Deus e o Real

No último domingo recebi vários telefonemas e e-mails sobre o texto que publiquei naquele dia falando sobre a intenção de um procurador do Ministério Público Federal em tirar a expressão “Deus seja louvado” das notas de real, na presunção de garantir a liberdade religiosa.

Entre os telefonemas estava o de meu amigo, jornalista Raimundo Garrone, que me sugeriu que lesse em seu blog o que disse a esse respeito o também jornalista Luís Antonio Giron.

Assim que pude acessei o blog de Garra e li o que escreveu o editor da seção Mente Aberta da revista Época, que escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV.

Giron tem uma posição um tanto diferente. Ele defende que a expressão não deva figurar no nosso dinheiro por uma questão de elegância, por não se dever misturar dinheiro e Deus, no que eu até poderia concordar, se o caso fosse para se escolher colocar ou não, mas o caso não é esse. O caso é na verdade tirar-se ou não a citada frase das notas de real.

A expressão já está lá. Devemos tirá-la ou devemos deixá-la permanecer.

Em minha modesta opinião, ela não está fazendo nenhum mal onde se encontra, então qual o problema em lá ficar?

O grande problema nisso tudo é que até pessoas como Giron se equivocam com o tema. Quando diz: “Os fundamentalistas cristãos andam protestando em todo o país, exigindo que Deus continue representado nas cédulas. Os politeístas, ateus e crentes em outras seitas, além dos juristas e partidários da mentalidade politicamente correta, querem a extinção imediata e sumária da frase, em nome da garantia da liberdade religiosa em Estado laico.” Ele e outros se esquecem de que o citado Deus não é apenas o Deus dos cristãos e que o estado não deixa de ser laico por citar o Deus comum a todos, inclusive aos ateus, objeto de sua fé e de sua descrença.

Giron diz que, “Misturar Deus e dinheiro é uma barbaridade. Não importa o seu vínculo político, religioso e ideológico: Deus, caso você creia nele, não precisa ser evocado por intermédio da manifestação mais concreta do materialismo, uma cédula monetária. Além de a expressão representar uma intromissão religiosa no âmbito do Estado, ela é uma espécie de marca de atraso e de péssimo gosto.” O que transforma a discussão em um debate estético. Sempre há os que gostam e os que não gostam de alguma coisa, e isso vai acontecer sempre. É da natureza humana.

Se no começo achei até pertinente as colocações de Giron, enquanto eu avançava e depois, cada vez que as relia, mais elas me pareciam uma mera contestação sem maior sustância, sem substância, com menos embasamento que as desastradas argumentações do Ministério Público Federal.

Já disse antes e repito agora, não sou religioso, essa questão não é e não pode ser analisada meramente como uma questão religiosa, pois o Deus é comum a todas as religiões e até mesmo aos que nele não acreditam.

Querer-se tirar a referida expressão das notas da nossa moeda por motivos estéticos ou por motivos moralistas é pior que se querer tirar tal frase por pretender-se defender a isonomia religiosa, que de forma alguma está sendo ferida.

No caso do motivo estético, como já disse, é uma questão de simples opinião. No caso do motivo moralista, achar que Deus e dinheiro não se misturam ou não devem se misturar… Isso seria desconhecer a realidade da vida. O dinheiro faz parte de tudo que existe!

A única coisa que os seguidores de Deus, de todas as raças e religiões podem e devem fazer, é agir em relação ao dinheiro como o seu Deus preconiza, que normalmente é usando-o com parcimônia, sabedoria e generosidade.

 

 

5 comentários em “Deus e o Real”

  1. Mas a menção a Deus na cédula do Real claramente refere-se ao Deus cristão. Se o Estado é laico, então colocar essa expressão na cédula fere esse princípio constitucional. Eu espero que ela seja removida.

  2. Adriano Fernandes

    Acho que existe muito LADRÃO. CORRUPTO, ESTRUPADOR e político para ser investigado do que utilizar o dinheiro do povo para essa discussão. este procurador, promotor deveria ser exonerado ou aposentado!!!

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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