O boicote ao Oscar 2016

Eu estou certo de que a indústria cinematográfica não privilegia da mesma forma os projetos que envolvam temáticas de outras raças que não a branca, mas me recuso terminantemente a acreditar que Spike Lee quisesse que em “Spotlight” fosse introduzido um personagem negro interpretado por Jaime Fox ou que em “O regresso” Will Smith fizesse o papel principal. Isso não deixaria de ser um tanto ridículo, uma vez que nessas histórias não existem personagens negros. (desculpem a ironia, mas não resisti!).

Exemplo oposto a essa lógica é o caso do personagem Nick Fury, o chefe dos agentes da S.H.I.E.L.D. que é branco nas HQs, mas que no cinema, escalaram Samuel L. Jackson para interpretá-lo, o que foi realmente uma grande jogada, principalmente pelo ator que é maravilhoso.

Este ano a quase totalidade dos enredos dos filmes que participaram da premiação do Oscar, tratavam de personagens reais e a indústria não produziu nenhum filme cujo tema envolvesse os negros. Pelo menos nenhum que pudesse ter sido incluído na lista dos melhores, habilitados para disputar uma estatueta.

O já citado Samuel L. Jackson faz um dos oito odiados de Tarantino, e o faz como sempre, de maneira brilhante, mas não ao ponto de ver o seu nome ser incluído entre os cinco atores, principais ou coadjuvantes que concorreram este ano. O mesmo aconteceu com Will Smith em sua performance no filme “Um homem entre gigantes”.

Lembro que em 2015 tivemos o filme “Selma” e em 2014 “12 anos de escravidão”, ambos com temáticas negras e com diversas indicações e efetivamente prêmios.

Em 2013 foi a vez de “Django livre” e vejam que o Django anterior, da década de 70, era Franco Nero, italiano, louro, e de olhos azuis! Isso sem falar em “O voo” com Denzel Washington, indicado como melhor ator.

2012 foi a vez de “Histórias cruzadas” render indicações para a ganhadora do prêmio de melhor atriz coadjuvante, Octavia Spencer, e para Viola Davis, que não conseguiu vencer Meryl Streep.

Em outros anos tivemos como filmes representativos para a classe de artistas negros, “A cor púrpura”, “Malcolm X”, “Conduzindo miss Dayse”, “Histórias cruzadas”, “Ali”, “Faça a coisa certa”, “Febre da Selva”, “A hora do Show”, “Acorrentados”, “No calor da noite”, “A força do destino”, “Tempo de gloria”, “Jerry Maguire”, “À Procura da Felicidade”, “Amistad”, “Duelo de titãs”, “Um sonho de liberdade”, “A última Ceia”, “Ray”, “Colateral”, “Dreamgirls – Em busca de um sonho”, “Um dia de treinamento”, “Preciosa”, dentre tantos outros filmes com temática ou com participação de grandes artistas negros, quase sempre indicados ou vencedores de importantes prêmios!

Vejamos as filmografias de Denzel Washington, de Morgan Freemam, de Will Smith, de Cuba Gooding Jr., de Chris Rock, de Jaime Fox, de Halle Berry, Samuel L. Jackson, Whoopi Goldberg, Danny Glover, Sidney Poitier, Viola Davis, Queen Latifah, Laurence Fishburne, isso pra citar apenas alguns. Estes atores além de diretores como Spike Lee, Steve McQueen, John Singleton, Gina Prince Bythewood, Lee Daniels, apenas para citar cinco, são grandes profissionais e realizam trabalhos extraordinários, cada um de sua forma e com suas características próprias.

Contudo devo concordar com um ponto dessa discussão que nem sequer eu ouvi ser levantada por aqueles que patrocinaram o boicote ao Oscar deste ano. É o fato de existirem poucos projetos cinematográficos que insiram negros, hispânicos, asiáticos, indígenas, mulheres, crianças, deficientes, idosos, homossexuais…

Agora, bater o pé por não terem um determinado tipo de pessoas dentre os indicados à disputa dos melhores trabalhos realizados durante um ano, isso me parece um pouco demais, já que no mínimo o que poderia se fazer era ter bom senso e analisar os desempenhos dos concorrentes.

Sou a favor que haja mais diversidade de raça, gênero, idade, sexo nas produções cinematográficas, mas daí a exigir-se que haja indicados de uma determinada categoria dessa diversidade!… Melhor seria fazer um Oscar negro, um branco, um hetero, um gay, um teen, um old, um pra comédia, outro pra drama…

Sei que vai haver quem concorde comigo e quem discorde de mim. Só desejo que quem discordar entenda que não sou a favor de qualquer forma de descriminação e é por isso que me posiciono desta maneira.

Para mim, quem sempre deve ser indicado para a disputa de um prêmio, é aquela pessoa que tiver o melhor desempenho, seja ela da cor que for.

 

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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