Ausências presentes ou presenças ausentes.
Semana retrasada, em duas ou três ocasiões passei mal durante as sessões da Assembléia Legislativa. Minha pressão bateu em 16 por 10, o que me fez procurar um médico.
O doutor Carlos Gama acredita que ainda não é chegada minha hora, mas como em dezembro vou entrar na casa dos 50, aconselhou-me a começar a fazer algumas concessões: diminuir açúcar e sal, carne vermelha e gorduras saturadas, doces e carboidratos. Em suma, devo começar a ser outra pessoa. Confesso que não será uma tarefa fácil, porque sou viciado em comida, principalmente refrigerante (leia-se Cola Jesus) e pão com alguma coisa dentro, de preferência qualhada e azeitona.
Estou fora de São Luís há uma semana, mas de forma alguma estive ausente. Os meios de comunicação, em que pese o péssimo serviço das operadoras de telefonia, a cada dia nos propiciam viajar e ainda assim estar presente. Estou mais ou menos tão bem informado quanto alguns que não viajaram.
Aproveitaria minha estada em São Paulo para fazer mais alguns exames. Mas aproveitaria principalmente para participar em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Toronto de três festivais de cinema para os quais meu filme “Pelo Ouvido” foi selecionado e nos intervalos aproveitaria para ir aos melhores restaurantes (comer pouco), assistir a ótimas peças de teatro e conviver com alguns dos melhores amigos.
Foram poucos dias, mas parecia uma eternidade. Lembrei-me de meu amigo Paulinho Coelho que nos primeiros dias fora de casa sentia banzo e queria voltar imediatamente. Lembrei-me de outro amigo Paulo, o Nagem, que aprecia mais uma viagem que qualquer coisa nessa vida.
Mas eu não posso dizer que viajei. Como poderia ter feito isso se minha cabeça estava aqui em São Luis: Com minha família; na Assembléia Legislativa, atendendo a todos e resolvendo problemas pelo telefone; na Academia Maranhense de Letras; na Minerva, na confecção de meu livro; em nossas empresas; na Fundação Nagib Haickel; na Mirante; no MAVAM, projeto em parceria com o IPHAN; nos problemas políticos que não se resolvem; na obra de minha casa no Araçagy; nos almoços com os amigos; no basquete das segundas e sextas; nos encontros aos sábados no posto de Dudu e aos domingos na casa de Jomar…
Outra coisa que me dava certeza que poderia até estar fora de São Luís, do Maranhão, mas que continuava em casa. Era o fato de Jacira estar comigo. Isso me faz sentir estar sempre em casa, onde quer que eu esteja.
Nessa viagem reencontrei velhos amigos: Antonio Fagundes e Clarice Abujamra com quem fomos ao teatro e jantamos em deliciosos bistrôs de Higienópolis, onde ela reina e come apenas legumes e verduras. Essa linda mulher, pessoa magnífica a quem eu havia conhecido em Cartagena, no começo do ano, apresentou-me seu pai, João, um paulista de um metro e noventa e um e 91 anos. Homem fascinante.
Reencontrei Lili Coster, assistente de direção em meu filme; Eucir Sousa, o Charlie de “Pelo Ouvido” que está um uma peça engraçadíssima, “Amigas, pero non mucho”, um retrato fiel de um grupo de mulheres de meia idade da maravilhosa São Paulo; Zita Carvalhosa do Kinoforum; Paulo Mendonça, do Canal Brasil; César Cabral, diretor de Dossiê Rebordosa; Francisco Colombo, outro maranhense presente no festival, com o seu “Reverso”; Iza Albuquerque, Darcimeire Coelho, Leda Stopassolli, Surama Castro, meu querido amigo, de quem tanto me orgulho, Allan Kardec Duailibe e principalmente José Louzeiro, a quem eu fiz uma homenagem na apresentação de meu filme no Festival Ibero-Brasil do Rio de Janeiro, onde outro amigo que reencontrei foi o homenageado: Chico Dias, grande ator!
Tive a oportunidade de conhecer muitos curadores de festivais internacionais e a sorte de sentar ao lado da simpática atriz Alice Braga, a quem tratei de dar logo uma cópia de meu filme, na ilusão de que ela o assistindo, goste, e aceite ser a estrela de meu próximo trabalho no cinema.
Mas não, apesar disso tudo, não conseguia me desligar daqui.
Liguei diariamente para saber como iam as coisas e qual não foi a minha surpresa quando soube por minha Ananda que na última quinta, dia 3, o deputado Edivaldo Holanda, justo ele, com quem me alterei antes do mal-estar, três semanas atrás, o mesmo Edivaldo com quem tenho digladiado, ele em ataque incessante ao governo e eu, em defesa. Justamente ele lembrou-se que amanhã, dia 7 de setembro, além de 187 anos da proclamação da Independência do Brasil, fará 16 anos do falecimento de meu pai, o deputado Nagib Haickel, ex-presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão, único a morrer no exercício do cargo, representando o Poder Legislativo na festa comemorativa da nossa independência, no município de Coroatá.
Vejam como são as coisas. Apesar de meu adversário, Edivaldo teve o nobre gesto de lembrar e citar meu pai quando faz aniversário a sua morte. Como não respeitar um homem deste?
Vou continuar me opondo aos posicionamentos políticos de Edivaldo, pois não concordo com eles, mas não posso deixar de ver nele um homem de bem.
Gestos nobres como esse me fazem continuar na política. São certezas como essa, de que não importa que discordemos, desde que nos respeitemos, que me fazem não desistir da vida de parlamentar.
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