Ame-os e doe-os

Num de seus contos mais famosos, A Biblioteca de Babel, Jorge Luis Borges imagina uma coleção infinita de livros. As obras repousam sobre estantes intermináveis. O escritor argentino escreve essa história chamando a atenção para as pessoas que têm a paixão e o zelo pelos livros, e que não cansam de conviver permanentemente com eles.
Nos últimos dias, estou experimentando uma dolorosa sensação de perda e, ao mesmo tempo, um sentimento de satisfação interior proporcionado pela certeza de estar prestando um bom serviço. Por conta de uma reforma que estou fazendo em minha casa, estou me desfazendo de meus livros. Livros que fizeram parte de minha infância e de minha juventude, livros que fazem parte de minhas paixões, livros aos quais devo boa parte de minha formação.
Faço estas doações na certeza de estar contribuindo para a formação de leitores apaixonados e curiosos. Pessoas que aprenderão que ler é quase como respirar, função essencial da nossa vida. Eu acredito que, mesmo com o avanço da informática e do surgimento de tecnologias cada vez mais sofisticadas, o futuro saberá preservar os livros. Acho que eles jamais vão desaparecer da face da Terra. Não serão suplantados pelas revolucionárias tecnologias que estão remodelando a vida moderna. Afinal, para usar um computador, precisa-se saber ler e romances e novelas não são confortáveis de serem lidos em computadores, não é possível dobrar um computador para ler na cama ou leva-lo providencialmente para o banheiro.
Além disso, o número de livros impressos aumenta a cada ano, e graças a deus o percentual de alfabetizados também. Nunca é demais lembrar que o livro permite que o leitor pense. Livro é só papel e marcas pretas, mas trás uma possibilidade única de criar e recriar o pensamento, fazendo com que as pessoas cresçam.
Por isto, estou doando toda a minha coleção de Kalil Gibran, algumas edições da Bíblia sagrada e do Novo Testamento, livros antigos como Atos do governo provisório, e enciclopédias como o Tesouro da Juventude, o Mundo Encantado da Criança, BARSA, Mirador, Delta Larousse, Delta Junior, entre outras, que totalizam cerca de quatro mil volumes, livros que eram de um Joaquim de 20, 25 anos atrás.
Resolvi, no entanto, não abrir mão de alguns livros, que têm um valor sentimental, algumas encadernações raras e antigas, como as famosas Centúrias de Nostradamus, edição de 1919, como O Príncipe, de Maquiavel, de 1922 e a competente e salvadora coleção Nosso Século, além dos poucos livros que pertenceram ao meu pai, como A lei quer que eu morra e Cela 2238, corredor da morte, de Carl Chessman e livros como o relatório da comissão presidida pelo juiz Earl Warren que apurou o assassinato do presidente John Kennedy e Como fazer amigos e influenciar as pessoas, lendo esse ele aprendeu.
Também não consegui me desfazer de alguns dos melhores livros de poesia. Já as obras literárias que resultaram em adaptações para o cinema que gosto tanto, estas também se vão. São grandes obras da literatura como é o caso do livro Os Dublinenses, de James Joyce, que virou o filme Os Vivos e os Mortos, dirigido por John Huston. Spartacus, vigoroso romance histórico de Howard Fast, convertido numa superprodução, com cenas grandiosas de batalhas, retratando a decadência do Império Romano. A obra Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, eletrizante fábula de horror ambientada no futuro em que um jovem fascinado pela violência, sofre uma lavagem cerebral para livrar-se de seus instintos animalescos. O romance …E o Vento Levou, de Margaret Mitchell, obra-prima do grande produtor David Selznick, que tão bem adaptou o livro à tela.
As obras que estou doando poderão fazer a diferença na vida de muita gente, porque o amor pelo livro pode custar a se instalar, mas, quando pega, é paixão para a vida inteira.

6 comentários em “Ame-os e doe-os”

  1. Parabéns pela doação, digna das pessoas que acreditam que a leitura é importante na formação do ser humano e indispensável para a sua vida.
    O Deputado poderia citar para quem os livros foram doados?

  2. Sr. Joaquim Nagib, boa noite

    Navegando à procura de informações sobre a Enciclopédia Tesouro da Juventude, encontrei este artigo onde o sr. cita sobre a doação de vários livros.
    Sei que já se passou muito tempo desde então, quase um ano. Mas sou uma mãe interessada em conseguir tal coleção para meus filhos, sem poder aquisitivo para adquirí-la integralmente. Sendo assim, caso tenha alguma informação de como posso entrar em contato com alguém que conheça que tenha interesse em vender, ou quem sabe doar, peço-lhe a gentileza que entre em contato comigo. Sei o quanto a boa leitura faz pela formação intelectual e moral do indivíduo e incentivo muito meus filhos, um garoto de 08 anos e uma adolescente de 15, a cultivarem este bom hábito.

    Aguardo um retorno.

    Atenciosamente,

    Valderez

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima