O Gabinete Maranhense de Leitura

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No início deste ano, estava eu aguardando na ante-sala da governadora, quando de lá saiu um grupo de empresários, dirigentes da Algar Agro, empresa mineira que no Maranhão estabeleceu-se no município de Porto Franco, onde se dedica à industrialização de derivados de soja, plantada em grande parte no sul de nosso estado.

Fui apresentado a eles pelo secretario de Indústria e Comércio, Mauricio Macedo, que ao fazê-lo comentou que eu poderia dar alguma ideia sobre um dos assuntos que a governadora tratara com eles.

A princípio, fiquei sem saber do que se tratava, até que me foi dito que a governadora havia sugerido que a Algar comprasse um prédio no centro histórico de São Luis e ali implantasse a sede de sua empresa ou então, em parceria com uma instituição local, como por exemplo, a Academia Maranhense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico, o IPHAN, a UFMA, a UEMA, o IFMA ou com qualquer outra instituição respeitável, desenvolvesse um projeto onde se pudesse preservar não apenas as nossas tradições artísticas e culturais, mas principalmente o nosso patrimônio arquitetônico.

Vibrei com a genial ideia da governadora. Fazendo isso ela mostra a essas empresas, que normalmente investem imensas quantias na construção de escritórios suntuosos, em bairros cujo metro quadrado supera em centenas de vezes os preços do centro histórico, que eles podem fazer algo muito mais barato e ainda por cima com uma função social importantíssima para nossa terra.

Na hora pensei só comigo: são ações como essa que diferenciam um simples governante de um estadista. Se por um lado fiquei orgulhoso da atitude da governadora, por outro fiquei satisfeito, por estar ali, sozinho na pequena área, de frente pro gol, com a bola no pé e o goleiro amarrado na trave do lado oposto. Tinha que fazer aquele gol!

Falei com secretario Mauricio Macedo para que ele servisse de ponte e ajudasse a sacramentar o que aparentemente ficou ali acertado: A Algar iria adquirir um prédio indicado pela Academia Maranhense de Letras, o doaria para a instituição que por sua vez providenciaria, respaldada nas leis de incentivo, tanto do governo federal quanto do governo estadual, os recursos para a reforma do imóvel e para a implantação nele, do projeto que se chamaria Gabinete Maranhense de Leitura.

Passado algum tempo, a ideia foi discutida e aprimorada, tendo sido apresentada em uma reunião da Academia Maranhense de Letras, onde comuniquei que dois de nossos maiores colecionadores de livros, raros e importantes, se comprometeram em doar seus preciosos acervos para a Casa, se o projeto do Gabinete Maranhense de Leitura sair do âmbito dos planos e passar ao da realidade.

Os acadêmicos Jomar Moraes e Sebastião Moreira Duarte serão os primeiros a terem suas bibliotecas incorporadas a esse projeto.

Deixe-me passar então aos detalhes, assim você poderá entender melhor como funcionará na prática tal idéia.

Uma empresa que pode ser a Algar, a Suzano, a Alumar, a Vale, a Raízen, a Petrobras, a Ambev, a Cemar, a EBX, a Votorantim, dentre tantas outras, adquire um prédio; sacramenta-se a doação para a AML; a instituição manda elaborar um projeto para pleitear os benéficos das leis de incentivo, incluindo nele o projeto de reforma do imóvel; aprovam-se os projetos; conseguem-se os patrocinadores, que poderão ser os mesmos já citados ou ainda os governos federal, estadual e municipal, através diretamente de seus orçamentos, de emendas parlamentares ou de recursos especiais; feito isso, reforma-se e adequa-se o prédio para o fim que se destina, reservando os salões onde serão colocadas as bibliotecas daqueles que doarem seus livros para esse fim.

