Sublimação

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Sempre fico curioso sobre o funcionamento dos processos criativos das pessoas. Desejo saber como elas pensam e como elas elaboram as ideias que as levam a criar, de meros pensamentos, passando por conjecturas, postulados e teses, chegando a construir verdadeiros universos, mundos ricos em detalhes e diversidade, algo digno de Deus.

Escrever histórias e realizar filmes são partes destes mecanismos criativos, coisas maravilhosas para quem as faz, porém, ler histórias e assistir a filmes, são igualmente maravilhas da existência humana, tanto que muitos acreditam que tais histórias e filmes só passam a existir realmente quando são lidas e assistidos. Pensam que se assim não for, elas serão única e exclusivamente manifestação da criatividade de alguém, no caso da literatura ou alguéns no caso do cinema.

A arte é a característica mais marcante da raça humana. De uma pequena toalha de renda ou um alguidar de cerâmica, uma iguaria ancestral, até um quadro a óleo, uma escultura em bronze, um romance ou um filme, a arte identifica o indivíduo, a coletividade, o ambiente, o modo de vida…

Digo tudo isso porque as vezes acredito que sofro de uma patologia que penso precisar ser estudada. Não é algo contagioso, não se dissemina por contato de qualquer natureza, e é inclusive difícil de se explicar.

Sofro de algo que resolvi chamar de “sublimacionite”, ou seja, exacerbada inflamação na glândula responsável pela sensação do ato de sublimar. Seja lá isso o que for e fique onde quer que seja.

Antes de mais nada é bom que se defina o que é sublimar e sublimação. 

O significado tanto literal quanto figurado de sublimar ou sublimação, é exaltar ou exaltação; engrandecer ou engrandecimento; enaltecer ou enaltecimento.

Lançando-se mão dos conhecimentos advindos da física e da química elementares, concluiremos que sublimação é a passagem do estado sólido para o gasoso, a purificação de uma substancia volátil por meio de sua exposição ao calor.

Já a psicologia usa o termo sublimação como sendo a modificação de um impulso ou de uma energia, que seria originalmente sexual, de tal modo a gerar um outro ato, mais aceito e valorizado pela sociedade. Seria a transformação de uma motivação primitiva e sua consequente colocação a serviços de fins mais elevados, tais como atividades intelectuais e artísticas.

Complicadinho, não é mesmo!?…

Para mim, sublimação é algo bem mais simples. É pura e simplesmente a concentração de toda a energia criativa de um indivíduo, única e exclusivamente no ato dele pensar, idealizar, planejar, ou até mesmo comentar sobre alguma coisa, fazendo com que apenas e tão somente isso a faça existir e acontecer. A mente desse indivíduo é o mundo.

Um pensamento, um plano, um projeto, uma vontade, podem ser coisas bastante palpáveis e sólidas. Sublimar é literalmente transformar essas coisas palpáveis e sólidas que existem dentro de nós, em um pensamento tão poderoso que por si só, se realiza, em uma dimensão unicamente sua. Algo pessoal.

Sublimação é simplesmente a transformação de coisas “solidas” que existem dentro de nossas cabeças em coisas “gasosas”, que ocupem todo os nossos espaços, internos e externos, gerando uma enorme alegria e total satisfação.

Depois de pensar muito sobre esse assunto, fui conversar com um amigo meu. Um sujeito cartesiano e pragmático, para quem as equações resolvem qualquer problema. Ele ouviu atentamente, chegou até a achar a conversa interessante, mas ao final ele se virou para mim e disse: “Posso te dar dois exemplos perfeitos desse negócio de sublimação. Coisas que se faz sem fazer, que acontecem sem acontecer. Meditação e masturbação”. E minha resposta para ele foi: “São coisas voláteis e etéreas, mas são bem prazerosas, você não concorda!?”

PS: Sublimação é o tema central do novo projeto cinematográfico que eu estou desenvolvendo, juntamente com três importantes cineastas maranhenses, Arturo Saboia, Breno Ferreira e Francisco Colombo. Depois falo sobre esse projeto.

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Homens e himens complacentes

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Outro dia, um amigo meu me chamou de complacente, mas aquilo que deveria ter sido um elogio, soava como insulto e me incomodou bastante, pois ele estava usando o sentido pejorativo da expressão.

Complacente é alguém desejoso de agradar, alguém gentil, simpático e cortês, coisas que eu tento ser sempre, mas ele estava usando o termo no sentido de dizer que eu aceito os abusos daqueles que pensam diferentes de mim e principalmente dele, pois mesmo pensando na mesma direção, eu e ele pensamos de modos bastante diferentes.

