A verdadeira imortalidade.
Na última quarta-feira, durante a sessão ordinária da Assembléia Legislativa do Maranhão, usando o tempo do grande expediente, espaço destinado aos mais longos e mais importantes pronunciamentos, o deputado Edivaldo Holanda proferiu discurso com o qual além de fazer uma maravilhosa surpresa, também me deu um presente único, como jamais tive a honra de receber anteriormente.
Ele pediu a palavra e se pôs a fazer a narração de minha pequena e modesta biografia, tanto no campo político, quanto no setor cultural.
Fez isso motivado pelo fato de eu ter sido eleito no dia 2 de julho último para a Academia Maranhense de Letras, onde passei a ocupar desde o último dia 2 do corrente a cadeira de número 37, que tem como patrono Inácio Xavier de Carvalho, e na qual tiveram acento Ribamar Pereira, Luis Viana, Amaral Raposo e mais recentemente José do Nascimento Morais Filho.
Edivaldo ia falando e eu ia vendo passar em minha memória as coisas que ele dizia, como se fosse um filme.
Junte a emoção que eu já sentia, a aquela resultante do fato de eu e ele estarmos nos notabilizando por nossas pelejas nas tribunas da Casa de Manoel Beckman, ele como líder da oposição e eu como vice-líder do governo, ele defendendo suas idéias e eu, as minhas. Isso por si só, já era o bastante para fazer com que o filho de Alexandre Dumas que há em mim, alimentado pelo sentimento de nobreza e honradez que unem adversários leais, se sentisse motivado, se sentisse revigorado da constante cobrança, da excessiva pressão que a lide política nos impõe.
Edivaldo ia falando coisas que pareciam desfilar em minha frente. A sensação que me dava era que se eu esticasse o braço seria capaz de tocar com os dedos todo aquele passado que ele relatava.
Falou de meu pai e de minha mãe. Falou do Guarnicê, do meu primeiro mandato de deputado estadual, quando tinha apenas 22 anos, quando fomos colegas pela primeira vez. Falou de quando também juntos, fizemos parte da Assembléia Nacional Constituinte. Lembrou que fui o relator da emenda do deputado Amaral Neto que estabelecia a pena de morte em nosso país, para a qual eu dei parecer contrário, rejeitando tal medida. Falou dos livros que escrevi, dos filmes que realizei, dos prêmios que ganhei.
Edivaldo no entanto, não poderia imaginar o que viria acontecer com o seu discurso. Na proporção que ele falava, nossos colegas deputados iam se enfileirando nos pedidos de apartes. Sucederam-se Pavão Filho, João Batista, Graça Paz, Jura Filho, Carlos Braide, Eliziane Gama, Helena Heluy, Carlos Alberto Milhomem e por fim Rigo Teles.
Os colegas foram muito simpáticos e elegantes para comigo, muito gentis e carinhosos. Mas dentre todas as falas, uma me causou profunda emoção, fazendo com que eu chegasse mesmo às lágrimas. O que disse a deputada Eliziane Gama fez com que um profundo nó se instalasse em minha garganta. Ela enxergou não apenas o empresário, escritor, o cineasta, o político. Ela colocou seus olhos sobre um outro Joaquim, a pessoa. Aquele que é base e sub-base dessa estrada que trilho e palmilho em busca de minha coerência.
Eliziane foi se lembrar de um episódio distante, acontecido há três anos. Ela se desentendeu com um colega deputado, ficou muito abalada com aquilo e eu fui conversar com ela, tentar fazê-la entender o que havia acontecido, confortá-la. Ocorre que eu não me lembrava desse fato, e foi exatamente por isso que me emocionei, pois naquele instante tive certeza que havia aprendido uma velha lição ensinada por minha mãe: fazer o bem sem olhar a quem e se esquecer, para não ficar esperando reciprocidade. Simplesmente fazer o bem e pronto.
Ao ir buscar tão profundamente esse outro Joaquim, também citado levemente por Edivaldo, Eliziane fez com que a homenagem feita a mim se coroasse com êxito total.
Aconteceu também um outro fato relevante naquela mesma sessão. Alguém que não é parlamentar, aproximou-se de mim e disse que queria me dar um abraço. Era Alda, a minha primeira secretária, que hoje é funcionaria da presidência da Assembléia. Ela me abraçou e me disse que estava em sua sala e ao ouvir o que dizia Edivaldo e o que disse Eliziane, desceu para dizer-me que havia uma coisa que ela sentia, mas que não sabia como se expressar. Disse que só sabia como fazê-lo. Disse que agora entendia por que mesmo não mais trabalhando diretamente comigo, ainda assim se sentia muito próxima, muito ligada: “É porque o senhor, antes de ser deputado, ou empresário, ou escritor, o senhor é gente, e continua a ser o mesmo, igualzinho quando o conheci em 1983. Franco, direto, incansável, responsável, bem humorado…”
Quando as pessoas, ou pelo menos quando uma dentre elas, não importando quem seja, conhece você, reconhece você, guarda você na memória, tem você como parâmetro, isso é ser verdadeiramente imortal.
Deputado Estadual e membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras
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