Para que não digam que nada disse:

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Tenho dito.

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O comentário que virou post

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Ricardo Reis
Enviado em 20/08/2010 às 11:30

Caro Joaquim,

Primeiramente quero justificar o fato de usar o anonimato para me comunicar contigo. Faço isso por exercer função que impede de me manifestar em alguns casos e como não quero ser mal interpretado, subtraio a minha pessoa em favor do assunto que acredito ser da mais alta relevância.

Mesmo não sendo teu eleitor, sou teu leitor há muitos anos. Mesmo não sendo teu amigo, não conviva contigo constantemente, te admiro como pessoa, como cidadão e até como político, mesmo não concordando com tua posição partidária e ideológica.

Dentro de teu grupo político, tu te sobressais como sendo claramente o mais preparado, o mais confiável e talvez o único com quem uma pessoa como eu possa sentar a uma mesa de bar para conversar.

Conheço a tua trajetória, desde o começo, quando ainda muito jovem te elegeste a primeira vez deputado. Te elegeste não bem a conjugação mais verdadeira para esse verbo, a mais verdadeira seria, “teu pai te elegeu pela primeira vez deputado”. Diria até que em tua segunda eleição também foi teu pai quem te elegeu, mas não veja aqui nenhuma critica ferina ou mortal, faço isso só para te demonstrar que conheço tua historia, e quero que saibas que em minha opinião o fato de teres sido eleito com a decisiva ajuda de teu pai, em nada comprometeu teu desempenho ou tua postura. Lembro inclusive do episodio da eleição dos delegados ao colégio eleitoral que escolheria o último presidente da republica, eleito daquela forma, em que tu não te alinhaste com o teu grupo, ficando ao lado de teu pai que tinha compromisso com o então candidato Paulo Maluf. Digo isso e me pergunto, quem estava errado éramos nós que queríamos Tancredo Neves ou você, que mesmo querendo Tancredo, teve a coragem de sufocar a sua vontade e honrar o compromisso de seu pai, seu mentor político? Sei que tu já falaste muitas vezes sobre esse fato que acredito ser seu Genesis pessoal na política e sei também que seus amigos e correligionários nunca te perdoaram por agir daquela forma, pois eles sempre cobram obediência total e cega, subserviência da pior espécie.

Acredito que tu sejas o único e último remanescente de uma época em que os filhos sucediam aos pais na política por afinidade com os afazeres daquele. Não se pode dizer isso de Sarney Filho e muito menos de Roseana. O primeiro não aguentou a comparação e a segunda para fugir dela, hora renuncia ao sobrenome, hora tenta soterrar a imagem do pai, que mesmo comprometida, estará gravada para sempre em nossa historia como um paradigma da modernidade, que é um parâmetro mutável e cíclico, por um lado, e do status quo, que na mesma perspectiva deve ser analisado. Pode-se dizer tudo sobre Sarney, menos que ele não tenha sido importante e decisivo em nossa história, tanto a maranhense quanto a brasileira.

Outros como tu não sobreviveram, como é o caso de Alexandre Junior e Marco Antonio Vieira da Silva, cuja trajetória foi curta. Enquanto outros como Albérico Filho e Ricardo Murad, mesmo não sendo filhos de personagens expressivas da política, se filiaram a uma corrente que enquanto mãe, bem ou mal, os vem sustentando, mesmo que Ricardo tenha durante uns dez anos, se sentido preterido se rebelou contra a mãe, agora voltando ao seio materno, na mais profunda concepção da expressão.

Não se pode dizer que Edinho Lobão é ou será um dia sucessor de seu pai, enquanto a Gardênia não é de modo algum sucessora de Castelo. O mesmo se pode dizer dos filhos do Braide, do Lima, do Fufuca, dos genros da governadora Roseana e da desembargadora Nelma, e até mesmo dos já deputados Rubens Junior e Vitor Mendes, também filhos de políticos influentes.

A mesma lógica não se deve aplicar a Roberto Rocha e a Flavio Dino, pois mesmo sendo filhos de políticos importantes, fizeram suas trajetórias independentemente da de seus pais.

Conheço não só tua história política, mas também tua historia como escritor. Lembro que também, muito jovem, tu servia de ponto de intersecção e união de um grupo de poetas e escritores que criaram uma revista chamada “Guarnicê” e que durante muitos anos foi uma espécie de farol de nossa cultura, já tão enfraquecida.

Digo tudo isso para fazer-te uma pergunta que imagino que muitas outras pessoas já te fizeram, mas a que eu ainda não vi nenhuma resposta clara e convincente: Porque tu não te candidataste a deputado nessas eleições? O que pode ter acontecido para interromperes uma carreira política de sucesso eleitoral, de respaldo e respeito enquanto parlamentar atuante e competente?

Continuarei visitando o seu blog pra ler deliciosas peças literárias como essa e espero encontrar por aqui a resposta para minha indagação que acredito ser a de muitos.

RESPOSTA:

Caro Ricardo Reis,

Primeiramente gostaria de agradecer-lhe as boas referências à minha pessoa e ao meu trabalho, tanto na política quanto na literatura. Depois, quero dizer-lhe que em muitas coisas concordamos, noutras nem tanto. Mas o cerne da questão não é nossa posição política ou ideológica, e sim a pergunta que você faz ao final desse seu texto, onde deixa transparecer todo seu conhecimento, sua inteligência, sua cultura, sua formação e seu elevado grau de informação, coisas raras de se encontrar em uma só pessoa nos dias de hoje.

Quero lhe dizer que o anonimato não me incomoda, o que me incomoda é o anonimato desrespeitoso, alguém que se esconde para agredir, para atacar, o que me incomoda é a covardia. O anonimato elegante, mesmo que discordante, e ainda mais usando o mesmo nome adotado pelo grande poeta Fernando Pessoa, o que mostra o seu conhecimento até nesse âmbito, não me desagrada.

Não vou argumentar nem contra nem a favor de nenhuma de suas observações, vou me ater em tentar responder sua pergunta, tarefa que não é difícil, mas reconheço que é um tanto complicada e de certa forma um pouco delicada.

Você me pergunta o porquê de eu não me candidatar para uma das quarenta e duas vagas de deputado estadual de nossa Assembléia Legislativa.

Eu lhe respondo que não há um só por que. São vários os motivos que me levaram a tomar a decisão de não me candidatar a deputado nessas eleições, e ainda hoje, quando eu menos espero, aparecem outros destes motivos, saídos do nada, ou melhor, saídos do dia a dia da política mesmo.

Quero primeiramente deixar claro que quando resolvi que não me candidataria, contava com algo em torno de 40.000 votos o que seria suficiente para me eleger, logo o fato de não me candidatar nada tem haver com o fato de não me eleger como algumas pessoas já disseram por ai.

Poderia começar dizendo que depois de vinte e oito anos na atividade política, chega um momento em que a gente se cansa e que é preciso “descansar”, mudar de ritmo, de freqüência. A atividade política nisso é igual a todas as outras atividades humanas. Quando você exerce muito uma função, de tempos em tempos, tem que desintoxicar, relaxar, mudar para não desenvolver LER, lesão de esforço repetitivo.

Gosto muito de ser deputado, de exercer essa função. Acredito que em todos esses anos eu tenha aprendido a ser um bom parlamentar e também tenha conseguido aprender o oficio da política.

Ser político, ser deputado e ser parlamentar podem ser coisas bem diferentes. Político qualquer um pode ser, resta saber se é um bom ou um mau político. Deputado só pode ser quem se elege para o cargo. Para isso muita coisa tem que ser feita. É uma mão de obra imensa. Para ser um parlamentar tem que ser obrigatoriamente deputado, mas não só isso, tem que ser um tipo especifico de deputado, que exerça o mandato em sua plenitude, que saiba como proceder em cada situação que possa se apresentar, que conheça o funcionamento do parlamento, as normas de convivência, a lógica do exercício da função, que tenha uma postura adequada, que seja presente aos debates, que saiba se expressar corretamente não só no que concerne à língua mãe, mas também em relação à civilidade e à educação. Ser um parlamentar é bem mais que ser um deputado, que por sua vez é bem mais que ser simplesmente um político.