Esse amigo é um conservador pouco transigente, não chega a ser totalmente radical, mas quase chega lá, exatamente por não se permitir ser complacente, aqui usado no seu sentido literal.

Depois daquele dia, resolvi analisar mais detidamente os motivos pelos quais eu era considerado, por meus amigos posicionados mais à direita, complacente com aqueles que pensavam mais à minha esquerda e por outro lado, estes, os à minha esquerda, me consideram na verdade um autêntico direitista, sendo que claramente eu me diferencio daqueles pelo simples fato de ter diversos pontos de discordância com as ideias defendidas pela direita, principalmente no que diz respeito a forma.

A minha primeira certeza é que ambos os grupos nada tinham de complacentes. Não eram gentis nem simpáticos com aqueles que pensassem de modo diferente do deles. Cortesia para com pessoas de posicionamentos distintos dos seus era coisa que não estava em suas pautas. Nisso os dois grupos eram idênticos, variando apenas de indivíduo para indivíduo, os graus de intransigência e intolerância para com os discordantes.

Logo no inicio de minha carreira política, descobri que o fato de ser criticado pelos dois lados de uma questão é sinal de que em algum aspecto estamos corretos em nossas posições, mesmo que isso não nos faça ser popular em nenhum dos lados, uma vez que desagradamos a ambos, e só se é plenamente aceito por aqueles que nos acham igual.

Parei pra pensar como eu me transformara num sujeito assim tão complacente, termo aqui usado por mim mesmo em sentido ambíguo, um pouco no sentido literal e um pouco no sentido pejorativo.

Lembrei que em minha casa, sempre tivemos e cultivamos a liberdade de pensar, de dizer o que se pensava e defender nossas ideias. Lembrei que meu pai era presidente do Moto Clube e eu resolvi torcer pelo Sampaio e meu irmão pelo MAC, pelo simples fato de querermos cultivar a diversidade em nossa família, e isso jamais foi tema de discussão, pois as escolhas pessoais de cada um sempre foram totalmente respeitadas.

As escolhas que fazíamos eram respeitadas, mesmo que houvessem discordância quanto a elas. Lembro que certa vez meu pai foi chamado por um amigo para criticar o fato de eu estar namorando com uma certa garota, e ele, tido por muitos como um homem truculento e de poucas luzes, disse ao seu amigo pouco complacente: “Meu filho tem todo o direito de escolher quem ele desejar para conviver, a nós só resta respeitar a escolha dele.”   

Lembro que meu irmão resolveu ser garçom de um bar, na cabeceira da ponte do São Francisco, e muita gente criticava a escolha dele. Minha mãe foi questionada por algumas pessoas sobre isso, e a resposta dela aos questionamentos foi convidar meu pai para ir ao tal bar para serem atendidos por ele.

Foi assim que fomos criados, foi assim que nossa personalidade foi formada, e é dessa matéria que nosso caráter é composto.

Assim que ouvi, naquele dia, a palavra complacente, me veio imediatamente a lembrança de uma aula de medicina legal, matéria da qual sempre fui um aluno medíocre, em que pese o esforço do professor Moraes para me fazer entender um pouco sobre ela.

Algum colega piadista perguntou ao professor se era possível, em uma relação sexual, haver penetração sem que o hímen da moça se rompesse. E Moraes que não era nenhum santo, de maneira que hoje seria considerada imprópria, desrespeitosa e abusiva, explicou que esse era o caso dos himens complacentes, algumas mulheres têm muita elasticidade no hímen, a ponto de ele voltar ao normal depois do ato sexual sem que ocorra a ruptura da membrana himenal, nem sangramento.

Me senti um hímen, porém tive orgulho do fato de ter bom senso para aceitar a opinião das pessoas, mesmo que elas sejam diferentes das minhas.

Esta semana sofri forte assedio verbal e moral por defender uma ideia nas redes sociais. Meus amigos da direita foram mais complacentes e como sempre os da esquerda, menos preparados para as divergências e o antagonismo, foram grosseiros e intolerantes. De minha parte tiveram o revide verbal que achei cabível, pois quem diz o que quer ouve o que não quer!

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Os sítios de nossas infâncias.

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Publiquei ontem um texto sobre o sítio que nossa família tinha no Ingaúra, um lugar que não existe mais, pois foi engolido pelo tempo e pelo “progresso”.

Nunca pensei que aquele texto conseguisse mexer tanto com as pessoas que por acaso o lessem, mas o fato é que quase todas as pessoas de minha faixa etária tiveram em suas vidas um lugar como aquele, tiveram uma vida parecida com a que eu tive, e é claro, se identificaram com minhas memórias e minhas saudades.

