Notícias do Front

Cheguei a casa por volta das 22 horas, exausto de mais um dia de lida e preocupado, por ainda não ter escrito minha crônica para domingo.

Mais cansado do que de costume, fui direto tomar meu banho, pois acabara de chegar de uma partida de basquetebol contra a equipe do Amapá pelo campeonato brasileiro da modalidade, na categoria de veteranos, faixa dos 45 anos. Vejam só! Eu jogando com um monte de meninos, já que há meia década passei dessa marca etária. Perdemos o jogo, mas eu acredito que não fiz feio, joguei o melhor que poderia fazer um cinqüentão de 120 quilos, um metro e oitenta e cinco e ainda por cima, com problemas nos joelhos.

Depois de tomar um pouco da deliciosa sopa de legumes que me aguardava, altiva sobre o fogão, peguei pesadamente no sono e já fui de cara sonhando.

Foi um sonho no mínimo engraçado.

Da torre leste do forte de minha vida, um cabo da guarda, de sentinela, com o fuzil acomodado ao ombro, grita e comenta:

São onze horas e tudo vai bem! Viva nosso comandante que recentemente completou oitenta anos de vida e de muita sabedoria, coisa que ele tem pra dar e vender. Seria muito bom que se desse mais ouvidos para ele! Olha, olha!

Da torre norte, como em um jogral, um outro cabo continuava a ladainha: Por aqui ainda são onze horas e tudo continua bem! A visita do presidente do Líbano em São Paulo serviu para muita coisa. Formalizou-se a nossa intenção de termos implantado no Maranhão um consulado libanês, além de ter servido para eu experimentar, uma das últimas vezes, o prestígio de ser deputado e ficar sentado no espaço reservado às autoridades, gente como Paulo Maluf, Romeu Tuma, Geraldo Alckmin, e os desembargadores conterrâneos e patrícios, Jamil Gedeon e Jorge Rachid.

O sonho continuava e da torre oeste daquele forte, que agora se parecia mais com um daqueles da legião estrangeira, incrustado em meio ao inóspito deserto do Saara, saído de um filme antigo, em preto e branco, outro cabo continua a cantoria: São onze horas e cinco minutos e tudo vai bem… Mas não posso deixar de dizer que há muito tempo não se vê um filme que se possa dizer que é um excelente filme, um que possa ser incluído numa lista de inesquecíveis ou antológicos. Diga aí, qual foi o último filme que você viu que possa figurar ao lado de Carruagens de Fogo, Sociedade dos Poetas Mortos, Pulp Fiction, O Labirinto do Fauno… Não me venha dizer que Avatar seria um desses filmes. Por favor!… Isso não, me poupe! Um filme pode ser um sucesso de bilheteria sem jamais ser extraordinário.

Nessa altura, em meu sono agitado, estava em estado de semi-consciencia e resolvi continuar sonhando aquele sonho, exercitar a capacidade de incentivar minha mente em vigília a produzir pensamentos mais ou menos controláveis, em forma de sonho, coisa que faço desde quando eu era muito jovem.

Da torre sul, seguindo sempre em sentido anti-horário, um quarto cabo fecha o ciclo de sentinelas de minha vida e do pregão de minha pauta para meu texto dominical: São onze horas e dez minutos e tudo vai bem!… Mas não se esqueça da posse da nova direção do Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão, amanhã às 08:30 da madrugada (isso seria na sexta-feira). Lembre-se da reunião no Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, o MAVAM que servirá como armazém de nossa memória, providenciando a identificação, a localização, a catalogação e a preservação de tudo que possa significar acervo audiovisual, em todas as tecnologias possíveis, desde as mais recentes até as mais antigas. Esse museu que funcionará como uma usina de memória, idealizando e manufaturando produtos audiovisuais sobre nossa gente, nossa cultura e nossa terra. Museu que contará com um farol de memória, pronto para iluminar nosso caminho, item que irá coroar esse projeto. Trata-se de um canal de televisão educativa que terá sua programação voltada para transmitir não só o conteúdo do museu, mas também os conteúdos das muitas entidades parceiras nesse intento de preservar e difundir nossas manifestações culturais e artísticas.

Um trovão distante interrompeu a fala do cabo ao sul e prejudicou minha concentração. Ajeitei-me na rede e continuei sonhando, pois as sentinelas daquele forte, em minha mente tinham muita coisa a dizer noite adentro.

Acordado, corri para o computador para registrar o acontecido, antes que minha fraca memória esquecesse.

Chegando a mesa do escritório, deparei com um bilhete de minha Jacira, ao lado do computador, onde se lia “eu te amo”.

Preciso eu de mais alguma coisa!?

2 comentários em “Notícias do Front”

  1. Sei que voçê é bem resolvido com o seu peso a mais…Fiquei preocupada é com o jogo de basquete. Não sei quantas vezes na semana voçê participa de atividade física. Sei o quanto voçê tem conciência do que estas fazendo…Mas não faça não! Pode ser a gota Dágua e voçê vai fazer muita falta nesse Blog.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima