Memória feita de esquecimento

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Lembrar de esquecer
de canjica,
escargot,
e imã de geladeira.
De comer o rabo do camarão,
torta de brigadeiro,
e remédio para emagrecer.
De tratamentos de beleza,
de filipeteiro de semáforo,
de vontade de aprender.
De sopa de shitake,
caranguejo toc-toc,
de mentiras – pernas curtas e tortas.
De pegar suave, mas com força,
de transar de manhã cedinho ao acordar,
de gozar e não fingir.
De computador (orkut, MSN…),
de jogo,
de dinheiro e de poder.
De repetir as mesmas historias,
musica de Ana Carolina,
e falta de memória.
De prisão de ventre,
de insônia,
dor de cabeça e neusaldina.
De Clio preto,
aliança prata,
e de comida japonesa.
De calça capri,
suco de abacaxi,
e de trocar mim por eu
e eu por você.

Esquecer de lembrar
De que toda borboleta é antes de tudo é uma mariposa,
de que meias verdades são mentiras inteiras.
De que muita franqueza é excesso de fraqueza.
De que a extrema coragem de enfrentar a solidão em meio a uma multidão nada mais é de que o supremo medo de enfrentar a companhia de um único alguém.
De que a frieza e a dureza são as principais características do gelo.
De que viver reclamando de tudo em relação aos outros é uma forma de não deixar tempo para que os outros vejam os nossos defeitos.

Esquecer de esquecer
de não querer mais amar,
de que as pessoas não são, em principio más,
de que “nada está perdido quando resta uma esperança” (já dizia o narrador da historinha de chapeuzinho vermelho).
De que ninguém muda na sua essência,
de que o que não tem solução, solucionado está,
e de que perdoar é diferente de esquecer.

Lembrar de lembrar
de acordar cedo pra trabalhar,
pagar as contas (todas);
De cuidar da saúde,
e de ir sempre ao cinema.
De largar todas as mulheres, menos Laila, Clarice e Célia, a analista…
De perder tudo, menos a coerência.

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CASSIOPÉIA

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Constelação distante
no espaço
há um palmo da mão.

Escorre estrela
por entre os dedos
em tempo.

Para jamais chegar
ao chão.

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Bendita hora que uma pessoa de quem eu gosto muito me mandou esse texto e pediu que eu publicasse aqui no nosso blog neste domingo de páscoa, pois estou cheio de coisas pra fazer e tenho negligenciado um pouco este espaço, não tenho escrito nada que possa ser aqui publicado, mas em breve voltarei.
Feliz páscoa pra todos.

Dúvidas Pascais

– Papai, o que é Páscoa?

– Ora, a Páscoa é!… Bem!… É uma festa religiosa!

– Igual Natal?

– É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

– Ressurreição?

– É, ressurreição. Marta vem cá!

– Sim?

– Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.

– Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

– Mais ou menos… Mamãe, Jesus era um coelho?

– Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma Educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Ave Maria!

– Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

– É filho, Jesus e Deus são a mesma pessoa. Você vai estudar isso no catecismo. Chama-se a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

– O Espírito Santo também é Deus?

– É sim.

– E Minas Gerais?

– Sacrilégio!

– É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?

– Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas quando você for na aula de catecismo a professora explica tudinho!

– Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

– Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

– Coelho bota ovo?

– Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

– Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

– Era, era melhor, ou então urubu.

– Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?

– Isso eu sei: na sexta-feira santa.

– Que dia e que mês?

-?????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.

– Um dia depois.

– Não, três dias.

– Então morreu na quarta-feira.

– Não, morreu na sexta-feira santa… Ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!

– Como?

– Pergunte à sua professora de catecismo!

– Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

– É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

– O Judas traiu Jesus no sábado?

– Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!

– Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

– É! Boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.

– Alô, quem fala?

– Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?

– Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.

– Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

– Cristo. Jesus Cristo.

– Só?

– Que eu saiba sim, por quê?

– Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

– Coitada!

– Coitada de quem?

– Da sua professora de catecismo!!!

Luis Fernando Veríssimo

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Tenho um bom amigo que me manda pelo menos 50 mensagens eletrônicas por dia, então resolvi compartilhar com vocês, sempre que for possível, algumas delas (apenas algumas…rsrsrsrs). Espero que apreciem.

