Comentário digno de nota: 10

O comentarista que se diz Fidel de Pijamas mandou o comentário abaixo para o texto “Berro!?” e eu sem saber de quem se tratava pedi permissão para repercuti-lo aqui nesse espaço e dividi-lo com vocês, como ele não respondeu eu interpretei isso como consentimento. Espero que gostem desse texto tanto quanto eu gostei.

Na peça Tímon de Atenas, Shakespeare dá uma bordoada em todos nós, desculpem palavra tão dura, quando pergunta por meio do filósofo Apemanto: “Qual o homem que morre sem levar para o túmulo a lesão de um pontapé oferecido por um amigo”? Quem de nós nunca levou uma mordida da ingratidão, “esse demônio do coração de mármore”? Com certeza, ninguém!

Tímon é um rico general, aposentado, puro, generosíssimo, e um de seus maiores defeitos repousa na crença da amizade. Sua casa é uma festa só, cheia de amigos desfrutando de seus banquetes e seus presentes caros. Avaro de elogios, cobre seus aduladores de prodigalidades. Enfim arruinado, apela aos amigos por dinheiro. Nada consegue. Diante de um “não” pronunciado por um de seus “amigos”, seu secretário Flávio reage: “Ó! Observai como o homem é monstruoso, quando se mostra debaixo da forma da ingratidão!”.

Na peça Como Gostais, o Duque de Milão é traído pelo próprio irmão, que lhe toma o trono e o expulsa da cidade. Um companheiro consola o desterrado príncipe com esta triste canção: “Sopra, sopra vento hibernal, não és assim tão infernal, como é a humana ingratidão. Teu dente não é tão agudo, porque não és visto, mas é rude teu hálito de furacão… e não mordes tão pungente como a vileza do ingrato”.

E o velho Rei Lear, que divide o reino entre as filhas, é rejeitado por elas. Com o coração dilacerado chora de dor: “Ó Rejane, tua irmã não presta! Como um abutre, enterrou aqui o bico acerado da ingratidão”. E o velho Lear teatralmente repuxa as carnes do próprio corpo como se quisesse arrancar as filhas de si mesmo.

O desafortunado Othelo, vítima de uma trama perversa que o fez sufocar sua esposa Desdêmona, olha para Iago, o homem que o traiu, e se revolta: “pergunta para esse meio demônio por que envenenou meu sangue e minha alma”.

DEPUTADO, ESSE ARTIGO RETRATA MUITO BEM A POLÍTICA DO MARANHÃO. A CARAPUÇA ESTÁ SOB MEDIDA, PARA A CABEÇA DE FULANO, BELTRANO , SICRANO  E ETC….

A INGRATIDÃO

Nem mesmo Shakespeare escapou de pontapés por estar vivo dois séculos depois de ser enterrado em Stratford. O filósofo e satirista Voltaire tentou, durante parte de sua vida, demolir a fama de Shakespeare. O caso de Voltaire não é bem de ingratidão, mas de inveja. Afinal Voltaire escreveu 54 peças teatrais. Alguém sabia que ele era dramaturgo?

E em Tróilus e Créssida, Shakespeare nos explica esse sentimento, a ingratidão. Quem fala é Ulisses enquanto aconselha Aquiles: “O Tempo, meu senhor, tem nas costas um saco, dentro do qual coloca as esmolas para o Esquecimento, esse monstro enorme da ingratidão. Esses restos são as boas ações do passado, devoradas tão rapidamente quanto foram feitas, e tão depressa esquecidas quanto foram terminadas”.

Não acredito que alguém tenha conseguido contrariar a afirmação de Apemanto. Tímon deu muito, porque achava que todos eram iguais a ele, porque acreditava que quem dá recebe. Aí vem o Tempo para colocar as esmolas no saco do esquecimento. Depois que se devora, se esquece. Resta-nos corroer-nos de dor.

Pudemos observar que os ingratos são de naturezas diversas: amigos, filhos, empregados!O que devemos fazer, então, para escapar desse vilão chamado ingratidão? É o próprio Shakespeare quem responde por meio do conselho de Polonius ao filho Laertes: “Os amigos que tiveres e cuja adoção puseres à prova, sujeita-os à tua alma com arcos de aço”. É assim que tenho procurado fazer com todas as pessoas que amo!

Theófilo Silva é presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e colaborador da Rádio do Moreno.

Resposta: Meu caríssimo Fidel de Pijamas quero agradecer-lhe por tão maravilhoso presente. Nunca um comentário neste blog foi lido e relido tantas vezes por este peripatético vivente, por este disléxico escrevente, como esse que você me enviou.

Profundo e completo sendo claro e simples. Para mim, perfeito.

Identifiquei imediatamente dezenas de cabeças e acho que é bem possível passar-se dias relacionando centenas delas, catalogando-se os casos específicos adaptáveis a todas as carapuças exemplificadas nessa pequenina jóia que você me mandou.

A ingratidão e a traição são apenas duas das características acentuadas nesse seu texto e elas são as duas mais freqüentes companheiras da arrogância e da prepotência, coisas que não são privilégios apenas dos poderosos ou dos políticos, como pode alguém pensar.

Permita-me repercutir esse comentário na minha publicação de quarta-feira próxima, e mais, permita-me sair da escuridão do desconhecimento causado pelo uso que você faz do anonimato. Permita-me puder privar mais proximamente de sua amizade, pois mesmo que sejamos antagônicos em qualquer âmbito, seja você flamenguista ou membro do PT, PSB, PSDB ou PDT, terá deste vascaíno e pmdbista aqui o respeito e a admiração que dedico a todos, inclusive aos que discordam de meus posicionamentos futebolísticos e políticos. Tenho certeza, pelo que demonstra o seu texto, que iríamos nos divertir bastante comentando de forma bem humorada as idas e vindas dessa gangorra que convencionamos chamar de vida.

PS: O texto do Theófilo Silva, presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília, é perfeito.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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