Maniqueístas e sectários

Prólogo:

Não você que me lê agora, mas talvez haja algum leitor que possa não saber exatamente o que significam as palavras que usei no titulo acima. Explico: Maniqueísta é aquele sujeito que acredita no dualismo, que divide tudo que há no mundo entre o Bem e o Mal. Aquilo que ele acredita e professa, é o Bem, e tudo aquilo que não é o que ele admite como verdade, é o Mal. O sectário por sua vez é aquele que admite sem uma reflexão mais profunda, sem contestação, um determinado posicionamento filosófico, um certo pensamento, uma teoria especifica, descartando as demais opiniões a esse respeito de forma intolerante ou intransigente.

Um dado importante e também preocupante é que há hoje em dia uma grande quantidade de pessoas que possuem essas características arraigadas a sua personalidade, muitas vezes simultaneamente, o que é mais grave.

Metáforas, eufemismos, hipérboles, metonímias, prosopopéias…:

Vejam só em que se transformou o Maranhão!

iiiiiiiiiiiii… Antes que os maniqueístas e sectários de plantão digam alguma coisa, deixe que eu me antecipe a eles e diga aquela que é a frase que eles mais gostam de repetir, a única que pelo visto eles conhecem: “Isso é culpa do Sarney!”.

O Maranhão de outrora era uma terra atrasada, na qual o século XX chegou mais de 60 anos depois que nos outros lugares.

“A culpa é do Sarney”, diria um daqueles já citados anteriormente. Mas se esquecem que o Sarney ainda nem existia quando o Maranhão era muito pior que é hoje.

É bem verdade que o fato de não está melhor não nos absolve, mas em compensação, não nos condena sozinhos, de forma maniqueísta e sectária.

“É culpa da Oligarquia”, dirão eles, mas se esquecem das outras oligarquias, menores e setoriais, que dominam a nossa sociedade. No fundo só mesmo o que eles sabem fazer é colocar a culpa no Sarney. Não sabem colocar isso de forma diferente, de forma com que pessoas que não sejam maniqueístas e sectárias possam até, quem sabe, vir a concordar com eles, pontualmente, nesse ou naquele caso.

É de fácil constatação que no setor político sempre fomos carentes. Historicamente, poucos foram os que se sobressaíram nesse ramo de atividade em nossa terra e os que o fizeram, antes assim como agora, foi mais por maus motivos do que por bons. E aqui não há nenhum traço de maniqueísmo ou de sectarismo, filosofias e atitudes que reprovo e abomino.

Acredito que generalizando fica fácil ver aqueles que não foram acometidos desses males se sobressaírem e sobreviverem ao julgamento da história, que infelizmente é sempre tardio. Um bom exemplo disso é o de Neiva Moreira, falecido recentemente e que jamais agiu de forma sectária ou maniqueísta, tendo se posicionado durante toda a sua vida de forma republicana e democrática.

Mas como se culpar Sarney sem culparmos igualmente seus opositores que nunca foram competentes para derrotá-lo. E quando parecia que tinham conseguido, jogaram tudo por terra, usaram os métodos tão condenados por eles mesmos, não conseguiram se equilibrar em pé.

Como se culpar essa oligarquia em detrimento daquela, levando-se em conta que toda a estrutura de poder em nossa terra é oligárquica, composta por grupos nucleares, normalmente restritos no âmbito das famílias. As sucessões normalmente são hereditárias. Quando não o são raramente é por falta de vontade do herdeiro, exemplos disso me parecem ser os de Victorino Freire e Alexandre Costa.

Acabamos de presenciar os fatos concernentes à sucessão de poder dentro do âmbito do PDT maranhense. Depois da morte de Jackson Lago, seu filho Igor tentou controlar a legenda, mas foi desbancado da coordenação do partido por pessoas que desfrutavam da íntima convivência de seu pai. Se isso não tivesse acontecido o que veríamos seria uma perpetuação oligárquica, um determinado naco de poder sendo exercido por uma família. Acontece que nesse caso especifico ocorre uma outra forma de oligarquia, a exercida pelo grupo, pelos mesmos. Essa é uma história milenar que não vai acabar aqui e não é privilégio de um único sobrenome.

Epílogo:

Temos lido notícias e visto fatos que nos dão conta da grande importância de algumas figuras da estirpe de Eweverton Rocha e José Reinaldo Tavares como sendo dois dos mais importantes líderes da política do Maranhão.

Veja só aonde nós chegamos. Isso sim, com toda certeza, é culpa do Sarney. Mas que fique bem claro que o Sarney a que me refiro não é simplesmente o José, mas sim o grupo dele, do qual também faço parte. A culpa é nossa.

No caso do primeiro citado, a culpa do nosso grupo se deve ao fato de não se ter incentivado os verdadeiros bons valores existentes em suas linhas e fileiras, em não termos trabalhado como bons jardineiros ao identificar as boas mudas e dar a elas água fresca e um bom lugar ao sol, permitindo que até no canteiro do vizinho, uma erva daninha, se bem aquinhoada, possa crescer e fazer sombra sobre o nosso jardim, sobre os jardins de todos.

No caso do segundo citado ocorreu o oposto. Ele foi adubado, regado, privilegiado com os melhores lugares ao sol. Foram lhe dado todos os cuidados, que muitas vezes deveriam ter sido dados a algumas mudas que se recusavam a ser maniqueístas e sectárias, que buscavam por conta própria um pouco da luz do sol e água, conseguida muitas vezes unicamente do orvalho da noite ou da chuva.

Maniqueístas e sectários existem em todos os lados e devem ser combatidos, pois é deles que nascem os bajuladores, serviçais e capachos que aparentemente agradam aos senhores, mas que no fundo os levam à ruína, e com eles, todos nós, os próximos e os distantes também.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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