudesse entender melhor as circunstâncias e as consequências dos acontecimentos.

Desde muito cedo descobri que a verdadeira história de um determinado fato, principalmente os da antiguidade, não existe, ela é sempre uma abstração, pois os narradores desse fato, estarão sempre sujeitos aos seus pontos de vista, às suas posições no cenário retratado e aos interesses de sua cultura e de seu tempo.

Penso que a maioria das pessoas concorda quando alguém diz que nenhum personagem histórico é maior ou mais importante que Jesus de Nazaré. Pode até existir quem diga coisa diferente, mas vou correr o risco e insistir nesta tese: Jesus de Nazaré é o maior e mais importante personagem da história mundial.

Digo isso e complemento com um argumento que parece uma antítese dessa afirmação: Mesmo que Jesus de Nazaré não tenha existido fisicamente, mesmo que ele não tenha vivido, mesmo que a sua história seja na verdade uma colagem de vários personagens da história judaica, mesmo que tudo que se diz sobre ele seja apenas fantasia literária de um povo criativo, a MENSAGEM que existe na história deste personagem, tem um poder extraordinário, uma contundência explosiva, capaz de conquistar corações e mentes já por mais de dois milênios, e das formas mais diversas, inclusive de formas erradas e completamente dissonantes da mensagem que o “personagem” buscou transmitir.

Uma das coisas mais incríveis sobre esse personagem, é o fato de que se ele existiu, certamente não teve um biógrafo que registrasse sua trajetória histórica, de forma confiável e científica. Certamente não teve quem acompanhasse seu dia a dia com a preocupação de registrar para posteridade, seus feitos, sua história, assim sendo, o que se tem são relatos esparsos sobre ele, escritos muitos anos depois de sua “vida e morte”.

Ao afirmar que para mim não é importante se Jesus de Nazaré existiu realmente, não quero diminuir a importância dele, muito pelo contrário. O que eu desejo é aumentar a importância de sua MENSAGEM, pois é nela que se encontra toda a essência de sua “existência”.

Por favor não pensem que eu estou menosprezando ou blasfemando sobre a religião ou a fé de quem quer que seja. Essa não é de forma alguma minha intenção. O respeito à opinião e às crenças das pessoas é fundamental para podermos manter um diálogo produtivo e salutar.

Para mim, da mesma forma que não interessa se Jesus tenha existido, não importa se ele é o filho unigênito do “Deus Pai Todo Poderoso”, nem se ele nasceu de uma virgem, se fez milagres, se teve ou não descendência, nem se ele morreu crucificado e muito menos se ele ressuscitou dos mortos!…

Veja bem, meu ponto é simples! Se esse Jesus for o tal “Filho do Homem”, não haverá nenhuma vantagem em ele ter feito as coisas que dizem que ele fez. Já se ele for o filho de um carpinteiro da Galileia, e de uma menina judia, seus feitos e suas atitudes, superarão exponencialmente os feitos do filho de um outro Deus, o mitológico Zeus, que ordenou que seu filho Hércules realizasse verdadeiros milagres heroicos.

Vantagem sobre todos será sempre daquele que disse palavras como aquelas reportadas no Sermão da Montanha. Aquele sim, será o verdadeiro bem-aventurado, que aponta o caminho, que guia para a verdade e que louva a vida.

Para mim, a existência verídica de Jesus de Nazaré não é necessária, para que sua MENSAGEM, para que seus ensinamentos sejam assimilados por todos que receberam a “Boa Nova”, o evangelho. Sua “vida” é um exemplo, um manual.

Quando disse antes que Jesus não teve um biógrafo, não quis reduzir a importância dos livros que foram escritos sobre ele, principalmente os evangelhos de Lucas, Marcos e Mateus, já que em minha opinião o de João é um poema de difícil compreensão histórica. Para mim o apocalipse parece mais uma viagem psicodélica, com dois mil anos de antecedência.

Em Lucas, Marcos e Mateus temos quase todo o panorama de vida desse personagem, isso sem falarmos dos outros evangelhos, aqueles que o Imperador Constantino, em conluio com os bispos da Santa Madre Igreja de então, resolveu considerar erráticos e profanos.

Enquanto Lucas se preocupou em relatar mais os milagres do “Messias”, Marcos se dedicou a comentar sobre a importância das palavras de Jesus na catequese e na conversão dos povos, e Mateus, o fixou como doutrinador renovador do judaísmo, ligando-o diretamente ao Deus de Abraão.

