De Recife

Confesso que estou sentindo um certo remorso por não estar aí no Maranhão numa hora dessas, de tanta calamidade provocada pelas cheias de nossos rios devido à grande quantidade de chuvas que estão desabando sobre nossas cabeças, mas de certa forma me conformo pelo fato de saber que tudo que é possível fazer está sendo feito, tanto no âmbito da Assembléia Legislativa, quanto dos governos municipal, estadual e federal, para que toda essa dificuldade seja pelo menos em parte remediada e que possamos imediatamente solucionar os problemas dos atingidos para posteriormente, num médio prazo, tentarmos solucionar os problemas estruturais que recorrentemente causam tamanho transtorno. 

Também gostaria de ter estado aí nas festas de comemoração do cinqüentenário do Jornal O Estado do Maranhão, esse que é o mais importante jornal de nossa terra. Gostaria de ter estado aí para o aniversário de Maria Adriana, para passar o feriado com minha namorada e com meus amigos, para ir hoje jogar basquete na Praia do Meio. Gostaria de estar ai para ir almoçar com minha mãe, com minhas mães, pois como sou um sujeito afortunado, tenho várias. Gostaria de estar aí para, mais tarde, ir ao cinema com Jacira…

Mas o fato é que estou em Recife, participando do Cine – PE, um dos mais importantes e prestigiados festivais de cinema de nosso país. Por aqui se encontram os mais importantes produtores, diretores, roteiristas, fotógrafos, atores e técnicos de todas as áreas ligadas ao cinema. Por aqui dei de cara com bons amigos que fiz nesses dez meses que participo desse mundo de gente fascinante e louca.

Uma das primeiras pessoas que encontrei por aqui foi ninguém menos que a pessoa que simboliza o cinema maranhense, Euclides Moreira. Ele hoje dirige a Fundação Municipal de Cultura de São Luis, a capital brasileira da cultura nesse ano de 2009, que é bom que se lembre, completará 400 anos em 2012, data que deveremos comemorar com pompa, circunstância e conteúdo.

Estar aqui entre tanta gente que vive cinema 24 horas por dia faz com que eu tome consciência definitiva de que realmente não sou um cineasta, que sou apenas um escritor que ama cinema e que teve a sorte de ter feito um filme considerado por muitos um trabalho bem elaborado, bem estruturado, bem produzido, bem consolidado e bem finalizado. Isso não faz de mim um cineasta. Estou longe disso. Essas pessoas que estão aqui, que estarão em junho em São Luís, estas sim, são cineastas, vivem o cinema. Eu apenas o amo, sou um viciado nele.

Por falar em vício, encontrei por aqui também o Celso Sabadin, importante critico de cinema e curador de diversos festivais por esse mundo afora, inclusive foi ele o responsável pela seleção de “Pelo Ouvido” para alguns deles, e perguntei-lhe se ele acreditava realmente que cinema causa dependência. Se seria possível classificar-se o excessivo interesse por cinema como distúrbio, se isso era uma doença grave, ao que ele respondeu sorrindo que sim, disse que é um grave distúrbio para o qual não há medicamentos recomendáveis, terapia ou substitutivo. Que pipoca engorda e que a proliferação de emissoras de TV a cabo e de vídeos clubes têm feito esse mal se proliferar, graças a Deus, e deu uma frondosa e simpática gargalhada.

Conheci também um homem que ajudou a construir muito da minha consciência política, assim como de meus contemporâneos. Trata-se de Costantin Costa Gravas que foi homenageado pelo festival nesse ano. Costa Gravas é o diretor de importantes filmes de cunho político e ideológico realizados nos anos 70 e 80 como “Z”, “Estado de Sitio”, “O Corte”, “Amém”, “O Quarto Poder”, “Desaparecidos, o Grande Mistério” entre outros.

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Costantin Costa Gravas

Passaram por aqui alguns monstros sagrados do cinema nacional como Lucy e Luis Carlos Barreto, Zelito Viana (filho do coronel Oliveira Paula e irmão de meus amigos Anísio, Roberto, Batatinha, Cachaça…), Aníbal Massaini Neto, Paulo Mendonça, Luis Carlos Lacerda, Assunção Hernandes, Hermes Leal e também o dinossaurico José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Pude reencontrar velhos amigos como Jaciara Guerreiro, Chico Dias, Abdalla, Fabio Barreto, Lirio Ferreira e Denise Dumont, além de ter conhecido Silvio Back, Cássio Gabus Mendes, Silvia Buarque de Holanda, Paula Barreto e Maria Padilha, Silvia Levy e Darcy Cunha Santos.

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Zé do Caixão

Além de Costa Gravas também foram homenageados o diretor Roberto Farias, a atriz Dira Paes e o Canal Brasil, principal vitrine do cinema nacional na televisão, que nesse festival premiará um curta metragem que passará a ser exibido por eles nacionalmente, inclusive “Pelo Ouvido” está participando também dessa competição.

Para encerrar gostaria de conclamar a todos, principalmente as empresas de minha terra e a Secretaria de Cultura do Estado para que apóiem o cinema local, começando pelo Festival Guarnicê, promovido há 32 anos pela Universidade Federal do Maranhão e de Euclides Moreira, pois são iniciativas como essa que consolidam a nossa cultura.

3 comentários em “De Recife”

  1. sua forma de escrever faz com eu me sinta nos lugares que voce descreve, chego a sentir o cheiro, ouvir o burburinho, sentir o clima.
    eu vejo claramente o que leio quando voce escreve… incrivel!!!

  2. Joaquim,

    Que bom que você voltou….já estávamos sentindo sua falta. Mas, apesaar de tudo, entendemos que você às vezes precisa se dividir e nem sempre pode dar a devida atenção às prioridades do momento. Compreendemos que durante um feriado, você pode sim, se dar ao direito de se dedicar a seus projetos particulares…e nem tão particulares assim, já que seu filme se tornou nosso, desde que se mostrou muitas vezes o único representante do Brasil em vários festivais. Sabemos que você está de volta e já se dedicando novamente aos problemas de nossa terra. Seja bem vindo!

  3. Lauande Botelho

    Olá, sou de São Luís e moro a dois anos em Recife, e gostaria de registrar que tive oportunidade de assistir “Pelo ouvido” e me sinto orgulhoso por ser Maranhense, e por ter conterrâneo de tanto talento em uma arte pela qual tenho paixão. Infelizmente não pude cumprimentá-lo, pois quando o vi após o filme, estava conversando e não quis incomodar, mas aqui registro minhas felicitações pelo talento e pelo belíssimo filme….a quem eu gritei pra todos os amigos presentes…”Talento do Maranhão”

    Um forte abraço!

    Resposta: Fico muito feliz em saber que você gostou de Pelo Ouvido. Esse é o verdadeiro prêmio que se ganha em participar de um festival de cinema, o reconhecimento das pessoas que nos assistem. Muito obrigado por suas carinhosas palavras. Se você quiser saber mais sobre o filme visite o site http://www.peloouvido.com

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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