Diário de viagem – Intermezzo

1 – A festa de abertura do Boston International Film Festival foi bem legal. Ela me fez lembrar de dirigir uma palavra especial ao meu amigo Euclides Moreira, alma o festival Guarnicê de Cinema, que faz o nosso Maranhão ser conhecido e respeitado em todo Brasil: É muito difícil fazer um evento destes em qualquer lugar do mundo, aqui nos Estados Unidos inclusive, imaginem só em nossa terra onde quase ninguém ajuda. Você, amigo Euclides, e os abnegados que lhe ajudam são uns gigantes por fazer isso, com sucesso, já há 31 anos. Meus parabéns! E muito obrigado. 

2 – O meu modesto conhecimento do idioma de Sheakespare me permite não morrer de fome, mas isso é coisa que um pouco de mímica e uma providencial ajuda de Benjamim Franklin ou de Ulisses Grant, se resolve. Dá até para assistir aos filmes do festival sem problema. É nessas horas que minha dislexia ajuda. Minha extrema familiaridade com o audiovisual supre boa parte da dificuldade com o idioma. Dá pra manter um contato inicial, me apresentar, perguntar algumas coisas, entender algumas respostas, falar sobre meu filme, mas é só. Mais que isso já fica complicado. Não dá pra aprofundar uma conversa. Gostaria muito que minha filha Laila estivesse aqui, ela poderia ser a minha voz.

3– Tenho sentido muita falta de minha família e de meus amigos. Viajo muito, e não me lembro de ter me sentido assim antes. Nas ultimas semanas tenho freqüentado toda terça feira uma Célula dirigida por Taliane Lima e que se reúne na casa de meu amigo Rafael Blume ou de algum membro do grupo. Na ultima terça ganhei uma Bíblia de letras grandes e de tradução acessível, presente de Daniel. Vou sentir falta deles nessa semana, mas na próxima estarei lá.

4 – Passei agora a pouco por uma senhora idosa, de cabeça branquinha, que passeava sozinha em um parque. Lembrei-me de dona Filuca, de sua energia e de sua vivacidade. Filuquinha vai fazer muita falta, mas ela já fez uma coisa incrível, reuniu um dia depois de seu enterro todos os seus filhos em sua casa da Rua do Sol, coisa que não acontecia há muito tempo. Gostei muito de ver todos ali: Amadeu, Carlinhos, Carmem e Mamalia, suas esposas e esposos, filhos e netos. Tenho certeza que tanto ela quanto velho Emanuel devem ter ficado muito contentes.

5 – Estou impressionado com a popularidade de Álvaro Lima, não só em meio à comunidade brasileira de Boston, mas principalmente em relação ao prefeito que já está no cargo há 16 anos e vai agora para o quinto mandato consecutivo. Alvinho, na administração da cidade, acumula as funções de secretario de planejamento e de secretario para desenvolvimento comunitário. Fiquei muito orgulhoso quando o acompanhei a uma reunião da associação de mulheres brasileiras e pude constatar ali todo seu o prestigio, o respeito e o carinho que ele desfruta por aqui. Outra pessoa muito influente na cidade é Salwa Aboud, ex-consul honorária do Brasil em Boston, que por aqui é conhecida por Madame Smith, sobrenome de seu marido Bob, uma figura simpaticíssima, divertido e engraçado, alem de ser um importante financista de Wall Street.  

6 – Ainda sobre Alvinho, fico imaginando quanta coisa esse maranhense extraordinário poderia fazer em beneficio de nossa gente e de nosso estado, executando aí algumas de suas idéias e colocando em pratica em terras maranhenses alguns de seus projetos e experiências tão bem sucedidas e desenvolvidas na administração de seu amigo prefeito de Boston, Thomas M. Menino. São coisas simples, tão simples que chegam a ser ridículas. Numa conversa com ele dei-me conta de que a radicalização do capitalismo americano somada a uma imensa noção de responsabilidade e humanidade transformou a cidade de Boston quase em uma sociedade socialista.

7 – O clima mudou radicalmente. Quando cheguei aqui fazia um frio de lascar, agora ta fazendo um calor digno de Santa Inês ou imperatriz. Estive aqui pela primeira vez vinte anos atrás, quando era deputado federal constituinte, participando de um congresso da Associação Americana de Jovens Lideres, para conhecer o modelo político, partidário e eleitoral dos americanos. Naquela época o então governador de Massachucetes, Michael Dukakis, concorria nas previas do partido Democrata para disputar a presidência da republica Yankee. A cidade que já era linda está agora magnífica. Boa parte da inteligência americana vive aqui e trabalha em duas grandes organizações educacionais e cientificas, em Harvard e no MIT.

8 – Meu filme fez sua estréia mundial nos circuitos dos festivais, aqui, no domingo e contou com uma grande quantidade de espectadores. Alguns brasileiros, outros americanos que convidados de Alvinho e Salwa, vieram ver o filme. Fiquei emocionado ao ver tanta gente que eu nem conheço, prestando atenção na historia de Keyt e Charlie. Depois fui sabatinado pela audiência. Queriam saber de quem era a historia, quanto tempo e quanto dinheiro foi investido para realizar o filme. Aparentemente todos gostaram muito, acharam um filme bastante profundo e sensível.

Ainda esse mês ele estará participando de festivais em Cabo Frio e São Luis, enquanto o “Padre Nosso” vai estar em Florianópolis, no festival de cinema do MERCOSUL.  

Boston, 09 de junho de 2008.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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