Estaremos assim garantindo e preservando dois patrimônios de valores incalculáveis, um prédio histórico e livros preciosos. Preservaremos o trabalho de uma vida inteira de homens como Jomar e Sebastião, que se dedicaram em buscar e proteger esses livros para si e que agora os oferecem a todos nós.

É importante que se ressalte que o Gabinete Maranhense de Leitura da AML estará aberto a receber o acervo não só de seus membros, mas de toda aquela pessoa que desejar doar seus livros, filmes, quadros, obras de arte em geral para esse projeto, que terá visitação aberta e gratuita a todo público e será administrado de forma moderna e competente. Para isso faremos parcerias com as universidades aqui instaladas, que queiram desse projeto participar.

A iniciativa da governadora em convocar as empresas que no nosso estado trabalhem e desejam engrandecê-lo ajudando a proteger nosso patrimônio cultural e arquitetônico, a disposição da AML em ser parceira nesse projeto, o despojamento de figuras como Jomar Moraes e Sebastião Duarte em doarem seus acervos, a imprescindível parceria de nossas instituições universitárias, tudo isso nos faz crer que este será um projeto de grande sucesso, a exemplo do Museu da Língua Portuguesa, em nossa cidade patrocinado pela Vale.

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Eleição para Vereadores de São Luís (2012) – Estudo I

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Muitas pessoas tem me perguntado sobre as possibilidades de vitória de seu candidato a vereador na próxima eleição em São Luís. Eu que até agora resistia em fazer o estudo que faço antes de cada eleição proporcional, já faz alguns anos, resolvi ceder e me debruçar sobre as listas de coligações e partidos para realizar um trabalho que alguns acham ser mera advinhação, outros puro palpite, porém nada mais é que uma simples análise política e eleitoral, baseada em informações confiáveis e dados estatísticos, como quantidade de eleitores, abstenção, votos brancos e nulos…

Abaixo, você verá o primeiro desses estudos, pois com o decorrer da campanha e com o aprofundamento da análise e o acesso a mais e melhores informações outros serão publicados, na tentativa de mostrar as possibilidades de cada coligação ou partido eleger um determinado número de vereadores.

Não é e nunca foi minha intenção, com esses estudos que faço, prever quem vai ganhar a eleição. Os nomes aqui relacionados estão citados de forma aleatória, de memória, ou por informações dos partidos, sem obedecer nenhuma ordem de precedência.

São 16 coligações ou partidos em disputa. Estes devem eleger de forma direta 26 dos 31 vereadores, ficando 5 vagas para serem preenchidas pelos cálculos das sobras. 2 dos 16 grupos na disputa não deverão atingir a quantidade de votos suficientes para eleger um vereador. Os 14 grupos restantes elegerão pelo menos um vereador e disputarão as 5 sobras, segundo o critério proporcional. A cor verde na coluna total indica maior probabilidade de sucesso na obtenção das sobras, seguida da cor amarela e posteriormente da cor vermelha.

A previsão de renovação dos membros da Câmara de Vereadores de São Luís é de algo em torno de 50%.

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Pra não dizer que não falei de eleição

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Há muito não comento sobre política. É que o fato de ter resolvido não mais me candidatar a deputado, função que exerci recorrentemente entre 1983 e 2011, me distanciou automaticamente da maioria das ações políticas que antes eram tão comuns em minha vida.

Espanto-me cada vez que enumero para alguém os motivos que me fizeram não disputar a reeleição em 2010. Sempre que faço isso aparecem mais um ou dois motivos novos, sinal de que havia mais deles que aqueles que relacionei inicialmente para me convencer que a atitude que tomava era a mais acertada.

Mas conversemos um pouco sobre o momento político. Agora não há nada mais importante que as eleições municipais.

Prefeitos e vereadores serão escolhidos para exercer os poderes Executivos e Legislativos na célula mater do estado. Gostaria de lembrar que o cidadão não vive no estado e muito menos no país, ele vive é no município e é lá onde ele em primeiro lugar deve exercer seus deveres e usufruir de seus direitos, portanto, essa deveria ser a eleição mais importante para o eleitor. Mas não é.

Tenho visto campanhas eleitorais em alguns municípios e constato mais uma vez que fiz a coisa certa em não mais disputar eleição. Que coisa mais chata é uma campanha eleitoral! Essa é a pior parte da política. É nela que pode vir a acontecer toda sorte de irregularidades. Ainda mais sob a ótica da lei eleitoral em vigor, que se por um lado é muito ruim, por outro seria muito pior sem ela.

Num domingo desses passei mais de vinte minutos em um dos retornos de nossa capital, esperando que passasse a carreata de certo candidato a vereador. Todos os carros que participavam estavam “envelopados”, termo usado para designar os imensos adesivos que envolvem as latarias dos automóveis. De tantos em tantos veículos apareciam os carros de som, cujo volume era enlouquecedor. Todos traziam bandeiras de tecido com nome e número do candidato.

Fico imaginando! Como é que se presta conta de um evento daqueles? Se colocar na prestação de contas todos os valores realizados para que acontecessem eventos como aquele, o candidato não teria como justificar tamanho investimento. Na mesma situação se encontrarão todos ou pelo menos aqueles que agirem de igual modo.

Deixando o lado mais prático, vejamos o lado mais filosófico.

Em São Luís, o PSTU apresenta mais uma vez o mesmo candidato que vem sendo apresentado em todas as eleições de prefeito e governador. Será que nesse partido não existe outro candidato, outro nome que possa igualmente representar a sigla, defender as ideias da agremiação? Depois eles reclamam de perpetuação no poder, de oligarquia. E o que é isso se não uma outra oligarquia, poder de poucos, dos pouquíssimos desse partido?

Por outro lado, mas nem por isso menos curioso, o PRTB apresenta um candidato que só soube estar na disputa ao ouvi-lo numa rádio local. Tanto o partido quanto o candidato são corajosos, pois dificilmente descolarão percentualmente da primeira unidade numérica. Mas você pode esperar, caro leitor eleitor, esse candidato voltará daqui a dois anos concorrendo a deputado.

Da mesma maneira muitos dos atuais candidatos, tanto a prefeito quanto a vereador, estão apenas mostrando a cara, esquentando os motores para as eleições de daqui a dois anos ou se candidatando a um cargo na futura administração municipal de quem sonham ser próximos.

Outro dia ouvi alguém dizer que a eleição em São Luís seria decidida no primeiro turno. Não creio nessa hipótese. São muitos candidatos com percentuais que indicam uma disputa acirrada pelo privilégio de enfrentar o prefeito João Castelo num eventual segundo turno.

Tadeu Palácio e Edivaldo Júnior lutam abertamente pelo segundo lugar, enquanto meu amigo Washington Luís espera o início da campanha no rádio e na TV para deslanchar. Acredito que os demais candidatos estão apenas cumprindo tabela.

No entanto, uma boa crônica política pede pelo menos uma pequena polêmica e aqui vai a dessa: se contra Castelo, no segundo turno, for Tadeu! Com quem irá Edivaldo Júnior, ou melhor, Flávio Dino? Se depender dos correligionários do candidato, eles devem ir com Castelo. Dino fará o mesmo?

E se acontecer de para o segundo turno contra Castelo ir Edivaldo, com quem irá Tadeu, Washington e principalmente o grupo ligado ao governo do estado?

Para o governo, estou certo, o melhor é fazer seu candidato passar para a próxima fase da disputa, senão a solução será sempre um remendo.

Caso seja Washington a disputar o segundo turno, Tadeu poderá acompanhá-lo, mas e Edivaldo? E Flávio? Farão isso?

Para mim o que fica claro é que ainda hoje se faz eleição, e aqui falo de todos os grupos, sem comando, apelando-se para a improvisação, aquela coisa antiga do “na hora se vê o que se faz”.

