Cinéfilo!?… Sim!…


Fui assistir ao filme “Green Book” e não me decepcionei! Pelo contrário, adorei!

Sou daqueles que de tão calejado, conhece um filme de diversas maneiras: pelo título, pelo elenco, pela sinopse, e até pelo cartaz. Outro dia um ogro, na tentativa de me ofender, disse que eu era apenas e tão somente um mero cinéfilo e para o desespero do referido infitético eu me realizei com o insulto, até porque se alguém ama o que faz, o faz com mais devoção e consequentemente com mais entrega, o que já é meio caminho andado para que se alcance o sucesso. Mas, deixemos os recalcados em sua tábula rasa (rasa não no sentido que deram Aristóteles ou Locke, que acreditam que a mente ou o intelecto, começam vazios e depois se enchem, mas rasa no sentido de que assim sendo, não tem muito espaço para encher com nada).

Sobre “Green Book”, aconselho que vá assistir, pois qualquer briefing que eu der sobre ele será insuficiente. Li em algum lugar que esse filme lembrava “Conduzindo miss Dayse”! Pode até ser que algum saudosista ache isso, mas as maiores semelhanças entre estes filmes são em relação ao fato da história se passar quase toda dentro de um carro! No mais, o fato dos dois personagens de cada filme terem uma incrível complexidade, ao mesmo tempo em que são perfis característicos de suas épocas e circunstâncias. A sensibilidade, a devoção, a amizade, o respeito que se sobressai no decorrer da história, são outros aspectos que estão nas duas obras.

Já tive oportunidade de comentar aqui sobre um outro filme que como “Green Book” está entre os melhores de 2018 e como ele, concorre ao Oscar deste ano. Falo do sensacional “Roma”.

Conversando com meu amigo, Marcio Salem, um dos nossos melhores críticos de cinema, comparamos os dois filmes e ele achou “Roma” melhor que “Green Book”. É completamente possível que essa opinião esteja correta. Inclusive, concordo com ele no que diz respeito ao trabalho de reconstituição de época. Enquanto o trabalho desenvolvido em “Roma” mostra uma Cidade do México em 1971, em planos abertos, com uma cenografia e direção de arte perfeitas, “Green Book” mostra Nova York e algumas outras cidades americanas em 1962, mas em planos fechados, sem a mesma riqueza de detalhes que o filme de Alfonso Cuarón apresenta. Em contrapartida, o filme mexicano se baseia nas impressões do autor sobre sua infância, o que o torna intimista, falando algumas vezes apenas a ele mesmo e a algumas pessoas que viveram experiências parecidas, enquanto o filme americano fala de sentimentos universais, comuns em todos os tempos, em todos os lugares e a todas as pessoas.

Decidir qual filme é melhor entre produções magistrais como essas é tarefa muito difícil ou no mínimo delicada, pois essas produções, bem como outras, tão boas quanto elas, quando colocadas em julgamento, tendem a ter pontuação bem semelhante, sendo diferenciadas por detalhes que para alguns podem parecer insignificantes.

No caso em questão, o roteiro de “Green Book”, em minha modesta opinião de cinéfilo, é mais bem estruturado que o de “Roma”, que é mais pessoal e ilustrativo da vida do autor. As performances de Mahershala Ali e Viggo Mortensen são melhores que as de Yalitza Aparício e Marina de Tavira. Já o trabalho de recriação de época de “Roma”, bem como a direção de Alfonso Cuarón, superam os mesmos itens em “Green Book”. Aparentemente há aqui um empate que deve ser decidido milimetricamente no final.

A minha sugestão é no sentido de que vocês assistam a todos os filmes que concorrem ao Oscar deste ano para tirarem suas próprias conclusões. E não se esqueçam de assistir também o grande sucesso da temporada, “Muleque té doido – Mais doido ainda”.

PS: Uma grande injustiça foi cometida! Nem sequer indicaram o filme “Jangada” para concorrer na votação que decidiria qual o filme brasileiro participaria da seleção para o Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano! Que coisa feia!…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

Busca

E-mail

No Twitter

Posts recentes

Comentários

Arquivos

Arquivos

Categorias

Mais Blogs

Rolar para cima