Notícias da estrada 1.

Há semanas tento escrever uma crônica sobre as peripécias da campanha política, mas a única coisa que consegui até agora foi fazer algumas anotações. São observações e reflexões sobre a vida de um candidato e curiosidades sobre a estrada. Quando digo estrada, falo num sentido mais amplo. Estrada como metáfora de vida, de suas circunstancias e de suas conseqüências.
Ai vão algumas destas anotações. Espero que assim, listadas, virem uma crônica boa de se ler e suficientemente boa pra se refletir um pouco sobre nosso atual momento político.
1- Ao sair de um torneio de futsal, depois de jogar num time que foi vice-campeão, fui chamado por um rapaz que me pediu que lhe presenteasse um par de tênis. O meu, aquele em que eu estava calçado. Fiquei pasmo, mas como tenho resposta pra quase tudo, imaginei faze-lo desistir de seu intento, dizendo que meu tênis não caberia em seus pés. Perguntei-lhe qual sua pontuação e ele disse calçar 41. Então disse a ele que como calço 45, meus tênis não iriam lhe servir. Com isso pensei que ele se desse por satisfeito, mas qual nada… “Não tem problema, me dê ele assim mesmo!” Só me restou então sorrir, entrar no carro e ir embora. Fui, mas me sentindo angustiado e constrangido. Era como se o meu valor, o valor do meu trabalho, se restringisse ao preço de um surrado par de tênis.
2- Nos últimos anos a prática da traição, que é comum na política, tornou-se ingrediente indispensável em nosso cardápio. Foi um tal de “filho” apunhalar “pai”, insultar “irmã”, rejeitar “irmão”, cuspir nos pratos em que comeu. A epidemia se alastrou de tal forma que chegou ao cumulo de ter esposa que desconheceu todos os compromissos para com o esposo. E olha que neste caso não estou falando simplesmente de fidelidade, mas de lealdade. E as coisas foram além. Políticos até então considerados sérios resolveram abandonar aqueles que sempre estiveram do seu lado, muitos em troca de benefícios para seus municípios, outros simplesmente a troco de ganhos pessoais. Foi um verdadeiro festival de punhaladas. Umas maiores, outras menores. Umas de canivete, outras de facão. Uma com aviso prévio, outras na mais completa surdina. Teve de tudo, pra todos os gostos. Teve até aquele prefeito que por muitos anos foi funcionário do gabinete de um determinado deputado, o mesmo deputado que sempre esteve ao seu ao lado, ao lado de sua família e de seus correligionários em todas as horas, e ainda assim o tal prefeito abandonou seu deputado da forma mais cruel que possa existir, para alguém que mais que um cabo eleitoral, era um verdadeiro amigo, quase um irmão.
Mas como diz o ditado, o que é do homem o bicho não come, a grande maioria dos que foram, já voltaram. Os que não chegaram, estão a caminho.
3- A legislação eleitoral vigente trás boas inovações como o fim do showmicio, mas em compensação proíbe aquela, que em minha opinião, é a melhor das propagandas. As camisetas. Com ela o cidadão veste a camisa e mostra a foto do candidato, seu nome e o seu numero. Em que isso pode configurar abuso de poder econômico? Já que carros de som, panfletagem, pichação de muros, cartazes de todos os tamanhos, tudo isso também configura gasto! De verdade!? Será que alguém vota num candidato apenas por ter ganhado uma camiseta!? Se um candidato tem mais recurso financeiro que outro terá mais carros de som, por exemplo. O mesmo aconteceria com as camisetas. A única justificativa é o fato de que a camiseta passa a ser propriedade do usuário. Mas se analisarmos do ponto de vista da propaganda, este é um pagamento bem menor que o efetuado àquelas pessoas que participam de bandeiraços, panfletagem ou carreatas! Falta conhecimento pratico aos teóricos “legisladores eleitorais” de nosso país.
4- A Academia Imperatrizense de Letras é com toda certeza, proporcionalmente, a instituição que mais contribuiu com candidatos nesta eleição. A Academia tem quarenta membros e seu presidente, o pastor Luis Porto, é candidato a vice-governador. Dr. Fiquene é candidato a suplente de senador. São candidatos a deputado estadual, alem deste humilde cronista que vos fala, os acadêmicos Adalberto Franklin, Domingos César e Edmilson Sanches. Para deputado federal, temos um pai de candidato, caso de Sálvio Dino. São 15% ou seja, seis de seus membros na disputa por uma das 64 vagas em jogo. Esta é mais uma prova de que o Estado do Maranhão do Sul é apenas uma questão de tempo, e quando vier, estará bem alicerçado.
5- O deputado Nagib Haickel, que entre outras coisas era meu pai, morreu faz treze anos e mesmo assim, aonde chego, todo mundo ainda se lembra dele. Dos bom-bons que ele distribuía de dentro de seu fusquinha vermelho, passando pelo jogo de futebol que irradiava nos palanques e terminando nas historinhas engraçadas que costumava contar nos comícios. Ninguém esqueceu dele nem dos milhares de empregos que ele distribuiu durante os quase vinte e oito anos em que foi deputado. Em Guimarães um grupo de barrigudos jogadores de futebol de meia idade se orgulha muito de seu atual preparo físico, alguns chegam a dizer que sua atual boa forma deve-se ao fato de que quando criança, saírem em desabalada carreira atrás dos bom-bons que Nagibão jogava. Em Matinha, uma senhora se lembra com orgulho de que, com o emprego de professora que meu pai lhe conseguiu em 1972, no governo Pedro Neiva, ela pôde criar e educar os seis filhos, “quatro dos quais são hoje doutores”.
6- Fomos eu e o ex-prefeito de Primeira Cruz, João Neto, que não é apenas um correligionário, mas um amigo, numa festa na cidade de Humberto de Campos. Lá fomos recepcionados por Dona Neide Sabóia, sua família e seus amigos. Quando entramos na praça, do show havia uma multidão de pessoas. Eu fui passando e notei que uma moça na casa dos vinte quase trinta, não parava de me olhar. Fui cumprimentando a todos e quando cheguei nela, ela sorriu e disse: “Já conheço o senhor. O senhor escreve aos domingos no Jornal O Estado do Maranhão. Não perco nenhuma de suas crônicas. Tratam sempre dos assuntos do cotidiano das pessoas. Sou sua fã.” Naquela hora ganhei o dia. Na verdade ganhei a semana, o mês, o ano. É muito bom quando você consegue atingir seus objetivos, e acredito que através da literatura também possamos mudar a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país, o mundo.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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