Conversando com desconhecidos

Um dos comentaristas do meu blog disse que não admite que eu atribua a exposição pública das vísceras do Senado a uma campanha orquestrada pela imprensa. Imprensa da qual, segundo ele, eu faço parte, trabalhando, aliás, em uma empresa pertencente ao principal acusado nesses escândalos. Por fim, recomenda que eu diminua o tom agressivo das minhas respostas, pois, segundo ele, sou inteligente e a agressividade é a linguagem dos tolos.

Quem realmente me conhece sabe o quanto fiquei à vontade para responder a esse comentário! Comecei respondendo em tom de brincadeira e disse a ele sinceramente que não me considerava uma pessoa agressiva “seu pô… (kkkkk)”. Que não discordava de que em algumas ocasiões eu chegava a ser duro, “bastante duro (kkkkk)”, mas que ele não se preocupasse, isso não acontecia todo dia ”(kkkkk)”.

Depois de achar que já havia descontraído a conversa disse-lhe que deveria alertá-lo sobre alguns equívocos. Que jamais acreditei que as mazelas do Senado fossem criações da imprensa, mas que a exploração facciosa e sectária desse assunto, sim. Imprensa que faz isso a serviço de interesses políticos inconfessáveis. Disse-lhe que não sou jornalista e muito menos empregado de quem quer que seja. Que meu mais forte vínculo com os proprietários da citada empresa não é nem o político nem o comercial, mas sim o vínculo da amizade. Que esse vínculo me obriga, prazerosamente, a jamais ser leviano, fazendo com que eu ceda ao elogio fácil ou à subserviência. Amizade para mim é coisa muito séria que não comporta esse tipo de concessão.

Procurei tranqüilizá-lo dizendo que não acredito de forma alguma que haja santo nesse negócio de política, mas que, no entanto, tenho certeza de que a melhor maneira de se analisar corretamente qualquer assunto não é agindo com sectarismo ou com facciosismo.

O comentarista então replicou dizendo que o Senado foi transformado num cabide de emprego, repleto de maracutaias financeiras e que acredita que o papel da imprensa seja realmente esse. Que em casos como o de agora é preferível pecar por excesso do que por falta. Diz que estabelecer, por meio da justiça, uma censura prévia à imprensa, só aumenta a discussão sobre os fatos. Diz que se há inocentes, que a verdade apareça. Comenta que a ausência da imprensa, cobrando de forma justa e comprometida com a verdade, é que propicia muitas dessas mazelas.

Mais uma vez meu interlocutor fez a minha alegria. Pedi então que ele se colocasse no lugar de alguém que se sinta impedido de ter acesso àquilo que a lei garante a todo cidadão. A ampla defesa. Pedi que ele se colocasse na iminência de ver um direito seu sucumbir frente a um direito menor. Um direito que fere de morte o sagrado direito à ampla defesa. Disse-lhe que se isso acontecesse com ele, ele não acharia correto e que procuraria a justiça para proteger o seu direito fundamental, que estaria sendo vilipendiado e que eu me colocaria intransigentemente ao seu lado.

Ao contrário do que disse ele, a inocência não tem que ser provada. É a culpa que deve ser provada. O ônus de provar essa culpa cabe a quem acusa e para tanto não deve nem pode, por lei, criar factóides, através vazamentos de interceptações telefônicas, de partes dos inquéritos ou dos processos. Não pode montar um processo, um inquérito, um julgamento respaldado nas manchetes dos jornais, das revistas, nas chamadas dos jornais das emissoras de televisão ou de rádio.

Todos são inocentes até que se prove o contrário. É isso que prevê o bom e o justo direito, a boa e a justa lei. Agora, convenhamos, ter que se provar a inocência tendo que se enfrentar uma maciça e ampla campanha midiática, que tem como único intuito o de condenar previamente, moral e politicamente o arrolado!? Isso não é o que se possa chamar liberdade de imprensa e muito menos de estado de direito!

Não estou aqui simplesmente defendendo A, B ou C, defendo o que acho que seja o certo, para mim e para todos. Fazendo isso fico tranqüilo com minha consciência. É a defesa do amplo e do geral que me permite defender o particular e o objetivo, não o contrário. O direito individual está inserido indissociavelmente no direito coletivo e é conseqüência direta deste.

Cedo aprendi que devemos antes de tudo saber escolher quais são as causas que devemos defender, quais batalhas devemos lutar, isso para que não acabemos por lutar nas guerras dos outros, nem como mercenários nem como bucha de canhão.

Um dos aspectos mais fortes de um estado democrático de direito é exatamente esse, saber conviver com as diferenças sem querer-se simplesmente exterminar as discordâncias.

A palavra liberdade não pode ser usada jamais sem a sua complementar necessária e indispensável: Responsabilidade. Não existe liberdade sem responsabilidade. A liberdade dos irresponsáveis é a mesma que a dos tolos, dos sectários, dos escravos de todas as espécies.

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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