Pra não dizer que não falei de eleição

Há muito não comento sobre política. É que o fato de ter resolvido não mais me candidatar a deputado, função que exerci recorrentemente entre 1983 e 2011, me distanciou automaticamente da maioria das ações políticas que antes eram tão comuns em minha vida.

Espanto-me cada vez que enumero para alguém os motivos que me fizeram não disputar a reeleição em 2010. Sempre que faço isso aparecem mais um ou dois motivos novos, sinal de que havia mais deles que aqueles que relacionei inicialmente para me convencer que a atitude que tomava era a mais acertada.

Mas conversemos um pouco sobre o momento político. Agora não há nada mais importante que as eleições municipais.

Prefeitos e vereadores serão escolhidos para exercer os poderes Executivos e Legislativos na célula mater do estado. Gostaria de lembrar que o cidadão não vive no estado e muito menos no país, ele vive é no município e é lá onde ele em primeiro lugar deve exercer seus deveres e usufruir de seus direitos, portanto, essa deveria ser a eleição mais importante para o eleitor. Mas não é.

Tenho visto campanhas eleitorais em alguns municípios e constato mais uma vez que fiz a coisa certa em não mais disputar eleição. Que coisa mais chata é uma campanha eleitoral! Essa é a pior parte da política. É nela que pode vir a acontecer toda sorte de irregularidades. Ainda mais sob a ótica da lei eleitoral em vigor, que se por um lado é muito ruim, por outro seria muito pior sem ela.

Num domingo desses passei mais de vinte minutos em um dos retornos de nossa capital, esperando que passasse a carreata de certo candidato a vereador. Todos os carros que participavam estavam “envelopados”, termo usado para designar os imensos adesivos que envolvem as latarias dos automóveis. De tantos em tantos veículos apareciam os carros de som, cujo volume era enlouquecedor. Todos traziam bandeiras de tecido com nome e número do candidato.

Fico imaginando! Como é que se presta conta de um evento daqueles? Se colocar na prestação de contas todos os valores realizados para que acontecessem eventos como aquele, o candidato não teria como justificar tamanho investimento. Na mesma situação se encontrarão todos ou pelo menos aqueles que agirem de igual modo.

Deixando o lado mais prático, vejamos o lado mais filosófico.

Em São Luís, o PSTU apresenta mais uma vez o mesmo candidato que vem sendo apresentado em todas as eleições de prefeito e governador. Será que nesse partido não existe outro candidato, outro nome que possa igualmente representar a sigla, defender as ideias da agremiação? Depois eles reclamam de perpetuação no poder, de oligarquia. E o que é isso se não uma outra oligarquia, poder de poucos, dos pouquíssimos desse partido?

Por outro lado, mas nem por isso menos curioso, o PRTB apresenta um candidato que só soube estar na disputa ao ouvi-lo numa rádio local. Tanto o partido quanto o candidato são corajosos, pois dificilmente descolarão percentualmente da primeira unidade numérica. Mas você pode esperar, caro leitor eleitor, esse candidato voltará daqui a dois anos concorrendo a deputado.

Da mesma maneira muitos dos atuais candidatos, tanto a prefeito quanto a vereador, estão apenas mostrando a cara, esquentando os motores para as eleições de daqui a dois anos ou se candidatando a um cargo na futura administração municipal de quem sonham ser próximos.

Outro dia ouvi alguém dizer que a eleição em São Luís seria decidida no primeiro turno. Não creio nessa hipótese. São muitos candidatos com percentuais que indicam uma disputa acirrada pelo privilégio de enfrentar o prefeito João Castelo num eventual segundo turno.

Tadeu Palácio e Edivaldo Júnior lutam abertamente pelo segundo lugar, enquanto meu amigo Washington Luís espera o início da campanha no rádio e na TV para deslanchar. Acredito que os demais candidatos estão apenas cumprindo tabela.

No entanto, uma boa crônica política pede pelo menos uma pequena polêmica e aqui vai a dessa: se contra Castelo, no segundo turno, for Tadeu! Com quem irá Edivaldo Júnior, ou melhor, Flávio Dino? Se depender dos correligionários do candidato, eles devem ir com Castelo. Dino fará o mesmo?

E se acontecer de para o segundo turno contra Castelo ir Edivaldo, com quem irá Tadeu, Washington e principalmente o grupo ligado ao governo do estado?

Para o governo, estou certo, o melhor é fazer seu candidato passar para a próxima fase da disputa, senão a solução será sempre um remendo.

Caso seja Washington a disputar o segundo turno, Tadeu poderá acompanhá-lo, mas e Edivaldo? E Flávio? Farão isso?

Para mim o que fica claro é que ainda hoje se faz eleição, e aqui falo de todos os grupos, sem comando, apelando-se para a improvisação, aquela coisa antiga do “na hora se vê o que se faz”.

Talvez dessa vez isso acabe por nos apresentar uma realidade insólita, fazendo com que no segundo turno, adversários azedos tenham que mostrar ao eleitor e ao povo em geral que entre uns e outros há realmente muito pouca diferença.

Que vençam aqueles que melhor forem tratar a minha terra e a minha gente.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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