A chave
Revirando guardados,
encontrei dentro de uma bolsinha de couro,
uma chave com uma etiqueta pendurada nela
onde estava escrito
com minha letra,
“importante”.
Há tanto tempo guardada que minha memória não conseguia lembrar o que abria tal chave.
Comecei a experimentá-la em todas as fechaduras e nada.
Não era da porta da frente,
nem da porta dos fundos.
Não era da dispensa,
nem da garagem.
Não era do armário,
não era da cômoda,
não era do criado,
(mudo, cego e surdo)
não era da caixinha de musica que herdei em vida
de minha mãe quando eu ainda era criança,
não era do álbum de família antigo,
não era daquela caixinha de jóia portuguesa,
barroca, cuja a palavra usada por minha avó para invocá-la jamais esqueci.
Não era do apartamento alugado,
de onde fugi só com a roupa do corpo…
Não era de nenhuma fechadura!
“De onde será essa chave?”
Depois de dias sem descobrir,
resolvi que só haviam duas coisas a fazer,
jogá-la fora
ou guardá-la no mesmo lugar,
dando a ela o privilégio de continuar
“importante”,
mesmo que esquecida,
no fundo de uma gaveta.
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