Por tudo isso, é uma temeridade se eleger um político despreparado para ser um deputado, que sendo desqualificado não poderá ser jamais um parlamentar.

Outro motivo pelo qual resolvi que não iria concorrer nessas eleições é para dar chance a outros aprenderem o que passei mais da metade de minha vida praticando.

Não quis me candidatar nessas eleições devido à forma como se desenvolveu a preparação para ela, reflexo direto da realização da eleição de quatro anos atrás, quando o estado foi completamente loteado, onde políticos, deputados, que foram durante toda a vida de um lado se bandearam para o outro por motivo vil. Preparação que teve como ponto culminante a cooptação de correligionários seduzidos por vantagens políticas irrecusáveis.

Não quis me candidatar porque em toda eleição se gasta dinheiro. Em qualquer uma delas há gastos com carros de som, combustível, motoristas, material gráfico, plotagem de veículos, panfletagem, bandeiraços, comitês, deslocamentos, viagens, reuniões, comícios… Esses gastos neste ano irão ultrapassar todas as estimativas e eu não estava disposto a depois de tanto tempo sendo um político operante, um deputado atuante e um parlamentar dedicado, voltar à bacia das almas e fazer coisas que não mais estão em minha agenda, coisas que até já fiz, mas que não admito jamais fazer novamente, como aceitar ser pressionado a um ponto extremo que me sentisse incomodado e constrangido.

Participar de uma eleição regida por uma lei eleitoral capenga e mal feita, feita apenas para parecer politicamente correta, causa a insegurança jurídica que está transformando essas eleições no paraíso dos advogados. Essas não são eleições de eleitores nem de votos. Essas eleições serão conhecidas como as eleições dos processos, dos recursos, das liminares, a eleição do sistema judiciário eleitoral, o verdadeiro samba do crioulo doido. Quando a lei de ficha limpa estiver realmente em vigor, talvez quem sabe eu volte a ser candidato novamente.

Veja bem, eu nunca desligo os meus telefones celulares, atendo todo aquele que me procura, seja ao telefone ou pessoalmente. Digo o número de meus telefones em cima dos palanques, nos comícios. Não registro o número de ninguém em minha agenda para que não seja possível saber quem está ligando, assim sendo atendo a todos e quando por algum motivo não posso atender, retorno em seguida a ligação. Procuro tratar a todos com respeito e consideração. Tento agir de forma correta, jamais mentir, mas existem pessoas que não admitem os que agem assim. Existem pessoas que querem que nós mintamos para elas. Estas pessoas insistem em alguns pleitos impossíveis de realizar e não aceitam ouvir a verdade como resposta. Eu não me candidatei porque não aguentaria mais ter que conviver com esse tipo de gente, não mais me submeteria a ter que distorcer a verdade para agradar alguém que tem a esperança de conseguir um emprego, um cargo de chefia, uma gratificação ou mesmo uma transferência ou uma disposição.

Meus ombros e meus antebraços não aceitariam mais serem cutucados por alguns meninos e muitos bêbados que invariavelmente se aproximam de nós pedindo um trocado ou para um lanche no caso dos primeiros ou para uma cervejinha no caso dos outros. Mas o fato de não ser candidato mudou pouco essa situação, acontece que agora não preciso mais ficar constrangido com isso, continuo dizendo não, mas só que aliviado, leve, sem um estranho sentimento de culpa e de vergonha, pois parecia que para votarem em mim precisava que lhes fornecesse um lanche ou uma talagada de cachaça.

Não mais quis me candidatar por que quero nos próximos anos estar do outro lado do balcão, engrossando as fileiras dos cidadãos, aqueles que são os verdadeiros responsáveis pela sociedade que os políticos dirigem. Fortalecer a cidadania, o empresariado, as entidades sociais, terá reflexo direto na melhoria de nossa classe política, que em primeira analise é reflexo de nossa sociedade.

