Justiça ao Geia

Quem ama a justiça, passa além e acima de qualquer diferença ou divergência de ordem pessoal.

Meu velho pai, que tinha a fama infundada de ser um homem pouco fino, era reconhecido por todos como um cidadão extremamente inteligente, dotado da incrível sabedoria dos homens simples e grande conhecedor da alma humana. Entre tantas lições que nos deixou, uma ficou marcada na memória de meu irmão e na minha: que em nossos julgamentos jamais nos deixássemos levar por qualquer preconceito ou sentimento que nos fizesse perder o sentido da justiça e da verdade, qualquer que fosse o caso, situação ou pessoa.

Lembro de como ele nos ensinou essa lição. Sendo ele presidente do Moto, eu torcedor do Sampaio, e meu irmão Nagib Filho maqueano, ele deu o exemplo. “Vejam bem: Djalma é do Sampaio, mas é craque. Hamilton, do Maranhão, é gênio. Acontece que meu time é o Moto, e vou fazer tudo para ganhar o campeonato, mas nunca vou deixar de fazer justiça, de dar o devido valor a quem merece”.

Nagibão criou um personagem e se escondeu atrás dele. Quem o conhecia de perto sabia de todas as suas qualidades (e defeitos). Com ele, eu aprendi a ser justo, e hoje vou fazer justiça a uma instituição que acredito realizar uma obra extremamente importante em nossa terra.

Refiro-me ao Instituto Geia.

O fato de eu não ter nenhum laço de amizade que me ligue ao presidente do Instituto Geia, o senhor Jorge Murad, mesmo sendo ele marido da governadora Roseana Sarney (a quem secretario no setor de Esporte e Lazer) me deixa em situação extremamente confortável para tecer algumas considerações que acredito serem necessárias a respeito daquela instituição.

O Instituto Geia é uma associação de 24 grandes empresários (podia ser muito mais) reunidos com o propósito de realizar ações que eles acreditam ser importantes para a coletividade maranhense.

É sobre um dos campos de forte atuação desse Instituto que eu quero falar especificamente hoje: do setor escolar, da cultura letrada, da literatura e da história.

Por tudo o que tem feito de bom e importante em prol da cultura e da educação em nosso Estado o Geia tem se destacado de forma exemplar.

O Maranhão exporta hoje, para o Brasil e para o mundo, não apenas o alumínio ou o ferro de Carajás, exporta também os livros produzidos pelo Instituto.

A Coleção Geia de Temas Maranhenses já lançou mais de 20 obras substanciais de nossa bibliografia. Quem quiser ter à mão a crônica fiel do que foi a rendição dos franceses pelos portugueses em 1615 tem que ler o Relatório de Alexandre Moura, feito diretamente ao rei de Portugal, e publicado entre nós, pela primeira vez, pelo Instituto Geia.

Quem precisar de uma obra seminal que nos dê conta das possibilidades e dificuldades dos homens de negócio durante o nosso Período Colonial, não pode dispensar-se de ler, anotando, a edição, também anotada, do Compêndio histórico-político de Gaioso, que é de 1818 e só tinha tido uma reedição até agora, do Geia, que tem a vantagem da ortografia atualizada.

Quem quiser nome, biografia e descendência de todos os fidalgos e homens da nobreza maranhense da Colônia e fim do Império, basta consultar os Fidalgos e barões, de Milson Coutinho, publicado em grosso volume do Geia.

O mesmo se diga para quem quiser conhecer a Balaiada por dentro: é só reler Astolfo Serra, um dos nossos clássicos, publicado mais de 50 anos depois da última edição.

A mesma coisa quanto ao que realizaram os governos maranhenses, do Império ao fim da Primeira República. Para isso, leia Administrações maranhenses, de Henrique Costa Fernandes, um livro que fazia falta. E o que dizer das Memórias de Humberto de Campos, reunidas num só volume, e do seu Diário secreto, que, passados mais de 60 anos, retorna a público, e é mais que apenas uma obra de literatura, pois é também o depoimento sofrido de uma vida em dor e o testemunho iluminador do que foi, no fim das contas, o golpe de Getúlio, que a História consagrou com o nome de Revolução de 30. E ainda tem a História do Maranhão, os três volumes de Carlos de Lima, e o Lavardière e a França Equinocial, de Vasco Mariz, a que faz boa companhia o último livro, A Ilha e o Tempo, obra premiada por um Concurso Nacional aberto pelo Instituto Geia para comemorar os 400 anos de São Luís.

Iria longe se pretendesse resenhar toda a bibliografia do Geia. Mas não posso deixar de lado os álbuns magníficos, brinquedos encantados, com fotos maravilhosas sobre a cultura negra maranhense, São Luís, Alma e História e Alcântara, Alma e História.

Mas não paremos aqui. Em todo mês de agosto, já se vão 10 anos, a cidade de Ribamar tem sido sacudida pelo Festival Geia de Literatura.

Esse evento não é só de Literatura, nem é mais só de Ribamar. Atualmente, começa em São Luís, atraindo uma multidão de estudantes em torno de autores que são best-sellers, como Laurentino Gomes e Mary del Priore. O encontro é muito produtivo, porque, antes dele, os alunos já se obrigaram a ler a obra desses escritores, junto com os seus mestres. O significado dessa prática só poderá ser entendido plenamente quando os jovens de hoje forem adultos amanhã, pais e mães de família. É uma memória para sempre, um convite que arrasta com a força do maior e melhor exemplo.

Analogamente ao ensinamento de meu pai, vejo que não ser do time do senhor Jorge Murad em nada importa, pois sou daqueles que independente de time, gosto mesmo é de aplaudir os grandes escretes, de vibrar com as grandes atuações e reconhecer o mérito de quem realmente é capaz de fazer grandes jogadas e ganhar jogos importantes, como tem feito e espero que continue fazendo o Instituto Geia.

Pelo fato de fazer com que o Maranhão volte, em parte, a ter o prestígio dos tempos em que a velha Província era um centro cultural e editorial de grande importância no país, e em tempos mais próximos de nós, quando ainda existia o Sioge, de saudosa memória e importância essencial, o Geia merece nosso reconhecimento, nosso respeito e nossos agradecimentos.

Parabéns aos idealizadores e sustentadores do Instituto Geia, e obrigado pelo importante trabalho que tem realizado para benefício da educação, da literatura, da história e da memória do Maranhão.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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