Talvez dessa vez isso acabe por nos apresentar uma realidade insólita, fazendo com que no segundo turno, adversários azedos tenham que mostrar ao eleitor e ao povo em geral que entre uns e outros há realmente muito pouca diferença.

Que vençam aqueles que melhor forem tratar a minha terra e a minha gente.

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Três assuntos

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O primeiro, rápido, a respeito do lançamento de meu livro “Contos, Crônicas, Poemas e Outras Palavras”, na última quinta-feira, dia 9, na Academia Maranhense de Letras, cuja solenidade foi bastante prestigiada por amigos de todas as áreas: Devo além de agradecer a presença, dizer que, não pela grande quantidade de exemplares autografados, 157, mas pela satisfação dos presentes, aquela noite foi um sucesso. Espero que todos tenham gostado tanto quanto eu.

O segundo, mais demorado, sobre literatura e outras artes: acredito que o frescor do trabalho de um escritor se deve ao fato dele saber manter, mesmo depois de muitos anos nessa lida, a capacidade de praticá-la com o mesmo prazer juvenil, com os mesmos ares do início, juntando a estes a maturidade do tempo, espelhando-se o mais possível no menino eterno que havia em Machado de Assis.

Para mim está claro, já faz algum tempo, que em termos de literatura, sou melhor contista do que cronista e melhor cronista do que poeta. Devo ressaltar que de tudo, o que mais gosto de fazer é cinema, pois nele junto em um único meio de expressão todas as artes que eu tanto aprecio, e onde posso exercitar mais livremente toda essa minha alma inquieta e multifacetada.

Se por um lado acredito que há uma porção considerável de autobiografia em quase tudo que produz um artista, principalmente um escritor, no que diz respeito a mim, esse fato também é marcado pela ocorrência de histórias curtas que, muitas vezes desenrolam-se na inquietante fronteira entre a crônica e o conto, frutos da simples observação dos acontecimentos, dos quais, mesmo que distante, sou personagem. Para mim e acredito que seria o mesmo para qualquer escritor, escrever desta maneira dá muita satisfação, o texto apropria-se de uma narrativa cinematográfica, tem um ritmo visual, híbrido de “causo” e reportagem.

Pensando bem, talvez eu me identifique realmente muito mais com o que há na fronteira entre a crônica e o conto. Lugar onde a crônica passa a ser uma história contada de forma resumida e o conto torne-se uma simples linha de tempo. A fusão da crônica e do conto é talvez o marco da minha literatura. A forma com que escrevo reduz o tamanho das histórias. Consigo concatenar uma ideia, uma narração de forma precisa. Se por um lado isso é bom, por outro nem tanto, pois tendo boas ideias para histórias, bons argumentos que poderiam virar novelas ou até mesmo romances, acabo transformo-os em simples contos.

Talvez minha paixão pelas histórias curtas e pelo cinema seja consequência de minha dislexia, dificuldade de leitura e aprendizado da qual sou vítima e que uso de forma a aprimorar minha maneira de escrever e produzir filmes. Convivo com esta característica peculiar há algum tempo, o que não me impediu de produzir minhas obras literárias e cinematográficas, graças à forma com que transformo a deficiência dessa disfunção em arma contra seus efeitos.

É que para escrever mais e melhor, desenvolvi uma “literatura auditiva” que vai além das palavras escritas. Para que consiga o resultado esperado, uso minha mulher como voz, como eco do que escrevo.

Tenho extrema dificuldade de leitura, o que com o tempo foi acarretando muitos aborrecimentos e preguiça. Então desenvolvi um método que me ajuda bastante. Sempre escrevia e lia em voz alta. O som do que escuto é que estabelece o conteúdo do que venho a escrever. Tenho feito isso desde sempre, mas de uns quatro anos para cá, escrevo e peço para Jacira ler pra mim. É a leitura dela que faz com que eu mude preposições, artigos, vírgulas, ou mesmo expressões inteiras. A minha literatura é muito audível, afinal o mundo nos vem em primeiro lugar pelo ouvido.

