Futebol e Arrogância.
Os embates das seleções nacionais na Copa do Mundo e, de maneira simultânea, o fio da navalha em que se equilibram os candidatos às eleições presidenciais deste ano proporcionaram uma excelente chance de se iniciar uma boa reflexão sobre estas disputas cruciais de nossos dias. Surgem os palpites de quem sairá e de quem ficará até o fim, para disputar a partida final da Copa. Se o Brasil vai mesmo virar o tão sonhado pentacampeão ou se uma outra equipe conseguirá a proeza de conquistar o título de campeã do Mundial.
É, portanto, tempo de especulações sobre vitórias e derrotas. Tempo de pesquisas que projetam dúvidas e indagações sobre quem serão, também, os vencedores das próximas eleições, quem enfim será o novo ocupante da cadeira de presidente da republica. É o tempo de quem encara estas disputas com maturidade e também de quem subestima os adversários numa postura típica de arrogância. Neste último caso, vê-se que, como desde sempre, os arrogantes acabam se dando mal.
Temos o exemplo recente das seleções da França e da Argentina, que entraram em campo posando como as principais favoritas para vencer a Copa do Mundo, e que acabaram decepcionando. Foram desclassificadas logo na primeira fase do Mundial, e de forma vergonhosa, a França não fez um único gol nas três partidas que disputou.
Cabe lembrar aqueles arrogantes, como Napoleão Bonaparte e tantos outros, que deixaram sua marca na História. Bonaparte, que se fez coroar imperador dessa mesma França, de Zidane, vestiu a capa de líder autoritário e deflagrou guerras que, na época, assustaram até a impávida aristocracia européia, mas um dia veio sua acachapante derrota. Muito a propósito disto, existe uma velha expressão encontrar seu Waterloo que significa sofrer uma derrota ou um desastre definitivo e irreparável. Isto porque foi em Waterloo que, em 1815, após a Jornada dos Cem Dias, depois de fugir da prisão na ilha de Elba, Napoleão foi derrotado fragorosamente pelas forças inglesas, comandadas pelo Duque de Wellington, com a ajuda dos prussianos comandados pelo marechal Gebhard Leberecht von Blucher, príncipe de Whalstatt.
No Brasil recente, a derrocada de Fernando Collor, o primeiro presidente eleito depois de quase 30 anos de autoritarismo, o homem que despertou esperanças formidáveis, ficou como exemplo, porque se viu que depois ele degradou a Presidência da República, submetendo-a a vexames inéditos na história republicana, tudo por causa de sua suprema arrogância.
Quem não se lembra também do todo-poderoso presidente da Câmara Federal, Ibsen Pinheiro, o homem que comandou a sessão do impeachment de Collor e que depois teve o mandato cassado quando a CPI do Orçamento descobriu mais de um milhão de dólares suspeitos em suas contas bancárias, advindos muito provavelmente de suas intimas relações com os ajudantes da Branca de Neve.
Mais recentemente ainda, assistiu-se à derrocada de Antônio Carlos Magalhães, um dos políticos brasileiros mais influentes e duradouros do último meio século. Vale lembrar que, no ano passado, além de ACM mais dois outros poderosos José Roberto Arruda e Jader Barbalho renunciaram ao mandato de senador, para evitar a cassação e a conseqüente perda de seus direitos políticos por oito anos. Todos se acreditavam inatingíveis.
Como na tragédia grega, quanto maior o homem, maior a sua queda. E muito a propósito disto, cabe esta reflexão: O destino dos construtores é produzir, a longo prazo, grandes desmoronamentos. Esta frase da escritora belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) parece pessimista e paradoxal, porém se ajusta muito bem a certas armadilhas do poder e do jogo da vida.
Por tudo isso resolvi lembrar aqui uma outra frase – Depois de mim, o dilúvio atribuída ora ao rei francês Luís 15, o Bem-Amado (1710-1774) ora a sua célebre amante, a marquesa de Pompadour (1721-1764), cujo nome era Antonieta de Poisson. O rei a teria exclamado essa frase diante do Parlamento, numa de suas notórias crises com o Poder Legislativo. Sua amante teria dito a mesma sentença quando posava para um retrato que estava sendo feito por seu pintor preferido, ela, entristecida pelas notícias de uma derrota sofrida pelo rei, que protegia ambos, modelo e artista. O dilúvio, porém, não veio nem depois dele, nem depois dela, nem depois de outros tantos arrogantes que pronunciaram esta mesma frase ou similares.
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