Acredito que depois de todo esse tempo tendo exercido mandato parlamentar, possa aqui de fora ser uma voz atuante e crítica em defesa do bom parlamento.

Não quis me candidatar porque não aguentava mais ouvir que político é tudo igual, que todos são safados, mentirosos, ladrões. Essa fama não é falsa. Existem realmente muitos políticos que são tudo isso mesmo, mas existem aqueles que não o são.

Caramba, já enumerei muitos porquês não quis me candidatar e ainda me lembro de um novo a cada instante.

Já chega amigo Ricardo, espero que você tenha entendido os motivos que me fizeram não me candidatar esse ano a deputado, contudo quero dizer-lhe que não vou abandonar a política, essa é uma condição inerente à minha pessoa, tanto quanto à condição de escritor.

Participe sempre com seus comentários, é um prazer escrever para pessoas como você.

Abraço,

Joaquim Haickel

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A vida imita a vida

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“… O que não faz o amor, nem o ódio faz”. (Alexandre Dumas Filho – A Dama das Camélias)

Numa interessante conversa com alguns amigos queridos sobre as idiossincrasias com as quais convivemos diariamente e nem sequer nos damos conta, veio à baila ocaso de pessoas que foram muito ligadas, amigos inseparáveis, verdadeiros irmãos, e depois se distanciaram, romperam relações por motivos torpes e supérfluos.

A partir do próximo parágrafo vou contar o que sei sobre uma história assim. O que sei pode não ser toda a verdade, pois verdade é coisa que não cabe em uma só narrativa. Mas previno desde logo que às vezes, tanto as verdades quanto as mentiras são construídas com um pouco de arte, esculpidas com dotes literários que eu sempre quis ter, dotes que tenho perseguido desde que resolvi me dedicar ao ofício de escrever.

Havia em Boston, nos anos 50, um talentoso e bem afamado, jornalista e crítico de arte. Egresso das boas escolas católicas, como não poderia deixar de ser, tendo ele nascido em Massachusetts e pertencendo a uma família de origem irlandesa, tinha duas alternativas na vida, ingressar no seminário e ser padre ou servir na força pública, ser policial. Optou por uma terceira via. “Sempre fez isso na vida”, comentavam maldosamente, a boca miúda, alguns de seus desafetos. Mas ele era realmente competente no que fazia. Tido por todos como impiedoso e cruel e gostava dessa fama, chegava mesmo a cultivá-la com dedicação e esmero.

Ele há muito, resolvera ignorar completamente um determinado escritor, um antigo e bom amigo seu, daqueles a quem recorria sempre que precisasse, fosse para pedir-lhe emprestado algum dinheiro, (mesmo que sempre se esquecesse de pagar) fosse para um simples desabafo. Às vezes era apenas para uma conversa fiada, num daqueles dias entediantes de sua vida solitária, onde sua companheira constante era tão somente a boa e velha garrafa de scoth. O tal crítico, no entanto, ignorava seu amigo por achá-lo um escritor menor, um daqueles filhinhos de papai sem nenhuma relevância no cenário da efervescente sociedade literária bostoniana, no que antecedeu a New Camelot de John e Jack. Tanto isso era verdade que nem se dava ao trabalho de lê-lo.

Naqueles tempos mais valia no cenário cultural quem saísse em sua coluna, incrustada no mais importante jornal da cidade que logo ditaria a moda na literatura, nas artes plásticas, na música e principalmente na política americana e mundial.

Um dia, o escritor indignado por algumas atitudes deselegantes e descorteses do crítico para com outras pessoas, amigas comuns, escreve um pequeno texto, onde traça o perfil claramente Lombrosiano do cruel analista, sem sequer nomeá-lo. Mesmo assim, vestindo a carapuça, o crítico enlouquece de ódio quando se vê claramente retratado, de forma tão talentosa e eficaz, vendo expostas suas vísceras, reconhecendo e provando ali toda sua bile, que naquele momento amargava-lhe a consciência.

