A águia e o rato
Passei boa parte de 2008 querendo escrever algo sobre a eleição para presidente dos Estados Unidos e só agora faltando apenas um dia para o momento decisivo, consigo comentar sobre essa escolha tão importante para o mundo, para toda a humanidade, que acredito até que deveríamos todos nós também poder escolher aquele que governará os Estados Unidos, e que de quebra será nosso roteirista e muitas vezes diretor, pois de certa forma o ocupante desse cargo acaba invariavelmente influindo de forma decisiva nas vidas de todos nós.
Em que pese eu ser político, vivendo no meio de leis e procedimentos eleitorais, mesmo assim as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América me parecem bem confusas. Na verdade elas são além de muito confusas, bastante diferentes das nossas. Entre eleger um presidente no Brasil onde o voto direto do povo é que manda, nos EUA, o voto popular não conta tanto assim. Parece absurdo, mas é verdade, veja só: Para se candidatar à Presidência nos Estados Unidos é preciso ter no mínimo 35 anos de idade, ser nascido no país e viver lá por pelo menos 14 anos. Além disso, o voto nos Estados Unidos é feito por meio de cartões perfurados, e o principal, não é obrigatório. Para se ter uma idéia da participação política e eleitoral dos norte-americanos, na última eleição para Presidente, dos cerca de 300 milhões de americanos, apenas algo em torno de 142 milhões de eleitores se registraram para votar.
Como em muitos lugares, primeiramente os norte-americanos escolhem seus candidatos à candidato à Presidência de dentro de cada partido. Existem vários partidos nos EUA, porém, apenas os dois maiores, o Democrata e o Republicano, têm chance de eleger o Presidente.
Para decidir quem representará o partido nas eleições, são feitas eleições primárias (ou prévias) em todos os Estados, para que o povo escolha quem será o candidato de cada partido. Quem escolhe os candidatos à indicação do partido são os delegados partidários. Cada Estado, então, decide como serão as primárias, abertas, fechadas, livres ou do tipo “cáucus”. Dessa forma, decidem se os votantes devem ser filiados aos partidos, se podem participar das prévias dos dois partidos, e etc.
As prévias começam bem antes das eleições à Presidência e o candidato escolhido é confirmado nas Convenções Partidárias. O candidato nomeado como candidato à Presidente escolhe quem será o seu vice.
É aqui que as coisas começam a se complicar, no quesito entendimento. Como disse anteriormente, nos EUA o povo não vota diretamente em seu candidato à Presidência da República. A população escolhe quem vai escolher o seu líder governamental, os chamados de delegados. Cada estado tem um número de delegados, que é relativo ao número de habitantes. Quanto mais populoso o Estado, maior o número de delegados. Assim, é constituído o Colégio Eleitoral estadual, que deve ter, no mínimo, 03 delegados. Como a Constituição, em 1787, instituiu a autonomia dos Estados, cada um dos 50 existentes nos EUA decide como escolherá seus delegados.
Ao todo, há um número de 540 delegados que fazem parte do Colégio Eleitoral nos Estados Unidos. Para ser eleito, o candidato deve ter o voto de 50% mais um dos delegados (271). Por mais votos populares que o candidato tenha, o mais importante é ter votos do Colégio Eleitoral, pois é ele que escolhe o novo Presidente.
Na maioria das vezes, o Colégio Eleitoral segue a tendência dos votos populares, elegendo o mesmo candidato votado pelo povo. Porém, por quatro vezes os delegados escolheram um candidato não escolhido pelo voto popular. Em 2000, por exemplo, o candidato democrata Al Gore teve mais votos populares que o republicano George W. Bush, um total de 51.003.926, contra 50.460.110. Porém, Bush teve mais votos no Colégio Eleitoral (271 a 266) e acabou elegendo-se Presidente dos Estados Unidos.
Bem, a minha intenção era falar da parte teórica e filosófica da política e acabei por falar da parte eleitoral dela, mas sem esse entendimento, acredito que é impossível se ter uma visão real de como agem e pensam os gringos.
No mais, fica a certeza de que o Obama vencerá as eleições, que terá muito trabalho para liderar um povo conservador, que vive em uma sociedade hipócrita, mas que em compensação terá a seu favor as solidas instituições democráticas, capazes de transformar cenários negativos em panorama favorável.
Rezo para que Obama não se torne rapidamente um herói, um mártir e que consiga guiar de maneira satisfatória, não só os americanos, mas também ao mundo, nessa grave crise na qual nos encontramos.
PS: 1) Bush é tão ruim que McCain me parece até bom!
2) Não creio que Obama seja assim tão bom, mas o acho indispensável para o momento, e o fato dele ser negro e filho de imigrante, ao invés de ser um ponto negativo, para o mundo, isso é o fato primordial.
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