Leal ou fiel?

?

Sei de antemão que o que vou dizer aqui, hoje, neste nosso bate papo, vai chocar muita gente. Mas é assim que fui ensinado a agir e é assim que sempre faço na minha vida. Digo o que penso, mesmo que para isso tenha aprendido a dizê-lo de tal modo, que mesmo chocando algumas pessoas, o que diga, possa suscitar algum acréscimo no indispensável conhecimento de nós mesmos e da vida.
Sou da opinião que lealdade e fidelidade são duas coisas bem diferentes, em que pese o fato de serem facilmente confundíveis.

Diferenciar coisas tão parecidas, e que ainda por cima se completam e se confundem é uma tarefa extremamente difícil, o que geralmente requer que se usem exemplos claros e práticos para dirimir qualquer possível duvida.

A principio pode-se pensar que se trata do uso de palavras diferentes para expressar a mesma idéia, a mesma ação, o mesmo sentimento. Não é. Da mesma forma que ética é diferente de moral, lealdade difere de fidelidade.

Este é um tema tão controverso que talvez não iremos exauri-lo em uma única crônica dominical, mas mesmo assim vou tentar.

Lealdade é uma espécie de mãe, de coletivo de fidelidade. Lealdade você tem que ter em primeiro lugar para consigo mesmo para que só então, possa ser no mínimo fiel para com os outros.

O mais incrível nisso tudo é que o oposto de fidelidade é infidelidade e de lealdade é deslealdade. No entanto há uma palavra que sintetiza o oposto das duas. Traição. Inclusive, traição não possui um antônimo único, prefixal. Não existem as palavras intraição ou destraição.

Mais incrível ainda é que quando se fala de lealdade ou de fidelidade, o que nos vem imediatamente na cabeça, antes de qualquer outra coisa, é o seu antônimo.

Um cônjuge pode ser espiritual e mentalmente leal ao outro e ser carnalmente infiel. Este pode ser desleal mentalmente para com o outro sem nunca tê-lo traído carnalmente.

Tempos atrás comentei esse assunto numa roda de amigos e notei o mal estar que causei, principalmente em algumas mulheres que estavam na conversa. Para algumas delas pareceu que eu estava tentando tirar uma carta de seguro, uma licença previa e tácita para trair. Quem pensou assim se enganou. Tentava era mostra-lhes o peso, a importância de certas ações, de certos sentimentos, nem sempre claros, nem sempre bem entendidos.

Em minha opinião a lealdade é um sentimento maior, individual. Independente do outro. Meu, pra mim, por mim. Fidelidade é coisa externa, de mim para o outro. É o sentimento, o vinculo que há entre animal e amestrador. Entre senhor e servo.
Um político pode permanecer leal, mesmo não podendo cumprir um compromisso preestabelecido.

Mas às vezes seu código de ética é tão frágil, que não lhe fornece moral para que seja honrado e leal, fazendo com que se torne um reles traidor infiel.

Caso real é a historia daquele político que tendo se empenhado na candidatura de três correligionários, depois da eleição destes, teve tratamentos distinto de cada um deles.

O primeiro, apesar de ser analfabeto, mas tendo grande senso de honra manteve-se leal a si e fiel ao companheiro. Exceção que confirma a regra.
O segundo, apesar de pouco instruído, mas sendo sábio, antes de cometer qualquer ato que pudesse ser interpretado como infidelidade, chamou o bom amigo das horas difíceis e mostrou-lhe a situação em que se encontrava. Foi leal consigo e com o outro, apesar de não cumprir in totum o que havia sido acordado. Meno male.
O terceiro, apesar de doutor, sendo covarde o bastante para não enfrentar a situação de cabeça erguida, sumiu sem dar explicação. Foi desleal e infiel consigo e com o companheiro. Com esse, o julgamento da historia será impiedoso.