A partir daquele dia, a amizade entre os dois esfriou. Mas em compensação o tal crítico descobriu que aquele seu amigo, ao qual ele não dava o valor devido, não poderia ser ignorado, muito pelo contrário, ele passou a lê-lo com assiduidade e respeito, dando-lhe o devido valor. Dedicou a ele boa parte de seu tempo e de seu veneno, mesmo que, ainda assim, impedido por sua arrogância e por seu egocentrismo, jamais tenha reconhecido os méritos do escritor, publicamente. Certa vez, escreveu inclusive um texto onde ofendia covardemente o pai já falecido do escritor.

Anos depois, quando da morte do jornalista, isolado e abandonado por todos, já que jamais construiu verdadeiras amizades, poucos compareceram ao seu enterro, entre eles estava o tal escritor que um dia havia sido seu amigo e que havia se tornado um dos mais importantes romancistas de seu tempo.

Essa é parte que sei da tumultuada história da amizade entre Ruppert Karry e Gore Vidal, esse, amigo intimo dos Kennedy. Sua história foi exposta na tela no famoso filme, “Sweet smell of success”, cujo título no Brasil foi A Embriaguez do Sucesso, estrelado por Burt Lancaster e Toni Curtis.

Em suas memórias, Vidal conta que no dia do enterro de Karry, compareceu para ver se o ex-amigo estava realmente morto e aproveitou para devolver-lhe as promissórias jamais honradas. Enrolou-as nas hastes das flores de um buque de rosas brancas que surrupiara de um ataúde próximo e depositou-as candidamente sobre o caixão, como sinal derradeiro de perdão e paz.

PS: A citação de a Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho no início deste texto poderia ser a prova definitiva que a vida realmente imita a vida. No entanto a citação é falsa, forjada, mas você irá concordar que é bastante aceitável e plausível. É que a vida imita a vida!

Para confirmar ainda mais a tese do título, todo o resto da história, os fatos e os personagens, com exceção de Gore Vidal, o cenário e tudo mais, inclusive a alusão ao filme, que existe, mas não tem nenhuma ligação com a história, é tudo criação literária, ficção pura e cristalina. Metáfora de personagens reais, mas nem de longe semelhantes. A prova cabal de que vida realmente imita a vida! A arte só tenta imitar.

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Chinoca!

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Drumont…

Do monte

Arrebitado pelo lapidador.

Nariz.

Macia seda de tecelão.

Mãos.

Come goiaba

Melão

Mamão

e as três ultimas uvinhas…

Safada!

Bebe o oxigênio em volta de mim.

Tira-me o fôlego

O ar

A vida

Lê como se amasse

sofregamente

avidamente.

A vida mente.

Queria ser gota

orvalho

cair no rosto

escorrer rumo ao busto.

Lamber leite e mel.

Descer

Descer.

Um lago

seco.

Descer

descer.

Esbaldar-me no Oasis

quente

úmido.

Paraíso!

montanhas de coxas e braços

por eles quero ser preso.

Voz passiva

compassiva

ativa.

Fogueira que quero queimar e ser queimado.

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Sobre cercas velhas

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Sempre que posso, visito os blogs de alguns jornalistas amigos meus. Num deles, li a notícia de que o ex-governador Zé Reinaldo Tavares iria comparecer ao lançamento de seu site na internet, um dos mais importantes instrumentos eleitorais nessa campanha política, mas parece que ocorreu algum problema, o que fez com que o candidato a senador se atrasasse em algumas horas.

Depois que o problema foi remediado, a apresentação do site foi feita por um dos filhos de meu amigo, jornalista Luiz Cardoso, que está trabalhando na difícil missão de tentar melhorar a imagem de Tavares, e pela ex-secretária de Comunicação de seu governo, Flávia Regina, atual assessora de imprensa da OAB.

Soube também que o momento que mais chamou à atenção dos presentes, foi quando Zé Reinaldo, depois do enorme atraso, contou uma “estória” ocorrida em Coroatá durante passagem da “onda vermelha pelo município”, como disse numa alusão à coligação liderada pelo candidato comunista Flávio Dino.

