Pelos Olhos de L. L.

O MAVAM, Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, braço produtivo e operacional da Fundação Nagib Haickel, que tem como objetivo a identificação, catalogação, recuperação, digitalização e disponibilização de acervos de imagens e sons que digam respeito, direta ou indiretamente ao Maranhão, seja na área cultural, esportiva, social, empresarial, política ou qualquer outra, teve acesso a um vasto material que lhe foi entregue, parte pelo já falecido radialista, deputado e acima de tudo meu amigo, Mauro Bezerra, parte pela viúva do repórter cinematográfico Lindberg Leite e parte pela direção da extinta Fundação José Sarney.

O aludido material que consistia em umas duas centenas de fitas VHS e mais de cem rolos de filme em bitola 16 mm, em sua maioria mofadas e inutilizadas devido ao mal condicionamento, continham imagens quase sempre sem áudio, captadas pelas lentes argutas de Lindberg Leite e seus contratados, em trabalhos cinematográficos realizados em São Luís e em outros municípios do Maranhão, entre meados dos anos de 1960 e final dos anos de 1970, cobrindo assim um período de aproximadamente 15 anos de registros imagéticos sobre o Maranhão.

Consciente da rara preciosidade que tinha nas mãos a direção da Fundação Nagib Haickel tratou de disponibilizar recursos humanos e materiais, primeiro para o salvamento possível do referido acervo, depois para sua preservação, através de telecinagem para posteriormente realizar uma minuciosa e delicada digitalização de todo o material, o que resultou em mais ou menos 120 horas de imagens, de qualidade que não pode se chamar de boa, devido ao avançado estado de deterioração dos suportes físicos em que se encontravam.

Agora, a direção do MAVAM da FNH, em conjunto com as empresas e as pessoas que compõem o Polo de Cinema Ficcional, Documental e de Animação do Maranhão, grupo dedicado a desenvolver atividades audiovisuais em terras maranhenses, resolveu levar adiante o projeto que idealizou assim que teve conhecimento deste tão valioso acervo sobre a memória de lugares, pessoas e tempos que de certa forma foram salvos e eternizados “Pelos Olhos de L. L.”.

Graças ao trabalho desenvolvido por Lindberg Leite e pelos pioneiros do cinema e da televisão do Maranhão, poderemos ver eventos, lugares e pessoas que fizeram a história de São Luís e do Maranhão há 50 anos.

Desse projeto resultará um longa-metragem de 80 minutos, onde serão apresentadas imagens de fatos que ocorreram no Maranhão e foram registrados por Lindberg. São festas de carnaval nos clubes de São Luís, que inclusive não existem mais; desfiles de escolas de samba; partidas de futebol e outras modalidades esportivas; solenidades, como inaugurações ou palestras; festas juninas; feiras e exposições; alguns dos primeiros clips musicais produzidos no Maranhão; discursos de autoridades; casamentos e batizados; desfiles estudantis de 7 de setembro; a vinda dos membros do jornal O Pasquim para São Luís, quando Haroldo Tavares era prefeito; eventos culturais…

Todas as imagens apresentadas neste filme serão comentadas pelos próprios personagens contidos nelas ou por pessoas que os possam identificá-los e falar sobre eles, sobre seu tempo e sobre os eventos ali retratados e até sobre outros eventos caso sejam relevantes.

Usaremos imagens onde aparecem pessoas como Benedito Buzar, deputado cassado em 64, jornalista e atual presidente da Academia Maranhense de Letras; Cleon Furtado, arquiteto, tenista e folião famoso da cidade; Américo Azevedo, sobrinho-neto de Aluísio e Artur Azevedo, membro da AML, teatrólogo, comandando o desfilhe da Turma do Quinto; Luís Raimundo Azevedo, economista e testemunha da vinda do Pasquim para São Luís; Manoel Martins, historiador do futebol maranhense; Papete, músico e percussionista, que começou com Nonato e seu Conjunto; Alcione Nazaré, cantora; Jesus Santos, artista plástico; Eliezer Moreira, personagem e testemunha; Murilo Santos, cineasta e coautor dessas imagens; Aldo Leite declamando poemas de Nauro Machado que aparece com Arlete e com o futuro cineasta Fred Machado, seu filho. Esses entre outros tantos, além de coletarmos declarações de historiadores, psicólogos, sociólogos e antropólogos sobre aquele tempo.

Nossa intenção, ao idealizarmos este, projeto é de forma mais ampla, dar conhecimento ao tempo atual, à juventude de hoje, de como se vivia naqueles maravilhosos e turbulentos anos em São Luís e no Maranhão, porém de forma mais restrita nosso objetivo é possibilitar que um senhor na casa dos 70 anos possa se sentar em frente ao aparelho de televisão, na sala de estar de sua casa, ao lado de seu filho e de seu neto e mostrar a eles imagens que fizeram a sua juventude em sua amada terra. Imagens que ele não sabia que existiam. E mais que isso, ao guardar aquele filme, aquelas imagens, ele poderá fazer com que, mesmo depois de sua morte, seu bisneto, ainda no ventre de sua neta possa vir a saber alguma coisa sobre seu bisavô.

É no sentido de preservarmos a história das pessoas, de seu tempo e de seu espaço que pretendemos desenvolver este que pode ser apenas o primeiro filme de uma série que venha apresentar todo o acervo em posse do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão da Fundação Nagib Haickel e que será executado por todos os cineastas maranhenses que desejem usá-lo, pois nós somos apenas os guardadores de um bem que não nos pertence, que pertence a todos os maranhenses, de ontem, de hoje e de amanhã.

Essa responsabilidade e esse orgulho nós temos. Preservar a nossa memória audiovisual, para que não nos esqueçamos jamais das pessoas que passaram ou não por nossas vidas e dos lugares pelos quais nós passamos ou aqueles que não tivemos oportunidade de conhecer.

“Pelos Olhos de L. L.” significará tudo isso: reconhecermos o valor do trabalho e da herança que nos foi legada por este grande profissional, identificarmos nela pessoas e fatos que fizeram a nossa história e preservarmos isso para nosso deleite e para as gerações futuras.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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