Em fase de sublimação.

Muito cedo descobri que em algum lugar em meu cérebro havia um dispositivo que fazia com que eu não agisse de determinada maneira, que me censurava, e que fazia com que eu simplesmente redirecionasse minhas energias para outras coisas, fazia com que pensasse, idealizasse, sonhasse, vivenciasse, mas não fizesse, não realizasse aquele intento previamente censurado, e ainda assim essa tal engrenagem fazia com que eu sentisse o prazer advindo daquela energia, fazia com que eu conseguisse sentir prazer como se tivesse realizado meu intento primordial. Foi assim que comecei a escrever muito cedo, foi assim que busquei os esportes, foi assim que me apaixonei pelo cinema. Hoje vejo que foi também assim que optei pela política.

Depois descobri que em algumas circunstâncias isso também servia de adiamento, procrastinação, maturação e até, de certa forma como planejamento de algo que eu desejava realizar e que, através daquele instinto poderoso, eu apenas treinava para quando chegasse a hora de colocar em prática. Talvez por isso, tudo em minha vida tenha acontecido de forma mais arrumada, mais planejada e natural.

Muito tempo depois de conhecer tal sintoma, de identificar com precisão suas circunstâncias, seus efeitos e até algumas formas correlatas e análogas de seu desenvolvimento em minha vida, lendo sobre psicologia, descobri tecnicamente, cientificamente, do que se tratava.

A palavra usada para designar tal função de nosso inconsciente, para nomear esse nosso instinto é tão esclarecedora que não precisa de maiores aprofundamentos para seu entendimento. Trata-se da sublimação, que em química significa mudança do estado sólido para o estado gasoso ou vice-versa, sem passar pelo estado líquido. Palavra que no dicionário está assim descrita: Sublimação – 1. Tornar sublime; purificar, enaltecer, exaltar. 2. Tr. dir. Elevar à maior perfeição. 3. Pron. Tornar-se sublime; enaltecer-se, engrandecer…

No âmbito da psicanálise, esse fenômeno, a sublimação, é o processo inconsciente que consiste em desviar a energia da libido para novos objetos, de caráter útil. Mecanismo de defesa do eu, através do qual alguns impulsos, desviados de seu objeto primitivo, são integrados na personalidade que os investe em objetos equivalentes de valor social. Segundo Freud sublimação é a fonte da nossa cultura. Só produzimos arte, ciência e tudo o mais porque deixamos nossa energia canalizada para isso, porque não podemos ou pelo menos não devemos sair por ai matando, roubando, mentindo…

Em suma, sublimar um desejo, uma ação, é por uma atitude consciente ou semi-consciente, deixar de realizar esse desejo, mas sentir-se como se o tivesse realizado.

Estou passando por uma fase dessas em minha veia artística. Tenho sublimado muitas idéias, tenho armazenado energia para uma realização que ainda não consigo identificar, mas sei que ela está por aqui em algum lugar, dentro de minha cabeça, rondando, espreitando, esperando uma oportunidade.

A coisa é tão séria que comecei a fazer uma lista de idéias de poemas, crônicas, contos, roteiros ou mesmo de algumas mudanças neles. Só para citar alguns: Há pelo menos três anos venho observando que com freqüência tenho engolido a letra “E” quando estou escrevendo. É como se o “E” não existisse, principalmente em alguns casos. Por exemplo, acabei de voltar a linha anterior para colocar o segundo e o terceiro “E” na palavra escrevendo, pois meus dedos guiados por meu cérebro os eliminaram. Dá um bom ensaio não acham?

Tenho comigo, desde a primeira vez – devia ter doze anos – em que assisti ao filme Sansão e Dalila, com Victor Mature e Hedy Lamarr, a tese de que a força de Sansão jamais esteve em seus cabelos, mas sim em seu amor, da mesma maneira que sua fraqueza não consistia em simplesmente ser careca, mas sim na decepção pela traição de sua amada.

Tenho sentido muita vontade de falar sobre o que aconteceu e continua acontecendo no Haiti. Preciso dizer o que penso e o que sinto sobre a segunda fundação do estado maranhense, agora com essa nova arrancada para o progresso.

Da mesma forma tenho sentido muita vontade de escrever sobre alguns amigos meus, pessoas de quem gosto, com quem tenho afinidades, que são caras para mim como Paulo Nagem, Antonio Carlos Barbosa, Fernando Sarney e Edinho Lobão que são quase como irmãos. Paulo Coelho, Celso Borges, Érico Junqueira Ayres e Roberto Kenard, de quem sinto tanta falta (deles e do tempo em que éramos muito, muito felizes). Heloisa Collins amiga para sempre. Cristina Tavares meu primeiro amor verdadeiro. De Ivana Farias com quem aprendi muito do que sei e com quem fiz minha melhor história: Laila.

E queria falar também de outros amigos: Nelson Frota, espécie de primo mais velho, precoce. Falar de Gonçalvinho e da inveja boa que tenho de sua competência e do orgulho que sinto de sua simplicidade prestativa; De Benjamim Alves de quem nem sou tão intimo, mas que consegue ser tão elegante que me sensibiliza. Falar de Zeca Brás que vota em mim há vinte e oito anos, e principalmente de Hélio Sales, um pequeno amigo em estatura física, pois mede pouco mais de um metro de altura, mas que é um gigante em lealdade, que mesmo em meio à traição da qual fui vítima no município de Pio XII, ele me ligou e disse que não deixaria de me apoiar, pois via em mim uma boa pessoa e o melhor deputado para lhe representar.

Bem, um dia desses, quando passar essa fase de sublimação, vamos falar de todos esses assuntos. Por enquanto, sublimemos.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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