Os poucos relatos históricos que se tem de personagens como Jesus, são provenientes de uma colcha de retalhos que além de difícil compreensão cultural, temporal, social e política, sofre poderosa influência de duas das coisas mais corrosivas da condição humana: A fé e a religião. Itens que são capazes de desfigurar, a tudo e a todos.

Em minha modesta opinião, a história desse Galileu é a mais importante, poderosa e bela história já produzida pelo homem. Se ela é verdadeira ou não, pouco importa. O que importa é conhecermos a mensagem dessa história e tentarmos minimamente segui-la e copiá-la.

Amém!…

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A hipocrisia e os hipócritas

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Conversando com um amigo sobre as atitudes humanas, chegamos à conclusão de que uma das piores delas, é a hipocrisia.

Mas o que é mesmo hipocrisia?

Indo ao velho pai dos menos letrados, descobriremos o significado dessa palavra que exprime a ação característica daquele que é hipócrita; falsidade, dissimulação, ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos ou intenções; fingimento, falsidade.

Mas por achar pouca essa explicação, fui pesquisar mais um pouco e acredito que a melhor forma de se definir hipocrisia é dizer que ela é o ato de uma pessoa fingir sentimentos, ideias, crenças ou virtudes que na realidadeelanão possui. Mais que isso, é o ato de alguém cobrar de outras pessoas atitudes que ela própria não as tem.

A hipocrisia ocorre também de outra forma, quando por exemplo, alguém acredita que em relação a um determinado grupo, deve ser exigido um conjunto de normas éticas, morais e comportamentais, enquanto para um outro grupo, tais normas não devem ser exigidas, isso também é falta de tratamento igualitário, o que culminará certamente em incorreção e injustiça.

A hipocrisia é uma das mais comuns atitudes humanas, e é quase impossível que alguém em algum momento não tenha cometido esse ato repugnante. Eu mesmo que escrevo este texto, e você que o lê, certamente em algum momento de nossas vidas já fomos hipócritas! O grande problema não são existirem hipócritas casuais, ocasionais e esporádicos, já que esse ato é próprio do ser humano. O grande problema são os hipócritas patológicos, que agem assim de maneira sistemática, proposital, em escala profissional. Isso fica muito pior quando essas pessoas detêm qualquer espécie ou quantidade de poder. A hipocrisia se torna praticamente regra.

Hipocrisia não é um pecado capital, mas deveria ser, até porque ela está no mesmo nível da avareza, da inveja, da ira, e da soberba, e em alguns aspectos ela é bem pior que a gula, a luxúria e a preguiça.

E você o que acha disso?

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Uma manhã de aprendizado e contemplação

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Ontem presenciei a entrevista que o presidente José Sarney deu a Charly Braun, premiado roteirista e diretor de “Além da Estrada”, que está realizando para a Globoplay, uma série documental sobre a todo o período de transição política brasileira, do regime de exceção para a democracia, entre os governos Figueiredo e Sarney, e Sarney e Collor, sendo os cinco anos de governo de Sarney, aqueles que efetivamente consolidaram a construção de nossa democracia.

Depois de duas horas de um bate papo descontraído, ficou claro para quem viu a entrevista, assim como ficará patente para quem assistir à participação de Sarney nesta minissérie, que lucidez e coerência não são coisas que se possa encontrar com facilidade em qualquer pessoa, muito menos em qualquer político. Mais que isso, ficou claro que esses artigos raros e de luxo, lucidez e coerência, naquele homem lá das bandas do Pericumã, transbordam, e ainda vêm acompanhados de uma singela simplicidade, que coroa o alto de seus 93 anos.

Ouvi aquilo tudo que Sarney disse a Charly e pensei comigo mesmo, sobre o privilégio que tive por ter sido testemunha de alguns daqueles acontecimentos, principalmente aos ligados à Assembleia Nacional Constituinte. Enquanto ele falava, eu rebobinava a fita de minha memória e visitava eventos e fatos acontecidos naquela época, fatos e eventos que nem sempre foram entendidos da maneira que Sarney expunha agora, e sob a lente da maturidade e do bom senso, os reavaliava.

