A chave

15comentários

Revirando guardados,

encontrei dentro de uma bolsinha de couro,

uma chave com uma etiqueta pendurada nela

onde estava escrito

com minha letra,

“importante”.

Há tanto tempo guardada que minha memória não conseguia lembrar o que abria tal chave.

Comecei a experimentá-la em todas as fechaduras e nada.

Não era da porta da frente,

nem da porta dos fundos.

Não era da dispensa,

nem da garagem.

Não era do armário,

não era da cômoda,

não era do criado,

(mudo, cego e surdo)

não era da caixinha de musica que herdei em vida

de minha mãe quando eu ainda era criança,

não era do álbum de família antigo,

não era daquela caixinha de jóia portuguesa,

barroca, cuja a palavra usada por minha avó para invocá-la jamais esqueci.

Não era do apartamento alugado,

de onde fugi só com a roupa do corpo…

Não era de nenhuma fechadura!

“De onde será essa chave?”

Depois de dias sem descobrir,

resolvi que só haviam duas coisas a fazer,

jogá-la fora

ou guardá-la no mesmo lugar,

dando a ela o privilégio de continuar

“importante”,

mesmo que esquecida,

no fundo de uma gaveta.

15 comentários para "A chave"


  1. Aninha

    É realmente muito incomum existir um político que tenha a capacidade de escrever uma coisa como essa… Nem sei como devo chamar esse texto! Poema? Crônica?
    Mas o fato é que ele é maravilhoso, descreve um fato cotidiano, que com toda certeza já aconteceu com todo mundo, mas o faz de uma forma tão delicada e doce que nos enternece.
    Fico imaginando como pode co-habitar dentro de uma mesma pessoa, o político que tem que fazer coisas nem sempre recomendáveis e o escritor, o poeta que traduz, interpreta e expõe os nossos sentimentos mais sublimes.
    Parabéns!

  2. Ariana com ascendente em Virgem

    isso ja aconteceu comigo tambem, mas so que eu nao soube contar dessa maneira… kkkkkkkkkkk…

  3. GILDETE

    Tenho um irmão que gosta muito de ler, assim como eu, e sempre quando
    nos reunimos falo do que você escreve no seu blog “que amo de paixão”
    e logo que li esse texto pensei nele, pois só ele para entender “A chave ”
    e sentir a profundeza dele sem ler. Parabéns a nós que temos você.

  4. Luis Sardenho

    Comecei a ler e fiquei curioso. Quando vi que o fim era óbvio, me decepcionei. Será que não entendi?
    A chave não “entrou” em lugar nenhum? Realmente não serviu pra nada? Será mesmo que só poderia ser jogada fora ou guardada? (claro, né… ora bolas… ou vivemos ou morremos… ou rimos, ou choramos, ou simplesmente ficamos apáticos com as coisas da vida). E essa é uma coisa da vida! dããã…: “A Chave”… Que foi sem ter ido. Que ficou sem ter vindo. Apareceu do nada e ficou por lá mesmo. Ora bolas… (acho que bolas são melhores que chaves… pelo menos podemos chutá-las pra lugar nenhum e ter algum lugar pra dizer onde ela parou por obviedade. DÃÃÃ!!

    Resposta: Desculpe meu caro Luis Sardenho, poesia não se explica, mas vou fazer uma pequena exceção para você tendo em vista que você me parece um pouco, digamos “especial”, pois não vejo como não ser, depois de usar tanto essa expressão “DÃÃÃ!!”
    Vou tentar fazer você entender uma coisa simples, pois o poema é melhor quanto mais simples for. Procure ler o grande Mário Quintana e talvez entenda o que digo.
    Pois bem, imagine que aquela fosse uma chave metafórica, que abria uma caixinha onde antes estava guardado o seu amor. A vida passou e você nunca mais usou aquele amor, nunca mais abriu aquela caixinha, a esqueceu no fundo de uma gaveta. Um dia você encontra a chave com uma etiqueta escrita “importante”, chave que você não lembrava o que abria. Acontece que ela abria aquela caixinha onde estava guardado o seu amor, aquele seu amor esquecido no fundo de uma gaveta. Por quê? Porque aquele amor não era mais importante, não mais existia.
    Desculpe Sardenho, poesia é coisa pra gente sensível.

