O Via Voice e a revisão.

Talvez tenha sido este o texto mais complicado que já tentei escrever em toda minha vida. Não pelo tema nem pela forma de abordagem que escolhi, mas devido à ferramenta que pela primeira vez estou utilizando para isso.

Trata-se de um software de digitação por acionamento de voz. Coisinha complicada, essa de ensinar um computador a ouvir e a escrever o que você dita. Em meio a isso ele capta até sua respiração ou mesmo algum som involuntário que você faça como, por exemplo, um espirro, ou o trinitar de um telefone e claro, até mesmo uma conversa paralela que você mantiver com esse estrupício ligado.

Se diz “essa”, e o bichinho aqui entende “peça”. A gente diz “diz”, e o bichinho entende “quis”. Diz “bichinho”, e o “bichinho” entende “Ibsen” (de onde será que ele tirou isso!?), e o que é pior, de repente, sozinho, ele escreve Pinheiro. Imagino eu que ele deva ter a incrível capacidade de fazer análises de semelhanças fonéticas com textos arquivados em bancos de dados vinculados ao Word.

De vez enquando noto que esse instrumento, muito oportunamente denominado pela IBM, de Via Voice, começa a escrever sozinho como se simplesmente psicografasse vozes. Mesmo assim, com todos estes problemas de incompatibilidade de gênios entre este operador que vos fala e esse programa que me escuta e traduz o som de minha voz em letras e palavras no monitor do computador, este software é um grande avanço tecnológico e mais uma importante conquista do incrível espírito empreendedor humano.

Imagine só quantas utilidades o sucesso do desenvolvimento de um projeto como este pode trazer para, por exemplo, pessoas tetraplégicas ou cegas! Ou para as simplesmente inaptas, que como eu, não são boas em digitar um texto!

Mas quando me sentei aqui para escrever, ou melhor, para ditar esta minha crônica, a minha intenção não era a de comentar sobre o Via Voice, mas ele se impôs, me deu tanto trabalho que não teve jeito.

Na verdade gostaria de falar de outra coisa, de algo menos tecnológico. Gostaria de falar sobre a comissão de estudos para adaptação a Constituição do nosso Estado e do regimento interno de nossa Assembléia Legislativa.

Sabedores de que toda lei precisa de tempos em tempos ser revista, esta comissão que é presidida por mim, que tem como vice-presidente o deputado Chico Gomes, como relator o deputado Rubens Junior, e como membros os deputados, Vitor Mendes, Penaldon Moreira, Marcelo Tavares e Pedro Veloso, têm uma tarefa que não é fácil, mas é bastante honrosa e prazerosa.

No caso de nossa constituição, que foi elaborada em 1989 – e já lá se vão 18 anos – ela nunca foi revista nem revisada. Já foi até bastante emendada, mas nunca com o cuidado necessário para se ter incluído em seu texto um dispositivo que há muito tempo já usamos apesar de não estar contido nela: A reeleição para os cargos de governador e de vice-governador de estado.

Há ainda em nossa carta constitucional alusão ao Tribunal de Alçada. Imaginem só!? Estes incríveis absurdos são apenas dois exemplos da grande necessidade do trabalho desta comissão.

Em pior situação está o regimento interno da ALM, que mesmo tendo sido revisado há menos de quatro anos já carece de novos cuidados, tanto no aspecto jurídico, mas principalmente em sua parte lógica.

O regimento é um manual de instruções de um produto inacabado – o ambiente em que se desenrola ou quem sabe, se enrola, o processo legislativo – e por isso mesmo vive sendo constantemente adaptado.

No que diz respeito à constituição, os trabalhos já estão bem adiantados graças ao esforço do relator, que junto comigo levantou esta questão no inicio dos trabalhos desta legislatura, bem como pela indispensável colaboração de um excelente grupo de consultores que nossa casa admitiu através de concurso publico realizado em 2003.

O regimento demandará mais tempo e mais trabalho, pois ele é na verdade um código de relacionamento do poder legislativo. Trata dos trabalhos da Assembléia, das sessões, das comissões permanentes e temporárias, de como os deputados devem se portar no exercício de seu mandato. Trata das atribuições dos cargos funcionais da Casa. Deve tratar de tudo que faz funcionar ou que possa atrapalhar o funcionamento da ALM.

Espero que façamos um bom trabalho e que ele perdure durante bastante tempo.

PS: Todo este texto foi ditado no programa Via Voice, de IBM, mas cá pra nós, novas tecnologias são coisinhas complicadas. Mas é assim que começa. Daqui a algum tempo, essa irá estar tão aprimorada que a próxima revisão da constituição do Maranhão e do regimento interno da ALM será feita com uma geringonça parecida, neta desta, mas que seja mais inteligentinha, tenha ouvidos mais apurado, e seja à prova de operador incompetente como eu.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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