Dicionário Brasileiro de Prazos

Para evitar que estrangeiros fiquem “pegando injustamente no nosso pé”, está-se compilando o “Dicionário Brasileiro de Prazos”, que já deveria estar pronto, mas atrasou, do qual foram extraídos os trechos a seguir:

DEPENDE : Envolve a conjunção de várias incógnitas, todas desfavoráveis. Em situações anormais, pode até significar sim, embora até hoje tal fenômeno só tenha sido registrado em testes teóricos de laboratório. O mais comum é que signifique diversos pretextos para dizer não.

JÁ JÁ : Aos incautos, pode dar a impressão de ser duas vezes mais rápido do que já. Ledo engano; é muito mais lento. Faço já significa “passou a ser minha primeira prioridade”, enquanto “faço já já” quer dizer apenas “assim que eu terminar de ler meu jornal, prometo que vou pensar a respeito.”

LOGO : Logo é bem mais tempo do que dentro em breve e muito mais do que daqui a pouco. É tão indeterminado que pode até levar séculos. Logo chegaremos a outras galáxias, por exemplo. É preciso também tomar cuidado com a frase “Mas logo eu?”, que quer dizer “tô fora!” .

MÊS QUE VEM: Parece coisa de primeiro grau, mas ainda tem estrangeiro que não entendeu. Existem só três tipos de meses: aquele em que estamos agora, os que já passaram e os que ainda estão por vir. Portanto, todos os meses, do próximo até o Apocalipse, são meses que vêm!

NO MÁXIMO : Essa é fácil: quer dizer no mínimo. Exemplo: Entrego em meia hora, no máximo. Significa que a única certeza é de que a coisa não será entregue antes de meia hora.

PODE DEIXAR: Traduz-se como nunca.

POR VOLTA: Similar a no máximo. É uma medida de tempo dilatada, em que o limite inferior é claro, mas o superior é totalmente indefinido. Por volta das 5h quer dizer a partir das 5 h.

SEM FALTA : É uma expressão que só se usa depois do terceiro atraso. Porque depois do primeiro atraso, deve-se dizer “fique tranqüilo que amanhã eu entrego.” E depois do segundo atraso, “relaxa, amanhã estará em sua mesa. Só aí é que vem o amanhã, sem falta.”

UM MINUTINHO : É um período de tempo incerto e não sabido, que nada tem a ver com um intervalo de 60 segundos e raramente dura menos que cinco minutos.

TÁ SAINDO: Ou seja: vai demorar. E muito. Não adianta bufar. Os dois verbos juntos indicam tempo contínuo. Não entendeu? É para continuar a esperar? Capisce! Understood? Comprendez-vous? Sacou? Mas não esquenta que já tá saindo…

VEJA BEM: É o Day after do depende. Significa “viu como pressionar não adianta?” É utilizado da seguinte maneira: “Mas você não prometeu os cálculos para hoje?” Resposta: “Veja bem…” Se dito neste tom, após a frase “não vou mais tolerar atrasos, OK?”, exprime dó e piedade por tamanha ignorância sobre nossa cultura.

ZÁS-TRÁS: Palavra em moda até uns 50 anos atrás e que significava ligeireza no cumprimento de uma tarefa, com total eficiência e sem nenhuma desculpa.
Por isso mesmo, caiu em desuso e foi abolida do dicionário.

(autor desconhecido, mas conhecedor da cultura brasileira)

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A aventura de ir ao cinema (2008)

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A aventura de ir ao cinema (2008)

No final de 1999, escrevi uma crônica em que tratava do que deveria ser o saudável programa familiar de ir ao cinema. Dizia que este deveria se constituir em um habito prazeroso e em um costume semanal regular.

Três anos depois, a situação que enfoquei havia mudado pouco. Tive a nítida impressão de que havia piorado em alguns aspectos. Agora, no entanto, nove anos depois daquela crônica, o quadro já é bem mais promissor, graças ao bom Deus!

Continuo um grande amante da sétima arte, um cinéfilo incurável, um grande apreciador de estórias “audiovisuais”, de seus contadores, de seus personagens, dos desempenhos dos atores, da técnica utilizada, enfim, de tudo que esteja de alguma forma relacionada com o cinema.

A tecnologia de retransmissão de canais de TV digital via satélite e de empresas de televisão a cabo, possibilitando com que possamos, sem sairmos da segurança e do conforto de nosso lar, ter acesso a mais de 100 canais de programação de televisão, que cobrem quase todo o espectro do interesse humano, fez com que alguns mais incautos, imaginassem que o cinema, como local de entretenimento, estava com seus dias contados.