  5. Hélio Sales

    Deputado Joaquim por favor nunca foi resolvido, o problema do poste de frente a minha casa, meu pai esta sofrendo me ajude só a vossa excelência pode resolver o problema, eu sei que eu estou lhe perturbando, mas quem está pertubando mesmo é o poste perto de minha casa e meu pai está doente e não pode se locomover, e não pode ficar na sala, porque já tá demais sai fogo todo santo dia. Me ajude por favor.

    Resposta: Hélio, mande-me por favor o numero que há no poste, para que eu possa passar para a CEMAR, facilitando assim a localização do problema.

  6. Tereza Dias

    Não sei do que gostei mais, se de seu poema ou se da sua resposta ao comentário do Luis Sardenho. Primoroso.

  7. euterpe

    Joaquim,

    Não quero que pareça imitação, mas a Tereza Dias me tirou as palavras. Esse é um típico caso em que a emenda saiu melhor do que o soneto. Que resposta maravilhosa…. É outro poema.

  8. Eliane

    Bons dias Joaquim,

    Belo poema garoto, porém pressinto que estás com o Mal de Alzhaimer

    um forte abraço,
    eliane

    Resposta: Melhor não lembrar que jamais ter vivido…

  9. eliane

    Bom dia joaquim,

    mas me diz mesmo menino travesso como se faz para comentar no teu blog????

    acho que as regras mudaram e não consigo mais falar contigo.

    um grande abraçço

  10. Luís Sardenho

    Ah era o Amor?? (dããã, risosssssss).
    Como disse Eliane, "deve estás com mal de Alzhaimer".
    Não faça isso com o Amor. Faça com o Rancor, o Ódio, o Orgulho, os Problemas.
    Calma… eu sei… o poema é seu.
    Mas a obviedade está aí: no "amor poema" melancólico pessimista.
    Poderias ter surpreendido com um desfecho digno do Amor. Ou, deixando como está, ter usado como referência outro sentimento, como: Ódio, Rancor ou Orgulho.
    E mais interessante ainda seria se o "objeto" fosse o próprio pessimismo. Muito mais interessante. Ser pessimista com o pessimismo.
    O Amor não…
    Como você mesmo disse: "Melhor não lembrar que jamais ter vivido…" E só se vive com o Amor! "Esqueceu?" risossss
    Por isso que o poeta já dizia… "viver não é preciso² "
    ²ver definição

    Ah, e os brutos também amam!! ok? risossssssss

    Ps: acho que me apropriei do seu poema, né? (ficou engraçado isso)
    Mas só queria fazer o debate…
    Um abraço!

    Resposta: Esse texto nada tem de pessimista, muito pelo contrário, é a constatação da passagem do tempo, da mudança de rumo, pura e simplesmente.

  11. Daisy Ribas

    Lindo texto.
    Trata de assuntos internos esquecidos, importantes em nossas vidas, escondidos no subconsciente.

    Fazendo uma analogia da chave com respostas, as vezes elas estão na frente, prontas para serem interpretadas e usadas, mas por algum motivo não as vemos, não entendemos, e não sabemos o que fazer com elas.

    O tempo, a maturidade, a oportunidade nos darão este “insight” e num determinado momento de nossas vidas ela serão usadas e aplicadas da melhor forma.

    Resposta: Exatamente!

  12. celine

    L endo a chave lembrei, da chave da minha infancia que ficava esperando na porta de casa, a passagem do seu pai, NAGIB jogando bombons, na rua. e chamando as pessoas pelo nome, sabe toda vez que alguem pronuncia esse nome sobrenome abra novamente a chave da memoria da minha infancia, parabens pelo zelo da familia NAGB, ah tb conhecia a D.Regina que é uma pessoa maravilhosa e tb foi uma pessoa muito bem cuidada por seu velho pai e por todos voces.tb estou comendo aqueles pastezinhos que so ela sabe fazer. Deus o abençoe Dep.abraços

  13. Ana Lucia

    Simplesmente maravilhoso!

