Um Pedaço de Ponte – Parte VI

Dando continuidade ao texto “Um Pedaço de Ponte” leia a seguir: 

A Filó do Malaquias

Numa cidade de beira de estrada, perto de um posto rodoviário. 

– Oi, seu Malaquias O senhor por aqui?  Aconteceu alguma coisa?  Há algo que eu possa fazer pelo senhor?

– É, seu Dotô Delegado, eu vou-me-indo! Mas o problema é cum a Felomena, eu acho qui a véia Felomena indoidou. Puxa, Dotô, o sinhô precisava de ver cuma era a Filó quando nova. Dotô! A Fíló tinha os quadri mais bunito de todo o município, e a pele de Filó era toda macia como seda.  Adorava alisar, ela acariciava, acarinhava, e ela gostava, fícava toda trêmula, suas junta estalava toda.

E os zoío, os zoíô da Fíló, ham! Dotô, os zoíô da Filó eram grande com um negro todo especiá.  Ela nunca foi traiçoeira, não.  Nunca foi arisca.

Dotôl Quando me alembro da língua da Filó, fico todo arrepíadiiimmmm, ela gostava de passar a língua no meu gurgumim traseiro, qui assim, na minha nuca.

Eu num posso me esquecê do rebolado dela in ninhum instante.  Ham! Aquele seu rebolado… Era como se calçasse sandálía alta e um vestido justo.  Seu bailado era prefeito, ham!  Meu Deus!!!

– Mas o que aconteceu com Dona Filomena, seu Malaquias?

– Ela tomô dori, Dotô, sumiu que nem deixô rastro.

– Mas ela foi embora e não dísse nada?  Coísa alguma?

– É… uma coisa eu seí, Dotô, ela deu nos pé onte, antes  aquela chuvarada, pois é a única forma de se explícar…

Eu fíco pensando na Filó e começo a ficar com uma vontade… Montar nela, naquele seu corpo macio e gostoso.

– Não se preocupe, seu Malaquias, nós vamos ajudar a achar D. Filó, o senhor não tem idéia de onde ela possa estar?  Um irmão!? Um parente!?

– Não, não.  Ela não tinha ninguém, todos os parente dela tão morto.

– Mesmo assim, vamos achá-la pro senhor.  O senhor deve estar sentindo muito a falta dela, não?

– Sim! Sim! Estou, sim!

– Eu prometo pro senhor, juro pela bênção de Deus, que antes do anoitecer nós vamos achar sua Filó amada, seu Malaquias.

-Assim espero, pois ela não cumeu, deve de tá com muita fome.

–     Dê-me licença um instante seu Malaquias, vou colocar todos os carros na linha para que o senhor possa dar uma descrição mais detalhada da Dona Filomena.

–     Tá bem, Dotô, mas não vai ser muito fácil.

– Atenção, todos os carros, aqui é o delegado Juca. Atenção, senhora desaparecida, seu marido vai dar a descrição dela. 

Pronto, seu Malaquias, pode falar.

– Bem, pessuá, minha Feló é maiada; branca e marrom. Tem chifre curto, é robusta e gorda. É holandesa.  Tem quase uma tonelada. É meiga, sensive. Tenho pressa de encontrá ela.

Ham, sim, ia me esquecendo, ela precisa de um reforço contra aftosa, e também passar bicarbonato de sódio nas tetas que a Claudete feriu em sua última refeição… Claudete é uma bezerra que a mãe morreu e a Fíló coidou dela.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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