Mas o melhor e mais claro exemplo da diferença que há entre lealdade e fidelidade se encontra na historia medieval de Tristão e Isolda(não percam o filme em cartaz nos cinemas), onde o amor de um rapaz por uma moça supera o sentimento de gratidão e devoção dos dois para com o pai adotivo dele que é esposo dela.

Em Tristão e Isolda, ficam bem aclaradas as semelhanças e as diferenças entre lealdade e fidelidade.

Há uma linha tênue entre estes dois sentimentos, entre estas duas ações, mas em minha opinião, são coisas bem distintas uma da outra.

Se perguntarem pra mim como prefiro ser tratado, responderei sem titubear, prefiro que as pessoas me sejam leais.

PS: Assistindo as chamadas da próxima novela das vinte horas da Rede Globo, “Paginas da vida”, escrita por Manoel Carlos, vi que o personagem Olívia, interpretada por Ana Paula Arosio, diz uma coisa muito parecida com isso, lealdade e fidelidade não são a mesma coisa. Resta apenas se saber em que contexto será desenvolvida e explorada tal afirmação, por este que é um dos grandes mestres da polemica televisiva.

10 comentários em “Leal ou fiel?”

  1. parabens é a primeira vez que eu tenho prazer de ler sua materia,gostei muito espero que as proximas sejam bem entusiastica pois irei sempre ficar de olho.
    seja feliz
    nilton carlos
    PIO XII-MA

  2. As vezes leio os seus artigos.
    Estava lendo este último, e digo eu também prefiro que as pessoas sejam leais comigo, porque fidelidade é exclusividade e lealdade é ser verdadeiro.Eu não assisti o filme Tristão e Izolda, mas valeu a dica locarei.

  3. Hoje em dia está muito difícil encontrar um homem que tenha uma desses dois atributos, lealdade e fidelidade! Quando se consegue achar um que tenha uma dessas ou qualquer outra qualidade que seja, ou ele é casado, ou é comprometido ou não gosta de mulher… Acredito que você não se enquadre no último item… Mas fica uma questão!!! Você está casado ou comprometido!? Porque um homem inteligente, poderoso, rico e charmoso como você não pode está dando sopa por aí, né!? Estou me candidatando. HAHAHA!!!

  4. Joaquim, somente hoje descobri o seu blog. Li alguns posts, gostei de todos, mas especialmente deste. Parabéns, concordo plenamente. Muito bem escrito, você colocou em palavras exatamente o que eu penso. De hoje em diante, serei sua leitora assídua. Beijos.

  5. Caro Joaquim, não só por essa, mas por muitas outras opiniões e atitudes te admiro.Parabens.
    Rose de Carvalho-prof Educ física- São Luis -Ma

  6. Joaquim, você salvou minha semana. Ontem a noite entrei numa férrea discução com minha mãe por conta desses dois sentimentos, que para mim, são coisas totalmente diferentes. Para ela, por serem sinônimos, são iguais.
    Enquanto assistiamos ao filme “O Conde de Monte Cristo”, meu namorado comentou nas últimas cenas, que estava gostando do filme não pela luta de Edmond Dantes em escapar da prisão e fazer justiça com as próprias mãos, mas pela “fidelidade” que Jacopo tinha para com ele.
    Eu disse ao meu namorado que seria melhor dito “lealdade”, não “fidelidade”. Ele discordou. Eu expliquei, dando como exemplo um casal, onde um dos dois é infiel carnalmente, porém leal mentalmente. Bom, consegui ao menos fazer com que ele revisse seu modo de pensar quanto isso.
    Mas minha mãe insistiu até o fim que as duas coisas eram a mesma coisa. Ela acabou de me ligar pra dezer, mais uma vez, que eu estava errada.
    Quero mesmo é agradecer. Já estava começando a achar que havia realmente sido infeliz no que dissera. Mesmo pensando ainda, que são sentimentos distintos. Bom saber que sim, que sim, que há distinção. Muito obrigada!
    Ah… Amei seu blog. De agora em diante vou dar sempre uma “espiadinha”.

    beijosss

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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