  14. ROSE DE CARVALHO

    OI JOAQUIM NAO PUBLICA SO PRA VC LER

    A figura do “saudosista”, A sempre é criticada e mal vista nas rodas de conversas por onde andei… Aquele que sempre recorda coisas do passado, mesmo aquele passado que foi bom,sem prestar atenção nas riquezas que estão colocadas no momento presente bem como a frente, no futuro.

    Na vida, as pessoas sofrem porque ficam presas ao passado, criam traumas, mágoas e ressentimentos, formando um conjunto negativo de percepções que as tornam infelizes, frustradas e incapazes de desenvolver tipos salutares de relacionamento. Uma pessoa que tenta trazer um passado “ mesmo aquele passado que tenha sido importante, guardado e fechado á chave e a mesma perdida numa gaveta das recordações , é um passado que não cabe mais nos dias atuais , nunca terá capacidade de desfrutar das coisas boas do presente e, muito menos, de organizar seu futuro em termos de realizações e construções de uma vida sólida.

    Dá pena enxergar pessoas que só lembram coisas do passado, como se os maiores valores da vida se tivessem esgotado por lá. Presas às lembranças pretéritas, tais pessoas deixam de perceber a riqueza do dia de hoje que, por dádiva, se chama presente.

    O presente nos traz a certeza de que haverá um amanhã. O que ficou para trás não volta. É preciso construir o amanhã em cima das riquezas do hoje. É hoje que estamos vivos, com capacidade de viver, de desejar, de ambicionar e de construir alguma coisa.

    No entanto, há uma sabedoria no olhar para trás, em busca de algumas lições, pois a experiência de vida começa a partir daquilo que a gente ou outras pessoas construíram no passado. O filósofo Kierkegaard disse com muita propriedade que “a vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente”. Que não se diga que o simples olhar para trás é um mal. Não! O erro está em viver preso ao passado, de forma doentia e covarde, sem coragem de viver o hoje nem tampouco encarar o amanhã.

    Há uma música popular que afirma “mas tudo passa, tudo passará, e nada fica, nada ficará…”. Depois veio Lulu Santos, mais eclético e com um toque refinado de filosofia estóica que encantou a muitas gerações com o “nada do que for será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará…”.

    Toda essa filosofia da mudança se baseia na frase grega Panta Réi, onde panta é tudo, e réi, corre, passa, se esvai. Os filósofos estóicos, a partir de Heráclito de Éfeso (séc. V a.C.), foram os primeiros a afirmar que tudo passa. A expressão Panta Rei surge da noção de que no contexto da natureza e da vida humana tudo é transitório, passageiro.

    Para ilustrar essa afirmação, Heráclito usava a metáfora do rio: Não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes. Afinal, as águas que correm no rio nunca são as mesmas, afinal, tudo passa; nada permanece (oudén méne). No dia seguinte, embora seja o mesmo local geográfico, pela passagem das águas, o rio já é outro. Trata-se de um “vir-a-ser”. Assim é a vida humana.

    Quanto às mudanças e transformações físicas, o vir-a-ser, que a todo instante vemos ocorrer no mundo, a filosofia explicava como sendo uma mistura participativa do ser e do não-ser. Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser. Se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser, onde este se torna uma ilusão sensível.

    Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos apenas criam ilusões, nas quais temos a tendência de pensar que o não-ser é, e que o ser é um vir-a-ser. Esta é a razão pela qual não se deve ter um apego exagerado às coisas do passado, pois a vida (quem vem em ondas) anda para frente, me tudo que ficou para trás sofre a defasagem do tempo.

    São Paulo, refletindo de forma escatológica sobre o futuro dos cristãos usa uma figura bem sugestiva, alertando aobre a fugacidade do presente, em oposição ao vir-a-ser, que é definitivo:

    Não temos aqui morada permanente, mas andamos em busca
    da futura (Hb 13,14).

    Pois o vir-a-ser tem o nome de devir (ou porvir), que é o conceito filosófico que se traduz de forma mais literal na eterna mudança do ontem ser diferente do hoje, nas palavras de Heráclito “O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje”.

    Fazer filosofia é aprender a pensar. O filósofo, mais do que alguém que ama (philo) a sabedoria (sophia) é alguém que pensa e transmite idéias. Nossas vidas estão impregnadas de Panta Rei. Nossos corpos mudam, nossas ideias mudam, nossos empregos mudam. Enfim, nunca atravessamos o mesmo rio da existência duas vezes: “a vida vem em ondas, como o mar, num indo-e-vindo infinito…”.

    Esta é a razão de não se olhar para trás, pois o sentido de nossa vida está no presente e no futuro. Viver é andar para frente.

    Por vezes nos sentimos tentados a “congelar” o rio, para que suas águas sejam sempre as mesmas. Entretanto, um belo dia o rio, que tem vontade própria, descongela e a força de suas águas traz toda a força das mudanças reprimidas… e ai surtamos! Ou não? Cabe a cada um lidar com o seu rio. “tudo o que se vê não é, igual ao que a gente viu a um segundo, tudo muda o tempo todo, no mundo…”.

    Na natureza, rios, mares e florestas… tudo passa. A devastação causada pelo homem, o plantio inadequado, o desmatamento, os crimes contra a natureza, tudo acelera a “passagem” das coisas da vida. Além disto, vale lembrar que Deus perdoa. a natureza não! Tudo passa? Eu acho que sim! Aliás, segundo São Paulo, só tem uma coisa que não passa? O amor.

    Para a eficácia do bem-viver impõe-se a dinâmica do olhar pragmático em todas as direções. Basta um olhar. Quando estiver em dificuldade e pensar em desistir olhe para trás e lembre-se dos obstáculos que já superou. No passado tem coisas boas: a casa de nossos pais, a tradição de nossa família, um amor importante ,o ensinamento de nossos mestres, etc. Estas coisas são boas e salutares para serem lembradas com carinho e saudade.saudade é o amor que fica seja ele de qualquer gênero: fraterno , maternal …

    Mas não devem se transformar num estado patológico de exaustão psíquica, onde alguns acham que a vida se resume no que passou. Isto impede o crescimento e – não-raro – provoca quedas, traumas, remorsos e complexos. Se tropeçar e cair, levante-se… Não fique prostrado, olhe para frente e esqueça o passado.

    Ao sentir-se orgulhoso por alguma realização pessoal, olhe para dentro e sonde suas motivações. Antes que o egoísmo o domine, enquanto seu coração é sensível olhe para os lados e socorra aos que o cercam. Na escalada rumo às altas posições no afã de concretizar seus sonhos, olhe para baixo e observe se não está pisando em alguém. Em todos os momentos da vida, seja qual for sua atividade, olhe para cima e busque a aprovação de Deus.

    Olhar para trás, dependendo do modo como se olha, faz sofrer. E ninguém está aí para sofrer. Esses são desafios constantes que vivemos a todo instante no decorrer de nosso dia-a-dia. Algumas vezes, temos a sensação de que estamos sendo empurrados contra a parede sem muita opção de escolha. Não acontece assim com a gente?

    O pior é quando nosso olhar para trás retira esqueletos do armário, abre as covas do remorso, desenterra velhos ressentimentos ou nos assombra com lembranças desagradáveis de coisas que gostaríamos de esquecer. Existem memórias do passado que atuam como se o mundo estivesse se fechando diante de nós, tirando-nos as perspectivas de viver bem hoje e dificultando a construção do futuro. Isto ocorre porque não sabemos (ou não podemos) nos libertar do passado, das mágoas e decepções que ficaram lá atrás, e que nosso pensamento teima em atrelar à nossa vida presente.