Segundo ele, uma senhora teria dito ao socialista que “ninguém quer mais se encostar em parede velha”, se referindo aos velhos políticos e exigindo que o Maranhão agora tem que “renovar a sua classe política”, disse o candidato a senador. Essa conversa é claramente uma alegoria criada por um redator raso para ser usada por um político medíocre.

Achei de uma ironia indizível isso ter sido dito exatamente por Zé Reinaldo Tavares, que em minha opinião, não é nem uma parede velha, mas uma cerca velha, uma das mais velhas e carcomidas de nossa terra.

Veja bem, eu disse velha, não antiga, pois as paredes antigas do casario do centro histórico de São Luis podem até serem velhas, mas elas são importantes, são nossos tesouros, por serem antigas, não por serem mentirosas e hipócritas, se dizendo paredes novas, de alvenaria e concreto, quando são feitas de pedra e argamassa de barro misturada com óleo de peixe e betume.

Algumas vezes eu ouvi de meu pai um ditado apropriado a pessoas inconfiáveis, que dizia mais ou menos assim: “Fulano de tal é como cerca velha, tanto cai quanto derruba quem está encostado”.

Esse ditado, no entanto, não pode ser dito na tentativa de atingir o ex-presidente José Sarney, como tentou Zé Reinaldo, pois foi Sarney quem escorou durante quarenta anos o encostado Tavares, que foi primeiro diretor de obras, depois secretário de estado, depois foi superintendente, administrador de uma importante cidade que praticamente nascia, para em seguida ir administrar os recursos de investimentos de 10 estados brasileiros, saindo de lá para ser o empreendedor de todo o sistema de transporte do Brasil. Depois disso, desempregado, dirigiu as empresas do mentor, para então experimentar um mandato de deputado federal onde teve um desempenho sofrível, após isso veio ser duas vezes vice-governador do Maranhão e posteriormente governador de nosso estado.

Dito tudo isso, fica claro que a insinuada cerca não é velha, ela pode até ser antiga, mas é muito forte e consistente, pois ter que aguentar carregar esse peso todo durante todo esse tempo, só sendo uma parede, não uma cerca, mas uma parede, cujos baldrames são muito sólidos e resistentes.

Que me perdoe o doutor Sarney, mas nessa história toda, o errado é ele mesmo, pois escolheu mal quem carregar consigo, quem escorar, quem se deixar encostar. O errado é ele mesmo por ter dado asas para cobra, por ter alojado jabuti em pé de pau fora do tempo de enchente.

Em minha opinião Zé Reinaldo Tavares representa o que há de pior na política. É um traidor, um usurpador e um hipócrita, entre outras coisinhas mais.

Jackson Lago se dissesse o que disse Reinaldo, estaria menos errado, pois em que pese estar na política a tempo suficiente para ser chamado de antigo nela, não podemos esquecer que foram vinte anos dirigindo os destinos de nossa capital, ele nunca se encostou à parede Sarney, a não ser em sua última eleição para prefeito quando aceitou o apoio da governadora Roseana.

Flávio Dino até poderia ser o autor dessa ilação. Parede nova, robusta, mesmo que construída com alguns materiais de demolição, Flávio foi eleito em 2006 através da escora, do encosto em paredes, das quais se poderiam dizer muitas coisas, menos que elas sejam como cercas velhas, daquelas que caem e derrubam quem nelas se encostam.

Flávio poderia até usar esse discurso, mas Zé Reinaldo não, pois foi nessa cerca, nessa parede que hoje ele picha e apedreja que ele fundou e alicerçou toda sua vida.

Zé Reinaldo está tentando construir sua parede lançando mão de uma tecnologia que imagina ser de última geração, usando tijolos feitos com esterco e capim sobre uma base de areia.

A tentativa de Zé Reinaldo querer se apresentar como uma cerca nova, uma parede confiável, dessas que a gente pode se encostar com segurança, é fraude, é mentira, é enganação e é desse tipo de político que nós temos que nos livrar.

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