A melhor estratégia para perder uma eleição

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Na semana que passou, um texto que escrevi em fevereiro de 2019, intitulado “Carta aberta ao presidente Jair Bolsonaro” –                                 https://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/2019/02/23/carta-aberta-ao-presidente-jair-bolsonaro/ – foi repostado por alguém que desconheço. Essa repostagem já rendeu mais de mil e duzentos comentários, likes e compartilhamentos, além de muitas polêmicas, muito mais que há 3 anos, quando tal texto foi originalmente publicado, só que agora com dezenas de insultos à minha pessoa por parte de quem não tem capacidade de manter uma convivência minimamente civilizada com quem pense diferente de si.

A conclusão a que chego é que esse texto e o assunto nele abordado, continua muito atual, ou se revelou, de alguma forma ou em algum aspecto, bastante relevante.

Nele, eu comentava sobre minhas impressões a respeito dos primeiros dias da administração do então novo presidente e fazia-lhe algumas recomendações.

Lido hoje, esse texto até parece profético, pois quase tudo sobre o qual comentei, de uma forma ou de outra, acabou acontecendo.

Visto em retrospecto o cenário da época poderia até ser favorável ao presidente, caso ele tivesse trilhado por um caminho que o levasse a um bom destino.

Em fevereiro de 2019, com apenas um mês de mandato, Bolsonaro poderia ter direcionado sua energia de maneira muito mais eficaz, eficiente e efetiva para a realização de seu intento, mas ele preferiu seguir um caminho completamente incompatível com o sucesso.

O destino no qual ele queria chegar era bastante aceitável por diversos pontos de vista e por grande parte da população, mas a forma e o trajeto escolhidos por ele, foram inaceitáveis por boa parte de seus eleitores, eu inclusive.

No decorrer do tempo, e ao longo do caminho, ele foi perdendo apoios importantes e ganhando adversários que, ou antes eram indiferentes a ele, ou eram seus aliados, e foi aumentando a oposição daqueles que sempre o combateram.

Dizer-se algo de mal de alguém é muito fácil. Quando esse alguém toma atitudes de alguma forma condenáveis, facilita a vida do maldizente. Quando ele dá diversos e claros motivos para que falem mal dele, criticá-lo fica ainda mais fácil.

Foi o que Bolsonaro fez! Deu muitos e graves motivos para criar contra ele uma narrativa que o colocasse numa situação desfavorável. Mas não foi por falta de aviso!

Alguém que não sabe usar a língua mãe para se comunicar de maneira clara, que não suscite más interpretações ou deturpações, até pode se eleger presidente da república, governador de estado, prefeito municipal ou parlamentar em qualquer dos níveis, mas terá que suportar os bombardeios que cairão sobre ele, graças a essa grave deficiência semântica.

Maior exemplo de sua incapacidade de conectar o raciocínio lógico, a inteligência emocional e a comunicação, aconteceu agora quando da invasão da Ucrânia pela Rússia. Sua incapacidade de entender os acontecimentos de maneira correta e de se posicionar neles e sobre eles adequadamente, faz com que Bolsonaro cometa atitudes absurdas, como querer defender o setor agrícola nacional numa hora em que o mundo precisa defender sua sobrevivência.

É um absurdo não entender que a Alemanha tem muito mais a perder numa situação dessas que o Brasil, e mesmo assim aquele país estigmatizado lidera a luta pelo reestabelecimento da ordem mundial, enquanto nosso presidente está preocupado com os fertilizantes que compramos da Rússia, e o que é pior, é ele não saber que de qualquer forma, com a guerra, haverá a interrupção dessa operação.

Aliando isso ao seu temperamento explosivo, a impaciência comum à sua profissão originária, e a intolerância desenvolvida no decorrer da vida, temos em Bolsonaro um case de insucesso, que só não sucumbiu, por serem partes importantes de suas ações, o combate à corrupção, ao aparelhamento partidário do estado, à defesa de instituições como a família, a escola, a religião, temas muito apreciados e aceitos por grande e relevante parcela da população brasileira.

Agora imaginem se esse sujeito soubesse usar os instrumentos a sua disposição da maneira correta!?… Com o apoio que tem o conteúdo liberal de seu projeto, ele seria muito difícil de ser derrotado.

Vejam bem para que não me entendam mal. Quando falo do conteúdo de seu projeto, não me refiro aos absurdos que ele diz a respeito de mulheres, homossexuais, negros e coisas semelhantes. Falo da defesa que ele faz dos bons valores da cidadania, valores do cidadão comum.

Em minha modesta opinião, acredito que da mesma forma com que Bolsonaro venceu a eleição de 2018, ele perderá a de 2022. Ele não será derrotado por ninguém, mas por si mesmo, assim como não foi o PT e a esquerda que foram derrotados por Bolsonaro, foram eles quem fizeram por onde serem rejeitados pelo povo brasileiro.

Chego a essa conclusão vendo e ouvindo pessoas próximas a mim, que votaram em Bolsonaro como forma de eliminar o PT e os esquerdistas do poder, onde se alojaram há 24 anos, e que agora, graças à forma inaceitável de agir do presidente, não mais o apoiarão. Estas pessoas estão em busca de uma alternativa entre o ruim que é Bolsonaro e o péssimo que é Lula.

São empresários de postura liberal e até alguns mais à direita que não aceitam a forma de ser e de agir do presidente, mesmo que o conteúdo de suas ações sejam aceitáveis e até desejáveis.

Ninguém pode desconhecer que em meio a todo esse caos político em que vivemos, o Brasil está em diversos e importantes aspectos, muito melhor que estava antes, quando éramos governados por uma igreja política, cujo profeta, santo e Deus, conseguiu subverter o entendimento básico do certo e do errado, do moral e do imoral, em nosso país.

No mês de fevereiro, o superávit primário de nossa balança comercial atingiu os níveis mais elevados dos últimos cinco anos. Imaginem se esse sujeito soubesse tirar proveito político disso!?…

Eu disse certa vez que Bolsonaro poderia se converter no maior desperdício que os liberais teriam em nosso país. Parece que eu infelizmente estava certo. Ele pode, nas próximas eleições, nos devolver aos braços gramishistas da esquerda, porque até agora não conseguimos enxergar nenhum nome capaz de ser uma alternativa viável ao desastre ainda maior que se anuncia.

PS: Depois desse texto, eu serei extremamente criticado por meus amigos de direita, assim como igualmente serei pelos amigos e os não amigos de esquerda. Ser criticado pelos dois lados só aumentará a minha certeza de estar correto em minha posição.

2 comentários para "A melhor estratégia para perder uma eleição"


  1. Fernando

    Você está certo infelizmente colocaram um bandido,imbecil, incompetente, despreparado para governar o país e o resultado está aí.

  2. Joaquim Haickel

    Respeito sua opinião, meu caro, mas é preciso que respeitemos a opinião da maioria dos eleitores que preferiu este “bandido,imbecil, incompetente, despreparado para governar o país”, ao invés de um representante de um grupo que passou 16 anos fazendo essas mesmas coisas em nosso país!…

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