A boa política não aceita equívocos

Em 2007 presidi as comissões que na nossa Assembleia Legislativa efetivaram as reformas de seu Regimento Interno e a necessária adequação da Constituição de nosso Estado, uma vez que muitas mudanças haviam sido feitas e nossa Carta Magna nunca havia sido adequada a elas.

Nesse intento, também concorreram para o sucesso dessa façanha, de forma bastante ativa, os deputados Rubens Júnior, Chico Gomes, Víctor Mendes, Marcelo Tavares, Pedro Veloso e Penaldon Jorge, que trouxeram importantes contribuições à mesa dos trabalhos.

Alinhamos e revisamos leis antigas às novas regras da Constituição Federal de 1988, que nunca haviam sido revisitadas.

Diminuímos a quantidade de comissões temáticas de 18 para 12 e aumentamos a quantidade de parlamentares membros de 5 para 7, o que deu maior poder às comissões e mais relevância a seus membros.

Estabelecemos os critérios para a concessão de títulos de cidadania e de medalhas de mérito legislativo, dando nomes de maranhenses ilustres a cada uma das suas divisões, segundo as especificidades das atividades dos agraciados.

Para ser cidadão maranhense a pessoa precisa residir no Maranhão por pelo menos 10 anos ou ter prestado relevantes e comprovados serviços ao nosso Estado. Isso não tem sido lá muito respeitado.

Já no âmbito das medalhas, se quiséssemos homenagear uma pessoa ligada à cultura, a medalha seria a João do Vale; no âmbito da educação e ciência, a medalha se chamaria Terezinha Rêgo; no âmbito da cidadania o nome da medalha seria Maria Aragão; no âmbito esportivo a distinção levaria o nome de Canhoteiro; e no setor da política, o nome da comenda seria o de Nagib Haickel; se o agraciado não se encaixasse em nenhum desses âmbitos de atividades a medalha de mérito legislativo continuaria levando o nome de Manoel Beckman.

Mas em minha opinião a regulamentação mais importante que fizemos naquela ocasião foi nivelar o Regimento Interno da Assembleia Legislativa do nosso Estado, bem como a Constituição do Maranhão às suas semelhantes de vigência federal, o Regimento Interno da Câmara dos Deputados e a Constituição da Republica, no que diz respeito à eleição da Mesa Diretora do Legislativo maranhense.

A legislação federal não prevê a reeleição para membros da Mesa Diretora do Poder Legislativo dentro da mesma legislatura, coisa que no Maranhão nunca havia acontecido. Nós tivemos a preocupação de estabelecer aqui, norma semelhante à federal.

O que fizemos foi realmente uma façanha e ela parecia que iria durar.

Qual não foi a minha surpresa ao ver que no final de 2010, sob o patrocínio do deputado Ricardo Murad, já então candidato à presidência da ALM, os dispositivos de reeleição foram reintroduzidos em nossa legislação!

Pensando que se elegeria presidente da ALM no início da legislatura seguinte, o deputado Ricardo Murad fez com que deputados ligados a ele o ajudassem na aprovação dessas mudanças, o que configura um erro grave no funcionamento do Legislativo.

Assim foi feito. Desfizeram tudo de bom que havíamos construído três anos antes e reestabeleceram a reeleição para membros da Mesa Diretora, contra o meu voto e de meia dúzia de deputados conscientes de seus deveres.

Veio a nova legislatura e a eleição da Mesa Diretora da ALM. O eleito, no entanto, foi Arnaldo Melo. Foi ele que se beneficiou do instrumento casuístico que fora estabelecido no intuito de beneficiar Ricardo Murad.

Praticaram um desserviço ao Legislativo maranhense e consequentemente ao povo de nosso Estado, que desde então não pode contar com uma disputa realmente republicana e democrática na esfera deste poder.

Deste fato eu extraio duas lições que acredito serem fundamentais para o conhecimento e o entendimento da política. Primeiro, que o casuísmo é uma arma cujo projétil pode atingir também quem a dispara. Segundo, realmente não se pode contar com o ovo “dentro” da galinha.

Independentemente de quem seja o presidente do Poder Legislativo, independentemente de qual partido ele seja, se ele é considerado ou não um bom presidente, esse dispositivo deve ser extirpado mais uma vez de nossa legislação.

 

 

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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