Mesmo com todo esse avanço, mesmo com toda essa tecnologia que está a nossa disposição, não há nada como ir ao cinema, comprar pipoca, doces, drops e assistir a um bom filme, numa sala que tenha um bom projetor, um bom som, uma boa acústica, um bom ar condicionado. Mas já me dava por satisfeito se conseguisse assistir a um daqueles filmes de aventura, bastante popular em todas as faixas etárias, ao lado de uma platéia um pouco mais, digamos, civilizada, já que não podemos exigir muito mais que isso de certos grupos de jovens e adolescentes.

Recentemente, voltamos ao cinema, eu, minha ex-mulher, minha filha caçula, minha filha do meio e seu namorado, desta vez para assistir “Antes de Partir”. Pude comprovar que as coisas melhoraram bastante.

Comprei os ingressos bem cedo, pois as filas estão ainda maiores, e cheguei vinte minutos antes da hora marcada para que pudéssemos sentar todos juntos. Não acontece mais aquele negocio de não ter lugar e de haver bolsas em lugar de pessoas, pelo menos nunca mais vi isso acontecer.

Antes, se o caso dos lugares reservados não fosse o bastante, com toda certeza bastaria aquele delírio flamenguista da platéia cada vez que aparecesse uma cena, assim, um tanto mais intima: um beijo, um abraço, até mesmo uma troca de olhares mais romântica. Não digo nem o infortúnio de um dos personagens, que era realmente engraçado, mas os atos de bravura de um outro era recebido com gritinhos e exaltação completamente desnecessários, mas tudo bem! O ruim mesmo era quando um dos personagens declara seu afeto e sua amizade a um outro… Era triste e ridícula a demonstração de falta, não só de maturidade, mas de compreensão do que realmente é a amizade. Esses sentimentos entre pessoas do mesmo sexo parecem estar expurgados do rol de sentimentos dessa tribo, daquelas tribos. Ficava triste e furioso. Graças a Deus, as platéias com quem tenho dividido os cinemas, de um tempo para cá tem sido bem educadas e maduras.

Nossa sessão familiar de cinema foi maravilhosa. O filme é ótimo. Dois grandes atores, uma temática bastante interessante, abordada de forma correta e competente…

Eu e minha filha Laila interagimos durante todo o filme, nos emocionamos, choramos nas mesmas cenas, rimos, até coçamos coreografadamente os braços na mesma hora, implicamos com Ivana, chateamos Ananda e Gilsinho… Eu adorei!

PS: Uma coisa deve ser ressaltada, as dez salas de exibição que nós temos em nossa cidade, não deixam a desejar em nada às melhores salas de cinema das grandes cidades de nosso país, pelo contrario, em muitos casos as nossas são muito melhores. Parabéns e que continue assim.

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Tenho um bom amigo que me manda pelo menos 50 mensagens eletrônicas por dia, então resolvi compartilhar com vocês, sempre que for possível, algumas delas (apenas algumas…rsrsrsrs). Espero que apreciem.

GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA

1. Se mexer, pertence à biologia.
2. Se feder, pertence à química.
3. Se não funciona, pertence à física.
4. Se ninguém entende, é matemática.
5. Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

LEI DA PROCURA INDIRETA

1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

LEI DA TELEFONIA.

1. Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA.

Se estiver escrito ‘Tamanho Único’, é porque não serve em ninguém, muito menos em você.

LEI DA GRAVIDADE.

Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS.

80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.

LEI DA QUEDA LIVRE.

1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS.

A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA.

Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

LEI DO ESPARADRAPO.

Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

LEI DA VIDA.

1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS.

Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

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Tertuliano?

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?

Livre, porém honesta adaptação de um discurso com aparte.
Nomes e cargos foram omitidos e/ou trocados, para que uma obra
política possa ser transformada em obra literária.