Estou escrevendo hoje para agradecer a todas as pessoas, amigos próximos, amigos não tão próximos, amigos antigos e novos amigos, mas todos amigos, companheiros da jornada da vida, cujos sentimentos semelhantes, nos igualam e nos tornam “Goonies” dessa extraordinária aventura.

Só sinto pena de não termos, naquela época, registrado aqueles momentos em fotografia ou em filme, para que pudéssemos mecanicamente ajudar as nossas memórias a lembrar da felicidade que vivenciamos num tempo em que nem nos dávamos conta de como éramos tão felizes.

Obrigado amigos, por refletirem em vocês todos aqueles sentimentos maravilhosos que eu tive em minha infância, repleta de aventura e felicidade, coisas que fizeram que eu acabasse sendo quem sou.

Obrigado por me permitirem entrar em suas vidas e fazer com que vocês pudessem resgatar um pouco daquilo que também vivenciaram. Esse sentimento é incrível e de certa forma me dá uma sensação de realização e plenitude.

Se nada de bom eu tivesse feito na vida, só isso que eu senti ao ler seus comentários, já teria sido suficiente para me fazer achar que cumpri a minha missão na vida, a missão de lembrar, de não deixar que nos esqueçamos das coisas maravilhosas que vivenciamos e que nos transformaram em quem somos.

Depois de escrever esse texto fui procurar em meus guardados alguma foto que pudesse ilustrar aquele tempo e achei essas poucas que mostram um torneio de futebol que fizemos numa das férias que passamos lá no velho sítio.

Na foto 1: De pé – Pinto Neto, Bartolomeu e Joaquim. Agachados – Zé Eduardo e Luís Fernando

Na foto 2: De pé – Nagib, Celso e Renê. Júlio e Fernando

Na foto 3: De pé – Luís, Calhambão e Mário. Agachados – Feliciano, Ridelber e Duquinha

Na foto 4: De pé – Celso, Jorge e Joaquim. Agachados – Beto, Elisio, Nagib e Chiquinho

Na foto 5: Primeira cena dirigida por Joaquim Haickel. Ele finge bater pênalti, Jorge finge defender, e Nagib observa de lado, enquanto Sítio está em volta de tudo

Na foto 6: Joaquim tirando leite da vaca Mimosa

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O Ingaúra

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Boa parte de minha infância, passei num lugar que se eu disser o nome, só meia dúzia de pessoas de minha idade saberá onde é, mesmo que esse lugar seja hoje habitado por milhares de pessoas, que nem desconfiam que ali já foi um dia um verdadeiro paraíso.

Meu pai tinha um sítio no Ingaúra, um lugar localizado entre o que hoje são os bairros do Turu, Cohama, Vinhais, Bequimão, Angelim, Cruzeiro do Anil e Cohab, citados aqui em sentido anti-horário para ajudar as pessoas em sua localização espacial.

Era uma imensa área de mata natural, repleta de árvores frutíferas centenárias – mangueiras, jaqueiras, cajueiros, buritizeiros e jussareiras, além dos nativos babaçuais – recortada por dois ou três cursos d’água que desembocavam mais adiante e abaixo, no Rio Anil.

Não era só meu pai que tinha um sítio naquela região. Lembro que “tio” William Nagem tinha uma fábrica de papel bem ao lado do nosso sítio; que o deputado Vieira da Silva, tinha uma chácara um pouco mais acima, pro lado do Vinhais; que mais para o lado esquerdo, na direção do Angelim, o Major Dominice tinha uma propriedade; e que “tio” Daniel Aragão, tinha uma chácara, na estradinha que levava ao Turu Velho.     

O certo é que, toda sexta-feira, depois da aula no Colégio Batista, entrávamos em nossa Kombi, que já nos esperava carregada de mantimentos, para passarmos o fim de semana no sítio.

Nossos finais de semana eram maravilhosos, desde o trajeto de ida, quando passávamos por dentro de pequeninos igarapés de aguas cristalinas, onde os peixinhos pulavam, até a volta, nos finais dourados das tardes de domingo, quando, exaustos entravámos cambaleando na Kombi e saíamos dela quase sempre carregados, adormecidos pelo sacolejo, do “pão de forma”, apelido que demos àquele carro de pouca aerodinâmica.

Se fosse hoje, meu pai seria processado por meu amigo Fernando Barreto, pois ele usou um dos riachos que desciam de um morro ao fundo de nosso sítio, fazendo dele uma piscina natural, de uns 90 centímetros de profundidade, cercando-o com paredes de pedras, mas fazendo com que ele fluísse em uma pequenina cachoeira e continuasse seu percurso até se jogar no leito do caudaloso do Rio Anil.