Quando cheguei em casa, minha mulher me perguntou onde eu estava, pois minha cara era de alguém que viu passarinho verde e eu lhe disse que estava em uma aula de pós-doutorado. Ela não entendeu nada, mas eu expliquei-lhe que cada encontro com Zé Sarney, equivale a uma aula de pós-doutorado em política, em sabedoria, e em compreensão das coisas da vida.

Agora, enquanto escrevo esse texto, me senti triste, porque muitos jovens não terão a sorte e a felicidade que eu e alguns outros tivemos, de conhecer pessoas como “José” e como “Sarney”, duas entidades que compõem esse gigante, que só terá reconhecido o seu devido valor, muitos anos depois que não mais pudermos agradecer a ele pessoalmente. 

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Sobre a liberdade de expressão

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Dizerem que a liberdade de expressão não é um direito pleno e absoluto, que ela tem limites, é desrespeitar o nosso ordenamento jurídico, que estabelece esse direito como uma das cláusulas pétreas da Constituição de nossa República, fato que faz dela uma regra imutável por emenda constitucional, só podendo ser revista por uma outra Assembleia Nacional Constituinte.

Uma cláusula pétrea não aceita interpretação judicial. Ela é aquilo que os constituintes estabeleceram que fosse, e ponto final. Uma cláusula pétrea não aceita dosimetria nem qualquer forma de relativismo. Agir de outra forma, é subverter a ordem constitucional.

Querer limitar o direito de livre expressão é querer impedir que o cidadão brasileiro exerça um direito anterior ao nosso próprio ordenamento jurídico, um direito natural, inerente não apenas ao cidadão, mas à pessoa humana, um direito divino, antes de ser um direito meramente jurídico.

O pleno direito de expressão, no entanto, impõe ao cidadão que o exerce, as responsabilidades decorrentes dele, portanto qualquer pessoa pode dizer o que quiser e desejar, mas deverá se responsabilizar legal e criminalmente por tudo o que disser, na forma da mesma lei que estabelece que ele é livre para expressar seu pensamento e sua opinião.

Cometerá grave erro e até mesmo um crime, quem desejar ou tentar diminuir, reduzir ou restringir o direito de livre expressão e opinião de outrem, da mesma forma que alguém que no pleno uso de seu direito de livre expressão cometer algum crime, deverá ser responsabilizado por ele.

Só pode haver um verdadeiro Estado Democrático de Direito, se as garantias inerentes e inalienáveis ao cidadão forem asseguradas, sem que haja interpretação de qualquer natureza, viés político ou ideológico quanto a elas e às suas aplicabilidades. Qualquer outra coisa, é golpe, atentado frontal a democracia, tentativa torpe de não aceitar o pensamento do outro, o que por si só configura grave quebra do sistema democrático.

Qual é o problema de, em caso de necessidade, lançarem mão dos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal Brasileiro, ao invés de simplesmente tentarem impedir o sagrado direito de livre opinião e expressão?

Abortar esse direito, ao contrário do dizem alguns, não garante a democracia, a estupra de forma inconcebível e aviltante.

Digo isso respaldado nas palavras que ouvi num debate entre dois parlamentares, colegas meus, Gervásio Santos e Edivaldo Holanda, quando de meu primeiro mandato de deputado.

A discussão era sobre um projeto de lei de autoria do Poder Executivo, uma lei delegada, que praticamente anulava a função do Poder Legislativo estadual. Em meio a uma calorosa discussão, Edivaldo tentava defender a proposta e a oposição de forma geral e organizada tentava impedi-lo de falar. Foi quando Gervasio interveio e conclamou seus parceiros a deixem o líder do governo cumprir sua árdua e inglória função de defender o indefensável, pois ao ter ele garantido o sagrado direito de dizer o que ele pensava e desejava dizer, estaria se obrigando a garantir igualmente direto dos demais de rebaterem e colocarem seu pensamento e sua opinião na balança das decisões.

Lembro claramente das palavras de Gervásio: “Discordo frontalmente de tudo que o nobre deputado Edivaldo Holanda diz, mas defendo com fervor o direito dele de falar tudo que deseja, para que o meu direito de fala seja igualmente respeitado.”

Depois daquela tarde, nunca mais cogitei a possibilidade de não permitir que alguém tivesse garantida sua liberdade de expressão, principalmente para que eu tivesse a minha garantida.

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