    Conta uma historieta que escutei por aí, que um jovem dirigiu-se a um sábio e perguntou: “Mestre, quantos anos o senhor tem? Não repare a grosseria, mas eu gostaria muito de saber…”. O velho homem respirou fundo, olhou para seu interlocutor, respondendo: “Uns dez anos!”. O rapaz riu meio sem jeito, imaginando que o sábio não tivesse gostado da pergunta, respondendo evasivamente, uma vez que ele demonstrava ter, no mínimo, uns sessenta anos. Observando o constrangimento do moço, o mestre continuou: “Eu devo ter uns dez anos, sim, dez anos de vida, daqui para a frente, pois o tempo que passou está perdido, não volta mais e eu não posso viver de novo o tempo passado”.

    É curioso como se vê pessoas idosas atreladas ao passando, contando “causos” de quarenta ou cinqüenta anos atrás, como se só aqueles eventos fossem importantes, e o resto da existência, presente e futura não tivesse o menor interesse. É claro que o passado é rico. Nele está o nascimento, as primeiras descobertas, a alfabetização, o despertar do amor, o casamento, nascimento dos filhos, colação de grau, etc.

    Mas, nem por isto, a gente precisa ficar debruçada nele, como se a parte mais importante da nossa vida estivesse lá. O dia de hoje, uma vez que acordamos com vida, capazes de enxergar o amanhecer, ver o sol ou a chuva, escutar o barulhos dos pássaros ou o alarido das crianças, encontrar-se com algum parente ou amigo, tem um valor incalculável. Por isto ele se chama “presente”, porque é dádiva. E se tens um passado importante que fechastes com uma chave e guardaste como falas… numa gaveta dentro de uma

    bolsinha de couro…”(…)” Pois bem, imagine que essa fosse uma chave metafórica, que abria uma caixinha onde antes estava guardado o seu amor. A vida passou e você nunca mais usou aquele amor, nunca mais abriu aquela caixinha, a esqueceu no fundo de uma gaveta. Um dia você encontra a chave com uma etiqueta escrita “importante”, chave que você não lembrava o que abria. Acontece que ela abria aquela caixinha onde estava guardado o seu amor, aquele seu amor esquecido no fundo de uma gaveta. Por quê? Porque aquele amor não era mais importante, não mais existia…

    O amanhã, para quem sabe cultivar as esperanças e as expectativas, embora incerto, também é apaixonante. É o passado que nos ajuda a viver o hoje, e nos projeta para o futuro. Esses três momentos tem a capacidade de nos ensinar, fazer-nos ver, por exemplo, a diferença entre a paixão (que prende), o amor (que nos dá asas, e por isso liberta) e a amizade (que forma o chão que nos dá firmeza). A história do sábio e de seu jovem interlocutor nos dá muitas pistas, especialmente para pautarmos nossa vida nesse novo ano.

    O tempo de nossa vida que passou, mesmo profícuo e cheio de realizações, está perdido, não volta mais. Lá atrás ficaram acertos e erros, alegrias e tristezas, conquistas e decepções. Agora, o que fazer? Chorar o “leite derramado”? E se a nossa vida não foi assim tão cheia de realizações? Se não fizemos todo o bem que deveríamos ter feito?

    Se não gozamos as alegrias e os encontros, se não desfrutamos a beleza da natureza e os prazeres que estiveram disponíveis e nós deixamos e usufruir? A vida que se tem é uma só; não tem retorno. Quantos anos temos de vida? Qual a nossa expectativa? O que você faria se soubesse ter duas horas de vida? Ou dez dias? Ou um ano?

    Por isto, os anos que nos restam precisam ser bem aproveitados para viver ou reviver coisas que deixamos de fazer, fortalecer a amizade com Deus, estreitar os laços com a família, ajudar a quem precisa de nosso apoio, pedir o perdão que deixamos de pedir, descer um pouco do pedestal e olhar as pessoas cara-a-cara.

    A cada dia que passa, nossa vida fica mais curta. É como um jogo que se aproxima dos “minutos finais”. Por que não tentar revisar a caminhada, ajeitando o que precisa ser ajeitado, no tempo que ainda nos resta?

