Sancho.
Discurso proferido pelo Senhor Deputado Joaquim Nagib Haickel no pequeno expediente da sessão plenária da Assembléia Legislativa do Maranhão em 22 de setembro de 2009
Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, é comum que se venha a esta tribuna lamentar o falecimento de algum grande mandatário, de um ex-governador, senador, deputado federal, de um colega deputado estadual. Isso é comum nos caso de algum empresário de renome, alguma pessoa importante na vida política, empresarial, cultural ou social de nossa terra, mas hoje venho lamentar o falecimento de um simples motorista.
O que para muita gente seria um simples motorista, para mim foi um grande e fiel amigo que durante 27 anos compartilhou comigo os momentos difíceis e as alegrias.
Faleceu na última sexta-feira, dia 18, de infarto agudo do miocárdio, o cidadão José Moraes Neto. Um homem de pouca instrução formal, mas de grande saber humanístico.
Uma pessoa que com o decorrer do tempo apenas em olhar para ele, ele já sabia o que eu queria. Um menino que começou a trabalhar comigo aos 19 e que faleceu aos 46.
Esse grande pesar que sinto, que sentimos, eu, minha família, os filhos e irmãos de Neto, quero dividir com vocês meus colegas, e deixar registrado nos Anais desta Casa, que mesmo não sendo dos maiores vultos, pessoas como José Moraes Neto nos fazem falta de tal maneira, tão profundamente que nos deixa sem chão, sem teto, sem paredes.
Neto foi isso. Trabalhou comigo desde minha primeira campanha política em 1982, quando chegou lá na Gráfica Guarnicê pedindo emprego. Olhei para a cara dele e não levei muita fé. Nunca tinha contratado ninguém antes para trabalhar comigo, ele foi o primeiro empregado que tive e de empregado tornou-se um irmão, desses assim que quando eu precisava de alguma coisa, quando havia uma coisa que só eu poderia fazer, como por exemplo viajar com minha mãe ou se ela precisasse ir ao médico e eu não tinha condição, quem levava era Neto.
Ele era uma pessoa a quem eu entregava minha vida, todas as noites, quando saía em viagem, Deputada Helena. Eu pegava meu travesseirinho, colocava de lado, arriava o banco e dormia na certeza de que Neto trataria a minha como se fosse a vida de um de seus filhos. Cansei de acabar às 2 horas, 3 horas da manhã comícios a 500 km de São Luís e voltava para dormir em casa, na certeza de que tinha uma pessoa de confiança ao meu lado.
Jamais usamos, eu e Neto, qualquer arma de fogo e já enfrentamos muitas dificuldades, e a primeira coisa que ele fazia era se levantar do lugar onde estava dirigindo o carro e se colocar do meu lado como se fosse ele o meu Sancho Pança de um Don Quixote, personagens que talvez ele nem soubesse quem eram… Sinto-me um tanto perdido.
Não consigo imaginar Miguel de Cervantes escrevendo a história do Homem de La Mancha sem seu alter ego, sem alguém que lhe incentivasse os sonhos, que lhe desse uma simples palavra de apoio ou que simplesmente lhe indicasse o caminho.
Quero dividir isso com vocês, porque tenho certeza, que se muitas vezes pude ser melhor, era por causa do contraponto que fazia com aquele homenzinho de pequena estatura, gordinho e negro. Não foi nem uma, nem duas, nem três vezes que me coloquei no lugar dele para poder ver o mundo. E também as vezes que ele estava ao meu lado e eu tinha um problema, eu imaginava duas coisas. Como Neto agiria? Como Neto pensaria? Como Neto se colocaria em relação aquilo? Eu fazia isso também em relação ao meu pai, se meu pai tivesse vivo, como ele pensaria.
Dizer isso a vocês dá a dimensão exata de quem foi esse homem. Um homem que era apenas um motorista para muitos, era um irmão para mim. Muito obrigado Neto.
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