Um deputado destilava o seu comprovado talento para a critica …

“… Por mais que se discutam outros assuntos importantes e relevantes o assunto do momento na realidade é esse troca-troca de partidos. São deputados que estão se acomodando em outras legendas e de quinta-feira até ontem muita coisa ocorreu e parece que muita coisa ainda vai ocorrer. Fui informado que o próprio primeiro mandatário, ele próprio telefonava, ou procurava deputados para se filiarem ao seu partido, então me lembrei do barão de Itararé que dizia que” há alguma coisa no ar além dos aviões de carreira” , e havia . Tanto havia, que na convenção desse partido – presente estava o Presidente do de uma outra agremiação partidária e Líder maior, do maior Bloco Parlamentar desta casa – filiaram-se cinco deputados, inclusive três do próprio Bloco. Mas esse deputado, Presidente desta outra agremiação partidária, talvez tenha pensado consigo mesmo e dito que o” bom cabrito não berra”, foi à tribuna dizer que procuraria fazer do seu partido um grande partido ou talvez o maior partido do Estado .

Mas logo em seguida um senador que tinha vindo a essa Casa antes da eleição para a Mesa Diretora prestar o seu apoio ao Presidente vai à tribuna e assumindo os ares de pitonisa diz que os pequenos partidos, inclusive o do anfitrião iria acabar. Aí eu me lembrei de Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Mas o deputado não passou recibo, homem católico foi para casa, se recolheu e consultou as escrituras e viu lá no evangelho segundo São Mateus que Jesus disse : “quem não é por mim é contra mim”. E tratou naturalmente de cair em campo para reforçar o seu partido. Filiou quatro deputados e ele com certeza deve ter dito a si mesmo, aquele provérbio árabe, “Nada melhor que um dia depois do outro”.

Isso naturalmente deve ter causado algum comentário no almoço lá no palácio, é possível que alguém tenha dito ao Governador “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. E o Governador deve ter comentado , “Quem tem com que me pague não me deve nada”. Lembrando de um ditado muito conhecido “Quando a gente vê a barba do vizinho pegar fogo trata de colocar a nossa de molho”. Como “para bom entendedor meia palavra basta” , e como dizia um grande deputado do passado” Quem viver verá”.

Admirado com a verve do colega e sabendo de que o maior interesse do tribuno era fazer “o mar pegar fogo para comer peixe frito, um novato resolve aparteá-lo e citando Shakespeare, para colocá-lo em cheque …

O nobre colega me lembra muito um Senador famoso, que faz discursos através de versos e rimas.Mas eu tenho certeza que V.Exa. não decorou essa grande pérola da oratória maranhense, tenho certeza que isso tudo é feito de improviso. É por isso que eu gostaria apenas de citar Shakespeare em sua frase mais conhecida e talvez a mais forte: “Ser ou não ser eis a questão” .

E o macaco velho, astuto e matreiro, talvez o único que realmente tenha entendido o sentido do aparte , talvez o único que realmente saiba o endereço certo daquela profética frase, não se fez de rogado …

Eis a questão, deputado. Eis a questão. V.Exa. certamente não vai se zangar comigo. É que V.Exa., atabalhoado, sempre com a melhor das boas intenções, às vezes me faz lembrar um velho poeta português, Guerra Junqueiro, que até foi excomungado porque era ateu . Ele é autor de um poema chamado a velhice do padre eterno, mas ele é autor também de uma pequena sátira que em parte, deputado, encaixa-se perfeitamente com o que V.Exa. tem feito aqui e eu vou pedir mais uma vez perdão não é para ofender V. Exa., mas eu sou daqueles que “perde o amigo mais não perde a piada” e V.Exa. vai me permitir dizer esse pequeno verso cujo título é , e o poema dizia o seguinte: , frívolo e peralta que foi um paspalhão desde fedelho, tipo incapaz de ouvir um bom conselho, vivo ou morto não faria falta, um belo dia deixando de andar a malta foi ter a casa do pai honrado velho e na sala, diante ao espelho a admirar-se perguntou: , és jovem, és rico, és formoso, que mais no mundo se te faz preciso? E o pai que atrás de uma cortina ouvia tudo, respondeu : Juízo. É isso que falta para V.Exa., muito obrigado. “

Ao outro, nada restou, a não ser levantar-se e aplaudir. Na saída, ao pé da escada, comentava com um terceiro colega : ainda bem que ele recitou , e não Morte e vida Severina.

PS: Como estou viajando muito e não tenho escrito com regularidade, estou republicando algumas crônicas.

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Amor Fugit

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Peter Pan entrou no meu quarto
para capturar sua fugidia sombra
Nunca mais conseguiu sair…

PS: O poema acima é de autoria de minha amiga Paula Hauptmann.