    A vida, como dizem os filósofos, vai e vem em ondas… Só que o que vai não volta, e o que volta nem sempre é a repetição daquilo que foi. Por isso os traumas e as decepções. O grande Fernando Pessoa é enfático ao afirmar que “tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”. Nessa perspectiva, é preciso saber quando uma fase de nossa vida termina e começa a seguinte. É preciso encerrar ciclos, fechar portas, terminar capítulos. Não importa o nome que damos à mudança.

    O que importa é enviar ao passado às instâncias superadas da vida atual, que chegaram, por uma razão . Você não deve perder tempo questionando porque tudo mudou.

    As mudanças podem acarretar um estresse, um desgaste imenso, e ficamos atados ao passado, mergulhados em uma angústia capaz de respingar nos outros, que nos vêem parados, chorosos, estáticos. A ninguém é permitido ficar no presente e no passado ao mesmo tempo. Há toda uma estrutura psico-social que precisa ser organizada, que se chama futuro. Porque caminhamos para a frente, o futuro é importante, e precisa ser construído a partir de um sólido hoje.

    .É bom sentir saudades, sim, mas é preciso encarar a vida que caminha para frente. Não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, ou jovens culpados e rancorosos, que insistem em travar o tempo. As coisas passam, e o melhor que podemos fazer é deixar que elas realmente possam ir embora.

    É imperioso que nossos projetos sejam transferidos para o futuro. Saudade, sim; prisão às recordações, não! É salutar dar as coisas, limpar prateleiras, desfazer-se de roupas, doar livros velhos, expurgar cacarecos da casa e do espírito.

    Tudo o que é visível atua como um símbolo do invisível que acolhemos em nosso coração. Desfazer-se de certas lembranças (especialmente das coisas ruins) é dar espaço para que as coisas novas possam acontecer em nosso interior. Tem gente que reconhece e enaltece nossos méritos; outros ignoram ou até desprezam esses valores. De nada adianta a gente ligar nossa “tevê emocional” na tentativa de ver filmes “retrô”. É bom recordar alguma coisa do passado, sem tornar-se refém dele. Não há nada mais perigoso que rupturas passadas que não foram superadas, sejam elas do tipo que forem.

    O futuro é incerto; passado é memória. Só o presente é dádiva, e como tal deve ser encarado. Nossa vida é igual a um livro: antes de começar um capítulo é preciso, como um autor, terminar o anterior. Hábitos não são necessidades. Estão mais na linha dos vícios que das virtudes. Podemos viver sem eles. Encerram-se ciclos, não por medo, orgulho ou despreparo, mas porque simplesmente aquilo não se encaixa mais em nossas vidas.

    A roupinha da de neném de meus filhos ““primeira comunhão” ainda guardo mas não com o propósito de querer mante-los crianças a vida toda.são chaves que guardo num gaveta que lembram um passado lindo mas que não cabem mais nos meus filhos…São necessárias novas atitudes e providências para o futuro.penso nos meus netos que futuramente virão .Por isso, feche a porta, mude o penteado, limpe a casa, troque a roupa, mude a cor do quarto, abra as janelas. Agindo assim, você vai deixar de ser o que era, e se transformar em quem voce

    O futuro se constrói hoje, sem o peso das dores do passado. É salutar visualizar a frente.e ainda falando de seu texto onde tornei prolixa ao analiza-lo termino com tuas palavras.”Esse texto nada tem de pessimista, nem de saudosista muito pelo contrário, é a constatação da passagem do tempo, da mudança de rumo, pura e simplesmente:” Simplesmente é saudade de uma coisa importante que foi e que não pode mais voltar ADOREI!

  15. Lelia

    Rosebud é o nome da caixinha que a chave abriria,
    “a essência de uma impossibilidade”
    sua poesia é linda
    obrigada por não partir meu coração e arrancar dele somente as pipas!
    prazer em conhecer, um abraço, Lelia

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