Recentemente tornei-me um usuário compulsivo de um tipo diferente de literatura, a auditiva: ouvir em áudio livros obras como “O Príncipe” de Maquiavel, “Utopia” de Thomas More, “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Contos Escolhidos” de Artur Azevedo, e “A Vida Como Ela É” de Nelson Rodrigues, entre outros, me traz uma dimensão que não consigo alcançar quando simplesmente leio esses mesmos livros.

O terceiro, curto, mas tão ou mais relevante: Apesar de hoje ser Dia dos Pais tenho que falar de um assunto delicado. Estive presente em algumas das partidas finais dos Jogos Escolares Maranhenses, categoria infantil, e pude, para minha tristeza, observar que alguns pais não estão preparados ou para serem pais ou pelo menos para torcerem por seus filhos.

Em mais de uma oportunidade vi homens e até mesmo mulheres perdendo a compostura e insultando os atletas e as equipes adversárias de seus rebentos, todos imensos, apesar da ainda pouca idade.

Na hora fiquei horrorizado, mas dei um desconto, pelo fato de estarem no calor da disputa. Depois, pensando melhor, cheguei à conclusão de que é exatamente por causa desse calor, que o exemplo que os pais devem dar aos filhos tem muito mais importância. Deveriam se comportar de maneira completamente diversa daquela. Mostrarem o “fair play” necessário para todo atleta e para todo ser humano, pressuposto básico para se encarar tanto o jogo quanto a vida.

O esporte deve, antes de qualquer coisa, ensinar os jovens que a competição traz em si, antes e de forma mais importante, o espírito nobre, a elegância e a honra. Depois é que vêm as qualidades atléticas, técnicas e táticas inerentes a cada modalidade.

 

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Contos, Crônicas, Poemas & Outras Palavras

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Na próxima quinta-feira, dia 9 de agosto, às 19 horas, na sede da Academia Maranhense de Letras, localizada à Rua da Paz, 84, lançarei o livro intitulado “Contos, Crônicas, Poemas & Outras Palavras”, evento para o qual você que me lê agora está desde já convidado.

Trata-se de uma obra que deveria ter sido lançada em 2010, quando comemoraria 30 anos do lançamento de meu primeiro livro. Naquela ocasião não comemorei com um lançamento de livro, preferi comemorar a data aprovando na Assembléia Legislativa, em meus últimos meses como deputado estadual, as leis de incentivo à cultura e ao esporte, encerrando assim minha carreira política eleitoral. Fiz isso como preconizava meu pai que se mirava em Pelé, que segundo ele soube a hora de parar de jogar futebol. Parou no apogeu, quando ainda fazia uns golzinhos. Eu acredito que fui mais além. Parei quando fiz o único gol de placa em toda minha carreira política, que não foi curta, começou em 1983 e acabou em 2011.

Pensei que pararia definitivamente com a política e me dedicaria apenas a minha família, aos negócios, à literatura, ao cinema, às viagens. Pensei que poderia então me dedicar a finalmente dirigir a Fundação Nagib Haickel, entidade que idealizei em meados dos anos 90 e a qual jamais pude dar a devida atenção. Não consegui. Tentei ficar totalmente fora da política, mas não resisti às pressões e acabei aceitando o cargo de secretário de Esporte e Lazer do estado.

Como em tudo que faço, faço de forma total e completa, os projetos que tinha para essa fase de minha vida foram adiados temporariamente. Alguns, inadiáveis, vêm sendo desenvolvidos de forma mais lenta. Mas o lançamento de meu livro não. Só faltava achar uma boa oportunidade para fazê-lo. Essa ocasião é agora.

Trabalhei recolhendo alguns de meus textos inéditos, contos e poemas, pois as crônicas que constam desse livro já foram publicadas no jornal O Estado do Maranhão.