Ao lado da piscina, havia um campinho de futebol, forrado de areia de praia, onde fazíamos jogos e torneios, enquanto o sol permitisse. Lá era o nosso campo de batalha. Para lá trazíamos nossos amigos da cidade. Meu pai também trazia os amigos dele.

Na parte mais alta do sítio, ficava a casa, reduto das mães, Clarice, Estelita e Yolanda. Lá quem mandava eram elas. De lá é que vinham as farofas de ovo ou de sardinha, repletas de cebolas e tomates, regadas com Cola Jesus, Q – Suco ou refrescos naturais, de preferencia de maracujá para acalmar os meninos danados.

Por trás da casa havia um espaço que quem mandava erámos nós. Era onde nós construíamos nossas cabanas, usando material retirado das matas em volta, sempre sobre a supervisão de Stenio e com a ajuda de Gilvan, Ivan e Gilmar, filhos dos caseiros, dona Nazaré e “seu” Zé do Vale.

No sítio, meu pai criava vacas, porcos e galinhas, o que fazia com que nós tivéssemos sempre, carnes, ovos e leite frescos em nossa casa.  

Aqueles foram tempos fantásticos. Tempos em que forjamos nossos caracteres no fogo da felicidade de infâncias plenas, cheias de descobertas naturais, coisas que não são mais possíveis de acontecer hoje em dia.

Não houve como proporcionar para nossos filhos as mesmas aventuras e as mesmas felicidades com as quais nos foi possível ser quem somos, não é possível fazer com que nossos netos possam ter aquilo que tivemos.

Não sei se isso é bom ou ruim, só sei que em algumas sextas-feiras, assim, por volta do meio dia, fico querendo entrar em uma Kombi que me leve para o sítio do Ingaúra…

Numa dessas sextas-feiras, entrei em meu carro e me dirigi para o lugar onde era o sítio de meu pai. Por mais incrível que possa parecer, a rua de acesso é a mesma que meu pai construiu há mais de cinquenta anos, só que agora ela está asfaltada. Do lado direito dela, ainda é possível se ver as ruínas das pocilgas e ao olhar para lá, lembrei de Barão, um porco gigantesco, da raça Hampshire, que sendo imenso, nós o montávamos, como fazíamos com os cavalos.

Mais adiante, do lado esquerdo, vi que construíram uma igreja, exatamente no lugar onde era a casa de “seu” Sérgio e dona Maria, um casal de velhinhos que já moravam no sítio quando meu pai o comprou, e lá ficaram até morrerem. Ao lado da casa deles, havia um cajueiro de caju-anão, cujo caule, em parte, crescera em paralelo ao chão e nós nos balançávamos nele. Mais adiante, do outro lado da rua, era onde ficava a nossa casa, o campinho de futebol e a piscina do riacho… Lá existem hoje milhares de casas. É o Residencial Pinheiros, e por lá ninguém é capaz de imaginar alguma das histórias maravilhosas de nossa infância.

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Achak, Aren e Anajé

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O ex-presidente americano Theodore Roosevelt era reconhecidamente um grande aventureiro. Coronel da cavalaria, lutou na guerra hispano-americana, tendo combatido em Cuba e nas Filipinas.

Foi um controverso protetor da flora e da fauna, pois criou muitos parques de conservação ambiental, animal e vegetal, mas era um entusiasta e praticante da caça esportiva. Foi um político brigão e polêmico, mas ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1906, por ter mediado o acordo de paz depois da guerra entre Rússia a Japão.

Seu temperamento forte, suas posturas políticas radicais e controversas, além de suas famosas expedições exploratórias me fizeram seu admirador, tanto que havia escrito este texto há algum tempo, e resolvi publicá-lo hoje, pois acabei de assistir a uma série sobre ele e o homem que eu acredito ser o maior de todos os brasileiros, o Marechal Candido Mariano da Silva Rondon.

Em suas viagens, Roosevelt sempre costumava se fazer acompanhar por um grupo seleto de amigos e por exímios especialistas e guias, conhecedores da região para onde fosse.

Em meados de 1900, logo depois de deixar de ser governador de Nova York, e antes de ser eleito vice-presidente dos Estados Unidos, ele e um grupo de amigos, foram fazer uma expedição pela Sierra Blanca, ponto mais elevado das Montanhas Sacramento, no Novo México, e para isso foram contratados os melhores guias navajos da região.

Durante os preparativos para a aventura, Roosevelt chamou Achak, o chefe dos guias navajos, cujo nome significava “espírito de pássaro”, e lhe perguntou qual seria a melhor trilha, uma que lhes proporcionasse aventuras e contato com a natureza e a vida selvagem, ao que o velho índio lhe respondeu: “A melhor trilha é sempre a mais bem planejada e segura, mas dependerá sempre das escolhas que se fizer durante a caminhada”.

Quase uma década depois, em 1909, logo após deixar a presidência, Roosevelt foi se aventurar num safari na África.

Com o propósito de escrever um livro sobre essa aventura, e financiado pelo magnata do aço, Andrew Carnegie, o grupo de Roosevelt desembarcou no Quénia.

Durante aquela expedição seriam abatidos mais de 11.000 animais, de várias espécies, muitos dos quais foram mandados para o Smithsonian Institute e para o Museu Americano de História Natural de Nova York.

O safari era liderado pelo legendário caçador R.J. Cunninghame, e contava, de vez em quando, com a participação do famoso explorador Frederick Selous.

Como sempre fazia, Roosevelt se cercava dos nativos para saber histórias dos lugares por onde passava e chamou Cunninghame para que ele indicasse, dentre os nativos de sua comitiva, qual era o homem mais sábio e qual o melhor guia. O velho caçador disse-lhe que coincidentemente o mais sábio de seus homens era também o melhor guia, além de ser o guerreiro maasai mais valente de todos que já conhecera, um matador de leões. Seu nome era Aren, que significa águia na língua nativa.

Intrigado, Roosevelt perguntou a Aren, qual seria o melhor caminho para aquela jornada. O homem que era muito alto, agachou-se, pegou uns gravetos no chão, quebrou-os, fez uns riscos na terra e disse calmamente, em seu inglês rudimentar: “O melhor caminho, bwana!… É aquele que nos leva em segurança ao nosso destino… Mas isso depende do que se fizer até chegar onde desejamos”.

Em 1914 Roosevelt esteve no Brasil, para fazer uma expedição pela Amazônia e para isso contou com o apoio do grupo liderado pelo então coronel Cândido Mariano Rondon.

Roosevelt quis saber sobre a viagem, conhecer as histórias da região que visitaria, e perguntou a Rondon, qual seria a rota mais aprazível, mais cheia de aventura, uma que proporcionasse conhecer de perto nossa flora, nossa fauna e os nativos brasileiros.

Rondon que tinha apenas noções básicas da língua inglesa, sempre que precisava usava como intérprete, o filho do ex-presidente americano, Kermit Roosevelt, que trabalhava no Brasil, em uma empresa americana encarregada da construção de diversas ferrovias.

O militar brasileiro era calmo e jeitoso. Pragmático e positivista, não gostava muito da ideia de servir de guia turístico para o ex-presidente americano, mesmo assim o acompanhou em sua expedição, contou para Roosevelt o que ocorreu em sua primeira viagem.

Utilizando o tradutor, Rondon disse que sua mãe descendia de índios Bororo e que quando começou a viajar pelos sertões buscou dentre estes os melhores guias, e havia um em especial, Anajé, cujo nome significa gavião, a quem Rondon sempre tinha por perto.

Contou que certa vez, fazendo os preparativos para uma viagem, ele chamou Anajé e perguntou-lhe qual seria a melhor rota a seguir, por onde deveriam ir, ao que o velho guia respondeu: “A melhor viagem é a que respeita a trilha escolhida e as regras da mata, mas ela dependerá sempre das escolhas que se tenha que fazer no meio do caminho”.

PS1: Roosevelt deveria ter narrado essas três histórias em sua autobiografia. Ele não as contou porque essas histórias jamais aconteceram. Elas são apenas e tão somente parte do exercício literário que eu venho fazendo já faz algum tempo, na tentativa de aprimoramento de uma construção narrativa ficcional, baseada e fundamentada em fatos reais, para utilização em roteiros cinematográficos que possam ser totalmente verossímeis.

Em todo esse texto, apenas Achak, Aren e Anajé jamais existiram, em que pese eles serem nomes genuinamente Navajo, Bororo e Maasai. Pensando bem, eles poderiam ter existido, pois sua existência não comprometeria em nada os fatos ocorridos, além do que, todo o resto aqui relatado é fato histórico verdadeiro, como provam as fotografias dos eventos citados.

PS2: Você pode acessar o link abaixo e assistir a uma matéria sobre a série, produzida pela HBO e dirigida pelo brasileiro Bruno Barreto, sobre a expedição de Teddy Roosevelt no Brasil, cujo título é “O hóspede americano”. https://www.youtube.com/watch?v=k83e6RHsIrI

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