Conversa sobre caos.

“No inicio, era o caos…” Qual a intenção do sujeito que escreveu no Gênesis tais palavras? Ou melhor, qual a intenção dos que, através da tradição verbal, fizeram com que essa idéia, essas palavras, chegasse até nós.
Quando escrevo, costumo pensar que existe o mundo e existe a palavra, existe a nossa experiência com mundo e a nossa experiência com a palavra. Na página em branco, na tela do computador, diante de mim está o caos do mundo e o caos da palavra que vou tentando ordenar, operando, deste modo, uma passagem, do vazio e/ou da desordem, para o ordenamento de meus pensamentos e de minhas idéias. Assim, por analogia, posso deduzir que caos é o total vazio, a existência absoluta do nada ou do mesmo modo, a definitiva inexistência qualquer coisa. Há também a possibilidade de caos, ser o que esta no dicionário, “grande confusão ou desordem”, sinônimo que se associa, pelo excesso de uso, imediatamente a essa palavra de origem grega.
Penso sobre o caos, que pode ser aquele causado por medidas econômicas do governo ou do mercado, que de vez em quando nos surpreendem, ou o caos ocasionado pelas chuvas, engarrafamentos, inundações ou catástrofes. No mundo da Física, por exemplo, os cientistas insistem em pesquisar sobre um tipo especial de caos, que assola o mundo microscópico da matéria, provocando desordem entre os átomos de uma mesma substância. Já na medicina, o caos é provocado pela desordem causada por átomos de uma substância alheia ao meio em questão, no caso o corpo humano.
Alguns filósofos acreditam que o caos não é tão desorganizado. Há uma certa ordem escondida por trás da confusão aparente. É possível então aproveitar certos estados “organizados” do caos estabilizá-los e devolver a harmonia à bagunça? Sou dos que acredita firmemente nisso.

Já houve quem apontasse o tema caos como forte candidato ao Prêmio Nobel de Física. Mas não vingou. Ganharam os quarks, as menores partículas da matéria comum. Há uns 30 anos, o cenário era mais pobre, cientistas achavam que não havia remédio para o caos. Mesmo a mais poderosa das matemáticas não poderia prever o futuro depois de instalada a desorganização. Com o status adquirido nas últimas décadas, o caos ganhou vigor e virou moda. Resultados teóricos e experimentais já comprovaram que até mesmo a passagem para o estado caótico é feita sob uma determinada ordem.
Eu prefiro, no entanto, estudar e pensar no caos de uma forma mais didática. Vejamos a agricultura: Antes do plantio há o caos, vazio ou desordem. Com trabalho se prepara a terra, se semeia, se colhe. Armazena-se e se come o fruto do fruto desse trabalho e recomeça o ciclo.
Em tudo, no mundo e na palavra, na idéia e na ação, o caos é presente, pois é somente dele que nascem as coisas. Só existe fato no caos, seja por existir o vazio, seja por haver a desordem. O certo mesmo, é que continuamos no inicio de onde acho que nunca saímos, no caos.
Hoje entendo um pouco mais da alma do poeta, pelo menos daquele que quando indagado de quando e como escrevia seus versos, respondia: “nunca quando esta tudo normal. É preciso cabeça ou vida, em calmaria ou vendaval.”

2 comentários em “Conversa sobre caos.”

  1. Cara, incrível como tu consegues falar das coisas do dia a dia das pessoas usando fatos e exemplos mais variados possível e sem ter nenhuma ligação direta com o assunto que tu queres realmente tratar!

  2. Alvaro da Costa Ribeiro

    Impressionante essa sua capacidade de dizer muita coisa a partir de coisa nenhuma e de desconstruir o discurso, filosofando a partir de assunto tão complicado.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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