O restante do título do livro, “& Outras Palavras”, bem que poderia ser o título todo, mas poderia parecer para alguns que plagiasse Caetano… Preferi dar precedência, hierarquia, no que acredito ser a sequência decrescente de minha competência literária.

Acredito ser melhor contista que cronista, e melhor cronista que poeta, então coloquei essa ordem no frontispício do livro.

O “&” (e comercial) representa e significa a importância que dou aos coadjuvantes, personagens sem os quais, não podem existir, em toda a sua plenitude e grandeza, os atores principais.

Vejo-me muitas vezes como coadjuvante, mesmo quando desempenho o papel principal. Esse exercício me coloca em uma situação bem mais confortável e privilegiada para analisar tudo que ocorre na cena, como está disposto o cenário, como os personagens se apresentam.

No capítulo “Outras Palavras” reúno tudo o que não sejam contos, crônicas ou poemas. Lá estão alguns discursos políticos além de meus discursos de posse na AIL, na AML e no IHGM. Estão algumas frases, que ultimamente perdi a vergonha de colocar no papel. Elas foram a minha primeira forma de manifestação literária. Ainda garoto tinha cadernos cheios delas. Graças a Deus estas não são aquelas.

Coloquei neste livro alguns de meus roteiros cinematográficos e também estão nele alguns de meus contos antigos transformados em histórias em quadrinhos, verdadeiros storyboards para futuros filmes. As HQs foram desenhadas por Beto Nicácio e Iramir Araújo, companheiros da Dupla Criação. Senti-me o próprio Stan Lee.

A capa nasceu de uma ideia minha e foi realizada por Edgar Rocha e Nazareno Almeida. São fotografias de três janelas e uma porta de casarões antigos. Uma alegoria que acredito ser perfeita para o título: os contos, as crônicas e os poemas estão debruçados nas janelas, à mostra, acessíveis, enquanto para alcançar as outras palavras o leitor deve ir porta adentro.

A seleção do material publicado, o editor responsável pelo livro, é meu amigo e mestre Sebastião Moreira Duarte, que apresenta a obra e dirá algumas poucas palavras antes do lançamento. Também avalizam a publicação os escritores Jomar Moraes e Américo Azevedo Neto.

A revisão ficou ao cargo de Reydner de Carvalho, o projeto gráfico é do velho parceiro Paulinho Coelho e a impressão foi feita na Gráfica Minerva de meu amigo e irmão de alma Antonio Carlos Barbosa.

Dito isso, só espero que depois de 32 anos tentando ser um escritor razoável, os meus críticos mais cruéis concordem que pelo menos estou no caminho.

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Petromax

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Dentre todas as histórias bíblicas, as que eu mais gostava de ouvir, daquelas contadas por minha avó Maria Haickel, que em português era quase analfabeta, eram as que retratavam o rei Salomão.

Ela me punha sentado ao seu lado e lia a bíblia soletrando. Nos intervalos comentava algumas passagens. Quando ela me contou a história do filho cortado ao meio, resolvi que seria aquele o poder que eu queria para brincar. O super homem, meu super-herói favorito, havia sido definitivamente superado.

Deus teria perguntado a Salomão, o que ele preferia, riquezas infindáveis ou sabedoria. Ele então preferiu a segunda, pois com sabedoria conseguiria não só grande quantidade de riqueza, mas também todas as outras coisas que a riqueza seria incapaz de comprar. Só soube bem mais tarde, que Salomão teve seiscentas esposas e oitocentas concubinas. Era também um homem muito corajoso!

Quem me conhece sabe de minha fome de saber, de minha vontade por conhecer. Aliada a isso tenho uma incondicional admiração por figuras históricas. Esses fatos acabaram por levar minha busca pela sabedoria através do conhecimento da história dessas pessoas, fato que contribuiu muito para a minha formação, em todas as áreas da vida.

