O Correto e o Justo – Os fins justificam os meios?

“Dois juízes encontram-se no portão de acesso de um conhecido motel. Até aí tudo bem, isso poderia ser uma coisa normal, acontece que cada um estava acompanhado da mulher do outro.

Após alguns instantes de impasse, em tom solene e respeitoso, um diz ao outro: Nobre colega, creio eu que o correto seria que a minha mulher viesse comigo, em meu carro, e a sua mulher volte com Vossa Excelência no seu.

Ao que o outro respondeu sem pestanejar: Data vênia, concordo plenamente com o nobre colega. Isso seria o correto a se fazer. No entanto, isso não seria o justo, levando-se em consideração que vocês já estão saindo e agora é que nós estamos entrando.

Resolvi colocar essa piada neste texto para descontrair nossa conversa, mas também para tentar usá-la como link ao abordar o assunto que gostaria de tratar aqui hoje.

O que escolher ser? Ser correto ou ser justo? Esse dilema me lembra algo proposto pelo mestre Nicolau, no capitulo XVII de sua obra-prima que estará completando 500 anos em 2013, isto se o mundo não acabar em 2012, como previram os Maias.

É fato que o correto nem sempre é o justo e vice-versa. Sinceramente eu não sei e acredito que ninguém possa me dizer, com certeza, qual das duas situações é a menos pior. O risco que se corre em sermos corretos, mas injustos, é o mesmo que há em sermos justos, porém incorretos. Parece simples e fácil, mas não é nem uma coisa nem outra.

Diariamente nos deparamos com situações como essa. Dilemas iguais ou piores do que esse, que, de certa forma, transformam a nossa vida numa sucessão de escolhas, certas, erradas ou nem tanto.

É a relação de coerência entre essas escolhas que nos deve guiar através da vida. Algumas vezes, por caminhos nem sempre os mais justos, porém, os mais corretos, outras vezes através de caminhos nem sempre os mais corretos, porém os mais justos.

Quando falo de justiça e correção me salta imediatamente da memória uma história que minha avó, Maria Haickel, me contou quando era criança, sobre a imensa sabedoria do rei Salomão que deveria decidir entre duas mulheres, quem deveria ser a mãe de um recém-nascido.

Conhecido também por seu equilíbrio, por sua justiça e por sua correção, Salomão, depois de ouvir as razões das mulheres, disse que não seria capaz de resolver com quem estava a verdade e por isso só havia uma coisa que ele poderia fazer, mandaria cortar a criança ao meio e dar a metade para cada uma daquelas mulheres que se diziam mãe.

Como minha avó libanesa me contou em seu português arrastado, a criança foi entregue à mulher que se jogando aos pés do rei pediu que ele desse a criança à outra mulher, pois preferia ver o seu filho com outra mãe a vê-lo morto. Salomão, então teria dito “Dai a esta o menino vivo e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe.” Disse isso porque aquela mulher havia demonstrado, com sua renúncia, o amor característico das mães, coisa que só uma mãe é capaz de fazer.

A justiça trabalha com o risco do imponderável, do psicológico. Eu sempre achei que havia um componente psicológico muito marcante nessa história, algo determinante que não se pode deixar de analisar.

Imagine se aquela mulher que se jogou ao chão implorando ao sábio rei que não partisse a criança ao meio estivesse fazendo isso não por amor, mas por remorso, pois ela sabia que aquela criança não era a sua, pois o seu filho havia morrido.

Se remorso e não amor foi o motivo que fez aquela mulher renunciar à criança, o que Salomão fez foi o certo ou o justo? Deixo que você resolva ao seu modo, mas não deixarei de dizer-lhe a minha opinião. Pouco importaria o motivo que levou aquela mulher a impedir que o rei mandasse cortar a criança ao meio, se foi amor é porque ela era a mãe verdadeira, se foi remorso, mesmo não sendo a verdadeira mãe, ela demonstrou que tinha compaixão, generosidade, desprendimento e mesmo dilacerada pela perda do filho morto, não chegaria ao ponto de deixar matar aquela criança, linda como seu filho seria. Fazendo isso ela se fez igualmente merecedora do veredicto favorável do rei.

Não importa se o correto é o justo ou vice versa, o que importa é que qualquer coisa que façamos seja sempre impregnada da vontade verdadeira de fazer o melhor, o mais correto, o mais justo, mesmo que nem sempre consigamos.

Pense nisso!

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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