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Política e Poesia

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Nunca me saiu da lembrança uma cena do filme “Terra em Transe” do louco e genial Glauber Rocha. Em certa altura, Sara interpretada pela atriz Glauce Rocha, abraçada e com a cabeça recostada sobre o ombro de Paulo Martins, vivido pelo ator Jardel Filho, diz: “A política e a poesia são demais para um só homem”. Essa frase me persegue desde então. Não haveria nenhum espaço para poesia na política? Seria a política realmente assim tão árida que não se permitiria conviver nem se contaminar nem por alguns momentos que fosse pela poesia?

Certa vez indagado por um cineasta importante, sobre ser poeta e político, um então governador de estado disse que a política estava sufocando sua poesia. Anos mais tarde, agora ocupando um importantíssimo cargo na republica, a propósito da primeira pergunta feita décadas antes, um jornalista fez-lhe novamente a mesma pergunta e a resposta já foi diferente. Segundo ele, naquela altura da vida, se não fosse pela poesia, não haveria política. Numa das ultimas vezes em que nos encontramos, toquei nesse assunto disse-lhe que conhecia a historia e perguntei-lhe mais uma vez sobre a convivência de poesia e política e ele me deu uma verdadeira aula: ”Que poesia!? Que Política!? Hoje, para mim, é tudo tão natural. Não há mais diferença entre uma e outra”.

Quando iniciei na política já rabiscava alguns poemas. É bem verdade que eram bem ruinzinhos e não estavam contaminados por nada alem da minha inépcia e incompetência juvenil.

Com o passar do tempo e a convivência do poeta e do político que habitam em mim, senti que a poesia fraquejou. Fraquejou porque a poesia que eu tentava fazer era frágil e etérea como uma rosa de Malherbe ou monocromática e passageira uma pomba de Raimundo Correa. Como disse eu tentava fazer poesia. Poesia não se tenta fazer. Ela é. Ou não será jamais.

Nessa época surgiu em mim o melhor do contista e o incipiente cronista, alguém mais prático, mais narrativo, mais lógico, semântico e pragmático.

Hoje o político que sou, aprendeu que se ele não der o espaço necessário para que o poeta, o contista, o cronista, o roteirista, o cineasta se manifeste, ele acabará perecendo.

De todas as atividades que hoje desenvolvo, e, diga-se de passagem, todas com muito prazer e extrema realização, a mais descartável é a política.

Espero que não demore muito pra que eu possa chegar naquele estagio da vida onde possa descompromissadamente perguntar: “Que política!? Que poesia!?”

Enquanto este tempo não chega tenho que me apegar as coisas que ligam à poesia e a política. As boas amizades, por exemplo.

Outro dia recebi um e-mail de meu bom e velho amigo Ivan Celso Furtado da Costa, o mais Ludovicense dos cronistas deste jornal.

Somos amigos desde o tempo em que ainda se empinava papagaios na Praça Deodoro, em frente da casa de sua mãe, dona Anita. Ivan é alguns anos mais velho que eu, mas ninguém diz. Pra quem não sabe esse Ivan Celso, é o mesmo Ivan Sarney, vereador de São Luis.

Passo a transcrever a seguir parte do e-mail de Ivan: “Querido amigo Joaquim, gostaria dar-lhe os parabéns não apenas por aquilo que você fala ou pelo que você faz na Assembléia. Quero dar-lhe parabéns é pelo seu sábio e elegante silencio, neste momento tão confuso e conturbado pelo qual passa o nosso Estado. Atitudes como essa, demonstra sua extrema sensibilidade e maturidade política em perceber a hora de falar e a hora de calar.

Por conhecê-lo muito bem, sei gostarias de estar falando e fazendo coisas que pudessem ajudar muito mais. Sei o quanto deve está sendo difícil pra você participar deste cenário político. Seu temperamento não é propicio para isso.

Receba o mais sincero abraço de um amigo que se não esta sempre presente ao seu lado, mas que trás sempre você no pensamento e no coração”.

Depois de ler o que Ivan havia me mandado descobri que na verdade não há diferença entre poesia e política. O que há é o nível de sensibilidade capaz de associá-las e não confundi-las. Ivan tem essa sensibilidade.

Em tudo tem que haver poesia e política. Se não houver, as coisas não são. faz lo que vocleialo pelo que vocrabenizou por uma coisa que jamais pensei que fosse ser parabenizado um dia.

PS: Como estou viajando muito e não tenho escrito com regularidade, estou republicando algumas crônicas.

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