Amizade e Respeito
Esta semana mais uma vez me questionei sobre qual seria, dentre todos, o sentimento mais importante e acabei esbarrando no grande poeta Vinícius de Moraes que dizia, causando polêmica, que a amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, pois ela permite que o seu instrumento, o amigo, e o seu objeto, a amizade, sejam divididos com outras pessoas e com outros afetos. O amor, por sua vez traz em si, a posse e o ciúme, coisas que não admitem a menor divisão ou rivalidade. A amizade é um sentimento coletivo, plural e o amor é individual, singular.
Algumas vezes, nós nem procuramos alguns de nossos amigos, mas basta sabermos que eles existem e esta mera condição nos encoraja a seguir em frente pela vida. Por isso, mesmo sem que eles saibam, devemos rezar por eles, e é nessa hora que de certa forma me envergonho, porque essa minha prece é em síntese, dirigida não apenas ao bem-estar de meus amigos, mas ao meu bem próprio estar pessoal.
Se há uma coisa que me consome é o fato de que o movimento da roda da vida muitas vezes não me permite que eu tenha ao meu lado, andando comigo, convivendo comigo, alguns de meus melhores amigos, ou mesmo alguns daqueles que não são nem assim tão grandes amigos, mas que se tornam bons companheiros de jornada. Volto a Vinícius só para constatar que é verdade que a gente não faz amigos, apenas os reconhece.
Há no entanto em minha opinião outro sentimento tão importante e nobre quanto o amor ou a amizade. O respeito. O respeito pelo próximo, pelo outro. O respeito por nós mesmos. Ter respeito é fundamental para que sejamos respeitados. Respeitados pelas pessoas mais idosas e vividas e pelas crianças com sua desconcertante sabedoria. É! As crianças também possuem uma grande sabedoria. O respeito é um sentimento que tem que estar inserido em todos os outros sentimentos.
É muito importante que sejamos respeitados pelos nossos amigos assim como pelos nossos “inimigos” também! O respeito mais importante talvez seja exatamente o respeito que temos pelas pessoas de quem discordamos, pessoas que por uma razão ou por outra, não comunguem das mesmas idéias que nós. O respeito deles para conosco, é a maior honraria que se pode almejar. O cumprimento sincero de um adversário leal e correto após uma peleja, seja ela no esporte, na política ou na vida, é um dos maiores prazeres e uma das maiores realizações que eu já experimentei.
“Josué Montello, o nosso grande romancista de Os Tambores de São Luís, o ensaísta, o crítico literário e o memorialista, escreveu um volume de 400 páginas sobre Os inimigos de Machado de Assis. É um livro-documentário, sem qualquer objetivo de defender Machado ou de fazer retaliações a seus ferozes detratores, é uma dedicada pesquisa que mostra que, tanto na literatura quanto na política ou na vida, ninguém escapa de ter adversários, críticos ou desafetos”.
“A máxima de Nelson Rodrigues que diz que toda unanimidade é burra, não encontra guarida apenas na política, mas também na literatura. Goethe foi chamado de asno por Paul Claudel, André Gide rejeitou a obra de Proust, Sartre contestou os méritos de François Mauriac e Fialho de Almeida criticou violentamente Os Maias, de Eça de Queiroz”.
Portanto, não há bom escritor que não tenha sido arrasado em alto e bom som. Muito menos há um político que tenha escapado dessa sina.
“No Brasil, não poderia ser diferente. Aclamado por críticos do naipe de Alfredo Bosi, Antônio Candido, José Aderaldo Castelo, Eugênio Gomes, Raimundo Magalhães Jr., Lúcia Miguel Pereira, Dirce Côrtes Riedel e Roberto Schwarz, Machado de Assis teve seus detratores e desafetos. Enumerá-los foi o desafio de Josué naquele brilhantemente livro”.
Outro importante intelectual, Antônio Cândido, dizia que por mais pobre que seja nossa literatura, devemos amá-la incondicionalmente, porque ela é a materialização de nossa expressão. Vale então acatar a sugestão de Montello que nos sugere o mandamento de amar ao nosso inimigo. Talvez assim consigamos ser dignos de pelo menos uma nota no rodapé da história.
Dito tudo isso, gostaria de finalizar dizendo que quem quiser discordar de Zé Sarney que discorde. Discordar é salutar e há muito no que se discordar em um homem que tem mais de 50 anos de vida pública, que foi deputado, governador, senador inúmeras vezes e presidente da República.
Discordem dele, mas o respeitem. Se não o fizerem pelo muito que ele fez pelo Maranhão e pelo Brasil, que o respeitem pelo grande estadista que ele foi justamente quando mais precisávamos de um para nos guiar em uma travessia segura para um regime democrático, que nos garantisse o sagrado patrimônio que temos hoje, essa jovem mas sólida democracia da qual desfrutamos e que nos garante o direito de discordar pública e abertamente de quem quisermos, até mesmo dos presidentes dos três poderes constituídos.
PS: Lanço mão de importantes autores, como Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues, Josué Montello, Antonio Candido, Oscar D’Ambrósio e Ivan Andrade para exemplificar o que ocorre em relação a um sentimento às vezes pouco valorizado: O respeito.
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