Política e Poesia
Nunca me saiu da lembrança uma cena do filme Terra em Transe, escrito e dirigido pelo genialmente louco Glauber Rocha. Em certa altura, Sara interpretada pela atriz Glauce Rocha, abraçada e com a cabeça recostada sobre o ombro de Paulo Martins, personagem vivido pelo ator Jardel Filho, diz: A política e a poesia são demais para um só homem. Essa frase me persegue desde então. Não haveria realmente nenhum espaço para poesia na política? Seria a política assim tão árida que não se permitiria conviver ou se contaminar, nem que em apenas algumas ocasiões, por alguns momentos, pela poesia?
Certa vez indagado por um cineasta importante, sobre ser poeta e político, um então governador de um pequeno estado brasileiro disse que a política estava sufocando sua poesia. Anos mais tarde, agora ocupando um importantíssimo cargo na republica, a propósito da primeira pergunta feita décadas antes, um jornalista fez-lhe novamente a mesma pergunta e a resposta já foi diferente. Segundo ele, naquela altura da vida, se não fosse pela poesia, não haveria política. Numa das ultimas vezes em que nos encontramos, toquei nesse assunto, disse-lhe que conhecia a historia e perguntei-lhe mais uma vez sobre a convivência de poesia e política e ele me deu uma verdadeira aula: Que poesia!? Que Política!? Hoje, para mim, é tudo tão natural. Não há mais diferença entre uma e outra.
Quando iniciei na política já rabiscava alguns poemas. É bem verdade que eram bem ruinzinhos e não estavam contaminados por nada alem da minha inépcia, da minha incompetência e da minha ansiedade juvenil.
Com o passar do tempo e a convivência do poeta e do político que habitam em mim, senti que a poesia fraquejou. Fraquejou porque a poesia que eu tentava fazer era frágil e etérea como uma rosa de Malherbe ou monocromática e passageira uma pomba de Raimundo Correa. Como disse eu tentava fazer poesia e poesia não se tenta fazer. Ela é ou não será jamais.
Por essa época surgiu em mim o melhor do contista e o incipiente cronista, alguém mais prático, mais narrativo, mais lógico, semântico e pragmático.
Hoje o político que sou, aprendeu que se ele não der o espaço necessário para que o poeta, o contista, o cronista, o roteirista, o cineasta, o filosofo, o humanista, se manifeste, é ele quem acabará perecendo.
De todas as atividades que hoje desenvolvo, e, diga-se de passagem, todas com muito prazer e extrema realização, a mais descartável é a política.
Espero que não demore muito pra que eu possa chegar naquele estagio da vida onde possa descompromissadamente dizer: Que política!? Que poesia!?
Enquanto este tempo não chega tenho que me apegar as coisas que ligam à poesia e a política. As boas amizades, por exemplo.
Outro dia recebi um e-mail de meu bom e velho amigo Ivan Celso Furtado da Costa, o mais Ludovicense dos nossos atuais cronistas.
Somos amigos desde o tempo em que ainda se empinava papagaios na Praça Deodoro, em frente da casa de sua mãe, dona Anita. Ivan é alguns anos mais velho que eu, mas ninguém diz. Pra quem não sabe esse Ivan Celso, é o mesmo Ivan Sarney, vereador de São Luis.
Passo a transcrever a seguir o e-mail que Ivan me mandou: ‘Querido amigo Joaquim. Gostaria de te parabenizar não apenas por aquilo que tens falado ou pelo que tens feito na Assembléia. Quero te parabenizar, principalmente, pelo teu sábio e elegante silêncio, neste momento tão confuso e conturbado pelo qual passa o nosso Estado. Atitudes como essa, demonstram sua extrema sensibilidade e grande maturidade política ao perceber a hora de falar e a hora de calar.
Por te conhecer bastante bem, sei que gostarias de estar falando e fazendo coisas que pudessem ajudar muito mais. Sei o quanto deve está sendo difícil participares desse cenário político. Seu temperamento não é propicio para isso.
Recebe o mais sincero abraço de um amigo que não está sempre presente ao seu lado, mas que te guarda sempre no pensamento e no coração.
Depois de ler o que Ivan havia me mandado descobri que na verdade não há diferença entre poesia e política. O que há é o nível de sensibilidade capaz de associá-las e não confundi-las. Ivan tem essa capacidade.
Em tudo e em todas as coisas deve haver poesia e política. Se não houver, essas coisas perdem parte de sua essência e de seus significados.
E ninguém que me venha tentar tirar a poesia da minha política.
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