Os ídolos formadores de meu caráter vão de pessoas bem próximas, como minha mãe e meu pai até aquele herói quase anônimo que sacrificou sua vida para salvar um garoto que caiu no fosso das ariranhas no zoológico de Brasília. Seu nome: Sílvio Delmar Hollenbach.

Vai desde Buda, passando por Confúcio, Jesus, Maomé, até chegar à Madre Teresa de Calcutá. Admiro T. E. Lawrence, Gandhi e Mandela. Sun Tzu, Sócrates, Platão, Aristóteles, Hipácia de Alexandria, Maquiavel e Thomas More. Elisabeth I, Churchill, Da Vinci, Shakespeare, Cervantes, Vieira, Moliere, D. W. Griffith, Darwin, Einstein, Freud, Machado, Nelson Rodrigues e Stanley Kubrick dentre muitos outros.

Conhecendo a vida e a obra dessas pessoas, aprendi coisas que parecem ser pouco importante se analisadas separadamente, mas quando reunidas, a serviço de uma vivência, o que parece pouco se avoluma e consubstancia.

Algumas coisas parecem irrelevantes. Veja por exemplo o que diz Maquiavel quando qualifica as três espécies de inteligências que os príncipes possuem. Diz ele que há uma, excelente, que entende as coisas por si. A inteligência nata, pessoal, orgânica; outra, muito boa, que discerne as coisas através do que os outros entendem. Através de seus próximos, seus ministros. Adquirida pelo do aprendizado, a cultural ou social; e uma terceira, inútil, que não entende nem por si nem por intermédio dos outros. Uma inteligência arrogante, que pensa que tudo sabe ou aquela que é simplesmente incapaz de compreender as coisas mais simples.

Exclua o príncipe a quem Nicolau se refere e coloque em seu lugar uma pessoa qualquer, um de nós. Alguém que seja príncipe apenas de sua própria vida e comprovaremos que precisamos muito saber desse ensinamento, aparentemente tolo, mas indispensável para que tenhamos consciência de como podemos ser inteligentes ou não sê-lo. Ensinamento que se complementa ao que pregava um outro gênio, Sócrates, que dizia que devemos antes de tudo conhecer a nós mesmos.

Tenho um grande e bom amigo, ex-padre e professor de filosofia, que nas horas vagas, coisa que ele pouco tem, é também teólogo e cientista político amador. Certa vez ele me disse uma frase que jamais esqueci: “Existem algumas batalhas “religiosas”, que se as ganharmos, na melhor das hipóteses, ganhamos apenas o dízimo. Se as perdermos, é possível que se perca o próprio Deus”. 

A propósito de lutas, de pelejas, sempre me lembro do que disse meu pai uma vez quando conversávamos sobre a semelhança que há entre a política e a guerra. Ele me fez entender que o bom general escolhe as batalhas que deve lutar, o campo onde dispor suas tropas, a ocasião em que atacar ou defender, quando deve avançar ou recuar. O bom general sabe quando deve ser duro e quando deve ser suave.

A esse ensinamento incorporei uma observação minha: o manejo da espada, arte que Salomão pouco dominava, pode ser comparado ao exercício da vida ou mesmo da convivência com uma mulher, áreas em que o sábio rei se sobressaía. Com ambas precisamos ser fortes, mas também suaves, pois desse equilíbrio resulta o sucesso da luta com uma e a felicidade com a outra.

Para consubstanciar efetivamente a sabedoria que ganho conhecendo a vida daqueles que uso como régua e compasso, recorro sempre a um artifício importante, pergunto: O que faria fulano nessa situação? O que cicrano faria se isso acontecesse com ele? Como resolveria Beltrano esse dilema?

Acredito que a simples conjectura dessas questões nos levará certamente a encontrarmos as respostas para as perguntas que nelas residem, pontos de luz em nossa jornada.

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