A colecionadora
Ela começou muito cedo. Primeiro foram Barbies. Tinha de todos os tipos. Depois foram as figurinhas dessas de álbuns. Coisa chata!
Depois ela resolveu colecionar latinhas de refrigerantes, cervejas e energéticos. As caixinhas de fósforos foi o passo seguinte, um pulo para os maços vazios de cigarros, de todos os países do mundo.
Autógrafos de seus ídolos, borboletas. Ela colecionava de tudo. À proporção que o tempo passava e ela crescia, suas coleções se diversificavam e se sofisticavam. Selos, imãs de geladeira, chaveiros, bichinhos de pelúcia, caixas, moedas, dedais, relógios de pulso, gibis, carrinhos, soldadinhos de massa, livros autografados, canetas. Bebidas eram várias: Whisky, vinho, vodka, cachaça… Um dia ela acordou e olhou em volta e descobriu que a sua vida era uma grande estante, uma grande caixa, um imenso depósito. Resolveu se desfazer de todas as suas coleções. Deu ou vendeu. Pouco importava, estava decidida a iniciar uma nova e definitiva coleção. Dali em diante colecionaria pessoas. Não precisaria levá-las para casa, espetar-lhes alfinetes, pregá-las em um papel, plastificá-las, nem mesmo classificá-las. Colecionar pessoas para ela seria mais que um passatempo, seria antes de tudo uma forma dela se deixar levar, ser espetada, classificada. Seria uma forma direta e eficiente dela se deixar colecionar. Anos depois alguém diria a ela que o que ela havia feito de melhor na vida era colecionar, ao que ela respondeu terna e suavemente: “Jamais fui uma colecionadora. O que na verdade eu fazia era a me envolver com todas aquelas coisa e pessoas”.
Depois de um instante em silêncio, ela completou: “Com as coisas eu me envolvia, com as pessoas me desenvolvia”.
PS: Gostaria muito de ter publicado hoje algo sobre a eleição municipal neste segundo turno, mas devido ao fato de estar viajando e não ter tido tempo de fechar o meu texto, coloco aqui esse micro-conto da vida real, nesse lugar onde deveria estar outra história, menos real.
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