Parlamentando
Semana passada, enquanto respondia um determinado comentário em meu Blog, notei que havia recebido outro comentário sobre a forma com que havia respondido uma postagem anterior. A autora desse segundo comentário era alguém que se identificou como sendo Alice Fernandes, e se dizia preocupada com o fato de ter ouvido falar que eu não seria mais candidato a deputado nas eleições do próximo outubro.
Muitas pessoas têm demonstrado a mesma preocupação com essa notícia, por isso resolvi comentar esse assunto aqui hoje.
Alguns políticos se notabilizaram por dizerem uma coisa e fazerem outra, por sentirem de uma forma e fazerem com que pensássemos que eles sentiam de modo diferente, de fazerem um acordo para em seguida descumpri-lo, de estar de um lado e de repente se posicionarem de outro. Eu sempre procurei fazer diferente disso, sempre disse o que iria fazer e fazia, sempre deixei claros os meus posicionamentos, os meus pensamentos, os meus sentimentos, e eles sempre expressavam a minha verdade. Jamais descumpri um acordo, mesmo que ele fosse de alguma maneira desfavorável. Sempre estive de um só lado e no mesmo grupo político, mesmo que discordasse dele em alguns aspectos. Nunca disse que alguém era feio ou mau e logo em seguida passei a dizer que esse mesmo alguém era lindo e bonzinho. Sempre busquei ser coerente e mantive uma postura diferente das posturas comuns desses políticos, não só dos daqui, mas de todos os lugares e confesso que fazer isso durante os 28 anos em que estou na vida pública foi bastante desgastante, deu muito trabalho, causou-me muitos problemas e então resolvi que é chegada a hora de dar um tempo, pelo menos no que diz respeito a disputar mandato eletivo, em ser candidato a deputado.
Quero que todos saibam que não sou hipócrita e não tenho vergonha de dizer que gosto de ser deputado e aprecio o poder que o cargo proporciona, mas há coisas que eu aprecio muito mais.
Acredito no meu trabalho como parlamentar e sei que mesmo com todas as dificuldades inerentes ao cargo, toda a ginástica que fiz e faço na tentativa de ser um político pelo menos um pouco diferente da maioria, e principalmente pelo fato de ter uma grande quantidade de correligionários que antes de tudo são verdadeiros amigos, tudo isso junto, fará com que eu, mesmo não concorrendo a um mandato nessa eleição, não me afaste totalmente da política, até porque eu não conseguiria, pois ela, a política, está em meu sangue, em meu suor, entranhada em cada célula de meu corpo e em cada pedaço de minha alma.
Desde criança quis ser deputado e acho que de tanto ver meu pai e seus amigos exercendo essa função, aprendi esse ofício, depois direcionei meus estudos para ser melhor nesse setor, elegi prioridades e tracei os planos que executei durante esses 28 anos, desde que me elegi pela primeira vez em 1982, quando tinha apenas 22 anos. Agora com 50, acho que é hora de dar um tempo, arrumar um pouco a casa, fazer um balanço, executar outros projetos, até para criar um pouco de distanciamento, e poder ver se o que fiz em todos esses anos como deputado foi algo realmente bom.
Não vou deixar de ser político, só não vou me candidatar para deputado em 2010.
Acontece que tenho notado basicamente três tipos de reações por parte das pessoas quando sabem que não serei candidato a deputado na próxima eleição: Há quem, como Alice, fica consternado e pede que pondere e reconsidere a decisão de não ser mais candidato, pois acha que o trabalho que desenvolvo na Assembleia é um paradigma na atuação parlamentar em nosso Estado. Fico envaidecido, mas explico que é hora de deixar que outros possam estabelecer os seus paradigmas, deixarem as suas marcas, até como forma de melhor avaliar o real desempenho, tanto o meu, quanto os dos demais.
Há aqueles, como meu amigo CB que vibrou quando soube que eu não mais seria candidato a deputado. Dizendo ele que sempre achou um desperdício que eu dedicasse tanto tempo e tantos esforços à uma atividade que por mais que eu me esforçasse, pouco poderia fazer no sentido de mudar o quadro existente, frente à infinidade de obstáculos que eu encontraria pela frente.
Confesso que me assusto com essa forma de pensar, pois não deixa muita margem para eu ache que meu desempenho, mesmo modesto, possa, no frigir dos ovos, fazer alguma diferença e olha, eu gosto de pensar que, por mínima que seja, minha atuação na ALM faz alguma diferença.
Há também aqueles que simplesmente não acreditam, que acham que isso é conversa de político, que não conseguem imaginar como alguém que tenha uma eleição praticamente certa possa abrir mão disso. Essas pessoas questionam como é que alguém tão acostumado com a lida política possa abrir mão de algo que é tão natural em sua vida como dormir e comer. No que diz respeito a essa reação das pessoas fico indignado, pois é exatamente por isso mesmo que acho importante não concorrer. Eu não sou deputado, eu estou deputado. Eu sou é político e isso eu vou continuar sendo, mesmo sem um efetivo mandato no parlamento estadual.
O mestre Cid Rojas de Carvalho, de quem fui colega na Assembléia Nacional Constituinte, dizia que político sem mandato não é político. Acho que em alguns aspectos ele estava certo, mas quando ele dizia isso, se esquecia da condição humana dos políticos, não levava em consideração a dimensão do indivíduo, do homem vestido em terno e gravata que muitas vezes tem que engolir seco e fazer sóbrio algumas coisas que nem bêbado conseguiria. E olha que eu nem bebo álcool.
O velho Rojas, de lá de onde estiver que me perdoe, mas vou tentar provar que em pelo menos um aspecto ele estava errado. Pretendo, mesmo não sendo deputado, me fazer ouvir, expressar minhas opiniões e conclamar as pessoas a pensarem e discutirem os assuntos que dizem respeito à nossas vidas. Não vou poder fazer isso da tribuna da ALM, não vou poder apresentar projetos de lei ou tentar emendar nem o regimento da Casa, nem a constituição estadual, nem o orçamento do estado, mas onde eu estiver vou continuar “parlamentando”, pois essa é uma das poucas coisas que acredito que eu saiba fazer com alguma competência.
E mais, o fato de não ser candidato, de não precisar de votos, de apoio eleitoral, o fato de não ter um mandato, tem me dado uma liberdade e uma coragem, que há muito tempo eu não experimentava e posso lhes afirmar que essa é uma sensação maravilhosa.
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